26 de fevereiro de 2014

R.I.P.: Paco de Lucia - *Algeciras, Andaluzia, Espanha, 21 de dezembro de 1947 +Cancún, México 26 de fevereiro de 2014

Aos 66 anos, morreu hoje de infarto o violonista Paco de Lucia, um dos maiores mestres do instrumento dos últimos 40 anos.
Paco pode ser considerado o grande reponsável pela difusão da Música Flamenca em todo mundo, mas não ficou só nela.
A partir de sua capacidade de interatividade, uniu de forma singular a música folclórica espanhola com o Jazz, o Blues, o Rock, a Música Erudita, o Tango e até a Bossa Nova.
Na verdade renovou e multiplicou a Música Flamenca. Um herói musical espanhol.
Vale lembrar a sua parceria nos anos 1970 com outros três 'monstros' da guitarra: John McLaughlin, Al Di Meola e Larry Coryell.
Foi reconhecido em todo o planeta e permanecerá para sempre como um ícone latino da música universal.
Rest in Peace, Paco.



Paco de Lucía: morreu o guitarrista que universalizou o flamenco
Por Vítor Belanciano
"Quase todas as grandes famílias musicais têm heróis assim. Alguém que sem perder o contacto com a raiz fundadora de determinada tipologia musical é capaz de expandir o seu leque de influências, acabando por universalizar essa linguagem.

O flamenco teve a sorte de ter o guitarrista, compositor e produtor Paco de Lucía, que morreu esta quarta-feira, aos 66 anos, de enfarte cardíaco. Estava na praia com os filhos, em Cancún, no México, onde tinha uma casa, quando se sentiu indisposto, vindo a morrer a caminho do hospital.

A cultura espanhola perdeu um dos seus pilares. Ele foi esse músico que, sem perder o contacto com a essência, foi capaz de mesclar o flamenco com outras sonoridades, principalmente com o jazz ou a bossa nova, embora os blues, a salsa, a música hindu ou a música árabe também o tenham marcado. Mas não foi apenas porque revestiu exteriormente o flamenco que se tornou imortal. Nunca é apenas por isso.

É também, e talvez ainda mais importante, porque possuía o alento interior, a inspiração, que lhe inflamava a alma, passando essa intensidade para os dedos e a guitarra de seis cordas que dedilhava como ninguém. Em Portugal, onde actuou por diversas vezes (a última das quais em 2007), era vê-lo, sentado, perna traçada, curvado sobre a sua guitarra, ora introspectivo, ora dinâmico e agitado, mas sempre apaixonado.

Até ao seu despontar o flamenco era rude e folclórico. Com ele tornou-se estilizado, elegante e elástico, numa reformulação que lhe atribuiu maior profundidade de campo. Como todos os grandes heróis populares transcendeu fronteiras e estilos. Também tinha, como acontece sempre nestes casos, detractores, que o acusaram de abastardar o flamenco, quando o começou a mesclar com jazz. Ele levava sempre consigo a cultura da Andaluzia e o flamenco, mas o seu olhar tinha dimensão universal. Ao longo dos anos transformou-se no mais internacionalmente reconhecido intérprete do flamenco.

“Nunca perdi a ligação com as raízes na minha música”, afirmou numa entrevista na década de 1990. “O que tentei fazer foi situar-me na tradição e, ao mesmo tempo, procurar noutros territórios, procurar coisas novas para transportar para o flamenco.” Anos mais tarde reafirmaria essa ideia. "Não tenho medo que se perca a essência do flamenco", declarou em Agosto de 2004, depois de receber o Prémio Príncipe das Astúrias, distinção maior das artes e da cultura em Espanha. "Um guitarrista tem de ter mais do que ritmo, tem de ter ar. Ar é fundamental", declarou na mesma entrevista."
Fonte: Público - Cultura (Portugal)

Um comentário:

ALICE IN WONDERLAND disse...

Uma grande perda para a boa música internacional e para a Espanha em particular.
Se foi ainda com uma idade relativamente baixa considerando a expectativa de vida do primeiro mundo. Uma pena.