5 de outubro de 2013

Marina no PSB (vice de Eduardo Campos): o xadrez de 2014 se complica

Quem ganha: Eduardo Campos.
Quem perde: Marina Silva (não vai ser candidata a Presidente e sim a vice), Aécio Neves e PSDB.
Quem tem de se cuidar e estudar novas estratégias: PT.

Com Marina no PSB, Campos joga xadrez refinado; e se Aécio Neves desistir?
"Confirmada a filiação de Marina ao PSB, Eduardo Campos mostra uma capacidade de articulação refinada. Mais que isso: mostra ser um jogador de xadrez com a habilidade dos russos, capaz de jogar agora, calculando os movimentos das peças três ou quatro lances adiante.

PT e PSDB tentaram submeter as candidaturas Campos e Marina à lógica da velha polarização entre tucanos e petistas… Ao PSDB, interessava a existência de várias candidaturas para dividir os votos, e assim forçar um segundo turno. Marina, indo para o PSB, quebra essa lógica. Mais que isso: ao escolher o PSB (e não o PPS) ajuda a consolidar um novo pólo, fora da órbita de tucanos e petistas.

Eduardo Campos tem sido muito habilidoso em seus movimentos. Aproximou-se de Aécio, mas sem ceder um milímetro de sua autonomia e de sua estratégia à lógica tucana. Saiu do governo petista, entregando os cargos, mas não atacou Lula nem o lulismo. Não aceitou a lógica do PSDB, de transformar-se em linha auxiliar do tucanato. Fez isso com maestria, apesar das defecções de Cid e Ciro no Ceará e de certo mal-estar com adesões conservadoras ao PSB Brasil afora.

Passada a eleição de 2012, eu já escrevera neste blog que o PSDB gostaria de transformar Eduardo Campos e o PSB em linha auxiliar do tucanato, mas era mais provável que acontecesse o contrário…

Claro, os tucanos têm máquina poderosa nos Estados, têm parceria com empresários, têm certa tradição. Mas não têm discurso. Eduardo Campos pode, sim, apresentar-se como o lulista que segue a admirar o legado do ex-presidente mas apostando em uma renovação, no tal “o Brasil pode mais”. Sozinho, talvez estivesse fadado a ser apenas coadjuvante, assumindo o papel de tirar 10% dos votos de Dilma no Nordeste (o suficiente pra levar a eleição e Aécio pro segundo turno). A parceria com Marina (quem será presidente e quem será vice?) faz com que Eduardo Campos e o PSB sejam muito mais que isso: transformam-se de fato no desaguadouro de uma “terceira via”.

Marina perde parte de sua aura de “reserva moral”, e de “diferente de tudo que está aí”. Enquadra-se na lógica eleitoral. Por isso, Eduardo Campos ganha muito mais que Marina com a parceria. Vira gente grande na política, ainda que Dilma siga favorita.

E quanto aos tucanos? Amigos mineiros juram que Aécio ainda vai desistir da candidatura a presidente, para se lançar ao governo mineiro em 2014. O PSDB está sem candidato em Minas, Pimentel do PT é o favorito. Seria um risco grande demais para Aécio perder o feudo mineiro, correndo ainda o risco de ficar em terceiro na eleição nacional.

Não foi por outro motivo que Serra decidiu ficar no PSDB. Serra está vivo. Aécio pode desistir, e aí os tucanos iriam com uma candidatura “guerreira” pra 2014. Veríamos de novo as jogadas e ações de Serra – que todos conhecemos.

Já vejo gente apressada supondo que Aécio e os tucanos poderiam fechar uma grende frente com o PSB já no primeiro turno. Não acredito que prospere. Para o PSB, seria bom ter o PSDB até o fim na campanha (com Serra ou Aécio). Campos /Marina tendem a gorma, anhar força se deixarem Serra ou Aécio batendo no PT, enquanto o PSB entraria só na “boa” – como “terceira via”. Aécio e o PSDB acabarão, nesse quadro servindo de linha auxiliar para o PSB.

De toda forma, Dilma segue favorita. Mas Campos e Marina (e não mais os tucanos) ganhariam cacife para constituir a verdadeira oposição pra 2018; longe do discurso ranheta e conservador, seria a construção de um “pós-lulismo” (contra Lula em 2018? Isso é que não encaixa bem…)

Por fim, o PT e seu marqueteiro precisam rever o discurso. João Santana deu uma entrevista lamentável, chamando os concorrentes de Dilma de “anões”. Soberba desse tipo foi o que levou a eleição de 2010 ao segundo turno.

Tucanos e petistas já não jogam sozinhos. Não adianta dizer que Campos e Marina fazem o jogo dos tucanos – como vejo alguns lulistas a berrar nas redes sociais. Além de inútil, essa gritaria não bate com os fatos. Campos e Marina não fazem o jogo dos tucanos. Fazem o jogo próprio – com um grau de autonomia que não permite chamá-los de “anões”, nem enquadrá-los no papel de coadjuvantes para levar tucanos ao segundo turno. O jogo ficou mais complexo, escapando (aparentemente) da velha polarização."

Resta ver como o eleitor reagirá a esse xadrez refinado."
Por Rodrigo Viana

4 comentários:

Anônimo disse...

O COMEÇO DO 2ª TURNO

O ingresso de Marina Silva no PSB tem implicações sobre o conjunto da campanha presidencial para 2014. Na prática, o segundo turno já começou.

Vamos entender o que aconteceu. Ao oferecer o PSB para Marina Silva, Eduardo Campos trouxe, para dentro de sua legenda, a candidata que é segunda nas pesquisas de intenção de voto. O próprio Eduardo Campos está em quarto lugar, não sai do chão e acaba de sofrer uma derrota interna importante. O governador do Ceará, Cid Gomes, deixou o PSB. Em matéria de dissidência, seria equivalente, no PSDB, a Geraldo Alckmin romper com Aécio Neves e abandonar o partido, levando embora os votos de São Paulo.

Acabo de ouvir um líder importante do PSB. Ele me garante que Campos e Marina vão formar uma chapa e que o governador de Pernambuco será o titular, deixando para a nova aliada será a vice. O acordo é este, garante. Também é isso que dizem pelo lado de Marina.

Por mais respeito que tenha por essas pessoas, sei que os segredos fazem parte da política. Duvido e dou risada. Não acho que Marina foi ao PSB para ser vice de um candidato que tem 25% de suas intenções de voto. Se fosse para isso seria melhor ficar em casa em nome dos princípios da Rede de Sustentabilidade e pronto.

Em segundo lugar, a experiência demonstra que ninguém vota em vice-presidente. Vota-se no titular, obviamente. Desse ponto de vista, a aquisição de Marina não acrescentaria muita coisa a Eduardo Campos. Outra questão: você acha que o neto de Miguel Arraes poderia beneficiar-se do discurso anti-político de Marina?

Na verdade, essa composição resolve muitos problemas para as partes. Assegura uma legenda a candidatura de Marina. E pode abrir uma saída para seu novo parceiro.

Enfraquecido e sem perspectivas de crescimento na eleição presidencial, Eduardo Campos fica liberado para disputar uma eleição que pode vencer, para senador, em vez de correr o risco de ficar sem um único mandato para chamar de seu depois de 2014.

Mas não é só isso. Se Marina era a única candidata da oposição que não fazia água, um eventual crescimento de sua candidatura nos próximos meses pode provocar outra mudança. Estou falando de Aécio Neves.

Até março de 2014 será possível definir, oficialmente, quem concorre a qual posto eleitoral. Imagine se, até lá, Aécio estiver no mesmo lugar de hoje, em terceiro, mas a uma boa distancia do segundo lugar. Estará diante do mesmo cenário de Eduardo Campos: sofrer uma derrota e ficar sem mandato.

O apoio a Marina, em nome do conhecido discurso de “unidade das oposições”, pode ser uma excelente oportunidade para Aécio mudar o rumo de sua campanha. Teria a benção de boa parte dos empresários e, com certeza, dos meios de comunicação. Poderia reforçar o coro anti-petista, cada vez mais estridente e reacionário, com a voz suave de quem esteve lá, como Marina.

Basta olhar para a disputa pelo governo de Minas, onde o PT apresenta-se com um ministro e um dos maiores empresários do Estado, para constatar uma novidade. Pela primeira vez em sua história, o PSDB encontra-se sob o risco real de uma derrota por falta de candidato a altura. Se ficar sem chance na luta presidencial, Aécio poderia ser levado a salvar os móveis do PSDB na disputa estadual e voltar para Minas. Essa possibilidade, que parece muito remota agora, delirante até, explica a permanência do eterno candidato a presidente José Serra no PSDB.

Por trás de tantas mudanças, encontra-se uma situação real, que é o risco da oposição sofrer uma quarta derrota consecutiva para o condomínio Lula-Dilma desde 2002. Com 38% das intenções de voto, contra 32% para a soma dos adversários, Dilma ameaça os concorrentes com uma possível vitória no primeiro turno. É essa musica adversa que provoca movimentos entre seus adversários.

Paulo Moreira Leite

Anônimo disse...

Serra está vivo? Tem certeza? E se o Aécio desistir será para se candidatar ao governo do Rio já que ele vive no Leblon.

Anônimo disse...

Rede e PSB montam coligação fantasma

5 de outubro de 2013 | 17:03
Ninguém entendeu nada. Nem os jornalistas, nem os políticos, nem a própria Marina Silva e o próprio Eduardo Campos. Tentando disfarçar o casuísmo algo desesperado de Marina Silva de se coligar ao PSB, ela inventou uma “coligação democrática”, na verdade uma coligação fantasma entre uma legenda que não existe e um dos partidos mais pragmáticos do país.

Enfatizou que não está fazendo uma aliança pragmática, mas programática, quando se trata exatamente do inverso.

O PSB, com todo o respeito que se deve a um partido tradicional da política brasileira, é exatamente o oposto de tudo aquilo que a Rede vinha propondo a seus militantes. Talvez não haja partido mais afeito ao “pragmatismo”, na pior acepção desta palavra, do que o PSB, e particularmente o PSB de Eduardo Campos.

Em nome de sua candidatura, Campos tem se aliado com o que há de mais reacionário e atrasado na política brasileira, atraindo para o partido gente como a família Bornhausen e Heráclito Fortes. Além do apoio de Ronaldo Caiado.

O PSB, nos últimos anos, aliou-se ao PT no governo federal, e ao PSDB nos estados. Que pragmatismo é mais descarado do que esse?

Além disso, Marina Silva externou uma vitimização lamentável, tratando o Tribunal Superior Eleitoral como se estivesse lidando com hidrelétrica inimiga, e não a instituição mais importante da burocracia democrática, um dos bastiões institucionais mais respeitados pelo povo brasileiro e pela classe política.

Sirkis, Feldman, Domingos Dutra, Pedro Ivo, a cúpula da Rede também se filiou ao PSB. Eu fico pensando o que passou pela cabeça de Sirkis ao se ver assinando às pressas a filiação num partido que jamais se preocupou com o meio ambiente ou com o desenvolvimento sustentável.

Recuso-me a comentar uma suposta declaração de Marina Silva sobre derrotar o “chavismo do PT” e que havia 2 mil pessoas recebendo dinheiro público para falar mal dela nas redes. É muita baixaria. É coisa do Serra.

O maior perdedor foi Aécio Neves e o PSDB.

Nem falo de Roberto Freire, que ficou com a terceira brocha na mão em poucos meses. Tentou se fundir com PMN e não conseguiu. Ofereceu-se despudoradamente a Serra e foi esnobado. Por fim, ofereceu-se de forma ainda mais sem vergonha à Marina, e foi desprezado.

Eduardo Campos, ele sim, certamente, foi o grande ganhador desse imbróglio todo.

Assistimos hoje a uma inesquecível aula de hipocrisia e demagogia.

Por: Miguel do Rosário

Marcos Oliveira disse...

Em seu discurso de filiação ao PSB nesta tarde, Marina Silva cometeu um deslize que traz toda a verdade do fato: trocou "aliança programática" por "aliança pragmática" com PSB. Tudo que ele sempre foi contra quando estava no PT. Tornou-se igual ao PSdB. Aliás, já era há muito tempo.