13 de junho de 2012

A Rio+20, a inconsciência, a dúvida, o medo e os sonhos!



Tenho estado muito distante do blog e isto me entristece bastante. Não tem sido simples trilhar os rumos atuais e não perdi as esperanças de tempos melhores...também por aqui. O Cardozo sempre um vigilante e atento guardião.

Mas é preciso escrever algo e destacar os gritos surdos na multidão! 

É que muitos agora são arautos da boa ecologia e dos bons costumes, principalmente os globais de sempre, estendendo cortinas sobre a CPMI do Cachoeira e da Privataria Tucana acreditam ainda no controle e na dominação das massas, um tolo empenho frente às transformações sociais apontadas cada vez mais fortemente para mutações até então impensadas.  

Nos próximos dias o mundo inteiro, em particular o Rio de Janeiro, estará imerso nas discussões sobre o futuro da sustentabilidade humana, ainda muito sem rumos certos é verdade, mas certos de que os rumos do mundo dão sinais fortes de transformações reais... enquanto o planeta Terra vai administrando a transformação climática radical, cujo ritmo transcende o veloz.

E aí me lembro sempre de que se não fossem os apaixonados pelo tema e muitos outros obstinados pesquisadores e cientistas das novas ciências da Terra, é provável que o debate sobre ecologia e economia, numa perspectiva humana de sobrevivência, talvez não viesse à tona em meio a crises e mais crises globais de sistemas financeiros e fraudes recorrentes dos mercados de capitais.

A maneira ultrapassada de fazer a conta dos custos de qualquer empreendimento sem considerar os danos sócio-ambientais, mais o erro em desconsiderar quais seriam os valores inerentes aos ecossistemas saudáveis - que até pode parecer muito pouco aos olhos miúdos - está de fato nos remetendo ao mesmo tempo agora a desafios hercúleos de decisões urgentes, pois o tempo não para enquanto os ecossistemas fundamentais à vida definham.  

O clima desnorteia os padrões humanos formatados e forjados por séculos,  desequilibrando os orçamentos de novos empreendimentos e consolidadas realizações em meio a eventos naturais cada vez mais avassaladores, sejam empreendimentos agrícolas, sejam eles da indústria de base, sejam eles da geração de novas fontes de energia em todo o canto do planeta, o fato é que o risco, a perda e o medo dão as cartas e a mesa já está posta. 

Se a discussão relativamente "ingênua" de apenas três décadas atrás parecia uma luta de poetas por mais espaços de suas obras literárias, agora nos chegam burburinhos de toda ordem, com um áspero arremedo do embaralhamento político entre grupos de nações e interesses empresariais de toda ordem, numa busca frenética por agendas globais sem lideranças capazes de promover as urgentes mudanças paradigmáticas, que devem ou deveriam surgir tanto no cenário político das nações, como na lógica do sistema financeiro global.

Os riscos envolvidos são enormes e certamente desconhecidos para a grande maioria dos mais de 7 bilhões de humanos sobre a Terra, muito em breve seremos uns 12 bilhões beirando os limites deste planeta solar e seus ecossistemas... uma coisa é certa: precisamos rapidamente encontrar caminhos mais convergentes, mais criativos, mais ecologicamente econômicos, mais economicamente ecológicos, mais pacíficos, mais includentes,  em tal medida que sejamos capazes de com menos recursos, possamos realizar muito mais ações e projetos úteis para o presente e para o futuro das gereções humanas e não humanas do planeta.

O Leonardo Boff é uma voz sempre muito afinada e pronta na defesa de boas reflexões sobre o tema, fica aqui um texto bastante oportuno para as tarefas urgentes que farão parte das discussões da Rio+20 a partir desta semana no Rio para o mundo:


Atitudes face à Rio+20


Jornal do BrasilLeonardo Boff
Creio que se impõem três atitudes que precisamos desenvolver diante da Rio+20.
A primeira é conscientizar os tomadores de decisões e toda a humanidade dos riscos a que estão submetidos o sistema-Terra, o sistema-vida e o sistema-civilização. As guerras atuais, o medo do terrorismo e a crise econômico-financeira no coração dos países centrais estão nos fazendo esquecer a urgência da crise ecológica generalizada. Os seres humanos e o mundo natural estão numa perigosa rota de colisão. De nada vale garantir um desenvolvimento sustentável e verde se não garantirmos primeiramente a sustentabilidade do planeta vivo e de nossa civilização. Esta conscientização deve ser feita em todos os níveis, da escola primária à universidade, da família à fábrica, do campo à cidade.
A segunda atitude tem a ver com um deslocamento e uma implicação que importa operar. Urge deslocar a discussão do tema do desenvolvimento para o tema da sustentabilidade. Se ficarmos no desenvolvimento, nos enredamos nas malhas de sua lógica, que é crescer mais e mais para oferecer mais e mais produtos de consumo para o enriquecimento de poucos à custa da superexploração da natureza e da marginalização da maioria da humanidade. A pesquisa séria do Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica (ETH) de 2011 revelou a tremenda concentração de riqueza e de poder em pouquíssimas mãos: são 737 corporações que controlam 80% do sistema corporativo mundial, sendo que um núcleo duro de 147 controla 40% de todas as corporações, a maioria financeiras. Junto com este poder econômico segue o poder político (influencia os rumos de um pais) e o poder ideológico (impõe pensamentos e comportamentos). A pegada ecológica da Terra revelou que esta já ultrapassou em 30% seus limites físicos. Forçá-los é obrigá-la a defender-se. E o faz com tsunâmis, enchentes, secas, eventos extremos, terremotos e o aquecimento global. E também com as crises econômico-financeiras que se incluem no sistema-Terra viva. O tipo de desenvolvimento vigente é insustentável. Vãos são os adjetivos que lhe acrescentemos: humano, verde, responsável e outros. Levá-lo avante a qualquer custo, como ainda propõe o texto-base da ONU, nos aproxima do abismo sem retorno.
Deslocar-se para o tema da sustentabilidade significa criar mecanismos e iniciativas que garantam a vitalidade da Terra, a continuidade da vida, o atendimento das necessidades humanas das presentes e futuras gerações, de toda a comunidade de vida e a garantia de que podemos preservar nossa civilização. Essa compreensão de sustentabilidade é mais vasta do que aquela do desenvolvimento simples e duro.       

5 comentários:

Marcos Oliveira disse...

Bom te ver de volta ao seu blog em sua plenitude de ideias e ideais, caro amigo Luiz Felipe.
Os acontecimentos atuais no mundo, as coisas do Brasil e a Rio +20 são temas que você domina de forma única por sua capacidade de observação, análise e visão para além da superfície.
E seu discernimento vem de longa data: seu histórico de militância ambiental como pioneiro ainda nos anos 1970 no CNFCN. Fala portanto com amplo conhecimento de causa, inclusive como participante da Rio 92 e com a formação em Direito Ambiental e Psicopedagogia.
Só cito essas coisas porque acho os fatos atuais tão complexos que é necessário uma base muito boa para se tentar entender e escrever sobre tais complexidades.
Assim, li e vou reler as suas considerações bem como a sua indicação do texto do Leonardo Boff.
Sabemos de suas demandas atuais, falta de tempo, etc. Aproveitaremos pois as suas intervenções, sempre que elas forem possíveis.
Abraço fraterno.

JUNIOR disse...

O PROBLEMA, O DESAFIO E AS CONTRADIÇÕES DA RIO + 20 É QUE POR COINCIDENCIA DO DESTINO ELA OCORRE EM UM MOMENTO EM QUE OS GRANDES PAÍSES ESTÃO EM CRISE ECONOMICA. QUEM ESTÁ EM CRISE NÃO ESTÁ DISPOSTO A FAZER SACRIFICIOS E QUEM NÃO ESTÁ QUER GARANTIR O MINIMO DE CRESCIMENTO.
POR ISSO NÃO VEM O OBAMA, NEM OS PRESIDENTES DA CHINA E DA RUSSIA. E NEM O DA GRECIA. SE É QUE A GRÉCIA TEM PRESIDENTE.

Anônimo disse...

Muito boa análise. A verdade é que não a consenso em nada e enquanto isso vamos pro buraco.

André Luis Souza de Carvalho disse...

Até que em fim te achei nesse blog. O artigo do Leonardo Boff é sempre um tesouro para nossas reflexões e elas ficam mais interessantes se trouxermos a idéia de sustentabilidade para a nossa individualidade. Como será que temos levado nossa vida? Temos buscando uma sustentabilidade interior que irradia para o nosso mundo de relação física de paz e equilibrio ou buscado apenas esta paz com a conquista de uma boa posição social, intelectual ou até mesmo politicamente ecológica? Será que podemos continuar sonhando que o equilíbrio mundial em todos os segmentos poderão ser garantidos pelos acordos institucionais que nos prometeram impedir todas as guerras que vivemos e ainda vamos viver? Impedir a crise economica mundial? Cerio que não. Enquanto o homem não buscar realizar consigo mesmo um padrão de sustentabilidade com sua própria essencia ficaremos sonhando com as soluções utópicas que tanto enchem os livros de história e os museus com a história de nossas civilizações e experiencias repetidas.
Um grande abraço.
Seu primo André

Luiz Felipe Muniz disse...

É assim meus queridos amigos, primo André, Marquinhos, Junior e Anônimo...a discussão não é simples não, parece que mais uma vez chegaremos a conclusões perversas, relembrando guerras histórias e presentes, é possível até que cheguemos a soluções impensáveis e que neste momento em que os bancos e os grupos criminosos, ou o que aprendemos a chamar de organizações criminosas, se apoderam do Estado e suas instituições, aplicando a lei da exclusão e da marginalização, agora na Europa, antes nas colônias mais ao Sul...e Cachoeiras a rolar pelas entranhas das instituições democráticas...o que será mesmo que vai ser discutido, sonhado, resolvido, solucionado...a respeito do futuro da humanidade no Planeta Terra!?