10 de junho de 2013

Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciência e juventude, tá em casa, guardado por Deus, contando o vil metal...

O título do post é trecho de uma música do Belchior, para quem não sabe.
Em uma dessas navegadas pela Internet descobri o ótimo texto que reproduzimos abaixo, de autoria de Kiko Nogueira, inserida no blog Sátiro.
Quem acompanha nosso blog sabe como somos ligados em música. Jazz, Blues, MPB, New Age... De vez em quando postamos videos para musicalizar o blog.
Eu costumo ouvir de tudo, mais provavelmente as diversas vertentes do Rock: do Progressivo ao Fusion (que se junta ao Jazz e Blues), até o "básico", passando pelo Hard-Rock, New Wave, Heavy-Metal, Eletrônico, etc.
Bem, como a paixão pelo Rock vem lá dos anos 1970, veio junto o interesse pela Contracultura (que teve como ponto de partida o ano de 1968, sobretudo nas manifestações em Paris), que aqui no Brasil quase não existiu por conta da Ditadura.
E quem gostou das ideias do movimento costuma ter um viés socialista em suas convicções políticas.
Não se trata de ser "comunista" ou algo parecido, mas pensar em uma sociedade mais igualitária, com interferência do governo, democraticamente, para que isso aconteça. No mínimo tentar diminuir as diferenças sociais provocadas pelo neoliberalismo.
E os músicos de rock, em sua maioria e pelo mesmos motivos (Contracultura) e origem proletária, tem pensamento parecido.
Alguns vão além, criando verdadeiro grupos socialistas como Gang of Four, Henry Cow e todos do movimento RIO (Rock in Opposition).
Sem falar no Punk Rock que em sua essência (fora das boutiques) foi gerado por jovens desempregados ingleses, sem perspectiva no mundo capitalista em fins dos anos 1970.
Mas o texto abaixo mostra o outro lado da moeda: Rock Stars que migraram para a ultra-direira. Alguns porque ficaram milionários outros porque queriam ficar milionários e outros ainda porque eram filhos de classe média alta americana. O texto do Kiko foi criado a partir da sua observação sobre alguns roqueiros brasileiros.
Muito interessante. E, para mim, em alguns casos citados do exterior, decepcionante.
As fotos (à exceção do Elvis com o Nixon) foram acrescentas por mim neste post, substituindo outras do original.

Nixon e Elvis Presley
Lobão, Roger e o rock de direita
Por Kiko Nogueira
"Os roqueiros dos anos 80 fazem parte de uma looooonga tradição.
A guinada à direita de Lobão, Roger do Ultraje e mais alguns de seus colegas de geração pode ter deixado muita gente decepcionada (me refiro àqueles que esperavam alguma coisa deles).
Como podem roqueiros, com seu estilo de vida, vamos dizer, libertário, virarem direitosos? Como esses caras que mergulharam em sexo, drogas e roquenrol puderam se tornar reacionários depois dos 50?
Eu não tenho certeza da motivação deles (no caso de Lobão, é uma mistura de oportunismo e fanfarronice).  Mas é ingenuidade pensar que rockers são automaticamente de esquerda, antiestablishment, revolucionários ou coisa do gênero.
Lobão, Roger e – lembrei de mais um – Leo Jaime não estão sozinhos no mundo em sua paranoia antiesquerdista. Eles fazem parte de uma longa tradição. Mo Tucker, a veterana baterista do Velvet Underground, a banda mais subversiva de todos os tempos, por exemplo, anunciou há poucos anos sua filiação ao ultradireitista Tea Party. “Estou furiosa com a maneira como estamos rumando em direção ao socialismo”, disse. “Eu acho que o plano de Obama é destruir a América por dentro”.
Tia Alice Cooper

Alice Cooper, um dos pioneiros da união entre rock, teatro e filmes de terror nos anos 70, com sua sexualidade ambígua e suas letras depravadas – virou um evangélico fanático e antiobamista de coração.
Joe Perry, guitarrista do Aerosmith, que fazia com o vocalista Steven Tyler uma dupla apelidada Toxic Twins (dado o grau de ingestão de cocaína), apoiou o republicano John McCain nas eleições de 2008. “Sou republicano desde criança”, afirmou.
Kid Rock é um apoiador da política externa dos EUA no Iraque, fazendo turnês para levantar o ânimo da tropa.
Dave Mustaine, vocalista da banda de metal Megadeth, se juntou recentemente ao rei da teoria da conspiração, Alex Jones, para detalhar sua visão sobre o que eles definem Nova Ordem Mundial (o grupo de judeus, negros, terroristas e o diabo que está dominando o planeta).
Conhecido por aqui também como Ted Nojento
Ted Nugent, guitarrista e cantor, vive pedindo a pena de morte para ladrões e estupradores. Já falou que o erro dos EUA no Iraque foi não terem feito “o mesmo que em Nagasaki”. É membro fanático da famigerada NRA, o lobby pró-armas dos Estados Unidos. “Haverá um tempo que os donos de armas serão como Rosa Parks e nos sentaremos na parte da frente de um ônibus”, declarou em sua confusão mental, referindo-se à ativista negra Rosa Parks, que mudou a história da luta dos direitos civis nos EUA.
Phil Collins prometeu deixar a Inglaterra se o Partido Trabalhista fosse eleito. “Vou me mudar para a Suiça”, avisar. Noel Gallagher, ex-Oasis, aproveitou a deixa: “Vote nos trabalhistas. Se os conservadores forem eleitos, Phil está ameaçando voltar”. Em 76, Eric Clapton, bêbado, fez um discurso num show, apoiando o racista Enoch Powell. “Eu acho que Enoch está certo… Nós devíamos mandar todos eles embora. Joguem os pretos fora! Mantenham a Grã-Bretanha branca!” (Nota deste humilde blogueiro: o Eric Clapton deveria estar mesmo muito doido quando falou isto; toda sua música é baseada no blues negro americano dos anos 30, 40 e 50).
Eric e Phil: perderam oportunidade de ficarem quietos


Johnny Ramone mandou um “Deus abençoe o presidente Bush” quando sua banda foi incluída no Hall da Fama. “As pessoas são liberais quando jovens, e eu tenho a esperança de que elas mudem quando virem como o mundo é realmente”. (Segunda nota deste humilde blogueiro: não dá nem para mandar um recado para o Johnny que morreu prematuramente, mas... foi mal essa, vinda de um dos maiores Punk Rockers da história que, pelo visto, não tinha nada de Punk).
Agora, ninguém bate Elvis Presley. Em novembro de 1970, Presley entregou uma carta de seis páginas para o então presidente Nixon, em que expressava sua preocupação com o país, sugerindo que ele podia usar sua posição para acabar com a “cultura da droga, os elementos hippies e os Panteras Negras”. Pediu para ser nomeado agente colaborador do FBI no Departamento de Narcóticos e Drogas Perigosas. “Estive estudando a lavagem cerebral comunista e sei que os Beatles são uma força poderosa contra o espírito americano”, revelou. Presenteou Nixon com um Colt da Segunda Guerra. A foto dos dois é o item mais requisitado da Biblioteca Nacional, à frente da Constituição.
Uma possível diferença entre os nossos roqueiros e os do exterior — além da obra, evidentemente — é que, em geral, os de lá viraram conservadores depois de ganhar, e não perder, dinheiro, relevância e influência. Aqui é o contrário."
Fonte: Sátiro

4 comentários:

Jefferson disse...

Marquinhos, o artigo do Kiko é ótimo. E a sua introdução ao tema também excelente.
De todos aí o pior é o Ted Nojento, um sujeito W.A.S.P. racista insuportável. E seus discos e solos nem são grande coisa. Mas é ídolo artístico dos Republicanos, da mesma forma que os astros Country sulistas.
Phil Collins é um sujeito legal mas pisou na bola nessa. É bom lembrar, nem precisa pois você é especialista na área, que o Rock Progressivo, do maravilhoso Genesis do Phil Collins, ao contrário do outros gêneros de rock, foi formado por jovens egressos das universidades e escolas superiores de música e arte. Ou seja, classe abastada. Mas há exceções. Você lembrou bem do Henry Cow do guitarrista intelectual vanguardista Fred Frith.
O Eric Clapton devia estar mesmo chapado de álcool, heroína, cocaína e outras substâncias químicas para dizer uma asneira dessas. Na autobiografia dele não há uma linha a respeito. Ele nem deve se lembrar disso.
Quanto aos brasileiros citados, nem perco tempo comentando.
Abraço!

Marcos Oliveira disse...

Valeu Jefferson.
Leia o post "Lobão: Detonando os outros ao sabor dos ventos para vender mais livros? Ou também intenções políticas?"
em
http://luizfelipemuniz.blogspot.com.br/2013/05/lobao-detonando-os-outros-ao-sabor-dos.html
Abraço.

Fabio disse...

Excelente artigo e post. Estou realmente surpreso com o comportamento desta turma. Será que é um sentimento de culpa pelo excesso de consumo de droga? Erros na criação dos filhos? Estão tentando se redimir ? E o Raul Seixas, se estivesse vivo, seria neo-liberal, eleitor do PSDB e fã incondicional da GLOBO e da VEJA?

Marcos Oliveira disse...

Hehehehe...
Boas questões Fábio.
Não tenho as respostas.
Imaginar o Raul Seixas como um colunista da Veja e afiliado ao PSDB vai além da minha capacidade intelectual e emocional.
Abraço!