3 de janeiro de 2014

Por que sofremos? Uma possível resposta de Pascal


Um texto simples remetendo ao pensamento às vezes complexo do filósofo, teólogo, físico e matemático francês Blaise Pascal (para os não iniciados, como este escriba).
Mas na maioria das vezes não é complexo não. Pensar sobre o que ele diz sim.
O artigo é do Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo.
Pode ser uma dica de leitura (the book) ou, se ficarmos apenas neste texto, podemos encarar como um conselho ou, no mínimo, um assunto para refletir.

Por que sofremos, segundo Pascal

"Percorro “Os Pensamentos”, de Blaise Pascal, um livro caoticamente sublime. O grande crítico francês Saint-Beuve definiu “Os Pensamentos” como “uma na qual as as pedras foram postas umas sobre as outras, mas não cimentadas, e cuja estrutura ficou inacabada”. Pascal morreu aos 39 anos, em 1641, antes de poder dar forma final à sua formidável “torre”, cujo objetivo maior era a defesa do cristianismo. (É nela que está a frase citadíssima segundo a qual o coração tem razões que a razão desconhece.)

A morte veio cedo para Pascal, colosso não só das letras mas da matemática e da física. Mas ele teve tempo suficiente para inaugurar a prosa francesa tal como a conhecemos hoje. Frases simples, profundas, cortantes, encadeadas com lógica matemática e paixão.

A edição que leio gratuitamente no iBooks tem um brinde, um prefácio do poeta, crítico e dramaturgo americano TS Eliot. “Pascal é um escritor que será lido e estudado pelos homens a cada geração”, escreveu Eliot. “Não é ele que muda. Nós é que mudamos. Não é nosso conhecimento dele que aumenta, mas nosso mundo que se altera e nossas atitudes perante isso. A história da opinião humana sobre Pascal e pessoas de sua estatura é parte da história da humanidade. Isso assinala sua importância permanente.”

Parêntese. Tom Jobim gostava de declamar, em inglês, uma frase de “Terra Perdida”, a obra-prima de Eliot. “April is the cruellest of the months”. Abril é o mais cruel dos meses. Um dia Tom confessou que era a única que ele conhecia.

É sobre um pensamento específico de Pascal que desejo falar. Me fez parar para pensar.

Aqui está: “Descobri que toda a infelicidade dos homens deriva de um simples fato: eles não conseguem ficar quietos em seu quarto.”

Clap, clap, clap.

Palmas.

Isso me remeteu a Sêneca, que dizia que “mendigamos ocupações”, e “como formigas” subimos e descemos o tronco das árvores sem propósito. (Alguém me disse que as formigas sobem e descem com aparente propósito, mas prefiro ficar com Sêneca.)

Pascal, como diria meu amigo Píndaro, brilhou.

Somos inquietos. Não sossegamos. Não conseguimos ficar no nosso canto.

Por isso sofremos."




Um comentário:

Anônimo disse...

Olá!
Sobre este post, muito bom.
A última frase mostrada contradiz o conselho citado no texto. Mas faz parte do pensamento de Pascal.