31 de julho de 2014

Conflitos Internacionais

Não sei não.
Ontem vi o Obama cheio de força anunciando sanções à Rússia por ela teoricamente estar ajudando os rebeldes do leste ucraniano que são em sua maioria russos ou descendentes dos mesmos.
Não me consta que os rebeldes estejam jogando bombas no resto da Ucrânia, muito menos matando civis, entre eles mulheres e crianças.
Sem negar o direito de Israel se defender (e se defende muito bem), seria bom que Obama aumentasse o tom da mesma forma com Israel. Mas como Israel é nação aliada pode varrer a Faixa de Gaza do mapa que está tudo bem.
Com a infeliz decisão de Israel de continuar bombardeando escolas, hospitais, prédios da ONU, etc. ganha força a posição brasileira de chamar seu embaixador e condenar o ataque desproporcional aos palestinos.
Nosso blog humildemente apoia um cessar fogo incondicional (e humanitário) imediato.
Quanto à Russia, seria bom que a imprensa ocidental - ao invés de só puxar o saco dos EUA - desse voz também aos rebeldes para que expliquem sua posição e igual oportunidade à chancelaria russa.
Da mesma forma deveria tentar fazer matérias históricas que explicassem as origens dos conflitos na Síria, Iraque e Líbia...


Brasil 10 X Israel 0
Por Marcelo Zero, no blog de Paulo Moreira Leite:
(...) "Assim, o Brasil historicamente se posicionou em relação àquele conflito com muita moderação e tomando como base fundamental as resoluções da ONU sobre o tema. Essas resoluções são claras: os israelenses têm direito ao seu Estado, mas os palestinos também. Ademais, a ONU condenou explicitamente a ocupação, por parte de Israel, dos territórios palestinos e dos territórios de outros países tomados após a guerra de 1967. De fato, tanto o Conselho de Segurança das Nações Unidas, através da sua Resolução 497, quanto a Assembleia Geral, que aprovou moção de apoio à essa Resolução , condenaram taxativa e reiteradamente a ocupação ilegal.

Além de se posicionar de forma equilibrada sobre o tema, tomando como parâmetros as resoluções da ONU relativas ao conflito, o Brasil sempre deu firme apoio a todas as iniciativas destinadas à retomada das negociações de paz. Desse modo, o nosso país, em consonância com a comunidade internacional, apoiou os entendimentos alcançados no segundo Acordo de Oslo (1995), na Iniciativa Árabe de Paz de Beirute (2002), no chamado “Mapa do Caminho para a Paz” (2003), na “Iniciativa de Genebra” (2003) e nas outras que as sucederam.

Assim sendo, cabe aqui a pergunta: quem é o anão diplomático nessa história? O Brasil, que apoia as resoluções da ONU e as tentativas de negociação, ou Israel, que as descumpre sistematicamente, manifestando desprezo pela comunidade internacional?

No plano externo, Israel usa somente dois argumentos de peso: seu poderoso exército e o apoio incondicional dos EUA e seus aliados. No que tange aos palestinos, a “diplomacia” israelense se resume a isso. Convenhamos: é muito pouco para quem acusa o Brasil de nanismo diplomático.

Se há uma crítica que se pode fazer ao Brasil, é precisamente a contrária à que fez o ventríloquo bufão. Uma posição muito equilibrada, relativamente a um conflito com correlação de forças tão assimétricas, tão desproporcionais, pode beneficiar o forte, em detrimento do fraco. Fica cada vez mais claro que tanto o Brasil quanto os demais países precisam assumir uma posição mais incisiva, no que tange à defesa do sofrido povo palestino.

Esse povo, que não tem Estado, território coeso, economia viável e nem forças armadas vem sendo submetido ao que Ilan Pappé, historiador israelense, denominou apropriadamente de “genocídio incremental”. Aos poucos, o governo de Israel vai colonizando quase toda a Cisjordânia, tomando as poucas terras remanescentes dos palestinos, e sitiando 1,8 milhão pessoas na estreita Faixa de Gaza.

O governo de Israel não gosta, mas não há como deixar de comparar Gaza a um gueto. A situação lá não é igual à do gueto de Varsóvia, mas, aos poucos, está se aproximando bastante.

Gaza sofre um bloqueio impiedoso há sete anos, que devasta sua precária economia e submete a população a sofrimentos indizíveis. Há falta de água e de energia. Há fome e falta de remédios. A taxa de desemprego é de 40% e os palestinos que lá moram não podem manter contato regular com seus familiares na Cisjordânia. Praticamente todo o comércio externo foi cortado. Até mesmo a pesca foi severamente restringida pelo governo de Israel. Para não morrer, a população de Gaza depende da ajuda internacional, que chega a conta gotas, e de precários túneis pelos quais entram alimentos e remédios. Justamente os túneis que o governo de Israel quer fechar.

Gaza é hoje uma gigantesca prisão. Uma prisão já condenada pelo Alto Comissário para os Direitos Humanos das Nações Unidas e pelo comitê da Cruz Vermelha Internacional, entre vários outros. Gaza é uma crua ofensa à consciência do mundo.

Ante tal situação dantesca, não resulta difícil entender que o Hamas eventualmente dispare seus precários e primitivos foguetes Qassam contra Israel, sem nenhum sucesso, já que esses artefatos são facilmente destruídos pelo sofisticado sistema antiaéreo israelense.

Portanto, classificar a atual ofensiva genocida do governo de Israel em Gaza, que já matou 800 pessoas, incluindo mulheres e crianças, como uma resposta apropriada ao Hamas, justificada pelo direito à autodefesa, é uma manifestação de nanismo intelectual. Não é apenas desproporcional. Simplesmente não é autodefesa. É ataque indiscriminado que atinge especialmente a população civil inocente de Gaza, já massacrada cotidianamente pelo bloqueio.

Não é uma guerra. Trata-se de uma política deliberada de sufocação e aniquilamento. É o “genocídio incremental”, que, às vezes, não é tão incremental assim.

É por isso que o governo de Israel, mesmo contando com a simpatia da mídia ocidental, vem perdendo, nos últimos anos, apoio na opinião pública internacional e na opinião pública brasileira. Ao convocar seu embaixador, o governo do Brasil está somente entrando em sintonia com o que pensa e sente boa parte de sua população.

Contudo, o principal problema do governo que chama o Brasil de “anão diplomático” é o seu nanismo moral. No dia seguinte em que acusou o Brasil de “anão diplomático”, o governo de Israel bombardeou uma escola das Nações Unidas em Gaza, manifestando, dessa forma, todo o seu apreço à diplomacia, ao multilateralismo e à comunidade internacional.

Desconhecemos manifestação do ventríloquo bufão sobre esse crime. Mas, no placar da diplomacia mundial, a desproporcionalidade já é gritante.

Brasil 10 x Israel 0."

Marcelo Zero é diplomado em Ciencias Sociais pela UnB e assessor legislativo do Partido dos Trabalhadores

Fonte: IstoÉ Independente

Um comentário:

Juca disse...

É uma vergonha o que vem acontecendo. A força dos EUA no apoio a Israel impede que o ocidente e ONU façam algo mais forte contra o massacre que os palestinos vem sofrendo. No entanto algo muito menor como a questão Russa provoca uma mobilização de retaliação dos EUA e Europa com apoio da imprensa capitalista. Enquanto isso morre-se na Faixa de Gaza, na Líbia, no Iraque, na Síria. Vergonha.