16 de julho de 2014

A fraqueza dos adversários de Dilma cada vez mais exposta

Acho que os principais méritos de Dilma foram o de manter e avançar em diversos pontos dos programas de Lula em um cenário totalmente diferente e adverso.
Mas nem precisava de tanto para almejar a reeleição. Realmente os adversários ainda não disseram (porque não podem dizer) o que eles tem a mais para oferecer. Fraquíssimos.


As sabatinas de Aécio e Eduardo Campos
Por Paulo Nogueira
"A não ser que uma grande surpresa ocorra, Dilma se reelegerá presidente em outubro, e provavelmente no primeiro turno.

Sua maior arma não é nada ligado a ela diretamente. Nestes seus anos, a economia cresceu pouco, a inflação teve alguns espasmos e o Brasil deixou de ser o menino prodígio que foi, sob Lula, aos olhos do chamado mercado internacional. Não bastasse isso, há um desgaste na própria esquerda, por conta da repressão policial em manifestações de protesto.

O grande trunfo de Dilma está na fraqueza extraordinária de seus principais adversários, Aécio e Eduardo Campos.

Nos Estados Unidos, aconteceu uma coisa semelhante nas últimas eleições presidenciais. Obama levou menos por seus mérito e mais pela ruindade extrema de seu adversário republicano, Mitt Romney.

Em sua apoteose ao contrário, Romney disse que caso se elegesse iria esquecer quase metade dos americanos, exatamente os mais necessitados.

As duas sabatinas recém-promovidas por um grupo de marcas jornalísticas estampam o deserto de ideias que são Aécio e Campos.

Vejamos, primeiro, Aécio. O maior destaque que o UOL conseguiu dar às falas de Aécio foi o compromisso de que ele manteria o Bolsa Família e o Mais Médicos.

Será que ele e equipe não têm uma única ideia de programa social para apresentar aos eleitores?

Pelo visto, não.

E a sociedade clama por fatos novos na área social, coisas que beneficiem os mais pobres e reduzam a desigualdade brutal do país.

Não é apenas a falta de novas propostas que incomoda. Aborrece também a maneira com que Aécio abraça programas que ele execrou antes, e que simplesmente não existiriam se ele tivesse poder para bloqueá-los.

O Bolsa Família era o Bolsa Esmola. E o Mais Médicos era um insulto à classe médica brasileira. Não, mais que isso: a todos nós, brasileiros, vivos e mortos.

Pois de repente o Mais Médicos fica bom, e Aécio garante sua manutenção a cada entrevista mais profunda que dá.

Eu respeitaria a mudança de opinião se ela fosse precedida de um honesto pedido de desculpas. “Amigas e amigos: errei na avaliação do Bolsa Família e do Mais Médicos. Achei que eram ruins coisas que eram boas e podem ser ainda melhores. Perdão.”

Mas não. Mais um pouco e Aécio vai posar como autor das ideias.

Segundo relatos publicados no UOL, a plateia teve um papel importante na sabatina de Aécio.

Boa parte dela era composta de líderes do PSDB. Um deles era Serra, que chegou atrasado. A composição favorável da audiência levou a palmas em dose generosa. E também a comentários entre os presentes como este registrado pelo UOL: “Pena que os entrevistadores são petistas.”

Pausa para rir.

Um dia antes, o sabatinado fora Eduardo Campos. Para ser mais que um figurante de olhos azuis nas eleições, Campos tem que apresentar ideias novas.

Mas de novo: quais?

A frase considerada mais importante pelos editores da sabatina dizia mais ou menos  o seguinte: “Dilma vai ser a primeira pessoa, desde a redemocratização, a entregar o país pior do que recebeu.”

É a chamada platitude, chavão, lugar comum. Como não tem tanto tempo assim no programa eleitoral gratuito, Campos tem que se concentrar em suas ideias. Todos sabem – afinal ele é candidato de oposição – que ele tem má opinião sobre Dilma.

Pode e deve ganhar tempo, portanto, sem repetir o que já é de conhecimento universal.

O momento mais revelador da sabatina de Campos veio na forma de um número milionário. Ele disse que iria construir 4 milhões de casas.

Promessas desse gênero remetem a velhas campanhas, em que os candidatos pareciam acreditar poder vencer uma eleição usando um número maior do que o de seus adversários.

Ou não tão velhas assim.

É um clássico, nas eleições de 2010, a promessa de Serra de que não apenas iria manter como dobraria o Bolsa Família.

Já ali Dilma mostraria ter sorte no quesito adversários."

Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pesquisa é uma coisa interessante. Você interpreta os números como quer.

A última da Datafolha, por exemplo.

Vi, nos sites das grandes empresas de mídia, o absoluto destaque não para o primeiro turno, que é certo, mas para o segundo, que é incerto.

Por quê?

Porque, de acordo com simulações, tanto Aécio quanto Eduardo Campos diminuem num eventual segundo turno a distância que os separa de Dilma.

Aécio, especificamente, ficaria a 4 pontos percentuais: 44% a 40%. Como a margem de erro é de dois pontos para cima ou para baixo, isso configuraria um empate técnico.

Até Campos, que tem se arrastado na casa de um dígito, vira um candidato poderoso num segundo turno, conforme o Datafolha. Não chega a empate técnico, mas não está tão longe assim.

As simulações de segundo turno trouxeram euforia aos suspeitos de sempre. Praticamente foi esquecido o primeiro turno nos títulos. As chamadas eram variações em torno disso: “Dilma e Aécio tecnicamente empatados no segundo turno”.

De volta ao mundo real, as notícias relativas ao primeiro turno não são auspiciosas assim para os interessados na remoção de Dilma e do PT.

Os três principais candidatos ficaram mais ou menos onde estavam no Datafolha anterior.

Dilma apareceu com 36% das intenções. Aécio continuou com 20% e Campos com 8%.

Os dois somados não levariam a disputa para uma segunda rodada, portanto. Para chegar aos 36% necessários para isso, entraram diversos nanicos.

Até Emayel, que não pontuara em nenhum outro levantamento, contribuiu com seu 1% para que o total ficasse em 36% a 36%.

Vocês podem imaginar a alegria de certos comentaristas ao analisar – ou torcer, ou massagear – os números.

Revi, depois de longa data, Merval Pereira na Globonews. Acho que a última vez que o vira fora nas eleições municipais de 2002.

Terminado o jogo do Corinthians, ontem, zapeei, e fui dar numa reportagem da Globonews sobre a pesquisa.

Quem ouviu Merval saiu com a quase certeza de que Dilma está frita. A situação dela, disse Merval, não é apenas grave, no que diz respeito à tentativa de reeleição. É muito grave. É bastante grave.

O espectador crédulo poderia pegar suas reservas, depois de ouvir Merval, e apostar numa casa de jogo londrina contra Dilma. Faria um bom dinheiro.

O que você vê na mídia, a cada pesquisa, é algo muito mais ligado a torcida e vontade do que a jornalismo e realidade.

A real notícia por trás do último Datafolha é que ainda não está claro se haverá segundo turno.

Existe uma possibilidade grande que as coisas acabem no primeiro, até porque o tempo de Dilma no programa eleitoral é bem superior ao dos demais candidatos, e Lula no papel de cabo eleitoral pode fazer muita diferença.

Mas, mesmo tudo isso considerado, qualquer, é claro, pode acontecer. Aécio pode dar uma arrancada triunfal, e mesmo Eduardo Campos pode conseguir o milagre da multiplicação de votos.

Dilma, nestas circunstâncias, seria varrida.

Só que os números do Datafolha mostram outra coisa, por mais que sejam manuseados e apresentados de uma maneira peculiar para as pessoas.

Por ora, o que se tem não passa disso: não está claro se haverá segundo turno.

O resto é torcida.