26 de novembro de 2013

O pós-julgamento

Interessante a análise, que faz um paralelo do momento atual com situações e personagens históricos de nosso país e tenta vislumbrar o que se desenha em um preocupante futuro.

O barbosismo, o PT e o pós-julgamento
Por Saul Leblon

"O conservadorismo brasileiro construiu uma narrativa e a cercou de um cão de guarda.

Era forçoso que tivesse a pegada agressiva das mandíbulas que travam e não soltam para dar conta das cores extremadas do enredo.

O intento foi bem sucedido mas o epílogo, inconcluso, está longe de entregar tudo o que prometeu.

Joaquim Barbosa foi o homem certo, no lugar certo, na hora certa quando se tratou de tanger a AP 470 na direção das manchetes que a conceberam.

O que se concebeu, a partir de um crime eleitoral de caixa 2 , foi consumar aquilo que as urnas sonegavam: aleijar moralmente o campo progressista brasileiro; sepultar algumas de suas principais lideranças.

Na verdade, o intercurso entre campanha política e financiamento privado já havia punido o êxito progressista nos seus próprios termos.

Subtraindo-lhe práticas, projetos e um horizonte ideológico, de cuja regeneração depende agora o seu futuro e a capacidade de liderar o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.

A prisão de lideranças petistas, cercada da ilegalidade e da manipulação sabidas, não marca apenas um divisor no partido.

Ela coincide com uma transição de ciclo econômico mundial que impõe um novo repertório de escolhas estratégicas ao país e ao PT.

Os limites assimilados na chegada ao poder talvez não sejam mais suficientes para se manter à frente dele nessa travessia.

Em postagem em seu blog, antes da prisão, o ex-ministro José Dirceu resumiu o paradoxo ao criticar aqueles que hoje –a exemplo do que se fez até 2008-- endossam a panaceia ortodoxa do choque de juros e de cortes orçamentários.

“Para fazer isso não precisam de nós’, advertiu o ex-chefe da Casa Civil de Lula.

Quem - e o quê - ditará a agenda brasileira no pós-julgamento da AP 470 não é uma inquietação exclusiva do lado que ficou no banco dos réus.

A emissão conservadora sabe que saturou um capítulo da disputa com a prisão algo decepcionante dos alvos mais graúdos.

Parte do conservadorismo, porém, fica com água na boca.

E sonha alto quando vê Joaquim Barbosa ladrar como se a teoria do domínio do fato, agora, significasse um dote imanente para atropelar réus, juízes e cardiopatas com a mesma truculência biliosa exibida durante o julgamento.

Delirantes enxergam um Carlos Lacerda negro nos palanques de 2014.

Finalmente, o elo perdido, a ponte capaz de suprir o vazio de carisma à direita e de injetar paixão ao discurso antipetista: o barbosismo.

O engano conservador pode custar mais caro ao país do que custaria ao PT ter o algoz como rival.

Joaquim Barbosa tem de Lacerda apenas uma rudimentar mimetização de incontinência colérica.

Tribuno privilegiado, o original catalisou a oposição a Vargas. Ainda assim, o talentonão foi suficiente para evitar os desdobramentos que se seguiram ao suicídio de 1954.

Os desdobramentos foram de tal ordem que adiaram por uma década o golpe esmagado por Getúlio com um único tiro.

É verdade que Lacerda , a exemplo de Barbosa hoje, foi também uma construção midiática.

Ancorado nessa alicerce, construiu um carisma que insuflou a classe média contra a corrupção, os sindicatos, os inimigos do capital estrangeiro e o desgoverno populista.

Contra Vargas, sua voz ecoava simultaneamente na Rádio Globo, dos Marinhos e na Mayrink Veiga; a presença inflamada do udenista sacudia também a audiência da TV Tupi, de Assis Chateaubriant, a TV Rio e a TV Record, da família Machado de Carvalho.

Dispunha ainda do jornal Tribuna da Imprensa, criado em 1949, com o dinheiro do anti-getulismo local e estrangeiro.

A voz de Lacerda era o que hoje é o Jornal Nacional, da Globo: a narrativa da direita endereçada a todo o Brasil.

Por trás da retórica vulcânica, todavia, existia um substrato de aparente pertinência que sustentava o belicismo das suas inserções.

Ao confronto internacional marcado pela consolidação comunista na China e a construção do Muro de Berlim, superpunha-se a emergência da Revolução cubana.

Seja pela maior proximidade, seja pelos laços culturais, as transformações em Cuba granjeariam enorme receptividade na luta latino-americana contra o subdesenvolvimento e o apetite leonino do capital estrangeiro.

Hoje, ao contrário, a exacerbação conservadora só se sustenta pela instabilidade que o colapso do seu próprio ideário –ainda sem resposta à altura-- acarreta urbi et orbi.

E esse é o ponto fundamental da disputa no pós-AP 470.

Colérico-dependente, Joaquim Barbosa está muito distante das credenciais para se apresentar como a personificação do salvador da pátria, diante dos desafios que se avizinham.

O maneirismo é a única relação que existe entre o barbosismo e o lacerdismo.
Ou o janismo.

Maneirismo é a simulação afetada do original.

Quanto mais se esmera em exacerbar as referências do que não é, maior o artificialismo que exala.

Mas isso só ficará definitivamente claro se o foco do debate for deslocado a partir de agora para o que é principal – e o que é principal requer do campo progressista algo mais do que a busca inercial do voto em 2014."

Fonte: Carta Maior

4 comentários:

Anônimo disse...

O novo golpe de Joaquim, o cruel, contra Genoíno
Enviado por Miguel do Rosário on 26/11/2013 – 6:13

Genoíno foi avaliado por cinco juntas médicas. Todas atestaram seu estado de gravidade. A gerente de Saúde Prisional do DF, Larrisa Ramos, afirmou que nunca havia recebido um preso tão fragilizado como Genoino. “Dos 1,6 mil presos no CRI, ele era o quadro mais grave”, declarou.

Barbosa então pediu a opinião de uma sexta junta de médicos. Dessa vez, ele mesmo escolheu cada médico a dedo. A junta esperou Genoíno melhorar de uma crise, ser medicado, alimentar-se adequadamente, ficar junto da família e se acalmar por uns dias, e, finalmente, deu aos carrascos do STF e à mídia o que eles queriam: mais um factóide político para detonar a imagem de Genoíno e, possivelmente, negar o seu direito a prisão residencial. A tortura de Genoíno parece não ter fim. E dá-lhe achincalhamento nos jornais e TV.

Esta sexta junta atestou a gravidade do caso Genoíno mas afirma que ele não precisa se tratar em sua residência, abrindo espaço para Barbosa lhe negar esta prerrogativa. Confira ao final do post a nota pública do advogado de Genoíno.

O sadismo de Joaquim Barbosa e da mídia já ultrapassou todos os limites.

Os coxinhas psicóticos deveriam entender três coisas:

1) Genoíno não oferece nenhum perigo à sociedade. E a pior pena de todas ele já está cumprindo: ser condenado pela Justiça de seu país. Condenação injusta, mas condenação do mesmo jeito.

2) Será muito mais econômico para o Estado manter Genoíno em prisão domiciliar, onde ele poderá se tratar sem onerar a rede pública.

3) É muito mais seguro Genoíno ficar em casa, porque se ele morrer na prisão, o Judiciário passará à população a imagem de instituição carrasca e insensível, que não tentou evitar a morte de um homem, que mesmo que se o considere o mais corrupto de todos os políticos brasileiros, tem uma história ainda a contar. É um dos parlamentares mais antigos e experientes do país.

*

- See more at: http://www.ocafezinho.com/2013/11/26/o-novo-golpe-de-joaquim-o-cruel-contra-genoino/#sthash.MeUVThQc.dpuf

Anônimo disse...

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Uma junta médica do Hospital Universitário de Brasília avaliou a saúde de José Genoino no último sábado e produziu um laudo que servirá de base para que o presidente do STF, Joaquim Barbosa, decida se o petista continua em prisão domiciliar ou se volta para a cadeia.


O resultado desse laudo foi divulgado na tarde da última terça-feira em portais de internet e repercutido pelos telejornais da noite. De forma unânime, tanto os portais da grande mídia quanto os telejornais apresentaram esse resultado de forma distorcida.

Manchete do portal UOL, por exemplo, afirmou que o “Laudo diz que prisão domiciliar para Genoino não é imprescindível”. Com poucas variações, o documento foi interpretado da mesma forma por todos os outros grandes portais e pelos telejornais.

Que conclusão, leitor, você tira dessa manchete? Ora, se a “prisão domiciliar para Genoino não é imprescindível” isso quer dizer que ele pode voltar para a cadeia, certo? Errado. O Blog teve acesso à íntegra do laudo médico em tela e, com base nele, formulou essa conclusão.

A avaliação da saúde de Genoino foi levada a cabo no terceiro dia após Genoino ter sofrido internação hospitalar de urgência por conta de uma crise de hipertensão arterial. O documento diz que, agora, ele está bem e que sua cardiopatia, neste momento, não é grave.

Lendo o documento, descobre-se que o petista relatou aos médicos que o examinaram que “Em meados de 2012” submeteu-se a um “check-up clínico geral e cardiológico” no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, e que os médicos, na oportunidade, disseram-lhe que seu coração estava “ótimo”.

Todavia, apesar do “ótimo” coração de Genoino, o laudo relata que, em julho deste ano, ele teve que se submeter a uma cirurgia de urgência para “correção cirúrgica” de um problema chamado “dissecção aguda da Aorta Torácica Ascendente”. Tradução: teve que substituir parte da Aorta por um tubo de cerca de 15 centímetros.

Duas semanas depois, segundo o documento, Genoino sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral), mas que não deixou “qualquer sequela neurológica”. Porém, devido à possibilidade de ocorrer novo evento dessa natureza, o paciente vem tendo que tomar um “anticoagulante” com regularidade.

Você diria, leitor, que a saúde desse homem não é extremamente delicada e que ele não precisa ser mantido em condições que não a agravem? Se diz isso, o trecho seguinte do laudo diz o contrário.

Segundo o documento, Genoino vinha se recuperando bem do trauma por que passou, mas só até que fosse submetido a “intenso estresse emocional”. Ou seja: a prisão agravou a saúde dele, que até então vinha vivendo sem maiores problemas.

Após a cirurgia no peito do paciente para emendar a veia Aorta, irrecuperavelmente danificada no ponto em que foi substituída por uma prótese, é óbvio que se espera que o problema cardíaco dele tenha sido mitigado, daí que o laudo diz que, atualmente, ele não sofre de “Graves Doenças Cardiovasculares”.

Isso significa que pode voltar à prisão? Não. O laudo diz que não precisa de “permanência domiciliar Fixa”, mas NÃO diz que pode voltar para a prisão. Pelo contrário, em sua página 8 diz, claramente, que NÃO deve ser submetido a fatores psicológicos estressantes”.

Pergunta: como é, diabos, que alguém encarcerado em uma prisão brasileira pode evitar “fatores psicológicos estressantes”?

Se Genoino não fosse um condenado pela Justiça, poderia levar uma vida normal. Não precisaria ficar confinado em sua casa. Mas como se encontra em regime de privação de liberdade, a prisão domiciliar oferece a possibilidade de cumprir sua pena sem ser exposto a condições que, tal qual ocorreu na semana passada, façam com que sofra uma nova crise.

De mais a mais, Genoino não foi condenado a regime fechado, mas ao semiaberto. Mantê-lo em um regime mais duro do que aquele ao qual foi condenado, portanto, além de ser injusto ainda oferece risco à sua saúde, conforme diz o laudo que a mídia distorceu.

Anônimo disse...

Lacerda não foi uma construção midiática, inclusive porque na época a televisão não tinha toda esta importância, penetração, qualidade de imagem e, principalemte, poder de persuasão de hoje. Lacerda, apesar de toda canalhice política, foi o melhor administrador que o Rio (a cidade e não o estado) teve, com várias obras fundamentais e úteis até hoje. Quanto ao JB, é o candidato da Globo, até prova em contrário.

Anônimo disse...

QUEM SÃO OS MÉDICOS INDICADOS POR BARBOSA.
EM:

http://www.ocafezinho.com/2013/11/27/barbosa-contratou-medicos-antipaticos-ao-pt-para-tratar-do-caso-genoino/