31 de agosto de 2014

Quando entra setembro. Aqui e em Macondo.


No momento estou lendo, depois de décadas na 'fila de espera', o clássico latino-americano "Cem Anos de Solidão", do grande Gabriel Garcia Márques, que dispensa maiores comentários.
Aliás faz tempo que não postamos um episódio da série "The Book Is On The Table". Neste interim já li uns três livros que merecem resenha aqui. Falta tempo.
Voltando à obra-prima "Cem Anos de Solidão", tem uma passagem na fictícia e fantástica (no sentido de ser fora da realidade que conhecemos, embora não pareça) aldeia de Macondo onde a personagem Ursula percebe que o tempo está passando de forma diferente: "Os anos agora já não chegam como antes, sentindo que a realidade cotidiana lhe escapava das mãos. (...) A verdade é que Úrsula se negava a envelhecer mesmo depois de ter perdido a conta de sua idade. (...) Recordando essas coisas enquanto preparavam o baú de José Arcádio, Úrsula se perguntava se não era preferível deitar de uma vez na sepultura e que jogassem terra em cima, e perguntava a Deus, sem medo, se de verdade achava que as pessoas eram de ferro para suportar tantos padecimentos e mortificações; e perguntanto ia atiçando sua própria confusão, e sentia uns desejos irreprimíveis de desandar a dizer palavrões e xingamentos como se fosse um daqueles forasteiros, e se permitir enfim um instante de rebeldia, o instante tantas vezes ansiado e tantas vezes adiado de mandar a resignação à merda, e cagar de uma vez para tudo, e arrancar do coração os infinitos montões de palavrões que tinha precisado engolir num século inteiro de conformismo. 
- Caralho! - gritou.
Amaranta, que começava a pôr a roupa no baú, pensou que ela tinha sido picada por um escorpião.
- Onde está? - perguntou alarmada.
- O quê?
- O animal - esclareceu Amaranta.
Úrsula pôs ao dedo no coração.
-Aqui - disse."
Pois é. Final de agosto. Início do último mês do terceiro trimestre.
2014 imbica para a reta final e a mim parece que nem começou.
A algo estranho nessa percepção.
Será que estou me recusando a pensar na velhice que agora já não me é um tema absolutamente fora de questão?
No momento resta-me a canção.
Essa é clássica e é sempre lembrada no início de setembro, junto com a primavera, bela estação.
Sempre vale a pena ouvir de novo a linda música do mineiro Beto Guedes.
Enquanto isso, me pergunto se a solitária e alucinada Macondo é mesmo um lugar fictício. 
Só que García Márquez não está mais aqui para me responder.

Nenhum comentário: