14 de setembro de 2014

Luis Fernando Veríssimo: Marina; itens que afetam a vida e a morte de milhões de pessoas; o voto do coração

Sempre é agradável ler uma crônica do Luis Fernando Veríssimo. 
Não sei se tenho todos os seus livros, mas tenho muitos. 
Do pai dele também, o grande Érico Veríssimo. Aliás recentemente comprei para reler - depois de décadas - a obra "Olhai os Lírios do Campo".
O artigo que reproduzimos a seguir foi publicado hoje.
Sutilmente - como sempre faz em temas polêmicos como a política - ela dá sua opinião sem polemizar e declara seu voto, permanecendo fiel à proposta da continuidade do trabalho desenvolvido pelo trabalhador que chegou à presidência e cuja sequencia tem sido feita exemplarmente por uma ex-guerrilheira, com muito orgulho.
O blog compartilha essa ideia.
O blog também acrescentaria outros motivos para não votar em Marina Silva, com já fez algumas vezes. O mesmo para o Aécio. Never.

Marina

"A comparação da Marina com o Jânio e o Collor é gratuita, mas, se ela for eleita, entrará na lista dos nossos presidentes exóticos - o que não significa que terá o mesmo destino dos outros.

Mulher, negra, com uma história pessoal de superação da sua origem mais admirável até do que a do Lula, ela seria, no governo, no mínimo uma curiosidade internacional, e talvez uma surpresa.

Acho difícil que sobreviva a todas as suas contradições e chegue lá, mas no Brasil, decididamente, você nunca pode dizer que já viu tudo. Temos uma certa volúpia pelo excêntrico.

A influência da religião numa hipotética administração Marina é discutível. Não se imagina que o bispo Malafaia e outros bispos evangélicos teriam o mesmo poder no governo que tiveram sobre a redação dos princípios da candidata, obrigada a mudar alguns para não desagradá-los.

E o que significaria termos um governo evangélico em vez de um governo católico ou umbandista? Obscurantismo por obscurantismo, daria no mesmo. Outra excentricidade do momento - sob a rubrica “Só no Brasil” - é o fato de a candidata mais revolucionária nestas eleições ser ao mesmo tempo a mais conservadora.

A aprovação quase universal do casamento gay está tornando esta questão obsoleta, para não dizer aborrecida, mas outras questões em choque com princípios religiosos, como a da liberação do aborto e a pesquisa com células-tronco, afetam a vida e a morte de milhões de pessoas.

É impossível saber quantas mulheres já morreram em abortos clandestinos por culpa direta da proibição do uso de preservativos pelo Vaticano, por exemplo.

Não faz a menor diferença para mim, para você e para o nosso cotidiano se Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo porque nem Ele era de ferro, ou se a humanidade descende de macacos.

Eu mesmo adotei uma crença mista a respeito: acredito que todos os antepassados da nossa espécie eram filhos de macacos menos os meus, que foram adotados. Mas a oposição à pesquisa com células-tronco que pode levar à cura de várias doenças hoje mortais não é brincadeira. É criminosa.

Acho a Marina uma mulher extraordinária. Mas, como alguém que está na fila para receber os eventuais benefícios de pesquisas com células-tronco, voto no meu coração."

Um comentário:

Anônimo disse...

Pastor Everaldo foi rifado pelos fiéis
Por Altamiro Borges

O jornal carioca “O Dia” informa neste domingo (14) que “a maior igreja evangélica do país, com 12,3 milhões de fiéis, já trocou de candidato de forma extraoficial e deve anunciar a mudança de posição em favor de Marina Silva nesta semana, quando os pastores da Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil (CGADB) se reunirão com o Pastor Everaldo (PSC), até então o presidenciável oficial”. Segundo o repórter Nonato Viegas, a adesão à candidata-carona do PSB já ocorre em vários templos da igreja, “onde os seus membros são orientados a votar na ex-senadora. Há até um bordão: ‘Irmão por irmão, vote em quem pode ganhar a eleição’. Assim como Everaldo, Marina é da Assembleia de Deus”.

Em entrevista ao jornal, o presidente do conselho, pastor Lelis Washington Marinhos, confirmou a decisão e ainda anunciou que, após as eleições, “a denominação dará início ao recolhimento de assinaturas para a criação de um novo partido, no qual possa abrigar congressistas da igreja ou que defendam seus princípios religiosos. Nesta legislatura, a Assembleia de Deus tem 26 deputados federais espalhados por vários partidos. A CGADB espera eleger, além dos atuais, mais oito candidatos para a Câmara. ‘Existe, sim, a ideia (de criação da legenda), onde poderemos alinhar nossos parlamentares e na qual eles possam defender nossas agendas com liberdade’, admite o pastor”.

Marina Silva, que já trocou de legenda quatro vezes – do PT para o PV, e da tentativa frustrada de criação da Rede para a carona no PSB –, terá assim mais uma opção partidária. Neste caso, com muito mais afinidades. No geral, Marina Silva defende os mesmos princípios da Assembleia de Deus – contra o direito ao aborto, a pesquisa em células-tronco, o casamento homossexual, entre outras ideias conservadoras. Já do ponto de vista político, as diferenças poderão ser contornadas. O pastor Everaldo, agora rifado pelos fiéis, ganhou os holofotes da mídia por suas posições de direita. De forma taxativa, quase cômica, ele defendeu o “estado mínimo” neoliberal, a independência do Banco Central e o tripé dos juros altos, austeridade fiscal e libertinagem cambial.

Também pregou a privatização da Petrobras. Marina Silva não chega a este extremo. No máximo, ela apenas deu um parágrafo do seu programa para a questão estratégica do pré-sal. Segundo o pastor Lelis Washington Marinhos, o novo partido terá algumas “agendas inegociáveis”, como a proibição do aborto e do casamento homossexual. “Não queremos colocar a igreja no poder. Queremos é que assumam o poder candidatos que creiam em Deus e que defendam nossos princípios”. Marina Silva concorda com estes princípios “inegociáveis”. E parece não se tratar de puro oportunismo eleitoreiro visando conquistar o voto dos 42,3 milhões de brasileiros que se declaram evangélicos no país. Parece!