12 de maio de 2016

Social Engineering, Estratégias Semióticas, Hybrid Warfare e o Impeachement

Agora que o processo de impeachment é fato consumado nos cabe aqui, pelo menos, registrar para a história o que sabemos do que ocorreu. 
Futuras gerações poderão então constatar as novas estratégias de controle amplo, geral e irrestrito da opinião pública.
O texto abaixo é longo mas fica para a posteridade como um alerta para "se vacinarem" e, sabendo como funciona, manterem no seu próprio controle os seus corações e as suas mentes. Obviamente não falo para as classes sociais designadas como AAA.
Se a história até hoje tem sido escrita pelos "vencedores", temos agora a oportunidade, com a Internet, de mostrar ao futuro a outra versão dos fatos. Se ela será considerada a verdadeira não sabemos. Mas, também pelo menos, será um ponto de reflexão e análise para situações futuras que tendem a se repetir, com outras estratégias.
O que é chamado genericamente no exterior como "golpe frio" ou "golpe branco" (referência à cor e ao frio da neve), tem toda uma longa estratégia por trás, o que de fato sempre ocorreu. 
As formas é que vão se sofisticando, se adaptando aos novos tempos. 
Mas não modifica o resultado: a defesa dos interesses dos que sempre estiveram no topo da pirâmide do poder (econômico) nacional e internacional. Basta ver a história de cada um dos senadores que defenderam ontem o impeachement.
E que não são os mesmos interesses dos mais necessitados deste país. Isso sempre foi claro.
Em 2014, depois de anos de trabalho, um governo brasileiro - preocupado com os mais desvalidos da sociedade: a base da pirâmide - conseguiu finalmente retirar o Brasil do Mapa da Fome da ONU (fato devidamente escamoteado pela imprensa nativa por ser ano de eleições, mas que foi considerado no exterior um dos maiores feitos sociais de um governo democrático em todos os tempos). A imensa dívida social do nosso país estava, pelo menos parcialmente, quitada.
Rezo para que daqui a algum tempo a ONU não nos comunique que voltamos a fazer parte dele.

P.S. para melhor compreensão do texto abaixo: 
- Semiótica: A semiótica é o estudo dos símbolos e da semiose, que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. Vejam mais aqui.
- Guerra Híbrida: Confira seu significado e amplitude aqui.
- Social Engineering (como a citada Hybrid Warfare): Engenharia da formação da opinião pública. Vejam abaixo.
Marcos Oliveira.

"Bombas" Semióticas, ligações perigosas e as oportunidades perdidas
Por Wilson Roberto Vieira Ferreira em Cinegnose
"Com o impeachment da presidenta Dilma aproxima-se o desfecho de uma campanha iniciada há dez anos com as denúncias do mensalão. Mas em 2013 teve uma virada que acelerou o processo: a nova estratégia semiótica de engenharia de opinião pública com a implementação no Brasil da “guerra virtual” e da “social engineering”. Naquele ano, a grande mídia brasileira levou algum tempo para fazer a ficha cair, acostumada que estava com velhas estratégias hipodérmicas dos tempos do IPES-IBAD nos anos 1960 - surgia no País a "primavera brasileira" com manifestações tomando as ruas. A multipolarização criada pelos BRICS forçou os EUA a implementar estratégias resultantes de uma longa tradição acadêmica de pesquisas sobre engenharia social naquele país: a Mass Communication Research de Lazarsfeld, Agenda Setting de McCombs e Shaw e as pesquisas em “ações não violentas” do cientista político Gene Sharp. Logo a grande mídia brasileira entrou em sintonia com a geopolítica dos EUA ao criar as “bombas semióticas” a partir da matéria-prima das manifestações que começaram por “apenas” 20 centavos.

O ônibus da Linha 1 do Festival Tomorrowland saiu lotado do Sambódromo de São Paulo levando jovens adeptos da música eletrônica para o evento na cidade de Itu. No meio de caminho, começou uma discussão entre os animados passageiros sobre o impeachment da presidenta Dilma e a legitimidade do vice Michel Temer: “Se pelo menos ele fizer alguma coisa para tirar o País do buraco, já vai estar valendo!”, disse alguém mais exaltado.

Esse é o clima de opinião resultante do bombardeio sistemático e diário de bombas semióticas pela grande mídia nos últimos três anos, desde a “primavera brasileira” de 2013 – a série de manifestações de rua que tão inesperadamente como surgiram, também desapareceram.

Uma estranha percepção de “buraco” em que o País estaria metido expressada por aquele jovem,  apesar de todos naquele ônibus estarem rumando para um evento da cena eletrônica mundial onde uma latinha de Skol Beat ou uma garrafinha de água custavam dez reais, unindo tanto jovens da elite sócio-econômica como remediados egressos da chamada Classe C e os chamados “cibermanos” – jovens de regiões urbanas periféricas fãs da música eletrônica.

Em plena explosão das manifestações nas ruas em 2013 e a  extensiva cobertura midiática, esse blog Cinegnose iniciou a série de análises do que chamamos de “bombas semióticas”, procurando mapeá-las e, através de uma engenharia reversa, entender o mecanismo de funcionamento e as ondas de choque na opinião pública em cada detonação – sobre a série clique aqui.

Naquela oportunidade percebemos um elemento novo entrando em cena: uma nova estratégia semiótica, bem diferente das anteriores fundamentadas em longas “suítes” jornalísticas como “caos aéreo”, “mensalão”, “gripe suína”, “o escândalo do dossiê”, o “escândalo dos aloprados” etc. Estratégia hipodérmica de simples repetição onde articulistas, âncoras de telejornais, editorialistas e colunistas martelavam a pauta tentando formar a opinião pública.

Das estratégias hipodérmicas dos anos 1960 às bombas semiótica do século XXI

"Bombas semióticas" versus "estratégia hipodérmica"

Essa estratégia era ainda tributária das velhas táticas comportamentais (repetir até convencer) do antigo IPES-IBAD (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais e Instituto para Ação Democrática) onde de 1962 a 1964 desestabilizou o governo João Goulart através de massiva propaganda no cinema, TV e mídia impressa além da ação direta por meio de rede suprapartidária que barrava qualquer projeto do governo no Congresso. Mobilizou a opinião pública para torna-la receptiva ao Golpe Militar que viria mais tarde.

Se a estratégia semiótica hipodérmica funcionou nos anos 1960 (épocas mais “duras” dentro da polarização da Guerra Fria), agora no século XXI já apresentava sinais de que o prazo de validade tinha terminado – principalmente num contexto de multipolarização com o surgimento dos BRICS e globalização econômica.

De nada adiantava a repetição diária de sucessivos escândalos e crises nos governos petistas nas primeiras páginas dos jornais diários e escaladas de telejornais: Lula não só foi reeleito como fez seu sucessor que ainda seria reeleito, para desespero dos “aquários” das redações da grande imprensa.

A “primavera brasileira” de 2013 iniciou uma nova estratégia semiótica tão diferente e sofisticada que muitos formadores de opinião da grande imprensa levaram algum tempo para fazer a ficha cair – por exemplo, Arnaldo Jabor vociferava na TV Globo que as manifestações nas ruas eram “uma grande ignorância política misturado com rancor sem rumo”.

Foi o início de uma nova estratégia semiótica sofisticada demais para ter sido planejada pela grande mídia brasileira: a engenharia de opinião pública ou, como alguns analistas definem, a chamada “Guerra Híbrida” – Hybrid Warfare.

Embora diferentes “primaveras” estivessem pipocando pelo planeta (árabe, egípcia, ucraniana etc.), a vetusta mídia brasileira ainda acreditava que tudo era por causa dos 20 centavos de aumento nas tarifas de ônibus. Houve um gap de alguns dias, mas logo a grande mídia nacional entrou em consonância com a nova tática planejada bem longe daqui e que não é assim tão nova.

Alguns dos pais americanos da Social Engineering e das Hybrid Warfares

Ligações Perigosas

Aqui começam evidências de ligações perigosas entre as origens das diversas “primaveras” nacionais pelo mundo e o know how norte-americano iniciado a partir das pesquisas acadêmicas como a Mass Communication Research de Paul Lazarsfeld nos anos 1940 na Universidade de Stanford e as pesquisas em Agenda Setting de Donald Shaw e Max McCombs (Universidades de Virgínia e Texas) até chegar à aplicação política direta:

(a) A Social Engineering: coordenação de front groups (ONGs), spin doctors (técnicos de comunicação a serviço de partidos e lobbies) e paid experts (profissionais de diversas áreas que se tornam informações de pauta privilegiados para a grande imprensa) – articulados e sempre disponíveis para fornecer informações de primeira mão para a mídia - veja abaixo o fluxograma de uma ação de engenharia de opinião pública;

Fonte: HOWARD, Martin. "We Know What
You Want". Disinformation Books, 2005

(b) Ação Direta: táticas de promoção de “ação não violenta” (mobilização através de blogs, redes sociais, música, arte, táticas de não-colaboração, ocupações etc.) em conflitos ao redor do mundo a partir de pesquisas do cientista político Gene Sharp (Universidade do Estado de Ohio e Instituto Albert Einstein) financiadas pela Fundação Ford. Cursos baseados em suas técnicas ocorrem atualmente eu Universidades como Yale e na Embaixada dos EUA. O próprio juiz Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato, participou em 2007 de um curso no Departamento de Estado nos EUA de formação de Novas Lideranças;

(c) Black blocs (estranhos personagens que tão inesperadamente como apareceram também sumiram): na “primavera brasileira” foram financiados por ONGs ligadas a "causas ambientais" (sobre isso clique aqui) que costumavam depredar lugares escolhidos a dedo como, por exemplo, no episódio de uma concessionária da Caltabiano de veículos de luxo em São Paulo: revenda controlada pelo grupo americano McLarty cujo chefe, Thomas McLarty, foi Chefe da Casa Civil do Presidente Clinton. Ou então depredavam os clássicos estabelecimentos de grandes marcas (MacDonald’s, bancos etc.) para renderem fotos e vídeos impactantes para a grande mídia brasileira. Quer dizer, depois que a ficha já tinha caído nos “aquários” das redações e perceberam a intencionalidade por trás de todas essas ações “espontâneas”.

Os "estranhos" Black Blocs que surgiram do nada e desapareceram em seguida
A única semelhança com a estratégia de intervenção semiótica do IPES-IBAD nos anos 1960 foi o apoio logístico norte-americano (know how + apoio financeiro). Agora nesse século a criação de revoluções (ou “primaveras”) graças às táticas de social engineering não opera mais com o estardalhaço da massificação, mas agora com viralização através de bombas cirúrgicas e pontuais: as bombas semióticas.

Enquanto na massificação temos um emissor que repete informações para milhões de receptores, na viralização todos são ao mesmo tempo emissores e receptores quando repercutem as ondas de choque das explosões das bombas semióticas.

Oportunidades perdidas

Essas bombas não visam persuasão ou convencimento político partidário e/ou ideológico (ao contrário dos anos 1960 dominado pela doutrinação ideológica anti-comunista), mas através da sedução e percepção produzir um “clima de opinião” – a irresistível sensação de que estamos todos num “buraco” tal como o animado grupo que ia para o Tomorrowland percebia a realidade brasileira. As bombas semióticas são verdadeiras bombas cognitivas.

Mas a sequência das bombas semióticas detonadas pela grande mídia (cuja matéria-prima estavam nas manifestações) poderia ter se transformado em guerrilha semiótica – ataques e contra-ataques. Acabou se convertendo em massacre onde só um lado disparava e o outro (Governo Federal e PT) apenas tilintava como as bolinhas metálicas de um fliperama num “efeito pinball”, reagindo timidamente com notas para a imprensa.

A armação e detonação das bombas mostrou seu lado frágil com acidentes como os episódios “tem alemão no campus” (clique aqui) e “o falso candidato do Enem” (clique aqui) onde a ansiedade de repórteres em cumprir a pauta pré-fixada pelos “aquários” das redações criaram situações engraçadas.


Fossem bem aproveitadas, poderiam facilmente ser exploradas em táticas de “trolagem” para desmoralizar a grande imprensa tal como fizeram manifestantes em Lisboa para furar o bloqueio midiático a favor das medidas austeras da Troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Européia): um grupo simulou estar se manifestando a favor da Troika, atraindo a atenção de ávidos repórteres loucos para reforçar suas pautas pré-definidas. Diante de câmeras ao vivo gritaram “Que se lixe a Troika!” diante de confusos jornalistas.

Hoje, o clima de opinião de “buraco”, se não legitima, certamente tornam “críveis” ou “fatos consumados” o golpe do impeachment e o seletivo combate à corrupção da Operação Lava Jato, assim como a histeria anti-comunista embalou o Golpe Militar de 1964 e o clima de opinião da “última bala na agulha” legitimou o confisco da poupança pelo Plano Collor em 1990 para conter a hiperinflação.

Mas o que mais surpreende em toda essa história é como a nova estratégia semiótica geopolítica norte-americana (Guerra Híbrida + Social Engineering) pegou um governo supostamente de esquerda totalmente rendido. Principalmente porque muitos dos seus membros militaram sob a repressão da ditadura militar e conhecem muito bem até onde chegam as estratégias geopolíticas dos EUA.

Talvez o episódio narrado por Roberto Requião (PMDB-PR) explique muita coisa. No primeiro mandato de Lula, Requião foi ao encontro do presidente e relatou o que tinha feito no Paraná: acabou com a verba publicitária e investiu tudo na TV Educativa do Estado. Lula teria se animado com a ideia e passou a bola para José Dirceu, na época ministro da Casa Civil. “Mas Requião, o Governo já tem TV”, interrompeu Dirceu. “Mas que TV, Zé?”, retrucou Requião. Ao que o então ministro respondeu: “A Globo, Requião”.

Parece que ingenuamente Dirceu acreditava que a mídia nativa fosse na contra-mão da geopolítica internacional dos EUA de florescer “primaveras” nos países membros dos BRICS."

6 de maio de 2016

Para reflexão: 7 a 1! Para quem?

Bem, todos os segmentos políticos tem se manifestado.
Até demais.
Nesta festa da democracia brasileira...
Ou será o quinto dos infernos das manobras políticas / midiáticas / jurídicas que tem se disfarçado de democracia e feito corações e mentes de inocentes úteis?
O jogo está ganho para o vice que assume dia 12 de maio? Depende do que ele conseguir viabilizar em seu "governo", caso assuma.
Diríamos que, no mínimo, os trabalhadores e os mais pobres tem com o que se preocupar
Vamos ver o que nos diz o Juka Kfouri.

"Listamos sete (dos vários) projetos de lei prejudiciais aos trabalhadores que, num governo Temer, vão ter mais chance do que nunca de serem aprovados - sem ninguém para vetá-los na reta final."

18 de abril de 2016

A multa estratosférica e a defesa nacional

Além do circo montado ontem no Congresso - que está sendo criticado por todo o mundo civilizado - tem mais coisas ruins acontecendo no nosso Brasil.

A "multa-bomba" de 7 bilhões
"Finalmente, depois de meses de pressão desumana, gestapiana, sobre o empresário Marcelo Odebrecht, o juiz Sérgio Moro levou-o a julgamento, condenando-o – baseado não em provas de sua participação direta, mas na suposição condicional de que um empresário que comanda uma holding com mais de 180 mil funcionários e que opera em mais de 20 países tem a obrigação de saber de tudo que ocorre nas dezenas de empresas que a compõem – a 19 anos e quatro meses de prisão.

Não satisfeito com a pena, e com a chantagem, que prossegue – já que o objetivo é quebrar a moral do réu – um dos poucos que não se dobraram à prepotência e ao arbítrio – com o aceno ao preso da possibilidade de “fazer delação premiada a qualquer momento”, os responsáveis pela Lava-Jato, na impossibilidade de provarem propinas e desvios, ou a existência de superfaturamento da ordem dos bilhões de reais alardeados aos quatro ventos desde o princípio da operação, pretendem impor ao grupo Odebrecht uma estratosférica multa “civil” que pode chegar a R$ 7 bilhões – mais de 12 vezes o lucro da empresa em 2014 – que, pela sua magnitude, se cobrada for, deverá levá-lo à falência, ou à paralisação destrutiva, leia-se sucateamento, de dezenas de obras e de projetos, a maior parte deles essenciais, estratégicos, para o futuro do Brasil nos próximos anos.

Com a imposição dessa multa, absolutamente desproporcional, da ordem de 30 vezes as quantias que a sentença afirma terem sido pagas em propina pela Odebrecht, por meio de subsidiárias situadas no exterior, a corruptos da Petrobras que já estão, paradoxalmente, soltos, o juiz Sérgio Moro – e seus colegas do Ministério Público de uma operação que deveria se chamar “Destrói a Jato” – prova que não lhe importam, em nefasto efeito cascata, nem as dezenas de milhares de empregos que ainda serão eliminados pelo grupo Odebrecht, no Brasil e no exterior, nem a quebra de milhares de acionistas e fornecedores do grupo, nem a paralisação das obras com que a empresa se encontra envolvida neste momento, nem o futuro, por exemplo, de projetos de extrema importância para a defesa nacional, como os submarinos convencionais e o submarino nuclear brasileiro que estão sendo fabricados pela Odebrecht em parceria com a DCNS francesa, ou o míssil ar-ar A-Darter, que está sendo construído por sua controlada Mectron, em conjunto com a Denel sul-africana, além de outros produtos como softwares seguros de comunicação estratégica, radares aéreos para os caças AMX e produtos espaciais.

Considerando-se que se trata de uma decisão meramente punitiva, ao fazer isso o juiz Moro age, no comando da Operação Lava Jato, como agiria o líder de uma tropa de sabotadores estrangeiros que colocasse, diretamente, com essa sanção – e uma tremenda carga de irresponsabilidade estratégica e social – centenas de quilos de explosivos plásticos no casco desses submarinos, ou nos laboratórios onde ficam os protótipos desse míssil, sem o qual ficarão inermes os 36 aviões caça Gripen NG-BR que estão sendo desenvolvidos pelo Brasil com a Saab sueca.

Que não tenha ele a ilusão de que essa sua sanha destrutiva esteja agradando às centenas de técnicos envolvidos com esses projetos, ou aos almirantes da Marinha e brigadeiros da Aeronáutica que, depois de esperar décadas pela aprovação desses programas, estão vendo-os sofrer a ameaça de serem destruídos técnica e financeiramente de um dia para o outro.

Como um inútil, estúpido, sacrifício, um absurdo e estéril tributo da Nação – chantageada e manipulada por uma parte antinacional da mídia, que não tem o menor compromisso com o futuro do país – a ser realizado no altar da vaidade de quem parece pretender colocar toda a República de joelhos, até que alguém assuma a responsabilidade de impor, com determinação, bom senso e respeito à Lei e à Constituição Federal, limites à sua atuação e à implacável, imparável, destruição, de alguns dos principais projetos e empresas nacionais.

Enquanto isso, para ridículo do país e divertimento de nossos concorrentes externos, nos congressos, nos governos, na área de inteligência, nas forças armadas de outros países, milhares de tupiniquins vibram, nos bares, na conversinha fiada do escritório, nos comentários que agridem e insultam a inteligência nas redes sociais, com a destruição de um dos principais grupos empresariais do Brasil, deleitando-se com a perda de negócios e empregos, e com a sabotagem e incompreensível inviabilização de algumas de nossas maiores obras de engenharia e de defesa, mergulhados em uma orgia de desinformação, hipocrisia, manipulação e mediocridade.

Mesmo que Marcelo Odebrecht venha a aceitar, eventualmente, fazer um acordo de delação premiada, nenhum jurista do mundo reconheceria, moralmente, a sua legitimidade.

Não se pode pressionar ninguém, a fazer acordos com a Justiça, para fazer afirmações que dependerão da produção de provas futuras. Assim como não se pode confundir o combate à corrupção – se houver corruptos que sejam julgados com amplo direito de defesa e encaminhados exemplarmente à cadeia, estamos cheios de gente com contas na Suíça solta e sem contas na Suíça atrás das grades – com a onipotente destruição do país e de milhares de empregos e bilhões de reais em investimentos.

A pergunta que não quer calar é a seguinte: se a situação fosse contrária, e um juiz norte-americano formado no Brasil e “treinado” por autoridades brasileiras, a quem propôs, por mais de uma vez, sua “cooperação”, estivesse processando um almirante envolvido com o programa nuclear norte-americano, e influindo no destino de todo um programa de submarinos, da construção de um novo submarino atômico, e do desenvolvimento de um míssil ar-ar para a US Air Force, a ponto de a empresa norte-americana responsável por ele ter de ser provavelmente vendida a estrangeiros, ele teria chegado, à posição em que chegou, em nosso país, o juiz Sérgio Moro?

Ou já não teria sido denunciado por pelo menos parte da imprensa dos Estados Unidos, e chamado à razão, em nome da segurança e dos interesses nacionais, por autoridades – especialmente as judiciais – dos Estados Unidos?

O único consolo que resta, nesta nação tomada pela loucura – lembramos por meio destas palavras, que quem sabe venham a ser transportadas, em bits, para o amanhã – é que, sob o olhar do tempo, que para todos passará, inexorável, a História, magistrada definitiva e atenciosa, criteriosa e implacável, vigia, registra e julga.

E cobrará caro no futuro."
Prêmio Esso de Reportagem de 1971, fundou, na década do 1950, O Diário do Rio Doce, e trabalhou, no Brasil e no exterior, para jornais e publicações como Diário de Minas, Binômio, Última Hora, Manchete, Folha de S. Paulo, Correio Brasiliense, Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil onde mantêm uma coluna de comentários políticos.Cobriu, como correspondente, a invasão da Checoslováquia, em 1968, pelas forças do Pacto de Varsóvia, a Guerra Civil irlandesa e a Guerra do Saara Ocidental, e entrevistou homens e mulheres que marcaram a história do Século XX, como Willy Brandt, Garrincha, Dolores Ibarruri, Jorge Luis Borges, Lula e Juan Domingo Perón. Amigo e colaborador de Tancredo Neves, contribuiu para a articulação da sua eleição para a Presidência da República, que permitiu o redemocratização do Brasil. Foi secretário-executivo da Comissão de Estudos Constitucionais e Adido Cultural do Brasil em Roma. 

13 de abril de 2016

Vida em Sintropia

Wikipédia: "A sintropia, também designada negentropia - entropia negativa, é o contrário de entropia (que é a medida do grau de desorganização do sistema), ou seja, mede a organização das partículas do sistema. Um elemento negentrópico é aquele que contribui para o equilíbrio e para o desenvolvimento organizacional. A sintropia é um princípio simétrico e oposto ao de entropia física.
Enquanto a entropia é a medida da desordem ou da imprevisibilidade da informação, a sintropia é a função que representa o grau de ordem e de previsibilidade existente num sistema."

Agricultura Sintrópica: "Ernst Götsch é um agricultor e pesquisador suíço que migrou para o Brasil no começo da década de 80 e se estabeleceu em uma fazenda na zona cacaueira do sul da Bahia. Desde então, vem desenvolvendo técnicas de recuperação de solos por meio de métodos de plantio que mimetizam a regeneração natural de florestas. Com o acúmulo de mais de três décadas de trabalho que resultaram na recomposição de 480 hectares de terras degradadas (dos quais 350 foram transformados em RPPN, a primeira da Bahia), Götsch elaborou um conjunto de princípios e técnicas que viabilizam integrar produção de alimentos à dinâmica de regeneração natural de florestas, sempre complexificando sistemas, ao que convencionou chamar de Agricultura Sintrópica.
Como resultado de sua intervenção, além da colheita agrícola, observou-se que a fazenda desenvolveu seu próprio microclima, 14 nascentes de água foram recuperadas e a fauna repopulou o lugar. O experimento tem sido disseminado e adaptado a diferentes regiões e climas nos últimos 30 anos. Neste modelo de agricultura, o insumo mais importante é o conhecimento." (Em Partido Pirata).

Acima e além do momento complexo que vivemos (como diria o Luiz Felipe, ingratos e absurdos), posto abaixo um interessantíssimo vídeo que ele me repassou e que explica melhor os textos acima.
Um projeto viável para a melhoria do nosso mundo, que passa longe das dimensões de busca incessante de poder (com golpe disfarçado) que estamos vivenciando.


12 de abril de 2016

Manifesto Cultura Pela Democracia

"O que vivemos hoje no Brasil é uma clara ameaça ao que foi conquistado a duras penas: a democracia. Uma democracia ainda incompleta, é verdade, mas que soube, nos últimos anos, avançar de maneira decidida na luta contra as desigualdades e injustiças, na conquista de mais espaço de liberdade, na eterna tentativa de transformar este nosso país na casa de todos e não na dos poucos privilegiados de sempre.

Nós, trabalhadores das artes e da cultura em seus mais diversos segmentos de expressão, estamos unidos na defesa dessa democracia.

Da mesma forma que as artes e a cultura do nosso país se expressam em sua plena – e rica, e enriquecedora – diversidade, nós também integramos as mais diversas opções ideológicas, políticas, eleitorais.

Mas nos une, acima de tudo, a defesa do bem maior: a democracia. O respeito à vontade da maioria. O respeito à diversidade de opiniões.

Entendemos claramente que o recurso que permite a instauração do impedimento presidencial - isso que em português castiço é chamado de 'impeachment' - integra a Constituição Cidadã de 1988.

E é precisamente por isso, pelo respeito à Constituição, escudo maior da democracia, que seu uso indevido e irresponsável se constitui em um golpe branco, um golpe institucional, mas sempre um golpe. Quando não há base alguma para a sua aplicação, o que existe é um golpe de Estado.

Muitos de nós vivemos, aqui e em outros países, o fim da democracia. Todos nós, de todas as gerações, vivemos a reconquista dessa democracia. Defendemos e defenderemos, sempre, o direito à crítica, por mais contundente que seja, ao governo - a este e a qualquer outro. Mas, acima de tudo, defendemos e defenderemos a democracia reconquistada. Uma democracia, vale reiterar, que precisa avançar, e muito. Que não seja apenas o direito de votar, mas de participar, abranger, enfim, uma democracia completa, sem fim. Em que cada um possa reivindicar o direito à terra, ao meio-ambiente, à vida. À dignidade. Ela custou muita luta, sacrifício e vidas. Custou esperanças e desesperanças.

Que isso que tentam agora os ressentidos da derrota e os aventureiros do desastre não custe o futuro dos nossos filhos e netos.

Estamos reunidos para defender o presente. Para espantar o passado. Para merecer o futuro. Para construir esse futuro. Para merecer o tempo que nos foi dado para viver."

Leonardo Boff
Chico Buarque de Hollanda
Wagner Moura
Fernando Morais
Eric Nepomuceno

Para assinar o manifesto, clique aqui.

5 de fevereiro de 2016

Quase uma oração pela "Crise"

Mirna Grizch
Como de hábito, há um recesso em nosso blog ao longo deste período de verão.
Mas tenho me perguntado se, depois de tantos anos, ainda há alguma coisa a ser escrita e se existem leitores interessados em ler nossas opiniões, considerações e dicas.
Não tenho a resposta mas possivelmente ela seria sim. No entanto, o simples questionamento disso, nos coloca em uma posição de crise de criatividade e ânimo para continuar.
Ao pensar na palavra "crise" - e essa citada seria apenas mais uma entre tantas crises pessoais e globais que enfrentamos - me lembrei desta meditação, uma espécie de "ação de graças pela crise".
Palavra aliás que se tornou moda. Poderia ser outra, né? Afinal, quando mais reforçamos um tema negativo mais ele se torna forte. Óbvio. Lei da atração. Daí a recomendação de evitar os noticiários e os jornais da grande mídia.
Tá na hora de olharmos para frente e criarmos modismos com palavras menos duras e mais positivas como "esperança", "superação", "união", "apoio", "fé".
A crise, reflexo destes tempos complexos e conturbados, pode ser vista como uma oportunidade, conforme tenta nos mostrar a Mirna Grizch, neste texto editado originalmente na revista "Planeta - Meditação" em fins dos anos 1990.
Vale a pena ouvir.
Pode ter ali um insight para nos ajudar a atravessar esses momentos difíceis.



"Revista Meditação - Publicada entre 1998 e 2003 pela Editora Três, a Revista Meditação foi criada pela jornalista Mirna Grzich e tratava dos temas sempre eternos e atuais da busca humana. Planeta Meditação, Nova Era Meditação, Revista Meditação - nos cinco anos, a revista cresceu e se transformou, de 34 páginas passou a 100 páginas, cuidando de assuntos ligados à Espiritualidade, entrevistando grandes nomes da Ciência, da Terapia, da Arte, da Ecologia, dando espaço a escritores e mestres dos muitos caminhos da espiritualidade e da religião. Sua edição de 60 mil exemplares se esgotava todo mês, se transformando num caso editorial na midia brasileira. Como parte da publicação, acompanhava um CD cuja primeira faixa era uma meditação guiada por Miirna Grzich seguida de uma seleta de música world, new age, instrumental, com músicos da melhor qualidade."

18 de janeiro de 2016

O verão, a chuva, o tempo e os livros de saudades

Curioso que no chamado "alto-verão" (quer dizer, antigamente se chamava assim essa época de meados de janeiro) foi onde as temperaturas despencaram com a chegada das chuvas. Falo da Região Sudeste.
É a tal da "Convergência do Atlântico Sul". Ou qualquer outro nome que inventam a cada ano.
Assim, olho pela janela lateral da sala (não é do "quarto de dormir", como diria o Beto Guedes) nesta manhã de segunda-feira e vejo as gotas outonais que caem, ouço pássaros cantando na chuva - vai ver que o Fred Astaire está por ali também - e penso na praia a cinco minutos de distância mas que neste momento não me é tão convidativa. Além da chuva a temperatura está em 22ºC, quase Inverno. Para quem é do Rio.
Como ainda estou de férias restam-me outras coisas a fazer e que não são poucas.
Trouxe para o período de veraneio dois livros de Ruy Castro: o recém lançado "A Noite do Meu Bem - A História e as Histórias do Samba Canção" (anos 40 e 50) e "Chega de Saudade - A História e as Histórias da Bossa Nova" (anos 50 e 60). Ambos tem sua localização ambientada sobretudo na época de ouro de Copacabana, a Princesinha do Mar.
São livros musicais que pode-se ler ouvindo as canções que vão sendo citadas. Quem não tem os discos basta se conectar na Internet que acha tudo.
Mas o mais interessante são as histórias das pessoas, em conexão com os usos e costumes (i)morais(?) da época e do lugar. O Ruy tem essa capacidade de prender o leitor/ouvinte contando umas fofocas bem apimentadas e secretas. Quase secretas.
Fora os livros, tem os discos e filmes. E a rede na varanda. Se a chuva persistir. O que não é de todo mau.
Só assim para efetivamente descansar a mente e o corpo neste ano que vai exigir a ultrapassagem de muitos desafios para todos. Ou quase todos.
E ainda tem as redes sociais (que não são as da varanda), que eu tinha prometido não olhar em janeiro, mas que de vez em quando não resisto a uma passada rápida.
Foi numa dessas olhadas que me deparei com o artigo abaixo que uma amiga postou em um grupo do WhatsApp e que resolvi postar aqui, misturando alhos com bugalhos. Ou nem tanto.
Lendo livros de histórias dos anos 50 e 60 demonstro meu interesse em uma época em que era criança e confesso minha idade. Está aí a conexão.
Não cheguei aos 60 anos mas não estou tão distante disso. E, ao início deste Ano da Graça de 2016, me lembro que daqui a alguns meses estarei um pouco mais próximo desta barreira.
Mas, como diz o texto atribuído a antropóloga Mirian Goldenberg (e que ela garante que não foi ela que escreveu), quando chegar lá estarei apenas em uma nova faixa social, exclusiva do século XXI.
No mais, sigamos admirando a beleza das canções, dos lugares e das pessoas, como diz o (não tão) velho samba-canção - aqui na voz do internacional Dick Farney - sobre Copacabana.
E isso independe da época. Apesar do "Chega de Saudade", ela não tem idade e a nostalgia faz parte de nossa vida. Neste ponto não precisamos concordar em tudo que diz o texto a seguir.



Sexalescentes
"Se estivermos atentos, podemos notar que está surgindo uma nova faixa social, a das pessoas que estão em torno dos sessenta/setenta anos de idade, os sexalescentes-é a geração que rejeita a palavra “sexagenário”, porque simplesmente não está nos seus planos deixar-se envelhecer.
Trata-se de uma verdadeira novidade demográfica – parecida com a que, em meados do século XX, se deu com a consciência da idade da adolescência, que deu identidade a uma massa jovens oprimidos em corpos desenvolvidos, que até então não sabiam onde meter-se nem como vestir-se.
Este novo grupo humano, que hoje ronda os sessenta/setenta, teve uma vida razoavelmente satisfatória.São homens e mulheres independentes, que trabalham há muitos anos e que
conseguiram mudar o significado tétrico que tantos autores deram, durante décadas, ao conceito de trabalho. Que procuraram e encontraram há muito a atividade de que mais gostavam e que com ela ganharam a vida.
Talvez seja por isso que se sentem realizados… Alguns nem sonham em aposentar-se. E os que já se aposentaram gozam plenamente cada dia sem medo do ócio ou solidão. Desfrutam a situação, porque depois de anos de trabalho, criação dos filhos, preocupações, fracassos e sucessos, sabe bem olhar para o mar sem pensar em mais nada, ou seguir o voo de um pássaro da janela de um 5.º andar….
Neste universo de pessoas saudáveis, curiosas e ativas, a mulher tem um papel destacado. Traz décadas de experiência de fazer a sua vontade, quando as suas mães só podiam obedecer, e de ocupar lugares na sociedade que as suas mães nem tinham sonhado ocupar.
Esta mulher sexalescente sobreviveu à bebedeira de poder que lhe deu o feminismo dos anos 60. Naqueles momentos da sua juventude em que eram tantas as mudanças, parou e refletiu sobre o que na realidade queria.
Algumas optaram por viver sozinhas, outras fizeram carreiras que sempre tinham sido exclusivamente para homens, outras escolheram ter filhos, outras não, foram jornalistas, atletas, juízas, médicas, diplomatas… Mas cada uma fez o que quis : reconheçamos que não foi fácil, e no entanto continuam a fazê-lo todos os dias.
Algumas coisas podem dar-se por adquiridas.
Por exemplo, não são pessoas que estejam paradas no tempo: a geração dos “sessenta/setenta”, homens e mulheres, lida com o computador como se o tivesse feito toda a vida. Escrevem aos filhos que estão longe e até se esquecem do velho telefone para contatar os amigos – mandam e-mails com as suas notícias, ideias e vivências.
De uma maneira geral estão satisfeitos com o seu estado civil e quando não estão, não se conformam e procuram mudá-lo. Raramente se desfazem em prantos senti mentais.
Ao contrário dos jovens, os sexalescentes conhecem e pesam todos os riscos. Ninguém se põe a chorar quando perde: apenas reflete, toma nota, e parte para outra…
… Os homens não invejam a aparência das jovens estrelas do desporto, ou dos que ostentam um terno Armani, nem as mulheres sonham em ter as formas perfeitas de um modelo. Em vez disso, conhecem a importância de um olhar cúmplice, de uma frase inteligente ou de um sorriso iluminado pela experiência.
Hoje, as pessoas na década dos sessenta/setenta, como tem sido seu costume ao longo da sua vida, estão estreando uma idade que não tem nome. Antes seriam velhos e agora já não o são. Hoje estão de boa saúde, física e mental, recordam a juventude mas sem nostalgias parvas, porque a juventude ela própria também está cheia de nostalgias e de problemas.
Celebram o sol em cada manhã e sorriem para si próprios…Talvez por alguma secreta razão que só sabem e saberão os que chegam aos 60/70 no século XXI!"