14 de fevereiro de 2014

Cadê o Robin?

Batman, Sininho e o teatro do absurdo nas ruas do Rio
Por Bonifa no Viomundo
"Sininho parte de uma tribo de jovens que não cabe chamar de anarquistas, nem de trotskistas, nem de qualquer outra denominação política conhecida. Há muitas tribos como esta em todo o Brasil, ajuntamento informal de jovens que querem gozar uma liberdade semelhante à dos antigos hippies, enquanto também querem ser protagonistas de uma suposta revolução que não tem teoria revolucionária.

Aliás, abominam qualquer teoria política, como foi a princípio no movimento estudantil francês de 1968.

Não queremos nos estender na análise destes grupos, de resto matéria para estudo especializado de fôlego. Mas estes jovens estão ainda a confundir limitações familiares com opressão do Sistema, embora não saibam o que é o Sistema e nem sequer sonhem que de certa forma pertencem ao Sistema, já que acreditam na força do voluntarismo individualista, exatamente como o Sistema quer que seus jovens acreditem.

A tribo de Sininho é mais ou menos assim, gente jovem que quer mudar o mundo mas nem sonha em saber o quanto isto seja difícil, embora tenha optado por viver nas ruas pregando abertamente seu pequenino ideal mal formulado.

Estas tribos trazem a simpatia da juventude para seu idealismo tão abstrato quanto supostamente abrangente. Natural que qualquer cidadão contribua para as atividades, artístico-culturais-políticas, de tais jovens.

Quais são estas atividades? No caso do Rio e da tribo de Sininho, promover hapennings teatrais no centro da cidade, como o evento “Mais amor, menos capitalismo”, ou como a tal ceia de Ano Novo com os moradores de rua na Cinelândia.

Estas ações são postas em vídeo na Internet e têm alguma repercussão.

Impossível não compreender que cidadãos comuns podem perfeitamente contribuir com isso de modo espontâneo e desinteressado, muito embora tenha havido contestação forte por parte de alguns cidadãos que chamaram a atenção dos integrantes da tribo de Sininho, apontando para a alienação supostamente politizada de seu movimento e pelo perigo de que pudessem ser manipulados pela direita, como se vê neste vídeo, onde o Batman colega de Sininho é peitado no centro do Rio.

Estas tribos de jovens , de pouco tempo, talvez um ano, para cá, têm se aproximado do PSOL, e têm sido bem recebidas pelo partido.

Não poderia ser de outra forma. Jovens assim dão um alento de juventude e liberdade que a ala formal do partido já não possui, com seu rancor de um esquerdismo ranzinza e às vezes francamente hostil a outras agremiações progressistas, já que tem colocado o alvo de combater o Governo federal muito acima do alvo de combater as injustiças e a desigualdade social.

O Psol, embora sem qualquer ligação formal com tais jovens, é preciso acentuar esta observação, tem se renovado com sua aproximação, parece um novo partido cheio de vitalidade cultural e artística. Mas no próprio desabafo de Sininho contra companheiros de tribo que estão se comportando mal, desabafo fartamente veiculado pela mídia, ela fala que vai, como todos, votar nulo. E que concorda com a posição da tribo que seria a de usar o Sistema contra ele mesmo, ou seja, usar os políticos, do Psol, claro, para detonar a política formal do Sistema.

Na tribo de Sininho há, é óbvio, contabilidade para as doações. Isto é necessário para um mínimo de organização. Mas também deve ter funcionado como fonte de atritos, porque como falava Trotski, quando se trata de repartir valores ou bens, a tendência é a de que quem reparta seja mais generoso consigo mesmo e com quem lhe seja simpático, mesmo que se trate do mais idealista dos grupos humanos.

A tribo de Sininho com certeza absoluta não é a única a agir nas manifestações do Rio. Há outras tribos, de conexão mais ou menos tênue entre seus membros.

E os black blocs não são obviamente a tribo de Sininho, embora a tribo de Sininho tenha sido, por algum momento, parte dos black blocs. Só quem quer confundir a opinião pública pode espalhar que os black blocs sejam uma organização única.

E é bem provável que a contabilidade da tribo de Sininho tenha em algum momento servido para o transporte e a alimentação de jovens determinados que fariam a segurança de movimentos de rua, a princípio contra os ataques da polícia.

Desde o movimento estudantil da época da Ditadura existem estas tais brigadas de segurança e defesa nos movimentos de rua. Gente forte e sem medo.

Agora, quem participou dos movimentos nas ruas, pôde ver em dado momento estes rapazes mascarados pedirem passagem orgulhosamente pela multidão: “abram alas para o Exército Popular”.

Pediam passagem para se posicionarem na vanguarda da passeata, para enfrentarem ou desafiarem a polícia, protegendo os integrantes da passeata de alguma violência policial.

Até aí, tudo bem. Mas apenas para ilustrar o fato com a experiência, sabe-se que na época da pré-Ditadura, gente infiltrada pela direita insuflava a ponta de lança das manifestações de rua, voltando-a no sentido de um quebra-quebra generalizado nos centros das cidades.

Estudantes incontroláveis saiam quebrando a princípio os escritórios de agências políticas americanas, depois, o comércio em geral, o transporte coletivo e tudo que estivesse pela frente, gerando um sentimento de insegurança nos transeuntes e nos trabalhadores do comércio e fazendo perder-se o apoio da população aos movimentos de rua.

A mídia então entrou em campo para responsabilizar o Governo Federal pela baderna.

Esta foi uma das maiores bandeiras que a direita empunhou para acionar os militares, com o propósito inicial de dar fim a uma impressão generalizada de descontrole total do país, um sentimento de caos gerado pela famosa “baderna” e pelos “baderneiros” e amplificado mil vezes pelos órgãos de comunicação de massas. E então sobreveio a Ditadura, a princípio recebida com alívio pela classe média apolítica e pela grande mídia conservadora.

Ninguém se iluda, há demasiadas semelhanças do atual momento brasileiro com aquele da época pré-ditatorial. Tão demasiadas que é impossível que não tenham sido ambas as situações geradas no mesmo ventre golpista.

A revista Veja e o jornal o Globo procuram criminalizar o Psol como responsável pelas atuais badernas, mas procuram mais do que isso.

A Veja quer confundir a tribo de Sininho com o próprio Black Bloc, como se não soubesse que black bloc não é uma organização única e formal.

Mostra uma tabela de doações para a tribo de Sininho, efetuada para um determinado evento de rua, como uma prova da doação de pessoas e autoridades para a baderna do “movimento Black Bloc”, uma única e poderosa organização criminosa que seria responsável por toda a violência dentro dos movimentos de rua no país, embora na mesma matéria fale do evento público, em espaço cego.

Sabendo que a Veja e as organizações Globo são o braço midiático mais forte do golpismo em curso, resta saber o que desejam objetivamente com isso, já que seus movimentos são todos milimetricamente calculados.

Desejam detonar um partido político de esquerda, o Psol? Não, deve ser mais até que isso, mesmo porque sabem que o Psol tem muitas vezes funcionado como auxiliar importante em projetos e propósitos políticos da direita. Mas sempre podem falar que o Psol é comunista e que isto o aproxima do governo comunista que querem atingir em cheio.

Desejam acabar com a violência nas manifestações e sair em plena paz com uma réplica da marcha da família com Deus e pela propriedade privada? Talvez.

Talvez queiram dar por findo o cenário das violências nas manifestações e proporcionar tranquilidade aos coxinhas para que eles se divirtam no centro das cidades à noite sem correrem qualquer perigo.

Desejam enfiar fundo na percepção psicológica dos cidadãos que o país está sendo vítima de organizações criminosas de comunistas, que visam espalhar a desordem e implantar um regime de terror no país acuado e assustado, sem que os governantes, eles também comunistas, possam, saibam ou queiram dominar a situação de caos? Com toda a certeza."
 __________________________________________________________________________
"Para completar o teatro do absurdo, entra em cena uma senhora muito perturbada, típica pessoa de cabeça feita pelas mirabolâncias fascistas de nossos inacreditáveis blogs da Extrema Direita.
A performance dela neste vídeo nos faz pensar que talvez a extrema direita da Internet já tenha ganho a batalha da informação pela rede, e fez ótimo trabalho de preparação para a objetivação de um golpe da direita, seja na marra ou no assalto furioso à disputa eleitoral."

 

2 comentários:

CHA / R.V. disse...

REQUIÃO DETONA STF,
BARBOSA, PLIM-PLIM E DUDU

Requião conhece o Dudu desde o tempo dos precatórios

ROBERTO REQUIÃO: “SOU CANDIDATO A PRESIDENTE”

Roberto Requião acaba de dar uma entrevista histórica ao jornalista Frédi Vanconcelos, na revista “Caros Amigos”. A entrevista mostra que há uma avenida aberta para politizar o debate no Brasil – pela esquerda, de cara limpa.

Requião não cede um milímetro. Defende os governos petistas (“vejo o PT como melhor que os outros; ao mesmo tempo em que eu acho que é muito pouco”), mas não abre mão da crítica dura à tibieza do partido para lidar com a Globo e outros interesses.

Lá pelas tantas, o senador e ex-governador do Paraná afirma: “sou candidato a presidente”! Fico a imaginar como o Brasil iria a ganhar com uma candidatura desse tipo – que travasse o debate.

Todos sabemos das dificuldades (impossibilidades?) para se obter a candidatura numa convenção do PMDB. Mas só a luta pra chegar até lá já seria didática.

O Brasil merece e precisa de um nome como o de Requião, disposto ao bom combate. Acompanhe abaixo alguns trechos da entrevista. A revista chega às bancas na próxima semana. Vale a pena conferir na íntegra. (Rodrigo Vianna)

== JOAQUIM BARBOSA E O “MENSALÃO” ==

”O Joaquim Barbosa simulando uma diária pra fazer uma conferência de 30 minutos e um passeio numa biblioteca de uma hora, 2 horas, é uma coisa típica da classe média deslumbrada. Então o Joaquim Barbosa revela ali o verdadeiro Joaquim Barbosa, um classe média eventualmente deslumbrado, que foi instrumentalizado pela mídia na questão do mensalão.

Eu não defendo a utilização do dinheiro público, nem o que ocorreu no financiamento das campanhas, não acho nenhuma graça nisso, mas aquela história do domínio do fato e a influência da mídia em cima do mensalão feriu profundamente as normas do direito brasileiro. O mensalão foi uma aberração jurídica, porque, entre outras coisas, pelo domínio do fato, pela forma com que foi feito o processo, o esquecimento do fato precursor do mensalão, que é o fato mineiro, do Marcos Valério. Então, foi uma aberração jurídica, foi uma manipulação induzida pela mídia e pelo deslumbramento dos ministros. Aquilo foi um show, não foi um julgamento.’

== CHANTAGEM DA IMPRENSA ==

“Eu peguei um Estado [Paraná] quebrado. A primeira coisa que fiz foi racionalizar as despesas. Evidente que não as despesas com saúde e educação, mas as que eu julgava desnecessárias. Diminuí os valores dos investimentos na imprensa. E passei a ser procurado por esses “heróis” da mídia, os donos de jornais, que diziam o seguinte: “ou você libera o dinheiro ou vai apanhar como nunca um político apanhou no Paraná”. Daí, eles começaram a me bater desesperadamente, o que não me incomodou muito. Eu fui governador três vezes e senador duas vezes com toda essa mídia em cima de mim. – Mas a chantagem foi assim direta? Direta, ou você dá dinheiro ou você vai apanhar diariamente. Eu preferi apanhar diariamente. Isso começou comigo, na verdade, na prefeitura. Fui prefeito e pressionado pela Globo por verba. Não dei verba e eles começaram a bater em mim.

== DILMA, AÉCIO E EDUARDO ==

“Eu acho que ainda a Dilma é melhor que o Aécio e o Dudu Beleza. Eu fui relator da CPI dos títulos públicos, eu analisei como é que o Eduardo Campos conseguiu os financiamentos com os títulos públicos, com os precatórios. – Como que ele conseguiu e por que o senhor o chama de Dudu Beleza? Não sou eu que chamo, é Recife que chama. Eu fiz a campanha do Dudu Beleza para a prefeitura do Recife a pedido do Arraes (Miguel, ex-governador e avô de Eduardo Campos), fiz gravações, eu era o prefeito mais popular do Brasil. O Arraes era muito meu amigo, vinha muito pra Curitiba pra conversar comigo, mas o Dudu é a contraposição do Arraes. – Por quê? Porque o Dudu é o quadro da direita brasileira. A Dilma está à esquerda do Dudu, com todos os seus erros de condução.”

Anônimo disse...

Adorei o texto. Mas, sabe o que eu acho? que nem os "Black Blocs" sabem o que é um ideal de movimento popular... estão com a mesma intenção da "tribo da Sininho", ou seja, desestabilizar e aparecer!