19 de dezembro de 2013

Retrospectiva 2013: Os Malas do Ano

Esta lista eu estava pensando em fazer desde novembro, mas cadê tempo?
Já tinha encontrado algumas na Internet mas eram fraquinhas.
Até que hoje achei esta no DCM e bateu bem aproximado com o que eu estava imaginando.
Então foi só copiar e colar.
P.S.: É claro que eu tiraria o meu Fluminense mas aí não seria justo com a lista do Kiko Nogueira. Só acho que a culpa não é do tricolor e sim de todo o futebol brasileiro. Cada vez mais estou vendo os campeonatos europeus e deixando de lado o que se passa por aqui...

Retrospectiva DCM 2013: Especial “Os malas sem alça do ano”
"A Internet tem o dom de amplificar a estupidez das pessoas. Vivemos uma era em que, a cada dia, um panaca fala ou faz alguma besteira. Em homenagem a essas pessoas especiais, criamos a lista dos Maiores Malas de 2013. Queremos agradecer à equipe de especialistas que nos ajudou a chegar a esses nomes que trouxeram diversão e arte ao Brasil. Vamos a eles:

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Marco Feliciano

O deputado pastor chamou atenção para uma comissão que ninguém sabia que existia, mas pelas razões erradas. Homofóbico, obtuso, oportunista, vaidoso, simonista, ele saiu da obscuridade para a obscuridade. Faz chapinha e canta. Firmou-se como a nova estrela da direita evangélica e da Teologia da Prosperidade, uma seita que usa a Bíblia para justificar que enriquecer é divino, especialmente roubando o dinheiro dos fieis. Começou o ano dizendo que o continente africano era amaldiçoado e terminou declarando que Mandela “implantou a cultura da morte” na África do Sul por causa das leis do aborto. Ainda teve tempo de pedir, num culto, um carro para a filha, na maior cara de pau. Foi atendido por Jesus, na pessoa de um pobre coitado que lhe presenteou com o carro da mulher.

Um problema nacional

Joaquim Barbosa

Com sua eterna dor nas costas (por que não se trata?), o presidente do STF foi um espetáculo de arrogância, hipocrisia e sede de vingança. Pegou avião da FAB para ver jogo no Maracanã no camarote de Luciano Huck, chefe de seu filho; comprou apartamento em Miami em circunstâncias mal explicadas; pediu cabeça de repórter; o diabo. Além de tudo, JB é o tipo de sujeito que se compraz com o sofrimento de suas vítimas. Na definição precisa do jurista Celso Bandeira de Mello, professor da PUC há 40 anos: “É um homem mau, com pouco sentimento humano.” É um homem mau.

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Eike Batista

O homem mais rico do Brasil era uma bolha e explodiu. Foi uma falência espetacular, depois de anos prometendo entregar o que não existia — tudo emoldurado por frases de efeito de “vencedor”, fotos do Porsche na sala de estar e aquela indefectível peruca italiana. Sua fortuna derreteu de estimados 10 bilhões de dólares para 73 milhões. Há algumas semanas, saiu para jantar com Ronaldo Fenômeno e alguns amigos e o pessoal fez questão de pagar a conta. A Forbes o comparou ao Rei do Camarote.

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Rei do Camarote

Alexander Augusto de Almeida foi apresentado ao mundo pela Veja São Paulo. Ele contava que tinha uma Ferrari e gastava até 50 mil reais numa balada. Tudo lindo. Mas de onde vinha esse dinheiro todo? Alexander é um zangão do Detran, que trabalha para os bancos ferrando as pessoas que não conseguem pagar as prestações do carro. Devia 55 mil reais de IPTU. Alçado à condição de subcelebridade, deu entrevistas na televisão, protagonizou um vídeo que se tornou viral e já voltou à condição de babaca anônimo.

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Justin Bieber

A criança mais chata do showbizz veio ao Brasil “cantar” para fãs que dormiram em barracas montadas na fila dos ingressos. Foi a um lupanar no Rio de Janeiro, fez xixi na rua, dormiu com uma garota de programa que depois fez um vídeo, pichou o muro enquanto os seguranças olhavam, saiu do hotel onde estava hospedado porque não deixaram que ele brincasse de submarino na piscina. Na Argentina, limpou o chão com a bandeira do país e foi declarado persona non grata. A boa notícia é que avisou que vai se aposentar. A má é que é mentira.

Ele

Lobão

Depois de lançar o livro “Manifesto do Nada na Terra do Nunca”, o músico aderiu às hostes de Olavo de Carvalho e descobriu que o Brasil é uma ditadura comunista-chavista-gayzista dominada pelas FARCs. Trocou a obsessão por Herbert Vianna, a quem reputava ter arruinado sua carreira, por Lula, Dilma e o PT. Mente descaradamente, como quando falou que passou onze anos numa lista negra do “doutor” Roberto Marinho na Globo. Ganhou uma coluna na Veja e ainda vai dar muito trabalho para si mesmo.

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Danilo Gentili

O ex-comediante teve um ano inesquecível. Não fez uma piada decente, um esquete divertido, uma tirada inteligente, mas conseguiu ofender negros, homossexuais e uma mulher que doava leite para hospitais. Quando é processado, reage dizendo que é perseguido pelo governo e que foi censurado. A única censura real que teve foi em sua emissora, que vetou seu especial de fim de ano, mas sobre isso ele corajosamente se cala. Diz que seu humor débil mental e covarde é politicamente incorreto — não é, é apenas débil mental e covarde. Seu último grande lance foi chamar uma moça que o criticou de “puta” no Twitter e insuflar seus seguidores para que a linchassem. Gosta de plantar notinhas sobre supostos convites de outras emissoras. Um bom nome para substituir Regina Cazé no “Esquenta”.

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A polícia nas manifestações

Sem treino, sem estratégia, sem paciência, sem noção, mas com muita vontade de partir para a porrada, a polícia de todos os estados deu demonstrações de que não tem a menor condição de lidar com protestos como os ocorridos a partir de junho. Fotógrafos cegos com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo, cacetadas em casais sentados em bares — essa foi a língua utilizada pela PM para dialogar com os manifestantes. A violência foi útil para levantar a discussão acerca da desmilitarização da força policial. Gente de todas as esferas deu sua opinião. Especialistas do Brasil e de fora discutiram o tema. Como era de se esperar, não deu em nada.

Inútil

Roger do Ultraje

Veja Danilo Gentili.

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Miley Cyrus

Ela cresceu, não é mais a Hannah Montana e quer muito que as pessoas saibam disso. Muito. E seguiu o script de Britney Spears e outros antigos ídolos teens: pirou. Fez um clipe nua balançando numa bola de ferro, lambeu um martelo (!?), se apresentou num prêmio da MTV se esfregando no cantor Robin Thicke. Como presente de Natal para os fãs, tirou uma foto de topless agradecendo a Nova York por ser um dos “poucos estados a libertar o mamilo”.

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Roberto Carlos

O Rei proibiu um livro sobre a Jovem Guarda porque não gostou das ilustrações, mas aquele era só o prenúncio do que viria. Mentor do grupo Procure Saber, que lutou pela não autorização das biografias não-autorizadas, RC acabou dando um nó em seus colegas de MPM ao aparecer no “Fantástico” todo pimpão numa postura aparentemente mais moderada. Destituiu Paula Lavigne, colocou no lugar o advogado dele, Kakay, e levou a briga para os corredores escuros de Brasília. A boa notícia é que, neste ano, não lançou nenhuma canção nova. “Esse Cara Sou Eu” manterá preenchida sua cota de porcarias por mais alguns anos.

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Os jurados do The Voice

Carlinhos Brown, Claudia Leitte, Lulu Santos e Daniel são a hidra de quatro cabeças do novo sucesso da Globo, o programa de calouros “The Voice”. Eles são jurados e técnicos dos rapazes e moças que tentam a sorte cantando como Christina Aguilera — o chamado oversinging, com muito vibrato, inventando notas onde elas não existem e fingindo que aquilo é feeling. Todos os juízes se amam e se completam: Claudia Leitte é a boazinha; Daniel é o bocó; Lulu é o professor; Brown é o Brown. Se a música brasileira estava sob a ameaça do sertanejo, do funk e do pagode, a situação complicou de vez com a ajuda do quarteto.

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Dinho Ouro Preto

Recordemos o discurso imortal do nosso tiozinho no Rock In Rio: “Vamos usar a cabeça, cara. Esse Natan Donadon, esse cara, nosso primeiro presidiário congressista, cara. O próprio Congresso, cara, por ter mantido o cargo desse sujeito, falou, cara. Então, cara, cada um de vocês pode fechar os olhos de vocês, cara, e escolher o seu preferido, cara, eu prefiro, cara, dedicar ao parlamento brasileiro pelo conjunto da obra. Tá ligado, véio (aeee!). Eu tenho a seguinte impressão, cara, quando neguinho olha lá de cima, de Brasília, para o resto do Brasil, cara, olha para baixo, cara, para a planície, eles olham 200 milhões de cidadãos assim, ó. (Coloca um nariz de palhaço). Essa aqui é pra Brasília, essa aqui se chama Saquear Brasília, e vai assim, cara”. Dito isto, cremos ter dito tudo.

Os Perrellas

Os Perrellas

Aliados de Aécio em Minas, amigos torcedores do candidato do PSDB à presidência, o senador Zezé Perrella e seu filho, o deputado estadual Gustavo, estão entre as maiores fortunas do estado. Gustavo tinha sob seu nome o helicóptero apreendido com 445 quilos de cocaína no Espírito Santo. Ele contratou o piloto, que era funcionário da Assembleia Legislativa. É óbvio que nenhum deles sabia de nada. Como poderiam saber, é ou não é? O delegado da Polícia Federal responsável pela apreensão já descartou a participação dos Perrellas — sobrenome, aliás, “emprestado” da família de imigrantes italianos cujo frigorifico Zezé comprou nos anos 70.

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José Serra

O Careca continua causando. Fez que ia mudar de partido, desistiu, acabou ficando no PSDB. Já avisou que desistiu de concorrer à presidência. Os “amigos” tentam convencê-lo a sair para deputado federal. Com o escândalo do metrô em São Paulo, sua antiga imagem de “bom gerente” — seja lá o que isso queria dizer — também foi para o ralo. Um annus horribilis para JS, a mala eterna do PSDB. De uma coisa podemos estar certos: os artigos de fundo perpetrados por uma das cabeças mais brilhantes de sua geração continuarão sendo publicados no “Estadão”.

FLUMINENSE X GUARANI

O Fluminense e o STJD

A campanha medíocre do time carioca foi salva no tapetão pelo STJD, que atirou a Portuguesa à série B. Foi o desfecho fúnebre de um campeonato desorganizado e suspeito, com cenas de guerra civil nos estádios. Com a decisão, o STJD ajudou o Flu a se tornar o time mais odiado do Brasil. Torcedores foram hostilizados nas ruas. O atacante Rafael Sobis foi xingado no Galeão. O ano que vem promete para o Tricolor carioca.

Ela

Rachel Sheherazade

A musa neoconservadora bíblica bateu em toda e qualquer ameaça à família e aos bons costumes: em gays, em “abortistas”, na legalização da maconha no Uruguai, nos “arruaceiros” que invadiram os shoppings, nos índios, nos “liberais”, no Mais Médicos, no Genoíno etc. O único poupado em suas catilinárias é Joaquim Barbosa, chamado por ela de “Paladino da Justiça”. Deu também conselhos para o papa sobre como modernizar a Igreja. Rachel sabe de tudo. É a prova viva da grande máxima de Bertrand Russell: “O problema com o mundo é que os idiotas são cheios de certeza e os sábios cheios de dúvidas.”

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As atrizes da Globo em luto pelo Brasil

Parece que a ideia foi da atriz Bárbara Paz. Como deu errado e virou motivo de piada no país inteiro, a ideia ficou órfã. Mas foi o seguinte: ela e suas colegas de novela ficaram chateadas por causa dos embargos infringentes. Bárbara, Carol Castro, Rosamaria Murtinho, Nathalia Timberg e Susana Vieira, então, se vestiram de preto, fizeram uma cara entre a indignação, o banzo e a constipação, mandaram o office boy tirar fotos e as postaram no Instagram. Em minutos várias versões surgiram na Internet, muito melhores que as originais — e mais fieis à fanfarronice que elas perpetraram.

selfie

Pessoas que fazem fotos de comida e selfies no Instagram

Parem. Apenas parem."
Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

7 comentários:

Jefferson disse...

KKKKKKKK
MUITO BOA! ÓTIMA!
SÓ MALA MESMO. SINTO PELO SEU FLUMINENSE MAS PARABÉNS POR AGIR CORRETO E NÃO TIRAR DO ARTIGO ORIGINAL.
ABRAÇO.

Anônimo disse...

Boa seleção Marquinhos e boas lembranças como das atrizes mala da Globo.

Anônimo disse...

A linguagem seletiva do “mensalão”

por Venício A. de Lima no Observatório da Imprensa

Quando pouco ainda se falava sobre “história conceitual”, isto é, sobre a semântica histórica de conceitos e palavras, foi publicado o indispensável Palavras-Chave (um vocabulário de cultura e sociedade) [1ª edição 1976; tradução brasileira Boitempo, 2007], do ex-professor de Cambridge, Raymond Williams (1921-1988).

Ao analisar as mudanças na significação de 130 palavras-chave como ciência, democracia, ideologia, liberal, mídia, popular e revolução, Williams argumentava que as questões de significação de uma palavra estão inexoravelmente vinculadas aos problemas em cuja discussão ela esta sendo utilizada. E, mais ainda, que o uso dos diferentes significados de palavras identifica formas diversas de pensar e ver o mundo. Para ele, a apropriação de um determinado significado que serve a um argumento específico exclui aqueles outros significados que são inconvenientes ao argumento. Trata-se, portanto, de uma questão de poder.

Anos mais tarde, através do precioso Language and Hegemony in Gramsci do cientista político estadunidense, radicado no Canadá, Peter Ives (1ª edição 2004), soube-se que o filósofo sardenho desenvolveu o conceito de hegemonia – a formação e a organização do consentimento – a partir de seus estudos de linguística. Poucos se lembram de que, por ocasião da unificação italiana (1861), apenas entre 2,5% e 12% da população falavam a mesma língua. Daí serem previsíveis as enormes implicações sociais e políticas da unificação linguística, sobretudo o enorme poder de ajustamento e conformidade em torno da institucionalização de uma língua única que se tornaria a língua italiana.

Na verdade, não só as palavras mudam de significação ao longo do tempo, como palavras novas são introduzidas no nosso cotidiano e passam a constituir uma nova linguagem, um novo vocabulário dentro do qual se aprisionam determinadas formas de pensar e ver o mundo.

Mais recentemente, a leitura tardia do impressionante LTI – A linguagem do Terceiro Reich (1ª. edição 1947, tradução brasileira Contraponto, 2009), do filólogo alemão Victor Klemperer (1881-1960), dissipou qualquer dúvida que ainda restasse sobre a importância fundamental das palavras, da linguagem, do vocabulário para a conformação de uma determinada maneira de pensar. Está lá:

“O nazismo se embrenhou na carne e no sangue das massas por meio de palavras, expressões e frases impostas pela repetição, milhares de vezes, e aceitas inconscientemente e mecanicamente. (…) A língua conduz o meu sentimento, dirige a minha mente, de forma tão mais natural quanto mais eu me entregar a ela inconscientemente. (…) Palavras podem ser como minúsculas doses de arsênico: são engolidas de maneira despercebida e parecem ser inofensivas; passado um tempo, o efeito do veneno se faz notar” (p.55).

Vale a epígrafe do LTI retirada de Franz Rosenzweig (1886-1929): “A linguagem é mais do que sangue”.

Anônimo disse...

A linguagem seletiva do “mensalão”

por Venício A. de Lima no Observatório da Imprensa

Balanço do ano

As referências a Williams, Ives (Gramsci) e Klemperer são apresentadas aqui para justificar a escolha que fiz diante da necessidade de produzir um balanço de 2013 em relação ao setor de mídia.

O que de mais importante aconteceu no nosso país de 2005 para cá – vale dizer, ao longo dos últimos oito anos – e se consolidou em 2013 com as várias semanas de julgamento televisionado, ao vivo, no Supremo Tribunal Federal?

Estou convencido de que foi a formação de uma linguagem nova, seletiva e específica, com a participação determinante da grande mídia, dentro da qual parcela dos brasileiros passaram a “ver” os réus da Ação Penal nº 470, em particular aqueles ligados ao Partido dos Trabalhadores.

Ainda em 2006 (cf. capítulo 1 de Mídia: crise política e poder no Brasil; Editora Fundação Perseu Abramo) argumentei que uma das consequências mais visíveis da crise política foi o aparecimento na grande mídia de uma série de novas palavras/expressões como mensalão,mensaleiros,partidos do mensalão,CPI do mensalão,valerioduto,CPI chapa-branca,silêncio dos intelectuais,homem da mala,doleiro do PT,conexão cubana,operação Paraguai,conexão Lisboa,república de Ribeirão Preto,operação pizza,dança da pizza,dentre outros.

Em artigo publicado na Folha de S.Paulo, Fábio Kerche também chamou atenção para a recuperação pela grande mídia de dois conceitos clássicos de nossa sociologia política – coronelismo e populismo –, que passaram a ser utilizados na cobertura da crise política com nova significação desvinculada de suas raízes e especificidades históricas (cf. “Simplificações conceituais” in Folha de S.Paulo, 23/3/2006, p. A-3).

O verdadeiro significado dessas novas palavras/expressões, dizia à época, só pode ser compreendido dentro dos contextos concretos em que surgiram e passaram a ser utilizadas. São tentativas de expressar, de maneira simplificada, questões complexas, ambíguas e de interpretação múltipla e polêmica (aberta). Elas buscam reduzir (fechar) um variado leque de significados a apenas um único “significado guarda-chuva” facilmente assimilável. Uma espécie de rótulo.

Exaustivamente repetidas na cobertura política tanto da mídia impressa como da eletrônica, essas palavras/expressões vão perdendo sua ambiguidade original pela associação continuada a apenas um conjunto de significados. É dessa forma que elas acabam sendo incorporadas ao vocabulário cotidiano do cidadão comum.

Mas elas passam também a ser utilizadas, por exemplo, nas pesquisas de “opinião pública”, muitas vezes realizadas por institutos controlados pela própria grande mídia. Esse movimento circular viciado produz não só aferições contaminadas da “opinião pública” como induz o cidadão comum a uma percepção simplificada e muitas vezes equivocada do que realmente se passa.

Relacionei ainda as omissões e/ou as saliências na cobertura que a grande mídia oferecia da crise política – evidentes já àquela época –, protegendo a si mesma em relação à destinação de recursos publicitários e/ou favorecendo politicamente à oposição político-partidária ao governo Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT). Algumas dessas omissões foram objeto de denúncia do jornalista Carlos Dorneles, então na Rede Globo (13/10/2005) e do ombudsman da Folha de S.Paulo (23/10/2005).

Anônimo disse...

A linguagem seletiva do “mensalão”

por Venício A. de Lima no Observatório da Imprensa

De 2005 a 2013

Nos últimos oito anos, o comportamento da grande mídia não se alterou. Ao contrário. A crise política foi se transformando no “maior escândalo de corrupção da historia do país” e confirmou-se o padrão de seletividade (omissão e/ou saliência) na cobertura jornalística, identificado desde 2005.

Até 2005, “mensalão” era apenas “o imposto que pode ser recolhido pelo contribuinte que tenha mais de uma fonte pagadora. Se o contribuinte recebe, por exemplo, aposentadoria e salário e não deseja acumular os impostos que irão resultar num valor muito alto a pagar na declaração mensal, ele pode antecipar este pagamento por meio de parcela mensal” (ver aqui).

Nos últimos anos “mensalão” passou a ser “um esquema de corrupção” e tornou-se “mensalão do PT”, enquanto situações idênticas e anteriores, raramente mencionadas, foram identificadas pela geografia e não pelo partido político (“mensalão mineiro”). Como resultado foi se construindo sistematicamente uma associação generalizada, seletiva e deliberada entre corrupção e os governos Lula e o PT, ou melhor, seus filiados e/ou simpatizantes.

“Mensaleiro” passou a designar qualquer envolvido na Ação Penal nº 470, independentemente de ter sido ou não comprovada a prática criminosa de pagamento e/ou recebimento de mensalidades em dinheiro “sujo” com o objetivo de se alterar o resultado nas votações de projetos de lei no Congresso Nacional.

A generalização seletiva tornou-se a prática deliberada e rotineira da grande mídia e, aos poucos, as palavras “petista” – designação de filiado ao Partido dos Trabalhadores – e “mensaleiro”, se transformaram em palavrões equivalentes a “comunista”, “subversivo” ou “terrorista” na época da ditadura militar (1964-1985). “Petista” e “mensaleiro” tornaram-se, implicitamente, inimigos públicos e sinônimos de corruptos e desonestos.

O escárnio em relação aos “mensaleiros petistas” atingiu o seu auge com a prisão espetaculosa de alguns dos réus, por determinação do presidente do STF, no simbólico feriado da Proclamação da República (15 de novembro), antes do transito em julgado da Ação Penal nº 470, com ampla cobertura ao vivo das principais emissoras de televisão. Ofereceu-se assim a oportunidade para que articulistas da grande mídia passassem a citar seletivamente os nomes dos petistas detidos precedidos do adjetivo “presidiário”.

Da mesma forma, o que poderia ser questionado como uma prisão arbitrária (antes do trânsito em julgado; exposição desnecessária em périplo aéreo por três cidades do país; regime fechado para condenados em regime aberto; substituição arbitrária do juiz da vara de execuções penais de Brasília, etc.) foi se transformando em “um privilégio dos mensaleiros petistas”.

Na cobertura oferecida pela grande mídia esses “privilégios” foram identificados pelas visitas incialmente permitidas em dias diferentes daqueles dos demais detidos no complexo da Papuda; pela solicitação de regime diferenciado em função da saúde precária de um dos “mensaleiros petistas” e pela remuneração elevada do emprego oferecido (em seguida descartado) a outro.

Anônimo disse...

A linguagem seletiva do “mensalão”

por Venício A. de Lima no Observatório da Imprensa

Sinais de intolerância

Não é necessário mencionar aqui as inúmeras e pendentes questões – inclusive jurídicas – envolvendo o polêmico julgamento da Ação Penal nº 470 e os interesses político-partidários em jogo relativos a situações idênticas e anteriores que, todavia, ainda não mereceram a atenção correspondente do Poder Judiciário e, muito menos, da grande mídia.

O ano de 2013 certamente poderá ser lembrado como aquele em que ocorreu o julgamento da Ação Penal nº 470 e pelo desmesurado papel que a grande mídia desempenhou em todo o processo. Um vocabulário seletivo específico e uma linguagem correspondente se consolidaram em relação aos eventos nomeados pela nova palavra “mensalão”.

Tendo como referência os ensinamentos de Williams, Ives (Gramsci) e Klemperer, vale a pergunta: até que ponto este vocabulário e esta linguagem influenciam a maneira pela qual alguns dos envolvidos passaram a ser “vistos” pela população brasileira (ou parte dela) e contribuem para criar um clima político não democrático, de intolerância, de ódio e de recusa intransigente a sequer ouvir qualquer posição diferente da sua?

Para além da formação seletiva de um vocabulário e de uma linguagem específicas, bastaria relembrar as declarações do ministro Celso Melo por ocasião do julgamento dos embargos infringentes: “Nunca a mídia foi tão ostensiva para subjugar um juiz” (ver aqui).

Vale a pena repetir com Victor Klemperer:

“Palavras podem ser como minúsculas doses de arsênico: são engolidas de maneira despercebida e parecem ser inofensivas; passado um tempo, o efeito do veneno se faz notar”.

João Luís disse...

"Desemprego recua para 4,6% em novembro, indica IBGE"
"Esse é a menor taxa da série histórica do estudo, em março de 2002. População desocupada registrou queda de 10,9% sobre outubro."

O JN tentou "explicar" esse índice, minimizando a importância das medidas do governo. Ainda não aprenderam que só perdem a credibilidade.