12 de setembro de 2014

As fraquezas de Marina e sua 'auto-desconstrução'

A maior fraqueza de Marina é querer ser Lula e FHC ao mesmo tempo
Por Paulo Nogueira no DCM
"Marina chegou com uma fórmula que parecia vencedora.

Ela como que propunha combinar Lula e FHC numa só pessoa.

De Lula, os programas sociais. De FHC, a estabilidade econômica.

Ao abraçar o legado de ambos, ela dizia romper a polaridade de duas décadas entre PSDB e PT.

O que era uma força vai-se revelando, na verdade, uma fraqueza.

Não dá para ser, no Brasil de hoje, Lula e FHC ao mesmo tempo. É uma mistura impossível.

A Marina A é Lula. Fala em justiça social e promete investimentos bilionários em saúde e educação.

A Marina B é FHC. Seu programa econômico estabelece um ajuste severo nas contas do governo que, na prática, inviabiliza os investimentos sociais prometidos.

Na sabatina de hoje a que ela se submeteu no Globo, isso ficou claro. Mais de um entrevistador – incluída Míriam Leitão — sublinhou essa contradição.

Marina não conseguiu dar respostas satisfatórias sobre isso. Tergiversou. Disse que as pessoas estavam pensando nas despesas sociais da maneira velha. Não são despesas, mas “investimentos”.

Isso não mudou em nada a contradição que Marina encarna, mas ela pareceu satisfeita com o “novo paradigma” de investimentos sociais.

Caso eleita, qual Marina prevalecerá? A Marina versão Lula ou a Marina versão FHC?

Se depender de seu mentor econômico, o economista Eduardo Giannetti, a Marina versão FHC.

Como uma dona de casa ciosa das contas domésticas, ele disse numa entrevista ao Valor que os compromissos só serão cumpridos desde esteja sobrando dinheiro para isso.

Isso quer dizer: para 2015, os brasileiros devem esperar, como disse Churchill aos ingleses na Segunda Guerra, sangue, suor e lágrimas.

Para colocar as coisas no Brasil atual, são as “medidas impopulares” que Aécio prometeu, no começo de sua jornada presidencial, a um grupo de empresários, na presença de FHC.

Não é um caminho simples, este.

O receituário ortodoxo – aplicado com enorme insucesso em países europeus como Grécia, Espanha e Portugal – fatalmente levará às ruas as mesmas multidões que em junho de 2013 mostraram cansaço com a política tal como se faz no Brasil.

Só que desta vez a indignação recairá sobre Marina, que pareceu a muitos manifestantes uma esperança de um Brasil socialmente melhor.

A Marina versão Lula prevalecerá?

Se sim, sua equipe econômica vai simplesmente implodir. A eleição de Marina, para usar as palavras do Estadão, porta-voz do conservadorismo,  seria o “prenúncio de uma crise”.

À medida que a campanha avança, a suposta força de Marina – a combinação de dois legados presidenciais – vai-se revelando sua principal fraqueza.

Parece faltar nexo a sua candidatura, e quando questionada sobre isso ela traz ainda mais confusão onde já não havia clareza."


A “desconstrução” de Marina Silva tem sido feita por ela mesma
Por Kiko Nogueira no DCM
"Marina Silva tem reclamado dos ataques que sofre do PT e do PSDB. É um trabalho de “desconstrução”, reclamou.

Na verdade, ela sabe que é do jogo. Saiu na chuva é para se queimar, na definição genial do saudoso Vicente Matheus.

O caso é que sua taxa de rejeição cresceu de 15% para 18% desde o fim de agosto, de acordo com o Datafolha.

A desconstrução, como ela gosta, seria imensamente mais difícil para seus adversários se Marina não fosse tão contraditória e, por conseguinte, inspirasse tantas dúvidas no eleitorado.

Uma coisa é simbolizar a mudança  — e esse tem sido seu principal atributo. Outra é lidar com os fatos e preencher esse ideal para não virar um saco vazio de ilusões.

Na recente sabatina do jornal O Globo, ela se saiu com uma conversa de que faz “aeróbica do bem”. Ninguém perguntou o que diabos isso significa.

Mas sua campanha criou uma página em seu site oficial para rebater os “boatos” acerca de sua candidatura. São insuficientes para dar conta de suas idas e vindas.

Para ficar em algumas: Marina afirma que deu parecer contrário a um projeto que obrigava as bibliotecas a terem uma bíblia. Na verdade, foi relatora de um projeto de lei sobre isso, quando senadora, e não deu nenhum parecer. Um ano depois, devolveu-o porque terminou seu mandato.

Garantiu que é lenda que seja contra os transgênicos, mas há uma miríade de discursos no sentido contrário.

Sobre energia nuclear, contou que a licença ambiental de Angra 3 saiu em sua gestão. A primeira licença foi emitida mais de dois meses após ela deixar o ministério, por Carlos Minc (como esquecer aquele rabo de cavalo e o colete?).

O que significa o tal “comitê de busca dos homens de bem”? Ela decidirá quem são essas pessoas, com base numa suposta moral superior (religiosa?). Mencionou José Serra (que lhe deu um fora), Eduardo Suplicy, Pedro Simon. Quem não faz parte do grupo é, portanto, do mal? Existe um meio termo?

Quem Marina representa de fato? No que seu eleitor deve se agarrar? Nosso colunista Marcos Sacramento perguntou, aqui no DCM, por que ela não dava relevância, na campanha, ao fato de ser negra. A questão, com o perdão do trocadilho, passa em branco.

De acordo com uma boa matéria da BBC Brasil, a candidata do PSB é vista com “desconfiança por professores universitários, institutos de pesquisa, coletivos, organizações sociais e ativistas” (já as lideranças evangélicas mais atrasadas do Brasil, como Malafaia e Feliciano, a apoiam com força, amor e vontade).

A “desconstrução” de Marina é fruto da inconsistência de sua nova política. “Não se pode ser presidente da República em cima de mentiras. Existe um limite, e a sociedade brasileira está percebendo esse limite”, disse ela.

É uma platitude desgraçada, mas nessa ela acertou.""

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