13 de junho de 2014

Sobre as vaias e xingamentos contra Dilma ontem na abertura da Copa



Xingar Dilma Roussef foi grosseria indesculpável
Por Josias de Souza
"Quando Ronaldo disse estar “envergonhado” com os desacertos da organização da Copa, Dilma Rousseff reagiu à moda de Nelson Rodrigues: “Tenho certeza que nosso país fará a Copa das Copas. Tenho certeza da nossa capacidade, tenho certeza do que fizemos. Tenho orgulho das nossas realizações. Não temos por que nos envergonhar. Não temos complexo de vira-latas.”

Nesta quinta-feira, Dilma submeteu seu orgulho a teste na tribuna de honra do Itaquerão. Dali, assistiu à partida inaugural da Copa do Mundo. Dessa vez, tentou blindar-se no silêncio. Absteve-se de discursar. Não funcionou. Como queria a presidente, a torcida exorcizou o vira-latismo. Mas, desamarrando suas inibições, incorporou um pitbull.

Ao entoar o hino nacional, ao ovacionar os jogadores, a arquibancada tomou-se de um patriotismo inatural. Contudo, rosnou com agressividade inaudita ao dirigir-se a Dilma. Fez isso uma, duas, três, quatro vezes. Diferentemente do envelope de uma carta ou do e-mail, a vaia não tem nome e endereço. Pode soar inespecífica. Como no instante em que o serviço de som anunciou os nomes de Dilma e de Joseph Blatter.

Até aí, poder-se-ia alegar que o destinatário da hostilidade era o cacique da Fifa, não Dilma. A coreografia estimulava a versão. Blatter levantou-se. Dilma manteve-se sentada. O diabo é que o torcedor, salivando de raiva, tratou de dar nome aos bois. Foi assim no coro entoado nas pegadas da cerimônia de abertura da Copa.

“Ei, Dilma, vai tomar no c…'', rosnava um pedaço da multidão. “Ei, Fifa, vai tomar no c…”, gania outra ala. Quando Dilma foi exibida no telão do estádio vibrando com o segundo gol do Brasil, arrostou, solitariamente, uma segunda onda de xingamentos. Após a comemoração do terceiro gol, ela ouviu um derradeiro urro: ‘Ei, Dilma, etc…”
O que fizeram com Dilma Rousseff no Itaquerão foi indesculpável. Vamos e venhamos: ela não era nem culpada de estar ali. Com as vaias da Copa das Confederações ainda não cicatrizadas, Dilma teria ficado no Palácio da Alvorada se pudesse. Foi ao alçapão do Corinthians porque o protocolo a escalou.

Vaiar autoridade em estádio é parte do espetáculo. Numa arena futebolística, dizia o mesmo Nelson Rodrigues, vaia-se até minuto de silêncio. Porém, ao evoluir do apupo para o palavrão, a classe média presente ao Itaquerão exorbitou. Mais do que uma pose momentânea, o presidente da República é uma faixa. Xingá-la significa ofender a instituição.

Quando o xingamento é transmitido em rede mundial, adquire uma pungência hedionda. No limite, o que a torcida fez na tarde desta quinta-feira foi informar ao planeta que o Brasil está deixando de ter uma noção qualquer de civilidade.

Quando o fenômeno atinge uma platéia como a do Itaquerão, com grana para pagar os ingressos escorchantes da Fifa, a deterioração roça as fronteiras do paroxismo. Evaporam-se os últimos vestígios de institucionalidade.

A sociedade tem os seus abismos, que convém não mexer nem açular. Dilma não se deu conta disso. E vive a cutucar os demônios que o brasileiro traz enterrados na alma. Fez isso pela penúltima vez no pronunciamento levado ao ar na noite da véspera. Muita gente achava que ela merecia uma reprimenda sonora. Mas a humilhação do xingamento transpassou a figura da presidente, atingindo a própria Presidência.

Quem deseja impor a Dilma um castigo que vá além da vaia, tem à disposição um instrumento bem mais eficaz do que a língua. Basta acionar, no silêncio solitário da cabine de votação, o dedo indicador. O gesto é simples. Mas a pata de um pitbull não é capaz de executá-lo."
Fonte: Blog do Josias

Discurso que Dilma Rousseff poderia ter feito na abertura da Copa após receber vaias

Por Paulo Leite

   "Fico feliz pelas vaias, em reconhecimento de ter tirado milhões de brasileiros da miséria;

    Fico feliz pelas vaias, em reconhecimento pelos menores níveis de desemprego de nossa história e o maior em empregos formais;

    Fico feliz pelas vaias, em reconhecimento a mais acelerada diminuição da desigualdade social de nosso país;

    Fico feliz pelas vaias, em reconhecimento ao fato de levar médicos a milhões de brasileiros que os viam pela primeira vez;

    Fico feliz pelas vaias, em reconhecimento ao fato de levar milhares de brasileiros pobres à Universidade através de programas como Prouni e Sisu;

    Fico feliz pelas vaias, em reconhecimento a liberação de moradia a milhões de brasileiros com o Minha Casa Minha Vida;

    Fico feliz pelas vaias, em reconhecimento ao aumento da renda dos mais pobres em relação aos mais ricos.

    Enfim, fico feliz pelas vaias devido a diversas ações que tomamos para tirar o poder que vocês, que aqui estão, em relação a 99% da população brasileira e, claro, entendo seu recalque.

    Só não me perdoem, claro, por não ter politizado o brasileiro médio e ter criado corvos que, acriticamente, endossam os desejos do 1% mais rico sem perceber.

Obs: fictício... mas poderia ser verdade."

Vaias e xingamentos contra Dilma vieram da área VIP com ingressos a R$ 990 e cortesias para artistas globais
"Vergonha!
Sabe de onde iniciaram as vaias e xingamentos contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) no jogo Brasil e Croácia na abertura da Copa do Mundo na Arena Corinthians?
Da área VIP do estádio, composta basicamente por quem pagou R$ 990,00 nos ingressos.
(...)
É esse tipo de gente que desrespeita uma senhora ao lado de sua filha, e que não aceita a redução das desigualdades sociais no Brasil nos últimos 10 anos.
Em tempo: Juca Kfouri na ESPN informou que os trabalhadores presentes na Arena Corinthians disseram que não gostaram das ofensas contra Dilma vindas dos endinheirados."
Fonte: Blog do Tarso

Um comentário:

Junior disse...

O Conversa Afiada reproduz trechos da resposta da Presidenta Dilma Rousseff aos coxinhas, em cerimônia de inauguração da primeira etapa do BRT do Distrito Federal:


- Eu não vou me deixar perturbar por agressões verbais. Não vou me deixar atemorizar por xingamentos que não podem ser sequer escutados pelas crianças e pelas famílias;

- Na minha vida, enfrentei situações que chegaram ao limite físico. (Durante a ditadura militar) eu suportei não foram agressões verbais, foram agressões físicas. Suportei agressões físicas que são quase insuportáveis. E nada me tirou do meu rumo, nada me tirou do meus compromissos nem do caminho que tracei para mim mesma. Não serão xingamentos que vão me intimidar e atemorizar. Eu não vou me abater por isso;

- Nada me tirou dos meus compromissos, nem do caminho que tracei para mim mesma;

- O povo brasileiro não age assim e não pensa assim. Sobretudo, o povo não sente da forma como esses xingamentos expressam.