2 de outubro de 2012

O uso eleitoral do julgamento no STF

Nas últimas semanas temos abordado muito este assunto e acho que está na hora de parar, evitando encher o saco do leitor.
É que a mídia tradicional não faz este tipo de análise e cabe aos blogs fazer o mínimo que lhes cabe em política: mostrar o que está por trás de muita coisa propalada aos quatro ventos na TV e grandes jornais.
A matéria a seguir não é tão longa, mesmo assim destaquei em azul os pontos primordiais para quem não tiver tempo ou não quiser ler.
Sorry and... thanks!

O uso eleitoral do julgamento no STF

1/10/2012 15:51,  Por Blog do Miro
Por Vinicius Mansur, no sítio Carta Maior:
"Após cinco anos de trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF) – que possui mais de 700 processos na fila de espera, sendo o mais antigo de 1988 -, a Ação Penal 470, chamada de “mensalão”, teve seu julgamento iniciado em 2 de agosto, em estranha coincidência com o calendário das eleições municipais de 2012: em 6 julho a campanha foi iniciada oficialmente e em 21 de agosto começou o horário eleitoral nas TVs e rádios.
Para esta semana, a última antes do primeiro turno, mais uma coincidência foi agendada: os petistas José Dirceu, José Genuíno e Delúbio Soares entrarão pela primeira vez na pauta do julgamento, pelo crime de corrupção ativa. Também são acusados neste capítulo da denúncia os publicitários Marcos Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach; o advogado e sócio de Valério, Rogério Tolentino; a ex-diretora financeira da agência de publicidade SMP&B, Simone Vasconcelos; e a funcionária subordinada a Vasconcelos, Geiza Dias.
O ministro relator Joaquim Barbosa irá começar a proferir seu voto sobre a corrupção ativa ainda nesta segunda-feira (1°) ou, no mais tardar, na quarta (3). Dependerá de quanto tempo os ministros Dias Toffoli, Marco Aurélio, Celso de Mello e Ayres Britto levarão para concluírem suas análises sobre os 13 acusados de corrupção passiva.
Barbosa já adiantou que levará menos de uma sessão para posicionar-se sobre o crime de corrupção ativa, o que condiciona o revisor, Ricardo Lewandowski, a utilizar o mesmo tempo ou menos. Como serão três sessões esta semana – hoje, quarta e quinta – dificilmente haverá conclusão deste ponto antes do primeiro turno. Resta saber qual ritmo de trabalho será imprimido na Corte, cuja agilidade é constantemente cobrada por setores da mídia, e qual coincidência terá com o calendário eleitoral. O mais provável é que haja o pronunciamento do relator e revisor sobre este item da acusação, com direito a uma réplica de Barbosa.
Reflexos do julgamento na eleição
A coincidência entre os calendários do julgamento do mensalão e das eleições municipais levou, na última sessão (27), a presidenta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e também ministra do STF, Carmem Lúcia, a manifestar sua preocupação com os reflexos do julgamento no pleito a pedir, especialmente aos jovens, para que não transformassem as condenações em descrença na política. A ministra ressaltou que no “estado de Direito a política é sim necessária”, que “a humanidade chegou aonde nós chegamos porque é a política ou a guerra” e que “há muitos bons políticos”. Entretanto, lembrou que o sistema político brasileiro é muito difícil: “Porque um governo que não tem a maioria parlamentar tende a não se sustentar, ele cai. E se ele não cair pouca coisa será feita. Então, cada vez mais é preciso mais rigor na ética e no cumprimento da lei pelos políticos”.
A oposição ao PT está ansiosa com a munição que devem ganhar esta semana, porém, em São Paulo a Justiça Eleitoral já proibiu uma propaganda do PSDB associando o candidatado petista, Fernando Haddad, a Dirceu. De acordo com o juiz eleitoral Henrique Harris Júnior, a peça publicitária “é passível de enquadramento, em tese, como degradante”. O PSDB pode recorrer da decisão.
Ansiosidade semelhante também paira nos setores da mídia tradicionalmente antipetistas. Ponta de lança deste setor nos jornais impressos, O Globo, já na última sexta-feira (28), trouxe como manchete: “STF condena aliados do PT por corrupção passiva”. No dia anterior, os votos dos ministros, ainda que incompletos, já haviam selado a condenação de réus ligados ao PP, PL, PTB e PMDB. Neste e em outros jornais, pipocaram artigos para destacar “A hora H” em que, enfim, estará “o PT direta e nominalmente no banco dos réus”, uma vez que “até agora só desfilaram coadjuvantes naquela passarela”.
O “efeito mensalão”, porém, parece estar bem abaixo das ansiosas expectativas. Pesquisa divulgada pelo Ibope na semana passada aponta que o governo Dilma Rousseff alcançou seu melhor índice de aprovação, passando de 59% para 62%. A aprovação pessoal da presidenta se manteve em 77%.
O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, em declaração a O Globo, também considerou que o mensalão não está pesando nas eleições. “O Haddad (SP), o Pelegrino (BA) e o Elmano (CE), todos do PT, estão crescendo. O mensalão está ajudando?”, refletiu.
Em ato de campanha de Haddad, na semana passada, o ex-presidente Lula deu indícios de qual discurso irá adotar para tentar impedir que o julgamento do mensalão ataque seus candidatos. “No nosso governo as pessoas são julgadas e as coisas são apuradas. No deles, tripudiam. Na nossa casa, quando nosso filho é suspeito de cometer um erro, nós investigamos e não culpamos os vizinhos, como eles costumam fazer”, declarou."

Fonte: Correio do Brasil

2 comentários:

Eduardo disse...

Lula critica revista Veja, Russomanno e Serra em comício de Haddad

São Paulo – No comício do candidato petista à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, no início da noite de segunda-feira (1°) em Guaianases (zona leste), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou depois da presidenta Dilma Rousseff e não poupou críticas a seus opositores, eleitorais ou midiáticos.

Lula criticou a revista Veja, cujo suplemento de São Paulo, conhecido como Vejinha, saiu na edição deste fim de semana defendendo a gestão prefeito Gilberto Kassab. “Tem uma revista nacional que fala mal de mim a vida inteira. Essa revista fez uma coisa sui generis. No Rio de Janeiro, ela coloca os candidatos a prefeito na capa; em Belo Horizonte, coloca os candidatos na capa; no Rio Grande do Sul [Porto Alegre], coloca os candidatos na capa. Aqui em São Paulo, ela não coloca os candidatos a prefeito. Só coloca o Kassab e ainda pergunta: ‘será que nós estamos sendo justos com ele?’”.

Lula atribui o episódio jornalístico “à maldita ideia de uma parte da elite de achar que o povo trabalhador é bobo, que a gente não consegue entender e enxergar às coisas”.

O ex-presidente mencionou o início do governo Dilma para dizer que a imprensa tradicional quis jogá-lo contra a presidenta: “Eles passaram a campanha falando mal da Dilma. Quando ganhamos as eleições, passaram a achar que eles eram amigos da Dilma e nós não. Tentaram criar animosidade entre nós”.

Para Lula, não existe “nenhuma diferença” entre ele e Dilma porque ambos têm um projeto comum para o país. “Eles não se conformam com o fato de termos conseguido fazer no Brasil o que eles prometeram a vida inteira e não conseguiram, não imaginavam que nós iríamos ter competência para mudar o Brasil”, disse Lula.
Russomanno e Serra

Criticando o candidato Celso Russomanno (PRB), mas sem citá-lo, Lula fez uma analogia com a eleição de Micarla de Souza (PV) à prefeita em Natal (RN) em 2008. Jornalista, empresária e apresentadora de televisão, foi eleita no primeiro turno e hoje ela tem mais de 90% de rejeição. “Uma coisa é falar na televisão, outra é a realidade”, disse Lula.

Em relação a José Serra (PSDB), ele foi mais direto: “Os tucanos governam São Paulo desde 1982. Já são 30 anos que eles governam. Se a prefeitura fosse o que eles mostram na televisão, ninguém ia querer mudar de São Paulo, porque é um paraíso. Mas na TV tudo é mais fácil, eu quero ver na vida real”, atacou.

Como Dilma, o ex-presidente foi muito ovacionado e ouviu um refrão do público em um momento de seu discurso: "Lula, guerreiro do povo brasileiro".

Anônimo disse...

por Rodrigo Vianna

Tão logo foi divulgada a nova pesquisa do IBOPE em São Paulo, alguns internautas manifestaram incredulidade via twitter: “como pode, o Rusomano caiu sete pontos, e o Haddad não ganhou nenhum?”.

Os números resumidamente são os seguintes:

Russomano – 27% (tinha 34% na pesquisa anterior do IBOPE)

Serra – 19% (tinha 17%)

Haddad – 18% (tinha 18%)

Chalita – 10% (tinha 7%).

A explicação para esse quadro (queda de Russomano e estabilidade de Haddad, que permanece em empate técnico com Serra) não é tão complicada e fica mais fácil de entender analisando os gráficos publicados pelo (bom) jornalista José Roberto de Toledo, do Estadão.

Vejamos. Nas áreas de periferia, onde o PT costuma ter forte votação, Russomano sofreu um tombo ainda maior, de 9 pontos: caiu de 39% para 30% em uma semana. Haddad ficou com parte desses votos – mas apenas uma parte, subindo de 17% para 21%. Ainda é pouco, em regiões onde o PT costuma ter mais de 30% dos votos. Mas seria o suficiente para Haddad passar Serra na soma geral da cidade…

Seria. Se não fosse um detalhe. Nos bairros mais ricos, onde o PT costuma sofrer rejeição, Haddad tinha 19% há uma semana. E agora tem 15%.

Ou seja: os 4 pontos que conquistou na periferia – graças à queda de Russomano – Haddad acabou perdendo nos bairros mais ricos. Qual minha hipótese? O “Mensalão” está travando Haddad. E isso fica claro pela queda justamente nos bairros onde a influência da velha mídia é maior.

Não é um tsunami contra o PT, como dizem certos colunistas da imprensa tucana. Mas é uma onda suficiente pra dificultar as coisas para os petistas. Nos próximos dias, essa onda deve ficar ainda mais forte, com o julgamento de Ze Dirceu no STF.

De outro lado, a entrada de Lula na campanha – com vários comícios na periferia (zonas sul e leste) de São Paulo - ainda não surtiu efeito nas pesquisas. É preciso destacar que nas periferias há um número maior de eleitores indecisos. Se Lula conseguiur levar para Haddad uma parte pelo menos desses votos, há chance real do petista ultrapassar Serra até domingo.

O que atrapalha as chances de Haddad, além do “Mensalão”? Chalita. Nas periferias, Chalita subiu de de 5% para 9%. Ou seja, parte dos votos que abandonaram Russomano nas áreas mais pobres está migrando para o peemedebista, e não para o petista. Fora isso, ele avança também nos redutos “tucanos”; foi de 9% para 12%, em uma semana.

Lula de um lado, “Mensalão” do outro. E no meio do caminho, Chalita. Assim irá a eleição de São Paulo até o fim.

O DataFolha trará mais números nessa quarta. Devem confirmar a queda de Russomano – tendência apontada também nos levantamentos diários de tucanos e petistas.

Conversei ontem com um nome importante da campanha serrista. Ele diz que não descarta a possibilidade de Serra e Haddad irem para o segundo turno, drenando votos de Russomano.

Acho que, hoje, é a hipótese menos provável. Mas não impossível.

Da mesma forma – num eleitorado tão volúvel, e aparentemente cansado da polarização PT x PSDB – eu não descartaria a possibilidade de Chalita seguir subindo até o dia da eleição, a ponto de transformar-se numa “quarta via” com chances reais de chegar ao segundo turno.

Por fim, outra dúvida: Russomano seguirá caindo? Talvez 25% seja o piso pra ele. Com isso, pode ir ao segundo turno. Mais fraco do que se imaginava. Ainda assim, com uma performance surpreendente pra quem tem menos tempo e muito menos estrutura do que tucanos e petistas.