5 de julho de 2012

O Petroleo continuará sendo visado mundialmente no século XXI

Quem diz que o petroleo neste século XXI não tem mais aquela importância estratégica que movimentou políticas e guerras no século XX está enganado.
Precisamamos ficar atentos pois as necessidades, os interesses e as estratégias internacionais continuam as mesmas.
Entendam melhor lendo este artigo do Luiz Carlos Azenha, publicado ontem no seu site Viomundo.
No nosso caso regional, eu me pergunto até onde o golpe no Paraguai pode esconder alguma estratégia futura de controle da América do Sul por parte de... vocês sabem de quem. Venezuela tem petróleo, Argentina tem reservas de gás e óleo e o Brasil, estamos indo para o topo das reservas mundiais graças ao pré-sal (fora os minérios raros que temos).

E agora vamos ao que realmente interessa
Quem busca desmantelar ou enfraquecer as estatais de petróleo?
por Luiz Carlos Azenha
"Ler Fuel on the Fire: Oil and Politics in Ocuppied Iraq [Combustível na fogueira: Petróleo e Política no Iraque Ocupado], de Greg Muttitt, apenas confirma o que a gente já sabia. Através de documentos e entrevistas com os principais atores — norte-americanos, britânicos e iraquianos — o autor revela os bastidores da luta pelo controle do petróleo iraquiano depois da invasão de 2002.
Em Crude Awakening, de Ben van Heuvelen, na Foreign Affairs, a gente se dá conta de que tudo pode ter dado errado na guerra movida por George W. Bush. Inclusive a consequência indesejada de promover maior — e não menor — influência do Irã na região. Nada que uma nova guerra, desta vez contra Teerã, não resolva. Mas uma coisa não deu errado na estratégia dos neocons: a indústria iraquiana de petróleo, antes controlada de forma centralizada por Saddam Hussein e o partido nacionalista Baath, foi rachada.
As grandes companhias internacionais de petróleo agora podem jogar o Curdistão [que, na prática, assumiu controle de suas próprias reservas] contra Bagdá e vice-versa. Se não tinham nenhuma chance com Saddam Hussein, agora as Exxons da vida podem ‘partilhar’ a riqueza dos iraquianos. E, através do acesso às reservas iraquianas, podem exercer pressão sobre o único país que, a longo prazo, pode disputar com a Arábia Saudita o controle da torneira que regula os preços internacionais. Do ponto-de-vista do grande consumidor do planeta, os Estados Unidos, não é pouca coisa.
Hoje as companhias estatais de petróleo controlam cerca de 80% das reservas. Pela força que exercem na economia local — vejam o caso da Petrobras, bem aqui no Brasil — acabam aglutinando em torno de si forças políticas nacionalistas.
O século 21 é o século da Ásia. Mas o novo motor do mundo, como escreveu certa vez a própria Foreign Affairs, tem o “tanque vazio”. China, Japão, Coreia e vários outros gigantes econômicos da região são importadores de petróleo. É de onde virá a demanda. Novas tecnologias — de águas profundas, de aproveitamento do petróleo extra-pesado e do xisto, através dos controversos processos de ‘fracking’ — podem adiar aquela história do peak oil, o pico de produção depois do qual as reservas entrariam em colapso, enterrando nossa civilização viciada em petróleo.
A ideia de que os maiores consumidores do mundo abririam mão do controle sobre os preços e as reservas é conto de fadas. Grosseiramente, o consumo de petróleo per capita dos Estados Unidos é de 25 barris por ano. O da China, segundo maior consumidor, é de 2 barris.
Demolir, onde possível, o marco regulatório imposto por empresas estatais (Iraque e, mais recentemente, Líbia), enfraquecê-las e ao nacionalismo que elas acabam financiando (Petrobras, Pemex, PDVSA), em último caso recorrendo à guerra ou aos golpes para ter acesso direto ou indireto aos recursos naturais (Irã, Venezuela, Bolívia, Equador) é a tônica deste século.
A globalização não mira o nacionalismo por conta da cor dos olhos de governos ‘populistas’. E a mídia corporativa tem lado nessa luta."

3 comentários:

Marcos Oliveira disse...

Em complemento:

Saiu na Carta Maior:

Golpe no Paraguai revela nova face da Operação Condor, diz ativista

Em entrevista à Carta Maior, o mais importante ativista dos direitos humanos paraguaio, Martin Almada, disse que o golpe que destituiu Fernando Lugo da presidência revela a atualidade da Operação Condor, a maior ação articulada de terrorismo de estado já imposta ao povo latino-americano. Para Almada, essa nova Condor é muito mais abrangente do que a iniciada em 1964, no Brasil: é mais suave, global e revestida de uma capa pseudodemocrática, por meio da cooptação dos parlamentos.

Najla Passos – Brasília

Brasília – Em entrevista exclusiva à Carta Maior, o mais importante ativista dos direitos humanos paraguaio, Martin Almada, disse que o recente golpe que destituiu Fernando Lugo da presidência do seu país revela a atualidade da Operação Condor, considerada a maior ação articulada de terrorismo de estado já imposta ao povo latino-americano.

Prêmio Nobel da Paz alternativo, foi Almada quem descobriu, no Paraguai, na década de 90, o chamado “arquivo do terror”, que contém os principais registros conhecidos da Operação Condor, a articulação dos aparelhos repressivos do Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai que, a partir da década de 1960, sob a coordenação dos Estados Unidos, garantiram o extermínio das forças resistentes à implantação de um modelo econômico favorável aos interesses das oligarquias locais e das multinacionais que elas representam.

O ativista está em Brasília justamente para participar, nesta quinta (5), de um seminário sobre a Operação, promovido pela Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça da Câmara.

Marcos Oliveira disse...

Confira a entrevista:

- Como se deu a articulação do golpe que destitui Fernando Lugo da presidência do Paraguai?

Foi uma trama muito bem montada pela direita paraguaia. E quando digo direita paraguaia, me refiro à oligarquia Vicuna, aos grandes fazendeiros, me refiro aos donos da terra, os plantadores de soja transgênica, me refiro às multinacionais, como a Cargil e a Monsanto, e também aos partidos tradicionais ligados a essas oligarquias. É um caso muito particular de golpe.

- Mas é possível compará-lo, por exemplo, com o golpe que ocorreu em Honduras?

Ao contrário do que muitos dizem, não se pode comparar. Foram golpes completamente diferentes. Em Honduras, o exército norte-americano interviu, junto com as tropas hondurenhas. A embaixada americana teve uma atuação clara. O presidente caiu em sua cama. No Paraguai, tudo foi articulado via parlamento, que é a instituição mais corrupta do país. No fundo, é claro, sem aparecer, também estava a embaixada americana. Mas sua participação se deu através das organizações não governamentais (ONGs) e dos órgãos de inteligência. Normalmente, um golpe de estado, como ocorreu em Honduras, se dá com tiroteio, bomba, pólvora, morte. No Paraguai, não houve tiroteio, não houve pólvora. O que rolou foi muito dinheiro, muitos dólares.

- E como se comportou a imprensa paraguaia?

Os meios de comunicação estavam todos a serviço do golpe. É por isso que digo que foi um golpe perfeito: quando o presidente golpista assumiu, se cantou o hino nacional com uma orquestra. E uma orquestra de câmara. Foi um golpe planificado com muita antecipação.

- E onde estava o povo, os movimentos organizados que não saíram às ruas?

O presidente Lugo cometeu muitos erros. Primeiro, quando ocorreu a morte de sete policiais e onze camponeses, eu penso, como defensor dos direitos humanos, que tanto a polícia quanto os camponeses eram inocentes. Aquele conflito foi uma trama. Os policiais usavam colete à prova de balas, mas os tiros ultrapassaram estes coletes. E nós sabemos que as armas usadas pelos camponeses são muito artesanais. Não teriam essa capacidade. O que nós imaginamos é que haviam infiltrados com armas muito potentes. E Lugo, após o conflito, fez uma declaração péssima: condenou os camponeses e prestou condolências aos familiares dos policiais. Isso caiu muito mal. Segundo, Lugo firmou uma lei repressiva, uma lei de tolerância zero. Outro erro de Lugo foi firmar acordo com a Colômbia para assessorar a polícia paraguaia.

- Para tentar se manter no poder, ele fez concessões à direita que o desgastaram com as classes populares. É isso?

Exatamente. Então, no momento do golpe, o povo não saiu às ruas. Na verdade, foram dois motivos. Primeiro, a frustração, a indignação e o desencanto com Lugo. Segundo, no Paraguai, as pessoas com mais de 40 anos têm muito medo. Porque nós não vivemos 20 anos de ditadura. Nós vivemos 60. Então, só os jovens saíram às ruas. Aliás sempre, no Paraguai, as manifestações de ruas são protagonizadas por jovens, que tem uma coragem admirável.

Marcos Oliveira disse...

- Como o senhor avalia a posição dos demais países do Mercosul e da Unasul de condenarem o golpe?

Este golpe foi um golpe ao Mercosul, um golpe à Unasul, porque Lugo tinha boas relações com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com o presidente da Bolívia, Evo Morales… e isso desagradava. Lugo, com todos os seus defeitos, melhorou a saúde do povo, melhorou a educação, deu alimentação nas escolas, comida, merenda. Nem tudo estava mal. Mas ao invés de premiar Lugo, o castigaram. É por isso que acreditamos que foi um golpe à unidade regional. Uma conspiração contra a unidade da região, contra a pátria grande com que sonhou Martin Bolívar para todos os latinoamericanos. Isso atenta contra todos. Pode ocorrer, amanhã, aqui, na Argentina… na Bolívia tentam um golpe de estado, no Equador também.

- Então, como na Operação Condor, é uma ameaça a toda a América Latina?

O golpe no Paraguai é a Condor se revelando. É prova que a Condor está se revelando com outro método. Uma Condor mais moderna, mais suave e mais parlamentar.

- E como o campo progressista pode reagir?

Esta reunião aqui no parlamento brasileiro para tratar da Operação Condor, por exemplo, é de extrema importância. Porque já é possível identificar três fases desta Operação. A primeira, que começou aqui no Brasil, em 1964, com a queda do presidente João Goulart, era uma Condor bilateral: Brasil-Argentina, Brasil-Paraguai, Brasil-Uruguai. A segunda, em 1975, já era uma Condor multilateral, com um acordo ratificado entre as ditaduras dos cinco países. Agora, a Condor é global. Depois dos eventos de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, se revelou que havia centros clandestinos de tortura americanos até na Europa. Portanto, há uma Condor global. E nós temos que entender o que é a Operação Condor, como ela funciona, quem a dirige… porque quem dirige a Condor é também quem dirige a Organização das Nações Unidas, o Pentágono, a máfia das drogas…