3 de julho de 2015

Boas Novas - A Encíclica Holística: para sair da espiral da autodestruição

A crise financeira internacional, deflagrada a partir dos Estados Unidos há alguns anos e que se espalhou pelo mundo, continua produzindo seus efeitos nefastos na Europa (Grécia, Espanha, Portugal, Itália, etc.) e, mais recentemente, Brasil.

Esta crise ocorreu exatamente em um momento em que as discussões acerca dos problema ambientais planetários estavam em plena efervescência.

Isso após a comprovação científica - via ONU - de que a ação humana estava efetivamente comprometendo o equilíbrio da natureza, provocando o aquecimento global. 

Dai o aumento das ocorrências extremas, como inundações, secas, furacões, etc.

A partir da crise financeira as discussões murcharam e pouco se tem falado nos últimos tempos dos diversos acordos globais para redução de emissões e controle ambiental.

Ecologia ficou esquecida.

Coube ao Papa Francisco, com o fantástico documento "Louvado Seja", retomar em nível mundial essas discussões.

O documento está sendo chamado de "Encíclica Verde", mas vai além disso ao colocar o ser humano e as nossas responsabilidades no centro das discussões.

Frei Betto fez um rápido e esclarecedor texto acerca da posição do Vaticano que reproduzimos a seguir.

Cabe agora só um complemento sobre o Papa Francisco. 

Quando foi eleito, setores de extrema direita comemoraram, tomando como base a tradição conservadora dos Jesuítas. Mas ao escolher seu nome e começar a tomar posições progressistas em relação à temas sociais, ficou claro que ele está mais para a nossa Teoria da Libertação (tão perseguida em outras eras) do que para as ideias reacionárias de extremistas de plantão.

Viva o Papa!

A Encíclica Verde
"Em homenagem a São Francisco de Assis, o papa Francisco lançou uma encíclica holística, "Louvado seja", na qual associa degradação ambiental e aumento da pobreza mundial. O texto constitui um apelo urgente para a humanidade sair da "espiral da autodestruição".

O chefe da Igreja Católica condena o atual modelo de desenvolvimento focado no consumismo e na obtenção do lucro imediato. Denuncia "a incoerência de quem luta contra o tráfico de animais em risco de extinção, mas fica completamente indiferente perante o tráfico de pessoas, desinteressa-se dos pobres ou procura destruir outro ser humano do qual não gosta."

Salvar o Planeta é salvar os pobres, clama Francisco. Eles são as principais vítimas das sequelas deixadas por invasões de terras indígenas, destruição de florestas, contaminação de rios e mares, uso abusivo de agrotóxicos e de energia fóssil.

O texto resgata a interação bíblica entre o ser humano e a natureza e faz mea-culpa quanto ao modo de a Igreja interpretar o mandato divino de "dominar" a Terra. Também amplia o significado de "Não matarás": "Uns 20% da população mundial consomem recursos em uma medida tal que roubam às nações pobres e às gerações futuras aquilo de que necessitam para sobreviver."

Não há desenvolvimento social e avanço científico positivos, alerta o papa, sem o respaldo da ética e a centralidade do bem comum em tudo que se pesquisa e planeja.

O combate à idolatria do mercado é enfático, ao frisar que a fome e a miséria não acabarão "simplesmente com o crescimento do mercado. O mercado, por si mesmo, não garante o desenvolvimento humano integral nem a inclusão social."

Além de criticar como inócuas todas as importantes reuniões de cúpula sobre a questão ambiental, pois os bons propósitos não saem do papel, Francisco amplia o conceito de ecologia ao destacar a "ecologia integral", a "ecologia cultural" e a "ecologia da vida cotidiana".

Nenhuma outra encíclica contém tanta poesia. Francisco frisa que "todo o Universo material é uma linguagem do amor de Deus. O solo, a água, as montanhas: tudo é carícia de Deus." E, pela primeira vez, uma encíclica valoriza a contribuição da obra de Teilhard de Chardin, censurado por Roma em toda primeira metade do século passado."


Frei Betto é escritor e religioso dominicano.

Recebeu vários prêmios por sua atuação em prol dos direitos humanos e a favor dos movimentos populares.

Foi assessor especial da Presidência da República entre 2003 e 2004.

É autor de "Batismo de Sangue" e "A Mosca Azul", entre outros. 

Um comentário:

Julio Siqueira disse...

Frei Betto, junto com Leonardo Boff são os grandes luminares do catolicismo no Brasil!