18 de setembro de 2015

Eu e o tempo: o primeiro Rock in Rio, 30 anos depois

O histórico cartaz oficial em inglês
No início deste ano escrevi o texto abaixo, lá no blog Impressões.
Resolvi reproduzi-lo hoje, quando se inicia mais uma edição do famoso festival.
Não estarei nessa edição, que me interessava mais por razões de memória afetiva (aquela nostalgia dos "bons tempos").
Quando decidi ir os ingressos já estavam esgotados e até que dei sorte: ainda me recupero de um dano muscular e não poderia ir mesmo. Problema de DNA :).
Acompanharei o que me interessa pelo Canal Multishow (Palco Mundo) e pela Internet (Palco Sunset).
O Palco Sunset está melhor que o Palco Mundo, por trazer atrações inusitadas.
Os Medinas perderam a oportunidade de fazer um dia exclusivamente homenageando a primeira edição do evento (30 anos), embora estejam trazendo 50% do Queen e o Rod Stewart.
Também perderam a chance de homenagear um dos principais nomes da história do Rock: hoje, 18 de setembro, completa-se 45 anos da morte de Jimi Hendrix. O festival poderia ser aberto com uma penca de guitarristas fazendo um show histórico. Pena.
Mas é isso, o tempo passa e nem tudo é lembrado como deveria...

O Rock In Rio se esqueceu, mas nós aqui não. Viva Hendrix!



Rock In Rio (e o tempo)
"Nesta semana comemora-se 30 anos da primeira edição de um dos maiores festivais de música do mundo, o Rock in Rio, que acabou se tornando lendário. Foi entre 11 e 20 de janeiro de 1985. Eu estava lá.

Pausa.

Mais de uma vez ouvi a análise de que a nossa geração (complementando a que veio antes) "acabou com a velhice". Ou pelo menos a atrasou em mais de vinte anos.
É bem verdade. Nos anos 1950 quem tinha pouco mais de 50 já era considerado "idoso".
Aplicar em nossas vidas os novos conhecimentos da ciência com relação à alimentação, atividades físicas e mentais, controle das emoções, etc. tem proporcionado isso. Fora os avanços da medicina.
Mas coloco em dúvida quando alguém me fala que, aos cinquenta e cinco, por exemplo, se sente com vinte, sem nenhuma diferença física ou mental em relação à juventude.

Pausa.

Em janeiro de 1985 eu trabalhava em alto mar. Indústria de petróleo. Estava embarcado e tinha que cumprir a escala. Perderia o Rock in Rio? Quase. Perdi uma parte. Desembarquei na quarta, consegui assistir aos quatro últimos dias.
Não vi muita gente boa: Rod Stewart, James Taylor, George Benson, Iron Maiden, etc. Em compensação tive o prazer de estar lá quando tocaram Queen, Whitesnake, Scorpions, AC/DC, Ozzy Osbourne, Yes, etc. E muitos brasileiros: Baby & Pepeu, Barão Vermelho, Kid Abelha, Gilberto Gil, Blitz, Lulu Santos, etc.

Pausa.
Pausa para pensar sobre a passagem do tempo

A energia da juventude - tanto física quanto mental - pode ser mantida em "idades mais avançadas", dependendo do DNA e das atitudes. Adicionada da experiência das vivências. With a little help from genetic.
No entanto, por mais que tenhamos avançado, não tenham dúvida: o tempo não para, como diria o Cazuza, e traz seus efeitos a cada nova idade que comemoramos. Começamos a envelhecer quando nascemos, não tem jeito.

Pausa.

O festival foi um evento histórico não só para o público. Por suas dimensões e pelo seu sucesso foi também um momento mágico inesquecível também para os artistas que participaram, incluindo os experientes internacionais, que ficaram assombrados com aquela platéia de mais de 150 mil pessoas por dia.
Quem foi se lembra como se fosse ontem. O que é muito legal. Mas também preocupante e melancólico: 30 anos se passaram muito rápido para mim.
A galera apelidou a cerveja de Malt 'Nojenta'
Os shows começavam por volta das 15 horas e terminavam lá pelas 3 da madruga. Ao final eu pegava o ônibus para Campo Grande (bairro da Zona Oeste do Rio) onde morava minha irmã. Chegava por volta das 5. Dormia até às 10. Comia alguma coisa e voltava para o festival.
Foi assim por 4 dias (e seria pelos 10 se eu tivesse tido a chance de ir em todos). Dormindo cerca de 4 horas, me alimentando mal, ficando em pé por 12 horas, embaixo de chuva (naquele tempo chovia em janeiro no Rio), por cima de muita lama, multidão ensandecida, bebendo chopp Malt 90 (que não existe mais) em copos plásticos de 750 ml cujos quiosques eram abastecidos por caminhões pipa que vinham direto da fábrica! Tinha 25 anos. E tava tudo muito bom, tudo muito bem, como cantava a Blitz. Lembrando que a infraestrutura na época não era nem sombra do que é atualmente. Festa, alegria, celebração. Cheguei a passar pelo Roberto Medina (o idealizador do festival) na entrada das bilheterias e o agradeci. Ele sorriu. Se sentia realizado.

Pausa.

Hoje, com toda juventude que uma pessoa de 55 anos possui, eu não encararia aqueles quatro dias, noites e madrugadas. É onde me refiro às limitações impostas pela passagem do tempo. Nesses extremos que só quem tem menos de 30 aguenta. Quer dizer, nem sei se a juventude de hoje arriscaria tanto em uma maratona daquele tipo. Todos querem mais é conforto. E não se pode condená-los por isso.

Mas eu estive lá! E fazem 30 anos hoje."

O Rock in Rio daqueles tempos: também na Barra. Malt 90 em primeiro plano

3 comentários:

Anônimo disse...

Excelente crônica!
O Rock in Rio atual não é nem sombra do primeiro.

Alice disse...

Como vc mesmo diz. Good Times Marcos.

Alice disse...

Como vc mesmo diz. Good Times Marcos.