9 de março de 2015

Luis Fernando Veríssimo e Luiz Carlos Bresser Pereira: a preferência pelos trabalhadores e pelos pobres gerando ódio

Nesta crônica publicada ontem, dia 08/03, Luis Fernando Veríssimo - com seu brilho e estilo únicos - faz comentário sobre o texto (na verdade uma entrevista), também recente, de um baluarte da Centro-Direita no Brasil e um dos fundadores do PSDB: Luis Carlos Bresser Pereira.
Vem daí a introdução: "Às vezes, as melhores definições de onde nós estamos e do que está nos acontecendo vem de onde menos se espera".
O título da crônica é "Olha o velhinho!" e é uma resposta (ainda que parcial) de uma pergunta que vem me incomodando e me afastando cada vez mais das redes sociais: porque tanto ódio?
Não se trata de crítica política, questões econômicas ou purismo moralista acima do bem e do mal. Trata-se de ódio que corrói tudo.
Me incluí fora dessa. 
Ponto. 
No mais, só me resta continuar lendo "O Capital no Século XXI", de Thomas Piketty.
So goodbye yellow brick road...
Luís Fernando Veríssimo
"Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres. O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar.

Economistas liberais recomeçaram a pregar abertura comercial absoluta e a dizer que os empresários brasileiros são incompetentes e superprotegidos, quando a verdade é que têm uma desvantagem competitiva enorme.

O país precisa de um novo pacto, reunindo empresários, trabalhadores e setores da baixa classe média, contra os rentistas, o setor financeiro e interesses estrangeiros. Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente. Não é preocupação ou medo. É ódio.

Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. Continuou defendendo os pobres contra os ricos.

O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. Não deu à classe rica, aos rentistas. Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força. Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.

Dilma chamou o Joaquim Levy por uma questão de sobrevivência. Ela tinha perdido o apoio na sociedade, formada por quem tem o poder. A divisão que ocorreu nos dois últimos anos foi violenta.

Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho. E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo."

Nada do que está escrito no(s) parágrafo(s) anterior(es) foi dito por um petista renitente ou por um radical de esquerda. São trechos de uma entrevista dada à “Folha de São Paulo” pelo economista Luiz Carlos Bresser Pereira, que, a não ser que tenha levado uma vida secreta todos estes anos, não é exatamente um carbonário.

Para quem não se lembra, Bresser Pereira foi ministro do Sarney e do Fernando Henrique. A entrevista à “Folha” foi dada por ocasião do lançamento do seu novo livro “A construção politica do Brasil” e suas opiniões, mesmo partindo de um tucano, não chegam a surpreender: ele foi sempre um desenvolvimentista nacionalista neokeynesiano.

Mas confesso que até eu, que, como o Antônio Prata, sou meio intelectual, meio de esquerda, me senti, lendo o que ele disse sobre a luta de classes mal abafada que se trava no Brasil e o ódio ao PT que impele o golpismo, um pouco como se visse meu avô dançando seminu no meio do salão — um misto de choque (“Olha o velhinho!”) e de terna admiração.

Às vezes, as melhores definições de onde nós estamos e do que está nos acontecendo vem de onde menos se espera.

Outro trecho da entrevista: “Os brasileiros se revelam incapazes de formular uma visão de desenvolvimento crítica do imperialismo, crítica do processo de entrega de boa parte do nosso excedente a estrangeiros. Tudo vai para o consumo. É o paraíso da não nação.”
Luís Fernando Veríssimo
Luiz Carlos Bresser Pereira

3 comentários:

Alice in Wondeland disse...

Marcos, é muito bom te ver de volta ao blog. Seria bom se não ficasse tanto tempo sem postar. Nos acostumamos aos seus posts diários. Agora, nem no outro, o Impressões, você tem estado presente. Que pena!

A sua citação da música do Elton John ao final, uma simples frase, talvez tenha sido o item mais importante da post.

Só que muita gente não vai entender. Então colhi essa explicação no blog O Mágico de Oz. É apenas uma parte mas explica um pouco o recado que você quis passar, acredito eu.
Bjs.

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A Estrada de Tijolos Amarelos
O caminho dourado para a realização dos nossos sonhos

Você já parou para pensar em qual seria o significado da Estrada de Tijolos Amarelos (Yellow Brick Road) de 'O Mágico de Oz'?

A inspiração para a Estrada de Tijolos Amarelos é controversa. Segundo uma lenda, ela foi derivada de uma estrada pavimentada com tijolos amarelos perto de Holland, Michigan, onde o autor do livro, L. Frank Baum, possuía uma casa de veraneio.

O historiador John Curran acredita que a inspiração do autor tenha sido uma estrada semelhante em Peekskill, Nova York, pois Baum integrou a Academia Militar de Peekskill quando criança.

Há também uma corrente de interpretações políticas de 'O Mágico de Oz' que dita que o romance seja na verdade uma alegoria ou metáfora para os acontecimentos políticos, econômicos e sociais da América na década de 1890.

Dentro dessa teoria, segundo o historiador Henry Littlefield, a 'Estrada de Tijolos Amarelos', seria uma alegoria monetária que representaria o ouro.

Outras teorias acreditam que a Estrada de Tijolos Amarelos representa na verdade a esperança de um futuro melhor e a coragem para fazer seus sonhos se tornarem realidade.

Também há os que creem que ela simboliza a liberdade, pois quando Dorothy encontra seus amigos em Oz eles estão presos (o Leão está escondido na floresta, o Espantalho pregado no milharal e o Homem de Lata está enferrujado em uma clareira). Os três deixam suas 'prisões' (e limites) sob a iniciativa de Dorothy e seguem a Estrada de Tijolos Amarelos, que conduz todos à auto-realização.

Marcos Oliveira disse...

Obrigado Alice!
É isso mesmo.
Lembrando que na música do Elton John, o início da frase é "So Goodbye", antes da "estrada de tijolos amarelos".
É desencanto mesmo...

Mas... "Segundo o escritor brasileiro Erinilton Gomes, "a estrada de tijolos amarelos é a vida e deve ser trilhada para que possamos crescer como pessoas. Não há magia que nos faça superar nossos limites, somente trabalho, amizade e reflexão. Como fizeram Dorothy e seus companheiros"."

Anônimo disse...

Achei muito interessante este post, mas acredito que deveríamos analisar melhor as palavras de Bresser Pereira, pois o governo petista está longe de ser realmente de esquerda.
Mas o principal ponto que gostaria de ressaltar é que esse ódio (que concordo que realmente existe) não é unicamente da classe alta, mas sim de uma massa da classe media que, ideologicamente, está mais próxima da alta burguesia, mas economicamente distante da mesma; e essa classe media que acredita ser conhecedora de política acaba sendo facilmente manipulada, tornando-se verdadeiras massas de manobra.

Ps.: não sou partidário, pelo contrario, sou mais próximo de um anarquista.