1 de junho de 2014

Sobre a Razão e a Paixão

Nesta manhã de domingo, que marca o início do último mês do primeiro semestre do ano, onde se inicia também o inverno, lembrei-me de um livro que li em fins dos anos 1970.
Achei que ainda o tinha, perdido em alguma das diversas estantes, talvez empoeirado naquelas que tenho em uma construção fora da casa principal.
Procurei mas não achei. Não tenho mais. Pretendo adquiri-lo outra vez. Embora sua obra imortal não desperte mais a atenção hoje como deveria. 
Aliás, 'tirando o Facebook e WhatsApp', o que será que despertaria muita atenção em termos literários da maioria das pessoas? Ou filosoficamente e espiritualmente falando?
É que na época, todo mundo parecia conhecer Gibran e tinha vontade de praticar seus ensinamentos baseados em diferentes referências: Bíblia, budismo, Shakespeare, Nietzsche, William Blake, espiritismo, filosofias orientais, Platão, etc.
Especificamente falo de "O Profeta", editado em 1923 pelo escritor, poeta, pintor, conferencista e filósofo Khalil Gibran, nascido no Líbano em 06 de janeiro de 1883 e que faleceu aos 48 anos em Nova York em 10 de abril de 1931.
Para uma pequena amostragem, procurei na Internet trechos da obra e selecionei dois temas que podem interessar (ou não) aos nossos leitores habituais. 
Tenho uma leve desconfiança que o mundo precisa - mais do que nunca - ler gente como Gibran. 
 


Sobre a Razão e a Paixão
E a sacerdotisa voltou a falar e disse:
Fala-nos da Razão e da Paixão.
E ele respondeu, dizendo:
A vossa alma é muitas vezes um campo de batalha, em que a vossa razão e o vosso julgamento estão em guerra contra a vossa paixão e o vosso apetite.
Pudesse eu ser o pacificador da vossa alma e transformaria a discórdia e a rivalidade dos vossos elementos numa união e melodia.
Mas como o poderia fazer, a menos que vós também fosseis pacificadores, amantes de todos os vossos elementos?
A vossa razão e a vossa paixão são o leme e as velas da vossa alma navegante.
Se um de vós navegar e as velas se partirem, só podereis andar à deriva ou ficar imóveis no meio do mar.
Pois a razão, só por si, é uma força confinante; e a paixão, não controlada, é uma chama que arde provocando a sua própria destruição.
Por isso deixai a vossa alma exalar a vossa razão até ao auge da paixão, de forma a poder cantar;
E deixai que ela oriente a vossa paixão com razão, de forma a que a vossa paixão possa viver através da sua ressurreição diária, e, qual fênix, renascer das próprias cinzas.
Eu comparo o vosso julgamento e o vosso apetite com dois hóspedes queridos que recebeis na vossa casa.
Com certeza não irieis favorecer um mais que o outro; pois aquele que o fizer perderá o amor e a confiança dos dois.
Entre as colinas, quando vos sentais à sombra fresca dos brancos álamos, desfrutando da paz e serenidade dos campos e prados distantes deixai o vosso coração dizer silenciosamente, "Deus repousa na razão".
E quando vier a tempestade, e o vento forte assolar a floresta, e a trovoada e os relâmpagos proclamarem a majestade do céu, deixai que o vosso coração diga "Deus move-se na paixão".
E uma vez que sois um sopro na esfera de Deus e uma folha na floresta de Deus, também vós devíeis repousar na razão e mover-vos na paixão.


Sobre Pais e Filhos
Depois, uma mulher que trazia uma criança ao colo disse:
Fala-nos das Crianças.
E ele respondeu:
Os vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da Vida que anseia por si mesma.
Eles vêm através de vós mas não de vós.
E embora estejam convosco não vos pertencem.
Podeis dar-lhes o vosso amor mas não os vossos pensamentos, pois eles têm os seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar os seus corpos mas não as suas almas.
Pois as suas almas vivem na casa do amanhã, que vós não podereis visitar, nem em sonhos.
Podereis tentar ser como eles, mas não tenteis torná-los como vós.
Pois a vida não anda para trás nem se detém no ontem.
Vós sois os arcos de onde os vossos filhos, quais flechas vivas, serão lançados.
O arqueiro vê o sinal no caminho do infinito e Ele com o Seu poder faz com que as Suas flechas partam rápidas e cheguem longe.
Que a vossa inflexão na mão do Arqueiro seja para a alegria;
Pois assim como Ele ama a flecha que voa,
Também ama o arco que se mantém estável.

Resenha:  "O profeta" é uma maravilhosa viagem espiritual através de um dos grandes clássicos do século XX. Foi escrito em inglês e traduzido em 40 idiomas. É um conjunto de meditações sobre temas universais como o amor, a morte, a família e a esperança. Gibran Khalil Gibran nasceu em 6 de dezembro de 1883, no Líbano. Aos onze anos emigrou para a América com a família. Por muitos anos ganhou a vida como pintor. Em 1923, foi publicada sua obra-prima, O profeta. Foi um sucesso imediato, e as vendas nunca caíram. Khalil morreu em 1931 de insuficiência hepática e tuberculosa incipiente, mas o autor nunca perdeu a paixão pelo Líbano, onde foi enterrado e onde é considerado uma lenda.

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