21 de outubro de 2013

Libra, a Quarta Frota Americana, o fortalecimento da Petrobras e a nova Geopolítica do Petróleo

Jornal argentino diz o que aqui não querem ver: Libra é o Brasil se afastando dos EUA
20 de outubro de 2013

"Graças à dica no comentário do “Companheiro Luís”, aqui no blog, posso trazer a matéria publicada hoje pelo jornal argentino Pagina 12, assinada por Dario Pignotti, que diz aquilo que a mídia brasileira está vendo também, mas não tem coragem, por seu subalternismo, de publicar.

Diz que, amanhã, o noticiário eletrônico do Wall Street Journal e do Financial Times terão um dia agitado com as notícias sobre o leilão de Libra.

“Mas, debaixo das notícias em tempo real que nos sufocarão nesta segunda-feira, à base de índices de ações e de corretores com seus pontos de vista de curto prazo , encontra-se uma história se passou nos últimos anos , cujo recordar ajuda entender o que está em jogo : um rearranjo de forças na geopolítica do petróleo”.

E qual é a história que Pignotti narra?

Conta que, em julho de 2008, Celso Amorim, nosso ministro das Relações Exteriores,  recebeu um telefonema da chefe do Departamento de Estado dos EUA,  Condoleezza Rice, pedindo que fosse recebida sem preocupações a notícia da reativação da Quarta Frota e sua passagem pelo Atlântico Sul.  Fazia poucos meses da descoberta, em 2007, de grandes reservas de petróleo nas bacias de Campos e Santos, localizadas nas costas do Rio de Janeiro e de São Paulo.

“Nem o chanceler Amorim, nem seu chefe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acreditaram na retórica suave do George W. Bush. Muito pelo contrário , houve alarme no Palácio do Planalto. Lula , Amorim  e a então ministra Dilma Rousseff , que estava emergindo como um candidata presidencial, perceberam que a passagem da Marinha os EUA pela costa carioca seria uma demonstração de poderio militar sobre os mais de 50 bilhões de barris de óleo de boa qualidade guardados a mais de cinco mil metros de  profundidade, numa área geológica conhecida como pré- sal”.

Além de ir aos fóruns internacionais, diz o jornal argentino, era pouco o que o Brasil poderia fazer para, de imediato,  ”enfrentar a supremacia militar dos Estados Unidos e sua decisão que a Quarta Frota , o braço armado das petroleiras de  Exxon e  Chevron , apontasse sua proa para o Sul.”

“Lula e sua conselheira para Energia, Dilma , foram confrontados com um dilema: ou adotar uma saída mexicana  - como o atual presidente Enrique Peña Nieto , que mostrou uma vontade de privatizar a Pemex , embora o termo usado seja “modernização” –  ou injetar dinheiro para fortalecer a mística nacionalista Petrobras, para tê-la como vetor de uma estratégia para salvaguardar a soberania energética. Finalmente, o governo do Partido dos Trabalhadores ( PT) escolheu o segundo caminho e implementado um conjunto de medidas abrangentes”.

Quais?

Capitalizou Petrobras para reverter o esvaziamento econômico herdado de (…)Fernando Henrique Cardoso e conseguiu aprovar, no final de 2010 una lei de petróleo “estatizante e intervencionista”,segundo a interpretação dada por políticos  neoliberais e o  lobby britânico-estadounidense, opinião amplificada por las empresas de noticias locais”.

Além disso, prossegue o Pagina 12, reativou os planos de construção, com os franceses, de um submarino nuclear (“que avançou menos que o previsto”) e pleiteou nas organizações internacionais a extensão da plataforma offshore , a fim de que não se dispute a posse das bacias de petróleo, “além de promover a criação do Conselho de Defesa da Unasul , apoiado pela Argentina e Venezuela e sob a indiferença da Colômbia”. Firmou, também, contratos de financiamento com a China para a Petrobras.

Diz o jornal que, enquanto isso era feito, a National Security Agency americana “roubava  informações estratégicas do Ministério de Minas e Energia e diplomatas (dos EUA) em Brasília enviavam telegramas secretos a Washington classificando o chanceler Amorim como diplomata “antiamericano”.

Garante o Pagina 12 que  até três meses atrás,surgiram as primeiras notícias das manobras da NSA , a presidente queria evitar a ” radicalização ” da situação , “porque eu acreditava em uma reconciliação com os Estados Unidos, onde ele planejou viajar para uma visita oficial em 23 de outubro” . Mas a posição de Dilma “tornou-se irredutível em setembro ao saber que os espiões haviam violado as comunicações da Petrobras”.

Apenas transcrevo o final da reportagem:

“A decisão de suspender a visita a Washington, apesar de Barack Obama ter renovado pessoalmente seu convite, não não deve ser entendida como um simples gesto , porque suas consequências afetaram  decisões vitais.

O fato e não haver petroleiras norte-americana amanhã (hoje), no leilão do megacampo de Libra e sim de três poderosas companhias chinesas , dos quais dois são estatais, indica que a colisão diplomática teve um impacto prático.

Fontes próximas ao governo terem deixado conhecer a formação de um consórcio entre a Petrobras e alguma empresa chinesa, revela que a geopolítica petroleira de Brasília se inclina em direção a Pequim, que é também o seu maior parceiro comercial.

E se isso não fosse o suficiente para descrever a distância estratégica entre o Planalto e a Casa Branca, na semana passada indigesto ( para Washington ), ministro Celso Amorim, agora no comando da Defesa, iniciou conversações com a Rússia para discutir a compra de caças Sukhoi.

Foi apenas uma sondagem , mas se essa compra é formalizada será um revés considerável para a corporação militar – industrial dos EUA imaginado vender caças SuperHornet ao Brasil, durante a visita que Dilma não vai fazer.”

Que povo imaginativo, o argentino, não é?"

Por: Fernando Brito
Fonte: Tijolaço

6 comentários:

Rodolpho Lima disse...

Muito interessante esta análise. A maioria das pessoas que protestam contra o lielão não tem a mínima ideia do que está por tras disso que é a proteção da Petrobras e do próprio país contra ataques externos. A riqueza nacional está em jogo não por causa do leilão mas ele visa exatamente preservar a nossa autonomia contra o domínio americano.

RL disse...

Mas isso não pode ser dito aos quatro ventos. Nem a mídia pró-americana tem condições de ir contra pois teoricamente seria uma contradição.

Blog do Planalto disse...

Oportunamente, um recado indireto...

"A presidenta Dilma Rousseff recebe, nesta segunda-feira (21), às 10h, o ministro da Defesa, Celso Amorim. O encontro será no Palácio do Planalto."

Anônimo disse...

Libra: é melhor a
China que os americanos

Quem queria dar o pré-sal à Chevron era o Cerra … O Dudu e a Tucarina breve farão o mesmo – P.H.A. (Conversa Afiada).

Libra: é melhor a
China que os americanos
A partir do Tijolaço, o Conversa Afiada reproduz artigo de Paulo Nogueira com abertura de Miguel do Rosário:

A China e o campo de Libra
O jornalista Paulo Nogueira toca num ponto que já foi abordado pelo Tijolaço algumas vezes, com outro enfoque. A presença da China na parceria com a Petrobrás, explorando o Campo de Libra, é mais vantajosa para o Brasil do que a norte-americana ou britânica. No artigo, Nogueira cita uma economista zambiana que tem abordado as diferenças entre China, Europa e EUA no tratamento dos problemas do continente africano.

Enquanto Europa e EUA sempre se caracterizaram pela exploração predatória, temperada por um assistencialismo de ongs, a China tem gerado empregos, indústrias e empreendedorismo na África. Nogueira, ao final do texto, dá uma estocada no nacionalismo hipócrita e demagógico de Serra, flagrado pelo Wikileaks prometendo dar o pré-sal a Chevron, petroleira norte-americana.
*
Por que é bom torcer para que a China ganhe o leilão de Libra

Por Paulo Nogueira, no Diario do Centro do Mundo

Uma questão tem sido virtualmente ignorada — ou deliberadamente distorcida — no controvertido leilão do campo de libra: a presença da China.

É a chamada boa notícia.

Torcemos para que a China ganhe. É o melhor parceiro que se pode ter hoje. Em seu excelente livro “The Winner Take All”, que relata a corrida organizada e bem-sucedida chinesa em busca de recursos naturais que garantam seu futuro, a economista Dambisa Moyo mostra como a China rompeu o paradigma ocidental nessa área.

Tradicionalmente, o ocidente promoveu guerras para tomar posse de áreas ricas em recursos naturais. Por meio das bombas, estabeleceu relações que eram absurdamente desfavoráveis para os países plenos de recursos. Veja o que os Estados Unidos fazem há anos no Oriente Médio, por exemplo, para assegurar petróleo.

A China, por ter uma natureza diferente, foi por outro caminho, demonstra Dambisa. Busca recursos naturais tendo por base uma relação em que ambas as partes ganhem. (Na brilhante definição do intelectual britânico Bertrand Russell, feita há cerca de um século depois de uma temporada na China, é um ‘país artista’, não feito para guerras.)

O papel da China na África ilustra perfeitamente isso. Dambisa, economista de prestígio internacional, está familiarizada com o quadro: é natural da Zâmbia.

O comércio bilateral entre a China e a África subiu de 10 bilhões de dólares em 2000 para 90 bilhões em 2009.

A China é muito melhor para a África do que os Estados Unidos ou a Europa.”

Não é à toa que os países africanos, como mostram pesquisas, prefiram amplamente as parcerias com a China, e não com os americanos ou as potências europeias.

No Brasil, como se vê no livro de Dambisa, a China já é também um parceiro fundamental. Nos seis primeiros meses de 2010, a China multiplicou por 10 seus investimentos no Brasil e os elevou para 20 bilhões de dólares. Com isso, os chineses se tornaram os principais investidores internacionais no Brasil, à frente dos Estados Unidos. A China é hoje, além disso, o principal parceiro comercial do Brasil.

Faltam ao Brasil recursos para explorar rapidamente o petróleo de Libra? Pena. Que se busquem parceiros, e entre estes não poderia haver ninguém melhor que os chineses.

É patética, obtusa e demagógica a reação de líderes como Serra. “Agora vamos ficar numa relação de uma quase colônia da China, um neocolonialismo do Brasil em relação aos chineses, o que me parece incrível”, disse Serra esta semana.

O que diria ele se a parceria estivesse prestes a ser travada com os americanos? Você pode imaginar. Incrível mesmo é alguém ainda dar ouvidos para o bestialógico neonacionalista de Serra.

Por: Miguel do Rosário

Anônimo disse...

A horas de Libra ficar com a Petrobras, as raposas uivam para as uvas perdidas

21 de outubro de 2013 | 11:08
Como o alertou o diário argentino Pagina 12, a manhã do dia decisivo para o pré-sal brasileiro está cheia de informações sobre o “fracasso” do modelo de partilha.

Na Folha, a Petrobras quer “abrir mão”, no futuro, de ter automaticamente 30% de qualquer área do pré-sal que venha a ser licitada, vejam só!

O argumento é de que fica pesado demais investir, como se o leilão de Libra não estivesse provando que, tendo petróleo como garantia, não faltam no mundo empresas de petróleo estatais, como as chineses, dispostas a financiar isso.

Não existe possibilidade de comercializar áreas de caríssima exploração, como as do pré-sal, sem certeza bastante razoável de sucesso exploratório e em grandes volumes.

Na mesma linha, vem o Valor, dizendo que, depois do leilão é “hora de rediscutir a relação”, claro que para desfazer as regras que protegem o Brasil.

A outra “graça” é a notícia da Reuters que diz que “a Petrobras terá de desembolsar no leilão desta segunda-feira pelo menos 4,5 bilhões de reais em bônus de assinatura por uma área que já lhe pertenceu”, porque um poço da parte devolvida do bloco BM-S-4, hoje contida na área de Libra, foi devolvida à ANP.

É o contrário: o Brasil é que deu sorte desta área ter sido devolvida.

Porque ela foi oferecida a preço de banana no primeiro leilão do Governo Fernando Henrique, em 1999. A turma do genro, com a assessoria do “especialista Adriano Pires” colocou o bloco à venda por R$ 250 mil, na ocasião. Era tão barato que a italiana Agip o arrematou por R$134 milhões, pagando um ágio de nada menos que 53.564%!

Posteriormente, o bloco foi passado à Shell, com participação minoritária da Petrobras. Quem furou o poço “1-SHELL-5-RJS, fechado e abandonado, (que) está dentro dos limites da área que será licitada pelo governo”, como diz a matéria e o nome já indica, foi a competente anglo-holandesa.

A Petrobras, quando teve a seu cargo perfurar por ali, foi mais fundo e achou o petróleo.

Se alguém pode estar chorando por isso são italianos, ingleses e holandeses, porque nas copmpetentes avaliações da turma do genro Libra poderia ter sido vendida pelo preço de um apartamento de três quartos, no Rio, à época.

Palmas também para O Globo, que alerta em manchete para o “risco em alto mar” do petróleo de Libra, porque não há um plano de contingência para os poços que sequer ainda foram definidos onde serão, e como se cada um deles não fosse exigir licença ambiental, quando solicitada a perfuração.

As raposas uivam de todo o jeito para desdenhar das uvas que perderam.

Por: Fernando Brito

Anônimo disse...

LIBRA: SÓ AMERICANOS FUGIRAM. PETROBRAS, CHINA, SHELL E TOTAL VENCEM
Quer dizer que a Shell e a Total iam embora …

A urubologia naufragou no pré-sal. A Petrobras ficou com 40% do campo – mínimo seria 30%. As estatais chinesas terão 20%.

A Shell, que ia fugir segundo a urubologia, terá 20%.

E a francesa Total, 20%.

Essas empresas pagarão royalties que, em 75%, serão destinados à Educação do povo brasileiro.

E 25% à Saúde do povo brasileiro.

Vão explorar de 8 a 12 bilhões de barris com um pico de produção de 1,4 milhão de barris/dia.

Elas vão comprar de 12 a 18 plataformas e de 60 a 90 barcos de apoio, com mais da metade de conteúdo nacional, o que dará emprego ao trabalhador brasileiro.

Que horror !

Paulo Henrique Amorim