6 de setembro de 2011

Privatas do Caribe

Do blog "Escrevinhador":

"Na tela do computador, o título chamativo: “A GRANDE LAVANDERIA”. Logo abaixo, um pequeno resumo explica o que são ”as ilhas que lavam mais branco…”. Ilhas do Caribe. É o capítulo 4, de um total de 15, que já seguiram para a editora. Agora, falta a revisão final. E depois tudo vai para a gráfica. À frente do computador, o jornalista responsável pela investigação: Amaury Ribeiro Júnior. “Olha essa frase, tá bom isso, ocê não acha? Hem, hem?” Ele saboreia cada capítulo como se fosse um filho.

“Siga o dinheiro, ele sempre conta a história”, diz Amaury, resumindo o foco de uma apuração que durou 10 anos. O repórter premiado começou a investigar os caminhos (e descaminhos) do dinheiro das privatizações da Era FHC quando ainda era repórter de “O Globo”. Pergunto se conseguiu publicar alguma coisa no jornal carioca: “ocê é doido, rapaz, eles não mexem com isso não”.

O Amaury tem um jeito de matuto. Numa profissão em que jovens jornalistas gostam de se vestir como se fossem executivos do mercado financeiro, ele prefere a simplicidade. E com esse jeito de mineiro que não está entendendo bem o que se passa em volta, consegue tudo: papéis, documentos, informações. Sobre a mesa de trabalho, o caos criativo. Parte daquela papelada vai parar no livro, na forma de anexos: são documentos que ajudam a contar a história. ”Tá bom o livro, não tá? Hem, hem?”. Quase todas as frases do Amaury terminam com esse “hem, hem!”.

Um outro colega passa em frente à mesa do Amaury, e finge que vai levar parte dos documentos: “Ocê é doido, faz isso não”. Depois, emenda uma frase meio enrolada. Parece que ele usa aquela tática do velho Miguel Arraes: metade do que o Amaury diz a gente não entende. Mas o que ele escreve é fácil de entender.

O capítulo 4 conta a história da Citco, empresa com sede nas Ilhas Virgens Britânicas. “E o que é a Citco?” eu pergunto. “A Citco é uma espécie de barco dos corsários, é por ali que o dinheiro circula”. Segundo Amaury Ribeiro Junior, a Citco é especializada em abrir empresas “offshore”. O termo vem da época dos corsários de verdade: “eles saqueavam os mares, e depois escondiam o fruto dos saques ’offshore’, ou seja, fora da costa, longe dos olhos das pessoas”, explica o repórter.

Em setembro de 2010, publiquei aqui no Escrevinhador um aperitivo sobre o tema: “Citco, esse é o mapa da mina” . Agora, recebo mais mais detalhes, que estarão no livro. Quem já usou esse esquema, Amaury? “Os doleiros do Banestado usavam, a turma da Georgina usava nas fraudes da Previdência, e a turma que faturou com as privatizações também usou”. É o que Amaury vai explicar (e provar, ele garante) no livro “OS PRIVATAS DO CARIBE”. Hoje, ele me mostrou alguns capítulos. Já estão todos prontos. Os títulos dão uma pista do que vem por aí:

- “OS TUCANOS E SUAS EMPRESAS-CAMALEÃO”

- “OS SÓCIOS OCULTOS DE SERRA”

- “MISTER BIG, O PAI DO ESQUEMA”

- “A FEITIÇARIA FINANCEIRA DE VERÔNICA”

- “DOUTOR ESCUTA, O ARAPONGA DE SERRA”.

Quais são as empresas camaleão? Quem administrava as empresas? Quais foram as feitiçarias de Verônica? E quem é o “doutor escuta”? Tudo isso o Amaury promete contar em detalhes.

Aqui, no “VioMundo” do Azenha, você lê um dos capítulos. "

Veja mais em Escrevinhador.

Um comentário:

R.S. disse...

Marcos, também do Escrivinhador hoje, do Brizola Neto, o Brasil e a crise intrenacional. Muito boa. Abraço.

A crise não é de mentirinha
Por Brizola Neto, no Tijolaço

Estamos diante de um momento extremamente sério e a cobertura de imprensa parece não se dar conta disso. O cenário econômico internacional está se deteriorando a olhos vistos. Mas estamos aqui discutindo se o Banco central agiu bem ao fazer exatamente o mesmo que todos os outros bancos centrais do mundo fazem quando há risco – e risco “iminente”, segundo a insuspeita Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI – de uma recessão: baixar os juros para estimular a economia.

Outro diretor do FMI, o brasileiro Paulo Nogueira Batista Jr. , diz que a análise por lá é de que “quase alarme”, como temor que a economia dos principais países desenvolvidos “possa sofrer uma crise semelhante àquela que ocorreu depois do colapso do banco Lehman Brothers em 2008″.
Mas enquanto o nosso pessoal “sabichão” aqui torce para termos inflação e por juros altos, lá de fora há gente séria que não nos vê assim.

Hoje, o economista americano Eric Leeper, professor da Universidade de Indiana, elogiou a política monetária e fiscal do Brasil, dizendo que o país não vive pressões para administrar sua dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) e tem a tendência de juros básicos em queda.

“Japão, Estados Unidos e Europa não estão em condições de dar lições para ninguém nos regimes fiscal e monetário; agora alguns países da América Latina, principalmente o Brasil, são exemplos importantes”, disse Leeper, segundo o Valor.

Mas o nosso pensamento conservador só sabe a fórmula da “roda-presa”: juros altos, na bonança ou na tempestade.

E, para justifica-los, agita o terrível dragão da inflação. Temos subida de preços no Brasil? Sim, puxada por setores localizados. Um deles, o de serviços, fortemente influenciado pelo “terror inflacionista” . Preparei e posto aqui um comparativo do IGP-M, menos sujeito a pressões pontuais que o IPCA, do ano de 2008, quando a crise explodiu em setembro, e o deste ano. Basta olhar e ver que a trajetória de baixa da inflação que ocorreu então já vinha ocorrendo hoje.

Só que, então, Henrique Meirelles resolveu esperar o atestado de óbito e a missa de três meses do falecimento da atividade econômica para baixar em um ponto a taxa de juros. E amargamos uma baita retração no primeiro trimestre de 2009 por conta deste atraso. Mas a banca e os rentistas pegaram mais “um por centinho” durante três meses.

Deu para trocar o iate. E dane-se a turma que perdeu o emprego.