5 de julho de 2014

Retrospectiva do blog e "Comentários sobre 'A Alma Imoral', de Nilton Bonder"

Neste ano o Blog do Luiz Felipe Muniz está completando cinco anos neste endereço.
Para registro comemorativo ao longo deste segundo semestre de 2014 selecionaremos alguns posts que fizemos ao longo deste período, sem deixar de postar temas inéditos.
Sempre que for algo já publicado de maio de 2009 para cá colocaremos um asterísco (*) como sinalização.
Além do fato comemorativo, servirá como uma visão geral do que tem sido o blog ao longo deste tempo, seu ecletismo e suas afinidades. Obviamente selecionaremos preferencialmente artigos que não soem datados.

Comentários sobre "A Alma Imoral", de Nilton Bonder

Faz tempo fui convidado pelo amigo Luiz Felipe Muniz para dividir com ele este espaço que tinha sido criado alguns anos antes.
Muitos que conhecem o blog há pouco tempo podem estranhar que o titular não aparece muito e que sou eu o "principal articulista" que mantém a dinâmica deste espaço multidisciplinar.
Não é bem assim. Quem criou e deu as diretrizes de como seria o blog que se recria de tempos em tempos foi e é o Luiz Felipe. É ele "o cara".
Na maior parte destes anos ele publicou aqui seus ótimos posts e, se anda um pouco sumido atualmente, é por conta de exigências profissionais e pessoais que o impedem de estar presente mais extensivamente aqui como é o seu desejo.
São fases da vida, que vai se modificando e as prioridades e possibilidades acompanhanhado.
E é justamente com um ótimo post do Luiz Felipe - na verdade juntei dois sobre assunto semelhante - publicados respectivamente em setembro e novembro de 2010 que iniciamos essa retrospectiva de cinco anos do blog que conta atualmente com mais de 5.000 postagens!

A evolução e a transgressão numa permanente simbiose: "A Alma Imoral" de Nilton Bonder / Tendências do corpo e da alma...transgressões! (*)
Por Luiz Felipe Muniz, com citações
Nilton Bonder
Nos últimos dias lembrei-me muito de algumas obras do rabino e lider espiritual, Nilton Bonder, um grande pensador que tive também a oportunidade de conhecer pessoalmente e de assistir uma de suas notáveis palestras, lá no longinquo ano de 1998 em Florianópolis/SC, quando participei de um Seminário fantástico, cujo o tema central era tão diverso quanto ousado: "I Congresso Internacional de Naturologia Aplicada (Terapias Avançadas; Nova Consciência e Educação; Meio Ambiente e Sustentabilidade; Organizações do Século XXI) – UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina".

Este foi um período muitíssimo rico em minha vida e na maneira como eu estava aprendendo a rever e a ver as coisas deste mundo tão multifacetado, complexo e imprevisível dos humanos, e também dos não-humanos!

Mas nesta noite de sábado, não um sábado qualquer, mas um sábado de feriadão até terça, onde o Marquinhos Cardozo já postou preciosidades musicais e já prometeu mais neste fim-de-semana esticado, eu gostaria apenas é de tentar resgatar um pouco da atmosfera proposta pelo livro: "A Alma Imoral" do Nilton Bonder.

Num primeiro momento pode até parecer estranho um lider espiritual abordar temas espinhosos da dimensão humana como o desejo, as traições, as transgressões, o certo, o errado, as desobediências, as atrações físicas, etc, numa linguagem de puro valor e aceitação de nossa mais elementar condição humana de mutantes permanentes e de seres destinados à evolução da espécie e do eu num único e só tempo/espaço, mas nada é mais real em nós!

Dois pequenos trechos para o deleite dos visitantes:

A evolução da espécie está no silêncio do pai que ergue a faca para matar um filho por ordem divina e a detém. Um silêncio que cada homem e cada mulher conhece em sua vida pessoal e coletiva. Um silêncio desafiador, que responde a um impulso interno de sagrada desobediência, uma desobediência que o homem sonha em integrar à paz, à paz que não se fará no estabelecimento de um mundo ideal para um corpo imutável, não se fará através do clone, mas através do mutante, porque o nosso ser é um ser em transformação, tem alma e não é uma alma boazinha como nos fizeram acreditar, mas uma alma profundamente imoral e isso não tem nada de satânico. É que transformaram Satã num espantalho que nos afasta das mudanças. Satã é tudo aquilo que nos embota os sentidos e que nos embota a consciência – é que é mais fácil e conveniente apresentar Satã como um possível resultado do risco do que o apresentar também como o pesadelo da acomodação. Se os que mudam radicalmente de emprego, se os que refazem relações amorosas, se os que perdem medos, se os que rompem, se os que traem, se os que abandonam os vícios experimentam a solidão é possível que essa solidão seja quebrada no encontro com outros que conheçam essas experiências. Haverá pior solidão do que a ausência de si?

A Necessidade de Transgredir
"Hoje, por exemplo, é muito comum as pessoas cumprirem sua "tarefa" de procriar e prover as condições mínimas de sobrevivência a seus descendentes e fazê-lo ainda em sua meia-idade. O que fazer quando os filhos estão crescidos e com um rumo próprio e os pais têm em torno de cinquenta anos? O que fazer com os trinta anos em média que restam, ou seja, com mais uma vida inteira por ser vivida? Muitas pessoas descobrem que sua sobrevida depende de novas tarefas. Alguns desfazem os laços de seus contratos passados, alguns conseguem renegociá-los. Mas os que não o fazem, os que não usam sua alma para recriar tarefas, diminuem suas chances de sobrevivência."
Isto é real para o indivíduo e também para a espécie humana. A capacidade de trair o compromisso com "tarefas" já cumpridas e a criação de novas "tarefas", definindo a relação da espécie com o seu meio ambiente, são renovações do direito à existência. Por isso procriamos e por isso também somos mutantes. A mutação estende nossos vistos de permanência na sociedade da vida, porque a própria vida é a possibilidade de definir tarefas a si mesmo.
As "lógicas da alma" revelam a intenção transcendente da questão espiritual. Essa transcendência diz respeito também à cultura e à moral. A rebeldia que a busca do espírito instaura faz da alma um instrumento para o rompimento com normas, padrões e paradigmas.
A tradição é a codificação de princípios que permitem ao ser humano compreender a realidade à sua volta e com isso aumentar suas chances de fazer o que é esperado dele. Entre o que se espera da espécie está sem dúvida sua preservação, mas também a execução da missão estabelecida por seu potencial. A tradição contém em si o grande conflito existencial humano, que exige negociações constantes entre esses dois pólos. Sua história é marcada por controvérsia e seu território se tornou arena para essa encarniçada disputa entre o que é o "bom" do momento e um outro "bom" potencial que só se concretizará com o abandono do primeiro.
A difícil tarefa da tradição - de ser o compromisso com o passado em meio às demandas do futuro - faz com que seja campo fértil para a traição.
"    

O livro já foi adaptado para o teatro em um premiado monólogo de pele, de alma e na voz da artista Clarice Niskier:
"A atriz Clarice Niskier adaptou para o teatro, o livro de "A Alma Imoral" de Nilton Bonder, com o objetivo de mobilizar o pensamento e a emoção do espectador contemporâneo. "A Alma Imoral", descontrói e reconstrói conceitos milenares da história da civilização. Conceitos de corpo e alma, certo e errado, traidor e traído, obediência e desobediência.
É um espetáculo que tem como base histórias do velho testamento, parábolas de sabedoria judaica, além de informações históricas e científicas. O monólogo aproxima temas como religião e biologia.
Clarice Niskier foi ganhadora do Prêmio Shell de melhor atriz - 2007, e do Prêmio qualidade Brasil de melhor atriz Drama SP 2008
".

Clarice Niskier
 (*)Da série retrospectiva comemorativa dos cinco anos do blog.

2 comentários:

Luis Antonio Dias disse...

Muito boa!!

Alice in Wonderland disse...

BOA A IDEIA DA RETROSPECTIVA DESTE BLOG QUE SEMPRE ACOMPANHO.