27 de agosto de 2014

Marina Silva e o jogo dos sete erros

É óbvio que se o prezado (e)leitor deseja votar em Marina Silva tem todo o direito democrático e tem seus motivos.
O mesmo para o Bispo Edeveraldo, Levi's Fidélix, etc.
O meu problema é com a história do marketing da "nova política". Ao meu juízo é querer fazer o estimado cidadão de otário.
Para quem dúvidas, sugiro ler o artigo abaixo. Está quase desenhado. Leitura fácil e fluída, para entender na hora.
Neca Setúbal, herdeira do Itaú e coordenadora do programa de governo de Marina Silva, a candidata e seu vice, Beto Albuquerque
7 motivos pelos quais Marina Silva não representa a “nova política”
Se a sua intenção este ano é votar em uma "nova forma de fazer política", leia este texto antes de encarar a urna eletrônica
por Lino Bocchini

"É comum eleitores justificarem o voto em Marina Silva para presidente nas Eleições 2014 afirmando que ela representaria uma “nova forma de fazer política”. Abaixo, sete razões pelas quais essa afirmação não faz sentido:

1. Marina Silva virou candidata fazendo uma aliança de ocasião. Marina abandonou o PT para ser candidata a presidente pelo PV. Desentendeu-se também com o novo partido e saiu para fundar a Rede -- e ser novamente candidata a presidente. Não conseguiu apoio suficiente e, no último dia do prazo legal, com a ameaça de ficar de fora da eleição, filiou-se ao PSB. Os dois lados assumem que a aliança é puramente eleitoral e será desfeita assim que a Rede for criada. Ou seja: sua candidatura nasce de uma necessidade clara (ser candidata), sem base alguma em propostas ou ideologia. Velha política em estado puro.

2. A chapa de Marina Silva está coligada com o que de mais atrasado existe na política. Em São Paulo, o PSB apoia a reeleição de Geraldo Alckmin, e é inclusive o partido de seu candidato a vice, Márcio França. No Paraná, apoia o também tucano Beto Richa, famoso por censurar blogs e pesquisas. A estratégia de “preservá-la” de tais palanques nada mais é do que isso, uma estratégia. Seu vice, seu partido, seus apoiadores próximos, seus financiadores e sua equipe estão a serviço de tais candidatos. Seu vice, Beto Albuquerque, aliás, é historicamente ligado ao agronegócio. Tudo normal, necessário até. Mas não é “nova política”.

3. As escolhas econômicas de Marina Silva são ainda mais conservadoras que as de Aécio Neves. A campanha de Marina é a que defende de forma mais contundente a independência do Banco Central. Na prática, isso significa deixar na mão do mercado a função de regular a si próprio. Nesse modelo, a política econômica fica nas mãos dos banqueiros, e não com o governo eleito pela população. Nem Aécio Neves é tão contundente em seu neoliberalismo. Os mentores de sua política econômica (futuros ministros?) são dois nomes ligados a Fernando Henrique: Eduardo Giannetti da Fonseca e André Lara Rezende, ex-presidente do BNDES e um dos líderes da política de privatizações de FHC. Algum problema? Para quem gosta, nenhum. Não é, contudo, “uma nova forma de se fazer política”.

4. O plano de governo de Marina Silva é feito por megaempresários bilionários. Sua coordenadora de programa de governo e principal arrecadadora de fundos é Maria Alice Setúbal, filha de Olavo Setúbal e acionista do Itaú. Outro parceiro antigo é Guilherme Leal. O sócio da Natura foi seu candidato a vice e um grande doador financeiro individual em 2010. A proximidade ainda mais explícita no debate da Band desta terça-feira. Para defendê-los, Marina chegou a comparar Neca, herdeira do maior banco do Brasil, com um lucro líquido de mais de R$ 9,3 bilhões no primeiro semestre, ao líder seringueiro Chico Mendes, que morreu pobre, assassinado com tiros de escopeta nos fundos de sua casa em Xapuri (AC) em dezembro de 1988. Devemos ter ojeriza dos muito ricos? Claro que não. Deixar o programa de governo a cargo de bilionários, contudo, não é exatamente algo inovador.

5. Marina Silva tem posições conservadoras em relação a gays, drogas e aborto. O discurso ensaiado vem se sofisticando, mas é grande a coleção de vídeos e entrevistas da ex-senadora nas quais ela se alinha aos mais fundamentalistas dogmas evangélicos. Devota da Assembleia de Deus, Marina já colocou-se diversas vezes contra o casamento gay, contra o aborto mesmo nos casos definidos por lei, contra a pesquisa com células-tronco e contra qualquer flexibilização na legislação das drogas. Nesses temas, a sua posição é a mais conservadora dentre os três principais postulantes à Presidência.

6. Marina Silva usa o marketing político convencional. Como qualquer candidato convencional, Marina tem uma estrutura robusta e profissionalizada de marketing. É defendida por uma assessoria de imprensa forte, age guiada por pesquisas qualitativas, ouve marqueteiros, publicitários e consultores de imagem. A grande diferença é que Marina usa sua equipe de marketing justamente para passar a imagem de não ter uma equipe de marketing.

7. Marina Silva mente ao negar a política. A cada vez que nega qualquer um dos pontos descritos acima, a candidata falta com a verdade. Ou, de forma mais clara: ela mente. E faz isso diariamente, como boa parte dos políticos dos quais diz ser diferente.

Há algum mal no uso de elementos da política tradicional? Nenhum. Dentro do atual sistema político, é assim que as coisas funcionam. E é bom para a democracia que pessoas com ideias diferentes conversem e cheguem a acordos sobre determinados pontos. Isso só vai mudar com uma reforma política para valer, algo que ainda não se sabe quando, como e se de fato será feita no Brasil.

Aécio tem objetivos claros. Quer resgatar as bandeiras históricas do PSDB, fala em enxugamento do Estado, moralização da máquina pública, melhora da economia e o fim do que considera um assistencialismo com a população mais pobre. Dilma também faz política calcada em propósitos claros: manter e aprofundar o conjunto de medidas do governo petista que estão reduzindo a desigualdade social no País.

Se você, entretanto, não gosta da plataforma de Dilma ou da de Aécio e quer fortalecer “uma nova forma de fazer política”, esqueça Marina e ouça Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV) com mais atenção.

De Marina Silva, espere tudo menos a tal “nova forma de fazer política”. Até agora a sua principal e quase que única proposta é negar o que faz diariamente: política."

Fonte: CartaCapital 

"Marina você se pintou de laranja Itaú, resta saber se você convencerá os incautos"

Um comentário:

Marcos Oliveira disse...

Acabou a folga para Marina.

Esta é a principal conclusão que emerge da entrevista com ela no Jornal Nacional.

Até aqui, ela só bateu nos outros. Quer dizer em Dilma e em Aécio, os representantes da “velha política”. Nem Dilma e nem Aécio, tão entretidos um com o outro, revidaram.

Agora, com seu crescimento vertiginoso nas pesquisas, ela vai começar a apanhar.

A pergunta que só encontrará resposta nas próximas semanas é quanto este novo cenário – em que ela passa a ser o alvo preferencial de Dilma e de Aécio – poderá afetá-la.

Que ela tem pontos vulneráveis ficou claro na entrevista do Jornal Nacional.

Patrícia Poeta lembrou, por exemplo, um ponto que ninguém usou ainda contra ela: a baixa votação de Marina, em 2010, em sua terra natal, o Acre.

Marina ficou em terceiro, atrás de Serra e de Dilma.

Isso pode ser usado da seguinte forma pelos adversários: atenção, quem conhece não gosta.

Em 2010, ela disse, com voz embargada, que o terceiro lugar era “uma tristeza muito grande”. (Seu então companheiro de chapa, o empresário Guilherme Leal, foi breve: “Não tem explicação.”)

Agora, ela tirou da bolsa o velho clichê que diz que santo de casa não faz milagre.

Invoco aqui, mais uma vez, Wellington com sua sentença definitiva: quem acredita que o provérbio explica a surra de Marina entre seus conterrâneos acredita em tudo.

Marina também se enrolou para dizer por que quando os outros se juntam a pessoas diferentes para compor uma chapa é “velha política” e quando ela se junta a alguém como Beto Albuquerque é “nova política”.

Albuquerque é financiado por empresas de transgênicos, armas e bebidas – algo que um alguém realmente “puro” simplesmente não engoliria.

Marina desconversou. Fez a apologia da “diversidade”, e aproveitou para dizer que trabalhar com pessoas diferentes prova que ela, ao contrário do que se diz, não é “intransigente”.

Marina demonstrou aí a cara de pau cínica não da velha, mas da velhíssima política.

Marina pode ser desconstruída, sem dúvida. Mas vai ser?

A descontrução leva algum tempo. Dificilmente o cenário vai mudar daqui até o primeiro turno.

Isso quer dizer que Dilma e Marina passarão, muito provavelmente, para o segundo turno.

Aí então começará uma nova disputa.

A surpresa já terá passado, a onda também, as emoções associadas à morte de Campos igualmente. E Marina dificilmente sustentará a imagem virginal.

Muitos dos jovens idealistas que viram nela uma resposta ao mofado mundo político nacional – e eles são a essência do fenômeno Marina — perderão as ilusões diante dos fatos como eles são.

Isso tudo quer dizer o seguinte.

Até há pouco tempo, com Campos na corrida, estava espalhada a sensação de que Dilma já ganhara, ou no primeiro ou no segundo turno.

Agora, com o surgimento estrepitoso de Marina na disputa, para muitos ela já ganhou.

Nem Dilma estava garantida antes, e nem Marina agora.

Terminada a fase de pêsames e de luto, liquidada uma situação que a deixava fora dos ataques de Dilma e de Aécio, começa um novo tempo para Marina, muito mais áspero e volátil.

O jogo está aberto — exceto para Aécio.

Paulo Nogueira no DCM