6 de setembro de 2014

Delações, eleições e armações

Do Brasil 247:
"Profecia do ex-diretor da Petrobras era a de que não haveria eleição se ele falasse; e desde a sexta-feira 29, ao Ministério Público, em Curitiba, Paulo Roberto Costa está contando o que sabe; ele já teria denunciado 61 parlamentares e 1 governador de Estado; caso tem todos os elementos para alavancar os apelos de Marina Silva, do PSB, pela "nova política", e dar novo ânimo ao PSDB, de Aécio Neves, para acirrar a oposição contra o PT; a maior incógnita é como a presidente Dilma Rousseff, em momento de recuperação na disputa, será impactada pelas repercussões dessa delação premiada; ela conseguirá resistir?"


CAPA DE VEJA É A BALA DE PRATA DAS ELEIÇÕES DE 2014?
"Reportagem deste fim de semana sobre a delação premiada de Paulo Roberto Costa repete a estética já usada com Marcos Valério; objetivo é fazer com que o escândalo atual tenha, no imaginário nacional, o mesmo peso do chamado mensalão e mude o rumo das eleições; embora tenham sido citados nomes de deputados, senadores, governadores de estado, como Sergio Cabral, Roseana Sarney e o falecido Eduardo Campos, além do ministro Edison Lobão, não são apontadas provas de que os políticos mencionados receberam propinas; próximos dias serão decisivos. Apesar dos depoimentos, nenhuma prova do envolvimento dos políticos mencionados foi apresentada até aqui."

Do Viomundo:
"Até o primeiro turno da eleição teremos ainda mais quatro capas de Veja, devidamente repercutidas pelo Jornal Nacional. Para meus jovens leitores, funciona assim: a Veja publica uma denúncia. Pode ser completamente furada. Pode provar-se uma farsa, mas lá na frente, depois das eleições. O Jornal Nacional, sem checar o conteúdo daquela denúncia, repete feito papagaio o que escreveu a Veja. Isso causa justa revolta e indignação dos eleitores. Reforça o clima de mar de lama que já cerca a eleição de 2014. Rodrigo Vianna chamou de “delação premiada” de boca de urna.

Não, não duvido que Paulo Roberto da Costa esteja falando a verdade, nem da existência de corrupção generalizada no Brasil. Eu disse generalizada. Existem esquemas múltiplos de financiamento de campanha. Caixa dois. Em geral, quando os doadores são privados a investigação vai parar em alguma gaveta (como foi a Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, que apurou a contabilidade paralela da empreiteira Camargo Correia). Li o relatório completo da Castelo de Areia. Estava todo mundo lá. Gregos, troianos e espartanos. Eu disse generalizada, certo?

Teremos, a partir de agora, vazamentos seletivos dos citados pelo ex-diretor da Petrobras. Será que pega o PSB, de Eduardo Campos? Neste caso seria mais herança maldita despejada no colo da musa da “nova política”.

O PMDB, de Renan Calheiros, já aparece no rolo, o que respinga diretamente no governo Dilma.

Uma investigação como esta é longa e a Polícia Federal terá de confrontar o dito pelo delator com provas materiais ou testemunhais contra os acusados. Leva meses. Porém, o que importa mesmo é o escândalo até que se conclua o período eleitoral.

Se o nome do PSB não aparecer Marina Silva ganha um tremendo reforço — estará com um pé no Planalto.

Se apenas o PSDB estiver isento e o PSB envolvido, Aécio Neves recupera a chance de passar ao segundo turno.

Se parlamentares petistas não estiverem envolvidos diretamente, o governo Dilma argumentará que foi a Polícia Federal que levou o caso adiante, “doa a quem doer”.

É assim que funciona o Brasil. Depois, passa-se a régua sobre as denúncias e, com base em alguma “tecnicalidade”, o caso é paralisado — foi assim com a Operação Satiagraha, que envolveu o banqueiro Daniel Dantas. Foi assim com o mensalão do PSDB e o do DEM. Afinal, quem é tentou ajudar José Roberto Arruda, aquele da propina filmada, a manter a candidatura em Brasília? Fernando Henrique Cardoso e Gilmar Mendes!

Ao fim e ao cabo, as denúncias servirão — em caso de vitória de Marina ou Aécio — para justificar a privatização ainda maior do pré-sal, já que o Estado “corrupto” é incapaz de fazê-lo e a “mão invisível do mercado” regula tudo naturalmente, como fez antes de mergulhar o mundo na maior crise econômica desde 1929, a que teve início em 2008 e dura até hoje.

Por isso, só a Constituinte exclusiva é capaz de lidar com as questões de fundo que minam a representatividade no Brasil, inclusive o combate à corrupção que alimenta campanhas eleitorais com caixa um, dois e três, às custas de dinheiro público e privado.

PS2: Segundo O Globo, os partidos citados na delação são o PT, PMDB, PP, PR e PTB. Outro foco da investigação da PF está nos contratos para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, quando o governador do estado era Eduardo Campos.

PS3: Baseada exclusivamente em na delação premiada, a revista Veja diz que três governadores estavam envolvidos no esquema. Roseana Sarney, Sergio Cabral e Eduardo Campos."

2 comentários:

Marcos Oliveira disse...

PT INSINUA QUE MARINA PODE FAZER PRIVATIZAÇÕES

Para o presidente do partido, Rui Falcão, a candidata do PSB abre caminho para a privatização da Petrobras ao defender a redução no papel do pré-sal na matriz energética brasileira e a mudança no atual sistema de partilha na exploração de petróleo; "Passo seguinte é vender", disse Falcão, que define a presidenciável como ortodoxa na economia; entram na lista do PT de estatais ameaçadas de serem privatizadas por Marina a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil

BRASIL 247 – A nova estratégia do PT de ataque à candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, envolve a possibilidade de privatização da Petrobras e outras instituições, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. Ontem, durante reunião da cúpula petista em São Paulo, o presidente do partido, Rui Falcão, definiu a presidenciável como conservadora nos direitos individuais, regressiva na reforma política e ortodoxa na economia.

Segundo ele, a candidata abre caminho para a privatização da Petrobras ao defender a redução no papel do pré-sal na matriz energética brasileira e a mudança no atual sistema de partilha na exploração de petróleo. Marina disse ontem estar sendo vítima de "difamação e destruição" pelos adversários.

"Vamos lembrar que não faz muito tempo que isso foi proposto. Se você substituir o regime de partilha do petróleo e trocar a metade por concessões, (isso) fortalece as petroleiras estrangeiras e enfraquece a Petrobras. E a empresa que se debilita o passo seguinte é vender", disse Falcão nesta sexta-feira 5.

Segundo Falcão, a proposta de Marina de reduzir o papel dos bancos públicos na oferta de crédito também pode facilitar a venda das instituições. "Enfraquecer a Caixa e o Banco do Brasil pode mais tarde abrir campo para a privatização dessas instituições", argumentou o dirigente petista.

http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/152593/PT-insinua-que-Marina-pode-fazer-privatiza%C3%A7%C3%B5es.htm

P.S.:Então são os dois candidatos de oposição com o mesmo pensamento neoliberal de entregar as riquezas brasileiras ao grande capital privado.

Anônimo disse...

Qual o impacto das acusações de Costa?
Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

Quanto as acusações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa pesarão nas eleições?

Preso por corrupção, Costa acusou um número incerto de políticos - as especulações variam entre 32 e mais de 60 - de serem beneficiários de um esquema de propinas em obras da Petrobras nos tempos em que ele foi diretor de abastecimento.

Ele decidiu fazer a chamada “delação premiada”, para reduzir substancialmente uma pena que poderia chegar a 30 anos de prisão.

Costa é uma amostra do preço das coligações pela governabilidade. Ele foi indicado para o cargo de diretor da Petrobras pelo PP, o partido de Maluf.

Ele já está na capa da Veja, conforme se poderia prever, com estardalhaço.

É provável que jornais e revistas se atirem sobre o caso com fúria, na esperança de minar a candidatura de Dilma.

A apatia da imprensa em escândalos como o do helicóptero dos Perrellas e o do aeroporto de Cláudio, para não falar das propinas do metrô de São Paulo, tende a se substituir por uma entusiasmo frenético na cobertura da delação de Costa.

Cuidados jornalísticos elementares serão ignorados. Já estão sendo, aliás. Em alguns sites, a palavra de Costa é tomada como a última expressão da verdade, muito antes de qualquer investigação.

Torça para não estar na relação, porque você não seria acusado, mas culpado antecipadamente.

Minha convicção é que o impacto das acusações nas eleições será menor, bem menor, do que gostariam os antipetistas.

A indignação, real ou fingida, vai atingir os que chamam os petistas de petralhas. São os eleitores de Aécio, no primeiro turno, e de Marina, no segundo.

Eles votariam em qualquer coisa para tirar o PT do poder. Detestam o lulipetismo, o bolivarianismo, o dilmismo – em suma, qualquer coisa que remeta ao PT.

Eles não precisam das acusações de Paulo Roberto Costa, ou de quem quer que seja, para militar e votar contra os “petralhas”.

Do outro lado, quem está com Dilma dificilmente se movimentará para outro candidato.

Há uma justa desconfiança das intenções por trás de denúncias de corrupção.

Ao longo da história recente, escândalos – muitas vezes simplesmente inventados, e outras tantas brutalmente ampliados – foram a arma da mídia para desestabilizar governos populares.

De Getúlio a Jango, de Lula a Dilma, tem sido sempre a mesma história.

As delações de Costa devem ser apuradas, e os culpados punidos. Ponto.

Mas daí a manipular o público para favorecer os privilegiados de sempre vai uma longa distância.

O povo parece ter percebido isso, nos últimos anos, e eis uma avanço de consciência que deve ser saudado.