19 de julho de 2014

Em complemento a "Posto, logo existo": a geração "só a cabecinha"

O post anterior (de ontem), conforme registrado, foi publicado em 2012.
Pois vejam só. Achei este artigo - publicado na revista Galileu na quinta-feira - de autoria de Bia Granja ("Co-criadora e curadora do youPIX e da Campus Party Brasil; seu trabalho busca entender como os jovens brasileiros usam a rede para se expressar e criar movimentos culturais"), que poderíamos nomear como um complemento de "Posto, logo existo".
Uma reflexão do uso de nosso tempo (no primeiro caso) e do bombardeio de informações muitas vezes falsas ou superficiais - e da superficialidade ao usar a Internet - no caso do artigo a seguir.
Curiosamente o título da matéria e este mesmo e me fez lembrar de minha juventude lá pelos anos 1970. Será que este "jogada" (que virou piada 'politicamente incorreta', considerando os dias de hoje) ainda é utilizada? Me parece que nem existe mais tempo para isso. Só o mundo virtual...

Geração "só a cabecinha"

Se Caetano Veloso já achava que tinha muita notícia nos anos 1960, o que dizer de hoje?

"SOMOS A GERAÇÃO QUE LÊ O TÍTULO, COMENTA SOBRE ELE, COMPARTILHA, MAS NÃO VAI ATÉ O FIM DO TEXTO. NÃO PRECISA, NINGUÉM LÊ!"

"Outro dia vi um estudo que diz que 25% das músicas do Spotify são puladas após 5 segundos. E que metade dos usuários avança a música antes do seu final. Enquanto isso, no YouTube, a média de tempo assistindo a vídeos não passa dos 90 segundos. O mais chocante desses dois dados é que o uso do Spotify e do YouTube, em geral, está focado no lazer, no entretenimento. Ou seja, se a gente não tem paciência para ficar mais de 90 segundos focado em uma atividade que nos dá prazer, o que acontece com o resto das coisas?

Você ficou sabendo da entrada do ator Selton Mello no seriado Game Of Thrones? Saiu em vários grandes portais brasileiros e a galera na internet compartilhou loucamente a notícia. Tudo muito bacana, não fosse a notícia um hoax, um boato inventado por um empresário brasileiro apenas pra zoar e ver até onde a história poderia chegar. Bem, ela foi longe: mais de 500 tuítes com o link, mais de 3 mil compartilhamentos no Facebook, mais de 13 mil curtidas, matéria no UOL, Ego, Bandeirantes, O Dia e vários outros sites.

Quem não tem paciência de ouvir cinco segundos de uma música tem menos paciência ainda pra ler uma notícia inteira. Pesquisas já mostraram que a maioria das pessoas compartilha reportagens sem ler. Viramos a Geração “só a cabecinha”, um amontoado de pessoas que vivem com pressa, ansiosas demais pra se aprofundar nas coisas. Somos a geração que lê o título, comenta sobre ele, compartilha, mas não vai até o fim do texto. Não precisa, ninguém lê!

Nunca achei que a internet alienasse as pessoas ou nos deixasse mais burros, pois sei que a web é o que fazemos dela. Ela é sempre um reflexo do nosso eu, para o bem e para o mal. Mas é verdade que as redes sociais causaram, sim, um efeito esquisito nas pessoas. A timeline corre 24 horas por dia, 7 dias da semana e é veloz.

Daí que muita gente acaba reagindo aos conteúdos com a mesma rapidez com que eles chegam. Nas redes sociais, um link dura em média 3 horas. Esse é o tempo entre ser divulgado, espalhar-se e morrer completamente. Se for uma notícia, o ciclo de vida é ainda menor: 5 minutos. CINCO MINUTOS! Não podemos nos dar ao luxo de ficar de fora do assunto do momento, certo? Então é melhor emitir logo qualquer opinião ou dar aquele compartilhar maroto só pra mostrar que estamos por dentro. Não precisa aprofundar, daqui a pouco vem outro assunto mesmo.

Por outro lado… quem lê tanta notícia? Se Caetano Veloso já achava que tinha muita notícia nos anos 1960, o que dizer de hoje? Ao mesmo tempo em que essa atitude é condenável, também é totalmente compreensível. Todo mundo é criador de conteúdo, queremos acompanhar tudo, mas não conseguimos. Resta-nos apenas respirar fundo, tentar manter a calma e absorver a maior quantidade de informação que pudermos sem clicar em nada. Será que conseguimos?"

2 comentários:

Anônimo disse...

Não consegui ler até o final.

XYZ disse...

Esta é a dura realidade. Infelizmente hoje podemos notar que as pessoas não querem conteúdo. Conteúdo; não em qualidade, não em análise, não em discussão, não em debate de ideias. Apenas estão satisfeitas com volume e compartilham volumes de conteúdo sem ler e analisar. Podemos dizer que são compartilhadores e curtidores em série.