10 de maio de 2013

Silêncio


Vocês sabiam que existe um dia dedicado ao silêncio? Eu não.
E foi esta semana. Mais precisamente na última terça-feira, dia 07 de maio.
Resolvi trazer o tema aqui para o blog do Luiz Felipe Muniz.
No meu tempo eram poucos os dias especiais homenageando um tema. Os clássicos sempre foram os dias das mães, dos pais, das crianças e dos namorados.
Ok, já eram famosos os dedicados aos índios, árvores, Tiradentes, professores e alguns outros.
Fora isso, todo dia era dia de um Santo. Quer dizer, ainda é.
Mas agora andam surgindo alguns inusitados, tipo Dia do Beijo e Dia do Orgasmo. Não estou de sacanagem (epa!) não, é verdade. E o do orgasmo é mundial! 31 de julho. Só não sei se é para ficar tendo orgasmos o dia todo. Se for isso confesso estar fora de forma para tal proposta. Não que considere uma má ideia. Idem para o Dia do Beijo, 13 de abril para quem não sabe.
Mas voltemos ao Dia do Silêncio. Fiquei pensando sobre o objetivo de se criar algo assim. Não fui lá no Google pesquisar nada, tipo quem criou e porque, mas depois de algum tempo achando que era mais uma dessas iniciativas sem sentido, mudei totalmente de opinião.
Podemos ver isso sob vários aspectos e está claro que um deles é lembrar que estamos cercados  - nas grandes cidades sobretudo - de ruídos quase que o tempo todo e que isso pode ser prejudicial considerando a fragilidade dos tímpanos e (tão importante quanto) a fragilidade de nosso equilíbrio emocional.
Com tanto barulho nem nos lembramos de como pode ser bom dar uma parada em um lugar silencioso  para ter uma momento de paz e 'recarregar as baterias' no dia a dia.
Nem falo de um silencio total, mas quem sabe com uma suave música ao fundo, música que significa som, melodia e não barulho, ruído.
Nesses breves momentos é possível tomar conhecimento da própria existência, se abstrair, voltar para si, sentir melhor a vida pulsando em nós. Descansar o espírito.
O ruído extremo é um bom companheiro do corre-corre, do estresse, da falta de percepção da passagem do tempo. Inimigo do auto-conhecimento.
Mas... quem quer se conhecer, se peceber hoje em dia? A vida parece exigir que nos voltemos para fora, o exterior que nos anestesia de possíveis angústias existenciais, cujo tomada de posição poderia ser o início da resolução dos problemas. Melhor fingir que não existem. Fugir da "Insustentável Leveza do Ser".
E há outros aspectos. Ainda no campo musical me lembro de um disco de um grande músico mineiro que morreu ainda jovem. O Marco Antonio Araujo. O LP chamava-se "Entre um silêncio e outro". Não tinha letras. Mas as melodias eram valorizadas pelo momentos mais intimistas, quase silenciosos, com poucas notas.
Há experiências com som, ruídos e silêncio bem mais estranhas mas que tinham uma razão de ser e que tem relação com o que estamos tratando aqui. Tem uma peça 'musical' do vanguardista John Cage, anos 1960 (tinha que ser), cujo título era 4'33" ("Quatro minutos, trinta e três segundos"). Era esse o tempo de duração. Essa sim vou utilizar palavras da Wikipedia para esclarecer:
 "4'33" é uma composição musical pelo compositor avant-garde John Cage, com frequência descrita (de maneira um tanto errônea) como "quatro minutos e meio de silêncio". Embora sua primeira apresentação tenha sido ao piano, a peça foi composta para qualquer instrumento musical ou conjunto de instrumentos e está estruturada em três movimentos.
A partitura de 4'33" contém três movimentos em que o músico não deve executar nenhuma nota em seu instrumento. Após a entrada no palco e os aplausos, o músico deve colocar-se em posição de execução e permanecer assim durante toda a duração da obra (quatro minutos e trinta e três segundos).
Questionando o paradigma da música ocidental, que explicava a música como uma série ordenada de notas, ou o que se esperaria de um concerto normal, Cage se voltou para outras concepções de música. A peça não pode ser chamada de silent piece, pois a música ouvida na hora foi o ruído do teatro. Segundo a concepção oriental de música pesquisada por Cage, esta seria o som ao qual se presta atenção."
Perceberam? O silêncio dos músicos incomodava a platéia, que se mexia, tossia, murmurava, etc. Apenas quatro minutos! Difícil ficar parado, sem fazer nada, sem emitir ou ouvir ruidos... E a pergunta: essa seria uma peça musical? Ou um questionamento do John Cage?
Avançando um pouco mais no "silêncio" (mas não muito pois o texto já está ficando longo) penso no silêncio das relações e às vezes na necessidade de ficar em silêncio ouvindo o outro. Fazer com que o outro não te ouça porque você está em silêncio, apenas ouvindo, pode ser em muitos casos de uma ajuda inestimável para aguém que só precisa desabafar os seus problemas. Os psicólogos sabem disso. Monges budistas também. Mas cuidado com o "vampirismo"!
Bom silêncio a todos. Pelo menos por alguns instantes.



Mais informações sobre o músico e compositor alemão Georg Deuter (da música acima e que tem mais de 40 discos gravados), acessem o link na Wikipedia: Deuter.


2 comentários:

Josi disse...

Adorei o seu artigo Marcos. Pena que nao venha escrevendo muito como fazia. Adoro essas cronicas suas mais longas. Mas sei da falta de tempo. Bom fim de semana.

Anônimo disse...

Como diziam os antigos, o silencio é de ouro!
Parabéns pelo artigo!