21 de maio de 2014

Paulo Coelho e a Copa: um novo profeta do Apocalipse

Gosto do Paulo Coelho. Ou gostava. Não sei bem.
Dos seus livros não de todos, que aliás nem li tudo. Mas de alguns sim. Outros abandonei antes da metade.
Gosto de sua trajetória como compositor nos anos 1970, ao lado do grande Raul Seixas que acabou não aguentando o tranco.
Os críticos literários, provavelmente em sua maioria, acham sua literatura lixo. Como não sou crítico...
Mas em uma coisa todos concordam: a sua capacidade de utilizar bem as estratégias de marketing. Até mesmo mudando os rumos de sua temática literária. Vide "Onze Minutos" e, provavelmente, o mais recente "Adultério". Do místico ao sexo. Bem, pode ser tudo a mesma coisa, não é mesmo? E como é o tema de sucesso do momento, depois de "Quinhentos tons de cinza" (acho que são cinquenta; ou serão cinco mil?)...
Ele sabe que se manter na mídia é o segredo do sucesso. Independente da qualidade dos livros que, ao fim, depende muito de análises subjetivas.
Sua recente entrevista para um jornal francês detonando a Copa mostra apenas o seu lado Lobão. Mudar de lado quando necessário. Não duvido que em breve ele venha a ter uma coluna semanal na Veja.
Poderia dizer: perdeu uma grande chance de ficar calado, em benefício de seu país de origem. Mas isso não daria "Ibope".
E ainda tem o fato de não ter participado naquela feira em Frankfurt. Há versões divergentes sobre o fato. Cheiro de ressentimento no ar.
Segue artigo do Kiko Nogueira sobre o assunto.

Enquanto isso, em 2007...

“Vai haver uma explosão social”: como Paulo Coelho passou de entusiasta da Copa a profeta do Apocalipse
Por Kiko Nogueira no DCM

"Paulo Coelho tem usado seus poderes para prever o apocalipse no país.

O mago deu uma entrevista ao francês Le Journal Du Dimanche em que conta que teremos “uma explosão social no Brasil. Haverá pessoas nos estádios e ainda mais pessoas que estarão protestando. O contexto é muito tenso. A violência voltou. A Copa do Mundo poderia ser uma bênção e um momento de comunhão para nós, como foi para a França ou a Alemanha. Mas é um desastre”.

Avisou também que não irá aos estádios. “Fora de questão! Eu assisto aos jogos pela TV”, disse. “Nós poderíamos usar o dinheiro para construir algo diferente em um país que precisa de tudo: hospitais , escolas, transportes”. E deu uma cacetada no Fenômeno. “Ronaldo é um imbecil por dizer que não é o papel da Copa do Mundo construir essa infra-estrutura. Ele deveria ter calado a boca”.

PC não foi visto em nenhuma manifestação e passa seu tempo em sua casa em Genéve, na Suíça, onde pratica o tiro ao alvo com arco e flecha e posa para a Caras. Sua subida de tom nas críticas ao Brasil coincide com o momento do lançamento de sua nova obra, “Adultério”. Todas as entrevistas que deu, sem exceção, obedecem esse roteiro: começa com o livro e emenda no desencanto, ou algo que o valha, com o Brasil, o Mundial etc.

Veio num crescendo desde a história mal contada de sua desistência na participação na Feira do Livro de Frankfurt. Ele acusou “nepotismo”. O curador devolveu que PC queria levar “os amigos”.

Mas PC não foi sempre tão negativo. Em 2007, esteve em Zurique com Lula, a cúpula da CBF e alguns ministros defendendo a candidatura do país para sediar o torneio.

Chamou Blatter de “cher ami” e mandou: “A partir de hoje, começa uma vitória que durará sete anos. O que vemos na Seleção, vemos no povo. O trabalho árduo, a capacidade de sonhar e sua criatividade. Honraremos como povo brasileiro essa possibilidade”.

Só os tolos e os mortos não mudam de opinião, mas no caso de Paulo Coelho o achismo de Ney Matogrosso é elevado a outros patamares. Alguém sugeriu que Coelho fora “usado” pelo governo há sete anos. Ora, está para nascer a pessoa ou instituição capaz de “usar” o escritor, um dos maiores marqueteiros na história da literatura.

A cotovelada em Ronaldo é covarde. Além disso, de imbecil, ele não tem nada. Ronaldo é muito esperto, não necessariamente no bom sentido. O mesmo vale para PC.

Estamos combinados que ninguém é obrigado a achar a Copa uma maravilha, que há uma discussão sobre prioridades, sim — mas daí a apregoar o fim do mundo são outros quinhentos dólares. A razão para essa lenga-lenga é que, enquanto insistir nela, PC será manchete. É mais um lembrete de que o grande interesse de Paulo Coelho, o primeiro e o último, é ele mesmo, e o importante é manter o debate no mesmo nível da subliteratura que produz."

Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente! PC não me engana. O Alckiminsta. PHA: Paulo Tucano.