31 de outubro de 2013

Humor de Quinta (2): A Cura

Eike: No auge do sucesso, símbolo máximo do empreendedorismo brasileiro. Depois da queda, o filho bastardo do estatismo

Eike e o culto da hipocrisia nacional
"O "Valor" de hoje tem uma matéria comparando a queda de Eike com as menções elogiosas feitas a ele pela presidente Dilma Rousseff.
Há dois momentos na vida de Eike. No auge do sucesso, era o símbolo máximo do empreendedorismo brasileiro. Depois da queda, o filho bastardo do estatismo. No auge, objeto do mais acintoso culto à personalidade do Brasil moderno. Na queda, “toma que o filho é seu”.
A hipocrisia dos formadores de imagem é esta. No sucesso, usam a lisonja para prospectar futuras parcerias. Na queda, batem sem piedade.
No auge, Eike era saudado pela Veja como o exemplo do empreendedorismo. A revista Épocao premiava. Quando soçobrou, a própria Época providenciou uma capa dizendo que Eike era símbolo do fracasso estatista; e Jorge Paulo Lehmann, do sucesso de mercado. Lehmann que não ouse cair, se não também será alvo da hipocrisia nacional.
Confirma a máxima de que “criança feia não tem pai”. Eike teve dois pais: o mercado e o Estado.
Para a matéria do Valor ficar completa, faltaram:
1.     Os elogios do próprio Valor a Eike no auge do seu sucesso.
2.     Declarações de Cândido Bracher, presidente do BBA-Itaú: “Orgulhamo-nos por ter ajudado a viabilizar os grandes projetos do grupo.” Junto, as avaliações entusiasmadas sobre Eike por parte do Itaú, Bradesco e grandes fundos internacionais, ministros, presidente, executivos em geral.
3.     A escolha de Eike como "empresário do ano" de 2011 pelo grupo Lide.
4.     A eleição de Eike como o "empresário ousado do ano" pela revista IstoÉ.
5.     O presidente do Grupo EBX, Eike Batista, é eleito "personalidade do ano" pelo Destaque Ademi - Prêmio Master Imobiliário 2011, promovido pela regional Rio de Janeiro da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) e da Federação Internacional das Profissões Imobiliárias (FIABCI).
6.     Prêmio da revista Fast Company apontando Eike como um dos quatro empresários brasileiros mais criativos.
7.     OSX recebe o prêmio "Deal of theYear - 2010", na categoria ProjetcFinance, concedido pela Marine Money International.
8.     Eike Batista está entre os entre 1.000 principais CEOs do Mundo, no capítulo Empreendedores Visionários, da revista IstoÉ Dinheiro.
9.     Eike Batista é o único brasileiro na lista dos mais influentes do mundo dos negócios da revista americana Bloomberg Markets.
10.  Presidente do Grupo EBX eleito Personalidade Empresarial do Ano pela Associação Brasileira de Marketing & Negócios (ABMN).
11.  Revista Época elege Eike Batista entre os 100 brasileiros mais influentes de 2011. A lista reúne personalidades que mais se destacaram no ano pelo poder, o talento, as realizações e a capacidade de mobilizar e/ou inspirar.
12.  Eike também é um dos dois brasileiros citados no livro "World Changers - 25 Entrepreneurs who changed business as we knew it", sobre os 24 empreendedores do mundo que transformaram os negócios.
13.  Eike é também um dos Líderes do Brasil, na categoria Óleo e Gás, em premiação promovida em parceria pelo Grupo Doria e o jornal Brasil Econômico.
14.  OSX recebe o prêmio “Latin America Upstream Deal of the Year”, no “13th Annual Project Finance Americas Deal of the Year Awards”, da Euromoney –
15.   MMX recebe o prêmio de destaque do Setor de Mineração pela Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas).
16.  Associação Brasileira de Propaganda: Eike Baptista, personalidade do ano.
Aqui mesmo cometi um cochilo indesculpável, ao considerar a recompra de ações de minoritários como tentativa de ganhar na baixa.
Mas convido vocês a levantarem outros elogios estrondosos ao Eike pré-desastre."
Por Luis Nassif no Jornal GGN em 31/10/2013

Humor de Quinta

Sem um pouco de humor, não dá! Não acham?
___________________________________________________________

"Uma garota completamente nua entra no bar do mineiro e pede uma cachaça.

Ele prepara a bebida e, ao passar-lhe o copo, debruça-se sobre o balcão para observar, atentamente, seu corpo pelado.

Pouco depois a garota pede outra cachaça.
E o mineirinho volta a debruçar-se sobre o balcão e a olha com muita atenção.

Ela se irrita e questiona:- Por que você está olhando tanto? Nunca viu uma mulher nua?

Educadamente, o mineirinho responde:- É claru qui já vi uai! E eu vô falá uma coisa procê… É bão dimais da conta, sô! Mai num é prá issu queu tô oiano…Tô é querendo sabê dondi é cocê vai tirá o dinheiro pra pagá as pinga!"
_________________________________________________________

"Um advogado tinha 12 filhos e precisava sair da casa onde
morava e alugar outra, mas não conseguia por causa do monte de crianças.
Quando ele dizia que tinha 12 filhos, ninguém queria alugar porque
sabiam que a criançada iria destruir a casa.
Ele não podia dizer que não tinha filhos, não podia mentir,
afinal os advogados não podem mentir.
Ele estava ficando desesperado, o prazo para se mudar estava se esgotando.
Daí teve uma ideia: mandou a mulher ir passear ao cemitério com 11 filhos.
Pegou o filho que sobrou e foi ver casas junto com o agente da imobiliária.
Gostou de uma e o agente perguntou-lhe quantos filhos ele tinha.
Ele respondeu que tinha 12.
Daí o agente perguntou: "onde estão os outros?"
E ele respondeu, com um ar muito triste: "Estão no cemitério, junto com a mãe deles."
E foi assim que ele conseguiu alugar uma casa sem mentir..."
______________________________________________________

"Um famoso repórter de televisão estava em Uzbequistão, no meio de uma grande reportagem que  falava sobre os costumes do local. De repente, ele se deparou com um velhinho e logo começou a entrevistá-lo:
- O senhor poderia me contar um fato de sua vida que jamais tenha se esquecido?
- Um dia, há muito tempo, minha cabra se perdeu na montanha. Como manda a nossa tradição, todos os homens da cidade se reuniram para beber e sair à procura da cabra. Quando finalmente a encontramos,
já de madrugada, bebemos mais uma dose e, como de costume, todos transaram com a cabra, um por um.
Foi uma cena inesquecível...
- Meu senhor, sinto em lhe dizer que a emissora dificilmente levará ao ar essa declaração, então eu sugiro que o senhor conte uma outra história...
Quem sabe se o senhor nos contasse uma história bem feliz...
- Ok, também já vivi uma história muito feliz aqui...
Um dia, a mulher do meu vizinho se perdeu na montanha. Como manda a nossa tradição, todos os homens da cidade se reuniram para beber e sair à procura da mulher. Quando finalmente a encontramos,
bebemos mais uma dose e, como de costume, todos os homens da cidade transaram com a boazuda. Foi a maior diversão da minha vida!
- Ok, vamos tentar mais uma vez:
Será que o senhor não poderia nos contar uma história muito, muito triste?
Então o velho homem baixou a cabeça e, com os olhos cheios de lágrimas,começou:
- Um dia, eu me perdi na montanha...."

30 de outubro de 2013

O melhor som, junto ao silêncio

Pense seus ouvidos como se fossem seus olhos, feche-os e ouça os sons da ECM (Edition of Contemporary Music) Records, singular companhia alemã fundada em 1969 por Manfred Eicher que até hoje dirige a empresa.
Já comentamos sobre ela aqui no blog e é uma pena que só consigamos seus CDs importando da Europa.
Nos tempos dos vinis tinha uma editora que lançava os discos da ECM aqui no Brasil. Hoje não mais.
"O mais belo som, junto ao silêncio" é um dos lemas da gravadora.
Atualmente ocorre em Seul na Coreia, um festival dedicado à ECM, com exposição de capas de discos e fotos em uma galeria de arte e apresentações musicais em teatros.
É difícil (ou impossível) descrever o estilo musical dos contratados da gravadora de uma forma generalista. Isso porque, dependendo do músico, o ênfase pode ser folclórico, jazzístico, clássico, new age, etc. E os próprios artistas (de diversas partes do mundo) costumam gravar álbuns bem diferentes uns dos outros.
Há no entanto uma característica que parece perpassar as obras. Um tom intimista, às vezes minimalista, talvez uma busca de transcendência.
Manfred Eicher: "A música é como uma alma. Quero fornecer a música através de várias sessões e métodos de gravação. Um produtor precisa aprender a ouvir música com paciência. Ao ouvir, podemos aprender sobre a civilização do outro. Eu acredito que o meu papel é fazer com que as pessoas aprendam a escutar a música e dar-lhes motivação em todos os níveis ".
Para quem não está acostumado, as músicas (obras de arte contemporâneas) da ECM podem soar estranhas. Mas os estranhos talvez sejamos nós.
Manfred Eicher, fundador e CEO da ECM


Music video for Anouar Brahem: "Kashf", from the album "Thimar".
With John Surman (clarinet) and Dave Holland (double-bass).
Director: Pierre-Yves Borgeaud.
ECM Records, momentum production, 1998.

Não resisti em complementar este post com esta apresentação do Cluster.
Não se trata de contratados da ECM Records. Mas vejo uma conexão indireta com a sonoridade.
O duo alemão Cluster é um dos pioneiros da experiência "Ambient". Depois veio o Brian Eno. Talvez vocês não entendam a música. Ou mesmo achem que isso não é música. Essa sensação é normal em muitas produções alemães do início da década de 1970.
Essa apresentação é mais legal por ser bem recente (2008) com o Moebius e o Roedelius já em uma idade fora dos padrões de "experimentação". Mas tem de ser eles mesmos. Jovens não se interessam mais por isso.
Cluster live (Sonic Acts XII, 2008) from Sonic Acts on Vimeo.

A Data Especial do Blogueiro

Acho que foi em 2009 - ou em 2008, não sei bem, a memória só me faz lembrar o título de um filme que vi recentemente: "Os Esquecidos" - que o amigo Luiz Felipe Muniz criou este blog que leva o seu nome.

Possivelmente em 2010 eu comecei a colaborar com ele, dividindo este espaço. 

Só aceitei o convite por que era o nobre e inteligentíssimo amigo. Depois da (ótima mas cansativa) experiência de cinco anos com o Jornal Metamúsica não estava mais com paciência nem tempo de escrever.

Ultimamente só os humildes posts deste colaborador tem aparecido por aqui (cacófato legal). Então por onde anda o titular multidisciplinar (Advogado, Educador Ambiental, Terapeuta, Ambientalista, Inspetor de Equipamentos, Assistente Executivo Gerencial, etc.)?

Respostas: trabalhando muito (mais do que eu; melhor pra mim, que seja assim) e envolvido com sérias demandas particulares que incluem saúde de familiares. É a vida. Mas tempestades passam.

Mas ele não abandonou o blog e será sempre o seu titular.

E o post é para homenageá-lo. Nesta quarta-feira, 30 de outubro, Felipe completa mais uma primavera (estamos mesmo na estação). 

O cara é de Escorpião, signo de características fortes: espírito de liderança e dinamismo. Também um pouco impositivo. Estou falando do signo. Rs.

Parabéns, caro amigo. Feliz Aniversário. Força, saúde e paz. O resto você corre atrás.

Um abraço.

29 de outubro de 2013

O Ridículo Debate Sobre Biografias (não) Autorizadas


Sou fã do Roberto. E de Chico, Caetano, Gil, Milton e Djavan. De Paula Lavigne não. Esses são os nomes da linha de frente do grupo ou movimento - sei lá o que - "Procure Saber", que são contra o projeto de lei que visa liberar de forma expressa a publicação sem autorização prévia de biografias de pessoas públicas.

Existe também uma ação no Supremo movida pela Associação Nacional dos Editores para liberar as biografias sem necessidade de autorização prévia dos biografados ou dos parentes deste mas só deverá ir a julgamento em 2014. Parece que a tendência do STF é  de maioria a favor das biografias não autorizadas. Mas caso o Congresso conclua a tramitação antes do julgamento, a ação pode perder o sentido. Assim sendo vai caber aos artistas contrários à nova lei contestá-la no Supremo, isso se ela passar no Congresso.

Parece que só três países no mundo tem lei semelhante de "proteção" ao possível biografado. Brasil, Irã e algum outro da antiga União Soviética.

Voltando ao primeiro parágrafo, os artistas perderam uma excelente oportunidade de ficar de boca fechada. Mas cedo ou mais tarde as biografias serão liberadas e eles vão ficar com fama de censores. Roberto já está tentando se corrigir. Que libere então a biografia dele, que mandou recolher por força jurídica. Ainda bem que muitos artistas são a favor da queda dessa lei.

A lei atual é uma aberração que poda o registro da história do país. Soube que existe biografia de Carmem Miranda publicada na França (lá não tem essa lei) mas aqui não porque os parentes não permitiram.

Ficar famoso pode. Notícia boa pode. Figura pública pode porque viabiliza venda de discos, shows, espetáculos teatrais, etc. Mas a contrapartida disso, uma possível biografia que interessa aos fãs ou ao registro da história social do país naquele momento não pode. 

Ninguém pode ficar sabendo da vida privada (êta palavra!) do ser público? E não me venham com nhém-nhém-nhém de separar as coisas, o que vale é a arte, ganhar dinheiro às custas da fama dos outros, etc. E injúria e difamação é outro campo.

No final das contas eu quero saber, "procuro saber", mas só se tiver biografia publicada.

Ou então é melhor essas figuras públicas fazerem concurso público e abandonar a carreira artística. Ninguém se interessa em me biografar, por exemplo. Mesmo que eu afirme categoricamente que tenho fatos desabonadores de minha conduta, o que é sempre um ponto de atração para os leitores! Só iria querer uma pequena participação nas vendas. : )

Marco Civil: O Dia D da Internet Livre

O dia D da Internet
Votação do Marco Civil da Internet tranca pauta da Câmara dos Deputados e deve ser votado esta semana. Ativistas de direitos humanos organizam ações em Brasília por pluralidade e diversidade na rede.
"Se olharmos para a história, vamos perceber que a forma como se estruturam os meios de comunicação é decisiva para a organização da sociedade. Com a invenção da imprensa, a bíblia passou a ser divulgada massivamente e logo veio a reforma protestante. Os reis trataram rapidamente de estabelecer o monopólio do direito de imprimir e a conquista da liberdade de imprensa (liberdade de todos imprimirem) foi fundamental para uma sociedade que não mais a aceitava governantes com poderes absolutos.

Com a invenção do rádio, imaginou-se que a democracia se radicalizaria em um ambiente onde todos poderiam receber e transmitir informações por esse veículo de longo alcance.  Em vez disso, o mercado definiu que o direito receber (consumir) informações seria de todos, ficando restrito a poucas corporações o direito de transmitir as informações a serem consumidas pelo conjunto da sociedade. Essa organização dos meios de comunicação definitivamente ajudou a consolidar a sociedade que conhecemos hoje, onde os direitos civis existem na proporção em que se tem poder econômico para exercê-los.

Com o surgimento da internet, a relação acima descrita é colocada em cheque. Os consumidores de informação têm a possibilidade de produzir e transmitir conteúdos para o conjunto da sociedade, eliminando as corporações de mídia como intermediários. Por outro lado, esse novo meio de comunicação, totalmente estruturado na transmissão de protocolos em rede, também cria uma possibilidade nunca antes vista de controle e manejo das informações que circulam na sociedade. As regras deste novo jogo ainda estão sendo escritas em todo o mundo.

No Brasil, o jogo pode ter seu dia decisivo nesta terça feira, 29 de outubro de 2013. Neste dia, o Congresso Nacional amanhece com a pauta trancada, podendo votar apenas o projeto do Marco Civil da Internet, que está em urgência constitucional.

O dia D para a internet brasileira chega de forma silenciosa e o que for aprovado pode levar a caminhos radicalmente opostos. Podemos apontar para a construção de uma sociedade com diversidade e pluralidade de vozes que efetivamente nunca esteve em pé de igualdade nas democracias constituídas até então, Mas também podemos desenhar a sociedade da informação como uma sociedade do controle, onde o vigilantismo e o autoritarismo de poucos sobre muitos se consolidem como regra geral.

O que está em jogo?

PRIVACIDADE:

A noção de privacidade ganha corpo nas sociedades para impedir que o rei (Estado) não entre na casa de quem ele quer na hora em que desejar. Hoje, não apenas o Estado mas corporações multinacionais entram em nossas casas e retiram as informações que desejam através da rede mundial de computadores. O Marco Civil da Internet impede que VIVO, CLARO, TIM e OI tenham o direito de guardar e usar todos os dados que gerarmos ao nos conectarmos à rede. Elas, por sua vez, demonstram repulsa ao texto, que não coloca os seus interesses mercantis privados acima da privacidade de cada cidadão.

LIBERDADE DE EXPRESSÃO:

As Organizações Globo hoje admitem, abertamente, o apoio à ditadura em 1964, que feriu de morte a liberdade de imprensa à época. Hoje, a Globo é uma das principais corporações responsáveis pela censura conteúdos na internet brasileira. No dia 29, a Globo quer que o seu poder de censura vire lei e tenta impor ao relator do projeto o parágrafo segundo do artigo 15 do texto a ser votado. Em nome do direito autoral, a Globo retira do ar conteúdos como o vídeo que debate a representação de negros e negras pela mídia brasileira, cujas imagens são permitidas pela própria Lei de Direitos Autorais, pois utiliza pequenos trechos de obras para produzir debate em torno do tema.  É justamente a corporação de mídia que se autodenomina a defensora da liberdade de expressão que censura conteúdos com a falsa premissa de defesa de direitos autorais, motivada pelos seus interesses econômicos.

NEUTRALIDADE DE REDE:

As multinacionais que controlam a infraestrutura de conexão querem transformar a internet em uma espécie de TV a cabo mundial, onde quem pode pagar navega por toda a rede, e quem tem menor poder aquisitivo fica limitado a alguns provedores escolhidos pelas multinacionais em contratos de vantagens econômicas com esses provedores escolhidos. As empresas VIVO, CLARO, TIM e OI querem consolidar um modelo em que possam colocar pedágios dentro da rede. Para isso, precisam garantir que a neutralidade da rede conste no Marco Civil da Internet como um termo vago. Assim, quem controla os cabos não precisa ser neutro em relação aos conteúdos que por neles trafeguem.

O QUE FAZER:

Ativistas de direitos humanos organizam ações no Congresso Nacional com o objetivo de deixar claro para os parlamentares (que na maioria das vezes não dominam o tema) que está em jogo algo decisivo para o futuro da democracia e, por isso, não deve ser pautado pelos interesses privados de poucas corporações. Além da mobilização em Brasília, também há uma campanha na internet  que pede a alteração da imagem de capa no Facebook para a imagem da campanha,  informando a lista de contatos dos parlamentares para que os eleitores cobrem seus deputados  uma postura de não negociação dos direitos fundamentais como a liberdade de expressão, privacidade e neutralidade de rede. Nessa semana, saberemos quem venceu a batalha decisiva, se foram as corporações ou a democracia."

*Pedro Ekman é coordenador do Intervozes e compõe a executiva do FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação).
Fontes: Intervozes - Carta Capital - Blog do Miro

O valor da interdependência de todos com todos e da solidariedade cósmica

Duas forças em tensão: a auto-afirmação e a integração
Por Leonardo Boff em 27/10/2013
"Biologicamente nós humanos, somos seres carentes (Mangelwesen). Não somos dotados de nenhum órgão especializado que nos garanta a sobrevivência ou nos defenda de riscos, como ocorre com os animais. Alguns biólogos chegam a dizer que somos “um animal doente”, um “faux pas”, (um passo em falso), uma “passagem” (Übergang) para outra coisa, por isso nunca fixado, inteiros mas  incompletos.
 Tal verificação nos obriga a continuamente a garantir a nossa vida, mediante o trabalho e a inteligente intervenção na natureza. Deste esforço, nasce a cultura que organiza de forma mais estável as condições  infra-estruturais e também humano-espirituais para vivermos humanamente em sociedade.
Acresce ainda outro dado, presente também em todos os seres do universo, mas que no nível humano ganha especial relevância. Vigoram duas forças: a primeira é  auto-afirmação, a segunda, a integração. Elas atuam sempre em conjunto num equilíbrio difícil e sempre dinâmico.
Pela força da auto-afirmação cada ser se centra em si mesmo e seu instinto é conservar-se, defendendo-se contra todo tipo de ameaça contra sua integridade e a sua vida. Ninguém aceita morrer. Quer viver, evoluir e se expandir. Essa força explica a persistência e a subsistência do indivíduo.
Precisamos neste ponto superar totalmente o darwinismo social segundo o qual somente os mais fortes e adaptáveis triunfam e permanecem. Essa é uma meia verdade que está na contramão do processo evolucionário. Este não privilegia os mais fortes e adaptáveis. Se assim fora, os dinossauros estariam ainda entre nós. O sentido da evolução é permitir que todos os seres, também os mais vulneráveis, expressem virtualidades latentes dentro da evolução. Esse é  o valor da interdependência de todos com todos e da solidariedade cósmica. Todos, fracos e fortes, se entreajudam para coexistir e coevoluir.
Pela segunda força, a da da integração, o indivíduo se descobre envolto numa rede de relações, sem as quais,  sozinho como indivíduo, não viveria nem sobreviveria. Existe o individuo mas ele vem de uma família, se insere num grupo de trabalho, mora numa cidade e habita um país com um tipo de organização social. Ele está ligado a toda esta cadeia de relações. Assim todos os seres são interconectados e vivem uns pelos outros, com os outros e para os outros. O indivíduo se integra, pois, por natureza, num todo maior. Mesmo que o indivíduo morra, o todo garante que a espécie continue permitindo que outros representantes venham a nos suceder.
Sabedoria humana é reconhecer o fato de que chega certo momento na vida no qual  a pessoa deve se despedir para deixar o lugar, até fisicamente,  a outros que virão.
O universo, os reinos, os gêneros e as espécies e também os indivíduos humanos se equilibram entre estas duas forças: a da auto-afirmação do indivíduo e a da integração num todo maior. Mas esse processo não é linear e sereno. Ele é tenso e dinâmico. O equilíbrio das forças nunca é um dado, mas um feito a ser alcançado a todo o momento.
 É aqui que entra o cuidado responsável. Se não cuidarmos ou pode prevalecer a auto-afirmação do indivíduo à custa de uma insuficiente integração e então predomina a violência e a autoimposição ou, ao contrário, pode triunfar a integração a preço do enfraquecimento e até anulação do indivíduo e então ganha a partida o coletivismo e o achatamento das individualidades. O cuidado aqui se traduz na justa medida e na autocontenção para não privilegiar nenhuma destas forças.
Efetivamente, na história social humana, surgiram sistemas que ora privilegiam o eu, o individuo, seu desempenho, sua capacidade de competição e a propriedade privada como é o caso da ordem capitalista ou ora  prevalece o nós,  o coletivo, a cooperação e a propriedade social como é o caso do socialismo real que foi ensaiado na União Soviética e ainda persiste, em parte, na China.
A exacerbação de uma destas forças em detrimento da outra, leva a desequilíbrios, conflitos, guerras e tragédias sociais e ambientais. Com referência ao meio ambiente tanto o capitalismo quanto o socialismo foram depredadores e pioraram as condições de vida da maioria das populações. Em ambos os sistemas o cuidado responsável desapareceu para dar lugar à vontade de poder, ao enfrentamento entre ambos e até a brutalidade nas relações mundias visando a corrida armamentista e a dominação do curso do mundo.
Qual é o desafio que se dirige ao ser humano? É o cuidado reponsável de buscar o equilíbrio construído conscientemente e fazer desta busca um propósito, uma atitude de base e até um projeto político. Portador de consciência e de liberdade, o ser humano possui esta missão que o distingue dos demais seres. Só ele pode ser um ser ético, um ser que cuida de si e que se responsabiliza pela comunidade de vida. Ele pode ser hostil à vida, colocar-se, como indivíduo dominador, sobre as coisas. Mas pode ser também o anjo bom que se sente integrado na comunidade de vida, junto com as coisas. Depende de seu empenho manter o equilíbrio entre a auto-afirmação e a integração num todo e não permitir que forças dilaceradoras dirijam a história.
Por ser ético, coloca-se ao lado daqueles que tem dificuldades em se auto-afirmar e assim sobreviver e impedir uma integração que destrói as individualidades em nome de um coletivo  amorfo. Eis uma síntese sempre a ser construida."
Leonardo Boff escreveu: O despertar da águia: o sim-bólico e o dia-bólico na construção do real, Vozes 2010.

28 de outubro de 2013

Hetain Patel: Quem sou eu? Pense de novo / Kevin Breel: Confissões de um humorista depressivo

O que nos faz ser o que somos, afinal? Duas palestras que merecem ser vistas.

Quem sou eu?


"Como decidimos quem somos? A surpreendente apresentação de Hetain Patel brinca com identidade, linguagem e sotaque -- e te desafia a pensar mais a fundo, além das aparências superficiais. Uma encantadora meditação do ser, com a artista Yuyu Rau e inspirada por Bruce Lee."

Confissões de um humorista depressivo
"É um problema enorme. Mas não a vemos na mídia social, né? Não a vemos no Facebook. Não a vemos no Twitter. Não a vemos nos noticiários, porque não é feliz, não é divertido, não é leve. E assim porque não a vemos, não vemos sua gravidade."



Sobre black blocs, revolta contra o status quo, vandalismo e ações reais

Bom o texto do Luis Nassif sobre a polêmica envolvendo protestos, vandalismo, violência, etc., publicado hoje em seu Luis Nassif Online.

É hora de prender os black blocs da rua e segurar os da PM

"Após o espancamento do seu oficial, o que a Polícia Militar deve fazer, daqui por diante: Identificar os cabeças que comandam o vandalismo nas cidades, prendê-los e leva-los a julgamento por formação de quadrilha. E que recebam penas severas. A agressão a um oficial da PM – ainda mais nas circunstâncias relatadas -  é uma quebra de ordem gravíssima, sim. Se não houver punição exemplar, essa maluquice irá se espalhar como um rastilho de pólvora.

Não há o que justifique o quebra-quebra e o vandalismo. A “revolta” dos black blocs contra o status quo é a mesma que estimula as torcidas organizadas a lincharem os rivais em eventos esportivos, o espancamento de gays, os movimentos de manada: é a celebração irresponsável da violência pela violência. Não se deve embarcar nessa tentativa de legitimação política contra as mazelas sociais. Houvesse um fato pontual que justificasse um momento de indignação coletiva, vá lá; mas é um movimento sistemático de violência contra tudo ou contra nada.

Mas essa história da PM anunciar que vai até às últimas consequências - e repaldada por uma condenação generalizada contra os vândalos -  provoca calafrios maiores do que assistir a um quebra-quebra de black blocs.

Na última vez que a PM se comportou assim, em maio de 2006, foram assassinadas mais de 500 pessoas. E nem o Ministério Público, a Justiça, a imprensa, as ONGs e a sociedade civil paulista moveram uma palha contra esses crimes. No Rio, tentou-se utilizar o cansaço coletivo contra as manifestações incluindo os professores na categoria de vândalos.

É necessário muita, mas muita cautela para separar o joio do trigo e manter sob controle os templários da PM.

O Secretário de Segurança de São Paulo – que é pessoa séria – terá seu maior desafio: segurar os black blocs da PM, ser rigoroso na apuração dos crimes (e ser rigoroso significa não sair caçando qualquer suspeito para mostrar serviço).

Seria importante que a OAB, as ONGs pela paz e contra a violência, o próprio Ministério Público Estadual montassem forças tarefas para prevenir abusos, assim como garantir a punição dos verdadeiramente culpados."

Oposição em Frangalhos

Ibope mostrou força de Dilma e oposição em frangalhos 
"A pesquisa Ibope/Estadão divulgada na última quinta-feira (23), como toda sondagem eleitoral, retrata um momento do quadro político que, por óbvio, pode sofrer alterações. Mas a contundência dos dados revelados lança luz sobre alguns fenômenos que precisam ser considerados pelos campos em disputa.

O dado mais saliente é que a presidenta Dilma Rousseff, naturalmente candidata à reeleição, venceria no primeiro turno se as eleições fossem hoje contra todos os potenciais adversários, o mesmo ocorrendo com as projeções de segundo turno. Os pré-candidatos oposicionistas Aécio Neves e José Serra, pelo PSDB, e Marina Silva e Eduardo Campos, pelo PSB, seriam fragorosamente derrotados.

Os motivos para tal prognóstico são óbvios. O povo brasileiro julga que a presidenta da República está fazendo um bom mandato e, malgrado as dificuldades, está levando adiante a obra iniciada pelo ex-presidente Lula em 2003. Continua avançando o programa de erradicação da miséria e em geral o País segue trilhando o caminho das mudanças. Erraram copiosamente os aprendizes de feiticeiro que previram a derrocada do mandato presidencial devido a problemas no âmbito da economia e às questões políticas e sociais que emergiram no leito das manifestações de rua em junho e julho últimos. Naquele instante, os índices de popularidade e aprovação do governo de Dilma Rousseff tinham registrado abrupta queda, cenário no qual proliferaram os pescadores de águas turvas.

Pesam a favor da presidenta o comportamento democrático que adotou perante as manifestações, a postura altaneira que demonstrou em face do imperialismo estadunidense no caso da espionagem, a coragem com que adotou o Programa Mais Médicos, enfrentando mesquinhos interesses corporativistas e a visão estreita da oposição, e mesmo o resultado do controverso leilão do campo petrolífero de Libra. Seria ocioso e exaustivo relacionar todos os êxitos do governo, que formam o pano de fundo da boa avaliação popular.

O outro aspecto saliente do quadro eleitoral, que os dados da pesquisa Ibope/Estadão tendem a acirrar, diz respeito às contradições no seio de cada bloco oposicionista. No PSDB intensifica-se uma luta sem quartel entre Aécio Neves e José Serra, a despeito de Aécio se exibir como candidato preferido pela maioria dos ocupantes de cargos executivos e legislativos do partido e de ter sido ungido pelo ex-presidente FHC, este Midas ao revés. Aécio perde-se cada vez mais no vazio das suas ideias, na pobreza de suas formulações, na indigência da sua atividade política. Escolheu como mantra a defesa do passado, a glorificação do governo de FHC, o elogio das privatizações. Perde cada vez mais terreno porque faz um discurso diametralmente oposto às expectativas da população. Serra procura avançar nesse terreno, exibindo as fragilidades do adversário e pretendendo ser o que melhores condições reúne para liderar a oposição conservadora e neoliberal. O ex-governador de São Paulo está em plena ofensiva na luta interna do PSDB, sentindo-se agora turbinado pelas indicações da pesquisa Ibope/Estadão.

No outro agrupamento oposicionista, formado pela dupla Marina Silva e Eduardo Campos, apesar do jogo de aparências, instalou-se a confusão geral. A disputa entre ambos pela prerrogativa da candidatura em nome do PSB, na verdade em nome da aliança PSB/Rede, é cada vez mais intensa, contradição que a pesquisa também incrementa, pois vai tornando-se cada vez mais claro que a candidatura do governador pernambucano poderá sofrer contundente derrota nas urnas. A pesquisa indica que ele tem menos da metade das intenções de voto da ex-senadora do Acre.

Do ponto de vista da mensagem política dos quatro pré-candidatos, os ataques a Dilma, ao PT, à esquerda, a oposição sistemática aos projetos e medidas patrióticos e populares do governo, estão afastando-os ainda mais do povo brasileiro e corroborando a formação de um cenário que prenuncia o seu fracasso e consolida a tendência de se tornarem uma oposição em frangalhos.

Isto não significa que a campanha eleitoral será fácil para as forças da democracia, do desenvolvimento, da soberania nacional e do progresso social, lideradas pela presidenta Dilma Rousseff, nomeadamente a esquerda, que se mantém em sua base de sustentação. Como toda eleição presidencial no Brasil, será uma luta política dura, que exigirá discernimento estratégico-tático, unidade e mobilização do povo. Estarão em jogo os destinos do País, que poderá dar mais um passo na luta por transformações políticas e sociais de fundo."
Fonte: Editorial do Portal Vermelho

27 de outubro de 2013

R.I.P.: Lou Reed - *Brooklyn, New York, USA, 2 de Março de 1942 +Long Island, Nova York, USA, 27 de Outubro de 2013


Uma parceria inusitada: Lou Reed com Luciano Pavarotti em 2001

E lá se foi mais uma lenda do Rock.
O fundador do influente Velvet Underground nos anos 1960 partiu hoje aos 71 anos.
Com humor cáustico, letras poéticas rebeldes, Lou Reed sempre foi mais do que um simples cantor e guitarrista de Rock. Tinha uma filosofia artística e de vida que nem sempre era muito bem compreendida.
Uma nota curiosa: o último trabalho dele, lançado ano passado, chama-se "Hudson River Wind Meditations", com sons que devem ser utilizados (segundo sua visão particular) para acalmar a mente. Uma obra experimental que de certa forma cumpre o papel de encerrar este ciclo de Lou Reed.
Rest in Peace, Lou.


Lou Reed morre aos 71 anos
"O músico Lou Reed morreu aos 71 anos, na manhã deste domingo (27), em Long Island, Nova York, nos EUA. O agente literário do artista, Andrew Wylie, disse à agência de notícias Associated Press que ele morreu em decorrência de problemas no fígado. O cantor passou por uma cirurgia de transplante de fígado em maio de 2013.
A notícia foi divulgada inicialmente pela revista "Rolling Stone". O jornal inglês "The Guardian" disse que a morte foi confirmada pelo agente do cantor na Grã Bretanha. "Sinto dizer que é verdade. Estou muito triste", disse Andy Woolliscroft ao jornal.
Reed já havia cancelado uma série de shows previstos para abril. Ele tocaria em abril no festival Coachella, nos Estados Unidos, além de algumas outras apresentações marcadas pela Califórnia.
Ele disse em junho que se sentia "uma vitória da medicina, da física e da química modernas", depois do transplante de fígado a que foi submetido em um hospital de Cleveland, em Ohio. "Estou maior e mais forte que nunca", declarou.
Venerado nos círculos musicais graças à fundação do grupo The Velvet Underground e sua carreira solo, o cantor, guitarrista e compositor publicou em seu site, em junho, que esperava voltar em breve a escrever canções que toquem "o espírito e os corações" de seus fãs.
Uma imagem foi divulgada neste domingo (27) nos perfis oficial de Lou Reed no Facebook e no Twitter com uma foto do cantor colada em uma porta. A legenda diz apenas "The door" (a porta)."
Fonte: G1

Sarah Brightman na Catedral de Viena: "Fleurs du Mal"


Ela é bonita e uma da melhores vozes da atualidade.
Mistura estilos, do Rock à Ópera, passando pela New Age, World e Pop.
Sabe escolher o repertório, que adapta à sua tessitura vocal.
A música que escolhi chama-se "Fleurs du Mal" e essa é a versão presente no ótimo DVD "Symphony - Live in Vienna", registrado em 2009 na capital austríaca em uma belíssima Catedral.
Superprodução em HD com coral, orquestra, grupo de Rock e, é claro, a diva e musa Sarah Brightman.
Em tempo: é inglesa, tem 53 anos, cantora soprano e ainda é atriz!
Vejam em tela cheia e ouçam com fones. Uma fantástica experiência.

26 de outubro de 2013

25 de outubro de 2013

O enigmático disco de um paraibano

Vocês conhecem o primeiro disco (oficial) do Zé Ramalho? É um dos que mais gosto da MPB, tanto que tenho ele nos três formatos: LP (vinil), CD e mp3.
Escuto desde que foi lançado em 1978 e nunca enjoei de ouvir.
Com excelentes arranjos, ótimas melodias, músicos incríveis (tem até a participação do lendário tecladista franco-suíço-apátrida Patrick Moraz, ex-Yes, que naqueles tempos estava casado com uma brasileira e não saía do Rio) é um álbum clássico.
Para quem não se lembra é o que traz as músicas "Avohai", "Vila do Sossego", "Dança das Borboletas" e "Chão de Giz", entre outras.
Me lembrei dele agora por conta do retorno de um "concurso" que o Arthur Xexéo voltou a promover alguns anos depois da primeira edição.
É o troféu "Zum de Besouro" (daquela música do Djavan). O objetivo é eleger aquelas músicas que tem letras que ninguém sabe muito bem o que significam.
Não me lembro qual foi o resultado do primeiro embate nem saiu o do segundo, mas acho que este disco do Zé deve ser considerado hors concours, isso porque todas as letras de todas as músicas são enigmáticas. E são ótimas! Não me perguntem porque acho isso. 
E são talvez esses enigmas das canções que venham a se somar na adoração que tenho pela obra do cantor e compositor paraibano. Que, aliás, se apresentou recentemente no Rock in Rio com o Sepultura(!?). Mais um enigma.







Os primeiros enigmas

"Já chegaram à redação os primeiros votos para a eleição dos vencedores da segunda edição do Troféu Zum de Besouro. Como todo mundo sabe, o Zum de Besouro premia, sem muita constância, os versos mais enigmáticos da música brasileira. E, nesta primeira fornada de votos, é importante que se repare uma injustiça. A maioria dos leitores se surpreendeu ao saber que a obra de Luiz Melodia não estava entre os mais votados da primeira edição. Como diz o leitor Pedro Jorge Caldas Pereira: “Pode escolher qualquer verso de ‘Fadas’.”
Fico com o primeiro:
“Devo de ir... fadas/ Inseto voa em cego sem direção
Eu bem te vi... nada/ Ou fada borboleta ou fada canção
As ilusões... fartas/ Fada com varinha virei condão.”
Nunca entendi uma só palavra desta canção. Mas esse negócio de “fada com varinha virei condão” sempre me cheirou a algum apelo sexual.
Mas a mais lembrada é “Juventude transviada” com seu início inesquecível: “Lava roupa todo dia, que agonia!,/ na quebrada da soleira, que chovia/ Até sonhar de madrugada/ Uma moça sem mancada/ Uma mulher não deve vacilar.”
Sempre vi algo de feminista na canção. Afinal, “uma mulher não deve vacilar”. Mas o mais difícil sempre foi tentar entender como é que uma quebrada da soleira pode chover. Ou não?
Nesta primeira contagem de votos do Zum de Besouro, vamos abrir um espaço para a dupla Fernando Brant e Toninho Horta, autores de “Durango Kid”: “Propriamente eu sou/ Durango Kid/ Eu vim trazer, eu vim mostrar/ Novo jornal, novo sorriso...”
Põe enigmático nisso."
Fonte: Blog do Xexéo

Musa da Semana: Pietra Príncipe

A nossa homenageada no post "Musa" desta semana é conhecida do público que assiste ao programa "Papo Calcinha" exibido no Canal Multishow e que já comentamos aqui tempos atrás.
Até pouco tempo era apresentado às sextas, 23:45h, não sei se modificou a grade da programação.
Como o nome diz, o programa é bem apimentado e as gatas que apresentam são de alto nível.
Uma delas é Pietra Príncipe, 31 anos, que foi a escolhida para abrilhantar a edição de outubro da revista Playboy.
As fotos foram tiradas em São Paulo, em locais inusitadas: "Queria uma coisa que ficasse ousada, que não fosse tão comum, e que desse tesão nas pessoas, homens e mulheres. Que fosse uma coisa bonita de olhar e gostosa também".
Reproduzimos algumas delas a seguir como um presentinho para os nossos leitores, porque hoje é sexta-feira!











24 de outubro de 2013

Cuidado Eduardo Campos



TENHO TODA A DISPOSIÇÃO DE SER PRESIDENTE, DIZ MARINA

"A ex-senadora Marina Silva afirmou ontem que, apesar de não ter como “objetivo de vida” ser presidente da República, tem “toda a disposição” para ocupar o cargo.

“Não tenho como objetivo de vida ser a presidente da República. Tenho como objetivo de vida lutar para o Brasil ser melhor, para o mundo ser melhor, e, se para isso necessário for ser presidente da República, tenho toda a disposição, como tive em 2010″, afirmou em entrevista à rádio CBN de Maringá (PR).

(…)

Marina tem dito que decidiu ir para o PSB com Campos na condição de candidato, mas que a formalização da chapa que enfrentará Dilma Rousseff só será feita em 2014."

Paulo Henrique Amorim:

"Dudu ainda tem que governar Pernambuco e o dinheiro (muito) que o Lula e a Dilma mandaram para lá.
Ele não pode dar a impressão de que negligencia as obrigações para fazer a “velha política”, com essas bobagens de conseguir horário eleitoral e montar palanques nos Estados – clique aqui para ver que a Bláblárina salvou o Dudu da senda do pecado.
Afinal, a Bláblárina lhe deu substância e, breve, todos os parentes, Campos e Arraes, renunciarão aos cargos que exercem no Governo de Pernambuco.
Dudu vai ter que se desincompatibilizar logo.
Alguns aliados pregam que ele se desincompatibilize no dia 1º de janeiro, antes que a Bláblárina sente de vez na cadeira presidencial, e defina a chapa no dia 2 de janeiro.
Se não, a varinha de condão da fadinha da floresta – que não faz disso um “objetivo de vida” – dá um sumiço nele.
Com a ajuda do Datafalha e do Globope e do PiG (**)."

Lua Cheia



"Este é um vídeo em tempo real da lua nascente sobre o Mount Victoria Lookout em Wellington, Nova Zelândia. As pessoas se reuniram lá em cima naquela noite para obter a melhor visão possível da lua crescente.
Eu capturei o vídeo há uma distância de 2,1 km, do outro lado da cidade. Era algo que eu tinha vontade de fazer por um longo tempo, e já havia ocorrido uma séria de tentativas com muito planejamento.
Finalmente, durante o nascer da lua no dia 28 de janeiro de 2013, tudo se encaixou e eu consegui a minha filmagem." (Mark Gee).

Humor de Quinta: Trabalhando

-Alô.
-Oi amor.
-Você tá onde?
-Tô no trabalho, não posso falar agora.
-Ok. Quando sair daí, me liga.
- Tá bom. Bj.


23 de outubro de 2013

América Latina: "De vítima privilegiada do neoliberalismo, à única região do mundo com governos e políticas posneoliberais"


Ser de esquerda na era neoliberal
Por Emir Sader, no Blog do Emir do site Carta Maior

"Um instituto que fez a pesquisa e os editorialistas da velha mídia se enroscaram nos seus resultados, sem entender o seu significado. Afinal, se a maioria dos brasileiros é de direita – parte que vota na Dilma e parte que vota na oposição - porque a direita tem perdido sempre e continuará a perder as eleições? Por que os políticos mais populares do pais são Lula e Dilma e os mais impopulares FHC e Serra?

Uma primeira interpretação, apressada, é que se trataria de um governo de direita, daí receber o voto de setores que se dizem de direita. O país viveria um êxtase direitista, em que governo e oposição não se diferenciariam, ambos de direita. Tese tão a gosto da ultraesquerda e de setores da direita, ambos adeptos da tese de que o PT apenas repete o que os tucanos fizeram.

Tese absurda, porque já ninguém pode negar que o Brasil mudou, mudou muito e mudou para melhor depois dos governos tucanos e nos governos petistas. Como ninguém nega o destino contraposto que o povo reservou para o Lula e para o FHC, como consequência das mudanças entre um governo e outro.

Para complementar, a direita tradicional – midiática, partidária, empresarial – sempre esteve fortemente alinhada com o governo tucano e contra os governos petistas. Enquanto este sempre teve o apoio dos setores populares, de esquerda, de dentro e de fora do país – neste espectro, de Cuba a Uruguai, da Venezuela ao Equador, da Argentina à Bolívia. E, como corolário, a oposição dos EUA e das forças neoliberais no continente e no mundo. Estes buscando, inocuamente, projetar o México – o grande modelo neoliberal remanescente – como referencia alternativa à liderança brasileira no continente.

Afora o bizarro argumento de que todos estão equivocados e que o Brasil de hoje é igual ao dos anos 1990, de que os lideres esquerdistas não conhecem o país ou outro desse calibre, uma das características da polarização contemporânea se dá em torno do traje que veste o capitalismo na época histórica atual.

O anti-capitalismo, que sempre caracterizou a esquerda, ao longo o tempo, foi assumindo formas distintas, conforme o próprio capitalismo foi se transformando, de um modelo a outro. A esquerda foi antifascista nos anos 1920 e 1930, foi adepta do Estado de bem-estar social e do nacionalismo nas décadas do segundo pos-guerra, foi democrática nos países de ditadura militar. Assim como a direita foi mudando sua roupagem, na mesma medida: foi fascista, foi liberal, foi adepta da Doutrina de Segurança Nacional, conforme as configurações históricas que teve que enfrentar.

Na era neoliberal, os eixos centrais dos debates e das polarizações se alteraram significativamente. A direita impôs seu modelo liberal renascido, marcado pela centralidade do mercado, do livre comercio, da precarização das relações de trabalho, do capital financeiro como hegemônico, do consumidor. Ao mesmo tempo da desqualificação das funções reguladores do Estado, das politicas redistributivas, da politica, dos partidos, dos direitos da cidadania.

É nesse marco que a América Latina passou, de vítima privilegiada do neoliberalismo, à única região do mundo com governos e políticas posneoliberais, com governos que se propõem concretamente a superação do neoliberalismo. A prioridade das políticas sociais ao invés da ênfase central nos ajustes fiscais. O resgate do Estado como indutor do crescimento econômico e garantia dos direitos sociais no lugar do Estado mínimo e da centralidade do mercado. O privilégio dos projetos de integração regional e do intercâmbio Sul-Sul e não dos Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos. Essas contraposição define os campos da esquerda e da direita realmente existentes na era neoliberal.

Os brasileiros tem se pronunciado, reiteradamente, a favor das prioridades de distribuição de renda, do papel ativo do Estado, das políticas de integração regional e intercâmbio Sul-Sul. Constituiu-se uma nova maioria no país, progressista, que preferiu Lula ao Serra ao Alckmin, Dilma ao Serra, e se encaminha para preferir de novo Dilma ao candidato que se apresente pelas forças conservadoras.

Toda resposta de pesquisa depende da forma como foi formulada a pergunta. E os institutos de pesquisa tem sido useiros e vezeiros na arte de manipulação da opinião pública. Basta recordar que o diretor do mais conhecido deles, jurou que o Lula não elegeria seu sucessor, que o campo estava livre para o retorno tucano com o Serra, e demorou para se autocriticar, diante da realidade que o desmentia.

Na era neoliberal – modelo imposto sobre um brutal retrocesso na correlação de forças mundial e nacional – a linha divisória vem desse modelo, dividindo as forças fundamentais entre neoliberais e antineoliberais – conforme resistam a governos neoliberais – e posneoliberais, quando se empenham na sua superação.

Em vários períodos históricos houve uma esquerda moderada e uma esquerda radical. A social democracia passou a representar a primeira, os comunistas e forças da extrema esquerda, a segunda. No período histórico atual há, na América Latina, governos posneoliberais moderados – como os do Brasil, da Argentina, do Uruguai – e radicais – como os da Venezuela, da Bolívia, do Equador, sem mencionar o de Cuba. Os primeiros romperam com eixos fundamentais do neoliberalismo – com os enunciados: centralidade do mercado, Estado mínimo, privilégio do ajuste fiscal e dos TLCs com os EUA – avançam na sua superação – centralidade das políticas sociais, do papel do Estado, dos processos de integração regional. Os segundos, além de antineoliberais, se propõem a ser anticapitalistas, e deram passos nessa direção.

Ser de esquerda hoje é lutar contra a modalidade assumida pelo capitalismo no período histórico contemporâneo, é ser antineoliberal, em qualquer das suas modalidades. A moderação ou a radicalidade estão nas formas de articulação, ou não, entre o antineoliberalismo e o anticapitalismo. Seria demasiado pedir que pesquisas e editoriais imersos no universo neoliberal como seu habitat natural, sem a perspectiva histórica que permite entender o neoliberalismo e o capitalismo como fenômenos históricos precisos e a história como produto de correlações de forças cambiantes , pudessem captar o sentido de ser de esquerda e de direita hoje. São vítimas de clichês que eles mesmos criaram e que os aprisionam.

Enquanto isso, a América Latina, sua direita e suas esquerdas, se enfrentam nas condições concretas e especificas do mundo contemporâneo."

Redes Sociais: A Excluída

Sempre tive uma relação de amor e ódio com as Redes Sociais.
É fato que, da mesma forma que a Martha (não no mesmo nível, óbvio), tenho esse pequeno nicho que é o blog para me expressar, o que de certa forma dispensa Facebook, Instagram, Twitter e similares.
Mas meu Facebook está lá. Minha linha do tempo. Com fotos. Pequenos posts e mais de 200 amigos, eu que nunca achei que tivesse mais de meia dúzia, que é o que a gente precisa ter segundo o escritor Ignácio de Loyola Brandão (de "Não Verás País Nenhum"), já que "seis são as alças do caixão".
A escritora Martha Medeiros - que não tem Facebook, os perfis que existem são falsos - anda as voltas com a incerteza de, afinal, criar ou não o seu perfil.
Como quase tudo, existem os lados positivos e negativos. E isso depende de cada um. 
Ter uma boa ferramenta à mão ou tornar-se prisioneiro desta "facilidade".
Excluída
Por Martha Medeiros
Jornal Zero Hora - 23/10

"A Ana me ligou no final da tarde de sexta: “E aí, você vem?”.

Eu não fazia ideia sobre o que ela estava falando. Foi então que a Ana se deu conta de que eu não estava no Facebook, portanto, não sabia da festa que a turma havia armado. Como eu não havia me pronunciado, ela resolveu ligar para saber se eu estava viva.

O cerco está apertando. Antes, eu trocava e-mails com os amigos com uma certa frequência, agora todos debandaram, só um ou outro lembra que eu não estou nas redes sociais e faz a caridade de me manter informada sobre o que acontece no universo.

Não tenho vontade de ter perfil em lugar algum (e mesmo assim tenho, criados e postados por pessoas que não sei quem são). Instagram, Twitter, WhatsApp, nada disso me seduz, não conseguiria tempo para esse contato eletrizante. Ainda me custa compreender pessoas que deixam o iPhone sobre a mesa do restaurante, que precisam fotografar cada minuto vivido, que desmaiam quando esquecem o celular em casa. Eu deveria ter me alistado na expedição de colonização de Marte, onde certamente eu me sentiria menos deslocada do que aqui na Terra.

Mas não me alistei, então terei que me ajustar à nova ordem social do meu planeta.

Óbvio que a tecnologia não é a vilã da história, e sim o uso obsessivo que se faz dela. Para quem tem autocontrole, esses gadgets são fascinantes por seu dinamismo, modernidade, capacidade de agregação, de agilização de tarefas, e ainda resolvem a questão do anonimato, com o qual ninguém mais quer lidar. As redes transformaram palco e plateia numa coisa só: todos são espectadores dos outros e ao mesmo tempo possuem um holofote sobre si. Já que existir virou sinônimo de “quantos me curtem”, a população mundial conseguiu um jeito de ficar quite com o próprio ego.

É muito provável que eu estivesse nas redes caso não escrevesse colunas em jornais. Como tenho esse canal de expressão semanalmente, não me fazem falta outros. Ou não faziam. Estou nesse impasse agora: devo mergulhar com mais profundidade no mundo virtual? Reconheço três vantagens: acompanhar o que meus amigos andam tramando às minhas costas, me atualizar com mais rapidez e oferecer aos meus leitores um perfil oficial. Além de me sentir menos mumificada.

Será isso que chamam de “se reinventar”?

Ando cada vez mais próxima da filosofia budista, exalto a desaceleração, prezo uma boa conversa, adoro ter tempo para meus livros, meu silêncio, minhas caminhadas. Não sinto falta de saber mais, de ter mais acesso à informação, de conhecer mais gente. Por outro lado, não quero me isolar dos amigos nem ficar sem assunto com eles – e com o mundo.

Que dúvida. Pela primeira vez, reflito sobre algo de que, numa era em que se debate tudo, pouco se fala: o nosso direito de ser indiferente."

22 de outubro de 2013

Sobre o Leilão de Libra: bem diferente de privatização

Trabalho na Petrobras há mais de 30 anos. Com muito orgulho.
E sou ultra-nacionalista.
E sempre detonei os leilões da época do "príncipe" FHC.
Respeito a opinião de todos. 
A minha é que o leilão de Libra tinha de ser realizado desde que nos moldes que foi. O porque dessa opinião é uma longa história, uma longa análise, que não tenho tempo agora.
Reproduzo as ótimas palavras de Dilma sobre o leilão e dois artigos a respeito. Eles contem pelo menos parte das minhas conclusões.



Haroldo Lima explica porque o leilão foi um sucesso
Enviado por  on 22/10/2013 – 10:42 am0 comentários
Passado o Leilão, prosseguem alguns debates sobre o resultado. Os que eram contra, naturalmente, continuam contra. Mas os números falam mais alto. Nas reportagens sobre o tema, na imprensa nacional e estrangeira, não se tem conseguido ocultar a forte participação da Petrobrás, e sólido controle do Estado sobre o campo, tanto na forma da operação exclusiva da Petrobrás, quanto na presença da nova estatal criada, PPSA, 100% pública, que irá gerir todos os campos do pré-sal, inclusive Libra.
Nessa entrevista ao Conversa Afiada, Haroldo Lima confirma essas e outras informações fundamentais para se entender o leilão.
Importante esclarecer que o blog respeita as opiniões contrárias. Muitos nacionalistas de boa fé se posicionaram contra. Mas é preciso que estes também respeitem quem não concorde com eles.
A lei da partilha, usada no campo de Libra, foi debatida e aprovada no Congresso Nacional. É injusto dizer que “não houve debate”.
Não teria sentido, porém, continuar debatendo mais dez anos, perdendo a oportunidade para desenvolver a educação do país.
Mais vale 85% na mão, do que 100% enterrado há 3 mil metros de profundidade. Petróleo não mata fome, nem paga professor. Quem paga é o recurso oriundo da venda do petróleo, após este ter sido extraído, processado, transportado, refinado e distribuído.
Leiam a entrevista:
HAROLDO LIMA DÁ UMA AULA SOBRE LIBRA.
Lima: “o objetivo foi preservado. O interesse da União apareceu com força !”
Haroldo Lima dirigia a Agência Nacional de Petróleo no Governo Lula, quando o Brasil descobriu as jazidas do pré-sal e trocou o regime de concessão pelo regime de partilha para explorar os novos gigantescos campos.
Ele tinha sido deputado federal pelo PC do B da Bahia e, nesta segunda-feira, participou da solenidade do leilão de Libra, no Rio.
Pouco depois, ele conversou com Paulo Henrique Amorim, por telefone:
PHA: Deputado, o senhor saiu feliz com o resultado?
Haroldo Lima: Saí, Paulo, saí bastante feliz.
Foi um resultado muito vantajoso. Nós conseguimos pela primeira vez introduzir no Brasil, de forma vitoriosa, o sistema de partilha da produção, que não existia no Brasil, porque o país não tinha nenhuma área de grande produtividade.
Todas eram áreas – algumas expressivas como a Bacia de Campos – que não tinham uma concentração grande de petróleo como tem o pré-sal.
Por esse motivo, nós introduzimos o sistema de partilha no pré-sal.
As pessoas me perguntam se esse sistema é inédito no mundo.
Não, não é inédito no mundo. Ele existe em diversos lugares. No Brasil é que ele é inédito.
No Brasil, nós nunca fizemos isso porque nunca tivemos uma área tão prolífera quanto o pré-sal.
PHA: O senhor ficou decepcionado por haver uma única proposta, ou o senhor acha que o objetivo da União foi preservado?
Haroldo Lima: Foi preservado o objetivo da União.
O nosso objetivo central não é bem que haja diversas propostas. O objetivo é que o interesse da União apareça com força.
Se tiver 150 blocos de menor importância, seguramente, aparecem 40, 50 empresas para disputar esses blocos.
Mas, em blocos dessa magnitude, como o de Libra – que implica em um bônus de assinatura de 15 bilhões de reais – não aparece muita gente.
Aqui no Brasil mesmo, só tem uma empresa que costuma aparecer nesses processos, jogando um papel importante, mas não exclusivo, que é a Petrobras. No mundo tem algumas empresas.
O que aconteceu é que nós tivemos uma espécie de sinergia das grandes.
Nenhuma empresa que apareceu é inferior à décima maior do mundo. Todas as empresas estão entre as dez maiores do mundo.
Foi feita uma sinergia do ponto de vista financeiro e tecnológico.
Nós não podemos também imaginar, como muitas vez se dá em uma visão um pouco ingênua, que nós somos os únicos que temos tecnologia para operar em águas profundos – no caso, super-profundas.
Não é verdade: todas as grandes empresas tem.
E no caso especifico do pré-sal – exploração abaixo da camada de sal – isso pouquíssimas empresas tem. Nós vamos ter que somar nossos esforços tecnológicos aí para poder desenvolver.
Alguns defendem: “por que não deixar a Petrobras sozinha?”
Quando eu era da ANP nós descobrimos dois grandes campos, o de Franco e o de Libra.
O de Franco nós passamos imediatamente e integralmente para a Petrobras capitalizar, e resultou na maior capitalização já feita por uma empresa no planeta Terra [foi realizada em 2010, e a Petrobras capitalizou 102 bilhões em 24 horas].
O de Libra ficou para o governo explorar sob a forma de partilha.
Aí você pergunta: mas o consórcio só apresentou o mínimo de 41,65%.
Mas esse mínimo é o que a gente chama de “excesso em óleo”.
O excesso em óleo é o que sobra quando você paga o custeio – o “custo óleo”.
Por esse “excesso em óleo” o consórcio vai pagar ao governo 41,65%. Mas, esse 41,65% é uma parte – uma parte importante – do que ficará para o Governo.
Repare bem: 41,65% de “excesso em óleo”; 15% de royalties; Imposto de Renda; outros impostos; aluguel de área.
Quando você soma tudo isso vai dar 72%.
E como foi a Petrobras que ganhou o consórcio – e a Petrobras é brasileira – tem a parte da Petrobras no processo.
Como empresa, ela vai ter que pagar à União.
Significa que vamos tirar de Libra para a União brasileira aproximadamente 80% de todo o óleo lá extraído. O que está no limite do máximo do mundo.
(No pronunciamento em rede de televisão, a Presidenta Dilma Rousseff falou em 85%).
PHA: O senhor acredita que será possível também nessa arquitetura montada para a composição do consórcio alguma sinergia financeira, com os chineses financiando a Petrobras ?
Haroldo Lima: Aí são opiniões pessoais que eu tenho.
Como eu acho que a Petrobras estava com certas dificuldades de caixa para bancar, por exemplo, no caso especifico ( do “bônus de assinatura”), 6 bilhões de reais – porque ela entra com 40% de 15 bilhões – então ela tem que bancar 6 bilhões em cash, no ato; à vista, dentro de 60 dias no máximo, ou 30 dias, por aí.
Para ela fazer isso, vai ter que pegar algum dinheiro emprestado.
Eu ouço falar – e pessoalmente acredito nisso – que os chineses vão fazer isso. Porque para eles é uma vantagem.
Os chineses não querem aparecer. Eles apareceram de forma discreta no leilão.
Eles poderiam ter arrematado tudo sozinhos, mas eles preferiram aparecer de forma discreta, apareceram com duas empresas, uma com 10%, outra com 10% e, provavelmente, eles vão emprestar à Petrobras o dinheiro para pagar o bônus de assinatura e vão receber isso da Petrobras em óleo.
PHA: E como o senhor explica o fato de grandes empresas, como a americana Chevron e britânica BP, não terem participado? Por que elas não vieram?
Haroldo Lima: Na verdade são quatro empresas entre as maiores do mundo que não compareceram. A Exxon, a maior de todas; a Chevron, segunda maior americana; a BP, British Petroleum da Inglaterra; e a BG, também da Inglaterra.
Algumas que compareceram não chegaram a apresentar propostas, como a Ecopetrol, colombiana; a ONGC da Índia; a Petrogral de Portugal; a Petronas, da Malásia; e a Repsol espanhola. Fanatec que também não apresentou.
Essas empresas estiveram lá mas não apresentaram proposta.
Mas essas grandes que você citou nem foram lá. Por que razão?
Eu vejo duas razões: uma coisa é que eles acharam que havia uma certa participação muito grande do Estado brasileiro no leilão.
A Petrobras era colocada como operadora exclusiva do campo, a Petrobras tinha participação mínima de 30% entrando ou não no consórcio, e tem a participação da PPSA,Pré-Sal Petróleo S.A, uma empresa 100% estatal que nós criamos para poder acompanhar a execução do projeto.
Essas questões levaram as empresas a acreditar que era uma participação muito grande do Estado brasileiro. Eu pessoalmente acho que não é.
Especialmente, essa questão da PPSA.
Se você não tiver uma empresa 100% estatal pode dar tudo errado. Porque na execução do projeto vai se acumulando um custo muito grande do chamado ”custo óleo”.
Ou seja, de 5 a 6 anos ela investe somas espantosamente grandes, coisa na base 150 bilhões de dólares e quando chegar o petróleo vai ter que pagar o que ela investiu. É o tal do ”custo óleo” e, do ”excedente em óleo”, paga-se o que se investiu e o que sobrar fica para o Governo.
Ora, se esse custo em óleo for artificialmente elevado, você nunca termina de pagar esse negócio.
Razão pela qual a participação da PPSA é fundamental para não deixar que se cresça artificialmente esse ”custo óleo”.
PHA: Quer dizer então que essa decisão das gigantes americana tem o viés de pensarem que a participação do Estado brasileiro é muito grande?
Haroldo Lima: A gente sente no raciocínio deles que talvez tenha sido grande a participação do Estado.
Mas eu acho que teve também uma outra razão: como nós ficamos muito tempo sem fazer leilões no Brasil, essas empresas assumiram enormes compromissos no exterior. Na costa da África; no Golfo do México; no Mar do Norte.
E algumas, especialmente as americanas, se preparam para entrar no México.
Com você sabe, Paulo, o monopólio do petróleo, que foi uma coisa essencial para a construção da nossa Petrobras – hoje a Petrobras não precisa mais do monopólio – o monopólio acabou no mundo inteiro, menos no México, que vai acabar agora, como eles já anunciaram.
Então, com esse anúncio, as empresas americanas que estão ali do lado se preparam para entrar no México com toda a força.
PHA: O senhor podia também nos ajudar a entender, já que o senhor ajudou a criar esse embrião, a função da PPSA na questão da distribuição do Fundo Social.
Haroldo Lima: A função principal dela é a gestão do projeto. Evitar que o custo óleo seja artificialmente elevado ao ponto de ficar custoso demais para o Governo.
Aí, ela defende um ”excedente em óleo” que seja o maior possível. Depois ela só faz a distribuição como manda a Lei.
Por exemplo, a parte dos royalties está prevista em lei que 75% vão para Educação e 25% para a Saúde.
(São 75% e 25% de um montante que poderá chegar em 30 anos à 300 bilhões de reais – PHA).
Quando nós fazíamos essas projeções, o presidente Lula – porque essa ideia de 75% para Educação vem de Lula – dizia: ”nós vamos criar uma educação de primeiro mundo para o Brasil, com muito laboratório, escolas boas, professor ganhando bem”.
Isso é possível, mas isso só seria possível começando a explorar o pré-sal.
Algumas pessoas diziam para suspender o leilão. Por quê? Qual o argumento?
Nós descobrimos o pré-sal há 7 anos, fizemos hoje à tarde o primeiro leilão. Imagina isso, você descobre uma fortuna no seu fundo do seu quintal e passa sete anos sem fazer nada, em um país que precisa arduamente de desenvolvimento.
Falam da espionagem, mas espionagem daqui para frente terá sempre. E nesse caso, a espionagem é totalmente inócua, porque os dados do pré-sal são públicos. ANP apresenta os dados publicamente, se não as pessoas não entram no leilão.
Se nós começarmos a exploração amanhã, são de cinco a sete anos só furando, até chegar ao petróleo. Aí começa a entrar o dinheiro.
Nós não podemos ficar parados como se fôssemos um país rico que não depende desse recurso.
PHA: Uma outra crítica que se faz é que o Brasil não tem infraestrutura industrial para sustentar a exploração do petróleo. Verdade ou mentira?Haroldo Lima: Mentira!
PHA: Por que ?
Haroldo Lima: Quando o Lula começou – olha, eu não estou fazendo propaganda do Lula, não – eu gosto muito dele, mas uma coisa não decorre da outra, quando o Lula resolver fazer navios e plataforma aqui a indústria naval estava acabada.
Perguntavam porque fazer navios aqui se comprar lá fora é muito mais barato. A nossa resposta foi que era mais caro porque esse era o custo de se ter uma indústria naval aqui.
A resposta é a mesma. Essa indústria de equipamentos que nós vamos ter aqui, provavelmente, num determinado instante, essa indústria será mais dispendiosa para o Brasil do que se nós fôssemos comprar lá fora. Mas se comprar tudo lá fora, nós nunca vamos ter aqui.
Eu ainda tenho uma relação muito boa com o pessoal da ANP, encontro com eles e eles me contam: ”Haroldo, o que tem de gente querendo entrar no Brasil”, gente de grandes empresas que querem se instalar aqui no Brasil por causa da nossa política de conteúdo local.
PHA: É o abrasileiramento do parque industrial para poder fornecer para o pré-sal.
Haroldo Lima: Exatamente.
PHA: Quer dizer que esse casamento entre um baiano como o senhor com o Lula, e mais um baiano, o Gabrielli [Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras], deu um bicho bonito, né?
Haroldo Lima: Deu sim. Foi uma coisa interessante, dois baianos e um pernambucano.
- See more at: http://www.ocafezinho.com/2013/10/22/haroldo-lima-explica-porque-o-leilao-foi-um-sucesso/#sthash.S9jLx0zg.dpuf

Dilma fala em 85% do lucro para a União:”Isso é bem diferente de privatização

21 de outubro de 2013 | 22:43
A presidenta Dilma Rousseff fez agora há pouco um necessário pronunciamento sobre o leilão de Libra.
Devia, inclusive, ter feito outro, antes da realização, para esclarecer o povo brasileiro.
Era importante que tivesse dito, como agora disse, que “o leilão de Libra representa um marco na história do Brasil. Seu sucesso vai se repetir, com certeza, nas futuras licitações do pré-sal. Começamos a transformar uma riqueza finita, que é o petróleo, em um tesouro indestrutível que é a educação de alta qualidade. Estamos transformando o pré-sal no nosso passaporte para uma sociedade futura mais justa e com melhor distribuição de renda”.
Dilma apresentou valores que, segundo disse, representam uma participação total de 85% do Estado Brasileiro e da Petrobras nas receitas do pré-sal.
Não conheço as bases de cálculo usadas pela Presidenta, mas não acho que seja impossível, mesmo tendo apresentado aqui contas que chegam a 76%, aproximadamente, de participação estatal. Uma boa parte desta diferença vem do fato de a Presidenta referir-se à receita pública e à da Petrobras, enquanto, nas nossas contas, apropriamos apenas o que serão os dividendos estatais dos lucros da Petrobras, o que, por si só, representa uns 7% de diferença, se considerado o valor integral,
De uma omissão já me penitencio: não incluí nos cálculos o bônus de assinatura de R$ 15 bilhões, ou US$ 7 bilhões, que, em 10  bilhões de barris já representam um acréscimo de 0,7% naquelas contas.
As demais diferenças não posso afirmar do que sejam, apenas suspeitar que se fundem em dados que não temos. Por exemplo, se a produtividade dos poços for maior que a média de 10 mil barris/dia, cresce a participação estatal. Não é errôneo que se insira no cálculo, também, a receita de impostos obtida com as encomendas obrigatoriamente nacionais, que vão de um mínimo de 37% da fase preliminar até 55% na fase de exploração plena, podendo estes índices serem superados.
Há ainda outros pequenos fatores que não considerei, pela simplicidade necessária na explicação, como o fator de retenção de áreas, que é um valor que se paga, no caso da exploração marítima, à União, pelo uso de suas áreas.
Enfim, os cálculos que apresentamos são conservadores e simplificados para facilitar o entendimento. Nunca foram inflados com detalhes, e nem se usou aqui a mistificação de confundir custo com lucro, para chegar a percentuais “escandalosos”.
É bom lembrar que, no período das concessões de FHC, o Estado brasileiro se apropriava de algo como 50 a 55% dos melhores poços. 30% de diferença são muita coisa, quando estamos tratando de receitas da ordem de um trilhão de dólares.
Seja como for, duas coisas ficam patentes.
A primeira, a necessidade destas decisões, tão vitais para o país, serem explicadas e detalhadas pela mulher que tem em suas mãos os poderes que o povo lhe deu para zelar para que sejam as melhores.
A segunda, a alegria de que, espero eu, o que já considero bom tenha chegado ao ótimo, colocando o Brasil num patamar de receita com a partilha do petróleo nos mais altos índices no mundo, como são estes 85% que nos garante a Presidenta.
Fonte: Tijolaço