12 de setembro de 2014

Dilma no primeiro turno?

A pergunta do momento: Dilma pode levar no primeiro turno?
Por Paulo Nogueira do Diário do Centro do Mundo
"O momento é de Dilma.

Esta é a principal conclusão trazida pela última pesquisa Ibope.

Se este momento se prolongar até as eleições, as chances de tudo se encerrar no primeiro turno serão enormes.

Se fosse um jogo de xadrez, você diria que Dilma está numa posição em que pode dar xeque mate nos adversários.

Considere.

Marina não apenas parou de crescer como diminuiu. Nesta pesquisa, caiu dois pontos.

Sua candidatura, arrebatadora nos primeiros instantes, sofre um forte desgaste agora.

O marco zero do refluxo marinista veio com o recuo na questão LGTB depois que Malafaia tuitou ameaças tonitruantes.

Para um eleitorado de esquerda que via Marina como uma boa opção à polarização entre PT e PSDB, soaram os alarmes.  Colocar na presidência alguém suscetível de pressões pelos fundamentalistas evangélicos começou a ser visto como algo realmente complicado.

Com o correr dos dias, também veio à tona a incoerência entre as falas de Marina e seu programa severo na área econômica.

Uma entrevista do mentor econômico de Marina, Eduardo Giannetti, escancarou o impasse. Segundo ele, os compromissos de Marina só serão cumpridos se os recursos para eles não comprometerem o combate à inflação e o ajuste na economia.

Isso quer dizer: os compromissos não são, na verdade, compromissos, mas uma carta vaga de intenções.

Sob a pressão dos fatos e da liderança nas pesquisas, Marina piscou. E seu momento passou.

Seu maior desafio, agora, passa a ser a estabilidade nas intenções de voto de tal forma que chegue ao segundo turno.

Para isso, Aécio não pode se esvaziar a tal ponto que vire um novo Eduardo Campos, com 7% ou 8% dos votos, porque o risco de vitória de Dilma no primeiro turno seria enorme.

Caso Dilma continue a avançar no ritmo atual, um Aécio com a votação de Campos seria a senha para a definição das eleições no primeiro turno.

Suponha que Dilma se fixe, até outubro, em 43% ou 44%. Se Aécio recuar para 10%, Marina vai ter que se segurar onde está para forçar o segundo turno.

Luciana Genro pode complicar ainda mais as coisas para Marina.

Quanto mais Luciana aparece neste final de campanha, mais ela conquista corações de jovens idealistas que nos protestos de junho de 2013 viram em Marina uma esperança de renovação.

Caso Luciana consiga 1% ou 2% dos votos, eles serão muito provavelmente subtraídos de Marina.

A maior surpresa dessas eleições é exatamente Luciana, com seu jeito gaúcho e desassombrado de chamar as coisas pelo seu nome.

O futuro da esquerda, no Brasil, se chama Luciana, com o PT no centro-esquerda e o PSDB na direita.

Para Dilma, hoje, a cena é amplamente favorável.

Os números favoráveis nas pesquisas – depois de uma situação em que ela parecia prestes a ir a pique – lhe trouxeram uma confiança que não se viu antes na campanha.

Na sabatina de hoje com colunistas do Globo, isso ficou claro.

Ricardo Noblat deu a ela, a certa altura, uma ordem: “Fale um pouquinho menos senão a gente não consegue fazer mais perguntas.”

Foi obrigado a ouvir uma resposta bem humorada que trouxe gargalhadas mesmo aos entrevistadores.

“Gente, vamos esclarecer aqui de quem que é a sabatina”, disse Dilma, rindo.

Dilma estava claramente à vontade na sabatina, muito mais que na entrevista que deu ao Jornal Nacional.

Num momento em que debates e sabatinas se sucedem, isso pode também fazer diferença.

Estas eleições serão travadas pela marca da instabilidade. Os ventos ora sopraram para um lado, ora para o outro, e em alguns instantes ficaram indefinidos.

Hoje, sexta, 12 de setembro, os ventos estão ajudando poderosamente Dilma.

Se eles não mudarem de direção, é possível – provável, talvez seja a palavra – que não haja segundo turno."

Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Um comentário:

Kiko Nogueira no DCM disse...

A república de Malafaia

O pastor Silas Malafaia segue e dissemina dois evangelhos: o do ódio e o da tagarelice.

Alguém fez um levantamento sobre sua atuação insalubre no Twitter. Não sei se os números estão corretos, mas numa avaliação superficial de seu batuque incessante no teclado o resultado não parece absurdo.

Entre 3 de março e 3 de setembro, ele teria feito apenas 59 menções a Jesus Cristo e 87 a homossexuais.

Ainda não houve um levantamento da quantidade de vezes em que fala no PT, mas é um assombro. Geralmente, junta as fixações. Por exemplo: “Petistas covardes usam a causa gay para me denegrir e mudar de assunto.”

Marina Silva está pagando por seu apoio. Pode ter sido um beijo da morte. Não é exagero apostar que, fora de sua paróquia, é um dos homens mais detestados do Brasil.

Malafaia deve ser levado a sério? Sim, na medida em que encarna uma direita religiosa que tem voto, influência, ambições — e que cresce.

Ele, juntamente com colegas como Marco Feliciano e outros pastores e bispos, sonha com um Brasil livre de abominações como gays, abortistas, “umbandistas” etc, e que tenha sua interpretação literal da bíblia como constituição.

Todos os jornalistas que o desagradam são canalhas, covardes e por aí vai. O mais recente foi um repórter do UOL. Mas já sobrou para um profissional da revista Forbes que o colocou numa lista dos religiosos mais ricos do país, com 300 milhões de reais.

“Safado, sem vergonha, bandido e caluniador tem em tudo que é lugar (…). Quando a Forbes faz uma declaração dessa, não é uma declaração qualquer. Eu vivo de que pessoas acreditem em mim”, vociferou ele no ano passado. Ameaçou processar a publicação. Nunca cumpriu.

Essa tática da vitimização costuma ser muito utilizada. Fundamentalistas como Malafaia gostam de gritar que são perseguidos, num clássico do sujeito que bate a carteira e berra “pega ladrão!”.

Malafaia é a culminância do poder do pentecostalismo nacional. Um extremista que quer impor sua visão a qualquer custo. Seu grupo existe para estabelecer suas crenças como força dominante na organização do direito, da política e da cultura.

Todo fanático é um inseguro. Sua fé está ligada a sua paixão doentia e a sua necessidade de se segurar em alguma coisa, muito mais do que à certeza de suas convicções.

Malafaia já afirmou que não quer um cargo político. Na verdade, não precisa. Ao declarar que não quer “fundar uma república evangélica”, está dando um aviso. Para Freud, aquilo que se nega é o que está sendo reprimido. Quando nega, ele afirma. Juntamente com a dedicação diuturna a gays e comunistas, tudo indica que esta é provavelmente uma de suas obsessões.