13 de setembro de 2015

Um domingo frio e chuvoso e uma despedida

O domingo amanheceu chuvoso e frio.
Acho que em toda Região Sudeste e em boa parte da Região Sul.
Ao que parece, já às portas da emblemática Primavera, o Inverno resolveu se fazer presente.
Se isso atrapalha alguns planos de fim de semana, convenhamos que está ótimo para ficar na cama até mais tarde. Ou o dia todo.
Como diria o Guilherme Arantes, "deixa chover, deixa a chuva molhar, dentro do peito tem um fogo ardendo que nunca, nada vai apagar".
Rezemos que essa chuva chegue também ao Nordeste, que está precisando mais ainda que o Sudeste.
E que o Inverno demore a chegar na Europa, para dar tempo de resolver a dramática questão dos refugiados.
No mais, programação típica para dias assim: TV por assinatura - com filmes e esportes, finais do US Open e da volta ciclística da Espanha, automobilismos, motociclismo, futebol, etc.; bons livros; boa música; comidinhas e bebidas especiais...
Só não dá mais para recomendar os jornais dominicais como antigamente. Andam muito ruizinhos e negativos. Não vale perder o domingo com eles.
Por exemplo, uma das poucas coisas que ainda prestavam no Globo (se não a única) acabou, o caderno "Prosa & Verso", que vinha nas edições de sábado. 
Pouco a pouco definha The Globe, mesmo caminho da Folha de São Paulo e do Estadão. Das revistas semanais nem sei mais por onde andam. Tomei distância faz tempo.
Para ilustrar o que estou dizendo reproduzo abaixo o texto do jornalista especializado em literatura José Castello.
Uma triste despedida que mostra os caminhos que vem sendo trilhados pela imprensa brasileira. Percebam nas entrelinhas os principais recados. Os destaques em negrito são meus.
Uma pena.

Hora da despedida
POR JOSÉ CASTELLO
Chegou a hora de me despedir de meus leitores. Não é um momento fácil _ nunca é. Mas ele se agrava porque, com o fechamento do "Prosa", incorporado ao "Segundo Caderno", desaparece um último posto de resistência na imprensa do sudeste brasileiro. Os suplementos de literatura e pensamento já não existem mais. Um a um, foram condenados e derrotados pela cegueira e pela insensatez dos novos tempos. Comandado pela vigorosa Manya Millen, o "Prosa" resistia como um último lugar de luta contra a repetição e a dificuldade de pensar com independência. Isso, agora, também acabou.
Nosso mundo se define pelo achatamento e pela degola. No lugar do diálogo, predominam o ódio e o desejo de destruição. No lugar da tolerância, a intolerância e a rispidez, quando não a agressão gratuita. É o mundo do Um _ em que todos dizem as mesmas coisas, usando quase sempre as mesmas palavras. Um mundo em que a verdade, que todos ostentam, de fato agoniza. Nesse universo, a literatura se impõe como um reduto de resistência. A literatura é o lugar do diálogo, do múltiplo, da diferença. Não é porque gosto de Clarice que devo odiar Rosa. Não é porque amo Pessoa que devo desprezar Drummond. Ao contrário: na literatura (na arte) há lugar para todos.
Uma pena que o "Prosa" se acabe justamente em um momento em que nos sentimos espremidos por vozes que repetem, sempre, os mesmos ataques e as mesmas agressões. Nesse mundo de consensos nefastos e de clichês que encobertam a arrogância, nesse mundo de doloroso silêncio que se apresenta como gritaria, a literatura se torna um lugar cada vez mais precioso. Nela ainda é possível divergir. Nela ainda é possível trocar ideias com lealdade e dialogar com franqueza. Sabendo que o diálogo, em vez de sinal de fraqueza, é prova de força. Lá se vai o "Prosa" com tudo o que ele significou de luta e de aposta na criação.
A meus leitores, que me acompanharam lealmente durante mais de oito anos, só posso dizer obrigado. E dizer, ainda, que conservem a coragem porque a pluralidade e a liberdade vencerão o escândalo e a cegueira. Apesar de tudo o que se diz e de tudo o que se destrói, ainda acredito muito no Brasil. É com essa aposta não apenas no futuro, mas sobretudo no presente, que quero me despedir de minha coluna e encerrar esse blog. Aos leitores, fica a certeza de que certamente nos encontraremos em outros lugares. Nem a loucura do nazismo, com suas fogueiras de livros, conseguiu destruir a literatura. Não tenho dúvidas também: nesse mundo de estupidez e insolência, ela não só sobreviverá, como se tornará cada vez mais forte.

Fonte: Blog de Literatura

2 comentários:

Denise D+ disse...

Bom dia Marcos e Luiz Felipe Muniz.
Dia bom pra dormir né.
Adorei o texto e fiquei triste com o fim do Prosa e Verso.
Gostei também da Gisele no outro blog.
Bjs.

Anônimo disse...

Este blog é a melhor leitura para um domingo assim, ainda mais com a Dianna Krall.
Quanto ao Globo, já era!