9 de dezembro de 2012

Reflexões sem importância sobre assuntos importantes em um domingo mais ou menos

Este ano jurei que não iria comprar presente de Natal pra ninguém. Não é 'pão-durismo' (com til e 'o'), nem questão ideológica ou religiosa ligado ao consumismo capitalista. É falta de saco para encarar as compras. Ok, e não tem dinheiro sobrando mesmo. Mas me dei mal. Com uma filha adolescente em casa a lista estava pronta e estou tendo que encarar.
O que me levou a ir até o centro da cidade ontem com um sol dos diabos, literalmente. Estava tão quente que acho que vi o capeta em uma esquina olhando uma vitrine decorada. Pode ser que estivesse delirando por causa do vapor quente, mas a figura com chifres parecia estar lá. Se bem que ter chifres não é garantia de ser o capeta. Resolvi apenas fazer um ajuste na pulseira do relógio e voltar pra casa. Vou ter que morrer em uma grana maior no shopping só por causa do ar condicionado, que acredito ser evitado pela figura dos quintos.
O calor lembra o aquecimento global e é bom saber que em Doha foi decidido que o acordo de Kyoto foi prorrogado até 2020 mas não adianta muito se isso corresponde apenas a 15% das emissões: Estados Unidos e China, os maiores poluidores, estão fora.
Longe de torcer por isso mas a pergunta é quantos furacões Sandy (não a cantora bonitinha e sem sal) serão necessários para haver conscientização. O tufão Bopha não vale porque foi nas Filipinas e ninguém se importa quando a catástrofe é em país do 13º mundo.
O mesmo para incêndios monumentais em Bangladesh como o que destruiu mais uma fábrica de roupas de grife que compramos nos shoppings (com ar e sem capeta). Por via das (separado) dúvidas resolvi olhar em algumas poucas camisas do meu armário onde haviam sido fabricadas. Por sorte nenhuma em Bangladesh: tinha China, Peru e Ilhas Maurício. Não me perguntem onde ficam as Ilhas Maurício (desconfio que seja na costa leste africana) mas sei que as marcas são da França e Estados Unidos.
O que não redime o Brasil (nem eu). Ano passado uma grife espanhola com lojas em shoppings chics por aqui (a primeira letra é Z) foi acusada de contratar empresas terceirizadas que utilizavam bolivianos em São Paulo para fazer as roupas. Trabalhavam em condições precárias e a troco de quase nada. Talvez precise repensar a ausência do gramunhão em shoppings.
Mas se grifes americanas (made in China) despertam uma certa consideração por aqui o mesmo não se pode dizer de certos cidadãos americanos que estão se borrando de medo do fim do mundo no dia 21 deste mês. Acreditem, a NASA teve que ir à TV e abrir um site explicando que o mundo ainda vai durar muito, mesmo com o aquecimento global. Tem gente lá fazendo estoque de comida, água e dinheiro por causa dos Maias. O que não vai adiantar muito se o mundo acabar mesmo. Pelo menos não estão torrando grana nem se estressando com as compras de Natal. Só rezando.
Falando em oração, bem fez a Dilma que não reza pela cartilha da revista inglesa The Economist que mandou ela demitir o Mantega. Se opinião de revista neoliberal valesse alguma coisa a Europa da The Economist não estaria na vala que está. Dilma foi muito educada. Se fosse eu, perderia a compostura e repetiria frase que o genial alucinado Tom Zé gosta de utilizar: "Senhores editores, vão pra porra"! Ainda bem que não sou presidente da república.
No mais, o domingo está indefinido. Acordei com o objetivo de ir ao clube que tem muito verde e uma grande piscina refrescante (as praias devem estar lotadas) só que o calor de ontem parece que vai dar lugar a chuvas e queda de temperatura. Não sei. Acho que vou mesmo ao shopping resolver logo essa questão natalina e tirar a limpo se nas lojas de grife tem algum chifrudo olhando as vitrines (me refiro ao senhor das trevas, bem entendido, que com aquelas luzes todas deve ser obrigado a usar óculos escuros - marca Ray Ban, Carrera ou Ralph Lauren).
Bom domingo e boa semana.

5 comentários:

Ryan disse...

Essa do capeta olha as vitrines foi ótima, Marquinho!
Quantos aos americanos com medo do fim do mundo tem gente fazendo até quartos cofres. É muita falta de senso.

Anônimo disse...

Rararararara. A do chifrudo nas vitrines foi muito boa!

JL disse...

"A presidente Dilma Roussef afirmou que em "hipótese alguma" vai ser influenciada pelas críticas da revista britânica The Economist, que sugeriu a demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega. "O governo brasileiro eleito pelo voto direto e secreto não vai ser influenciado por uma opinião de uma revista que não seja brasileira", disse.

Ela acrescentou que nunca viu "nenhum jornal propor a queda de um ministro" e destacou que, "diante dessa crise gravíssima pela qual o mundo passa, com países tendo taxas de crescimento negativas, não houve, no Brasil, escândalos, quedas de bancos, quebradeiras".

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, já havia rebatido as críticas da publicação, afirmando que "no dia em que a Economist nomear ministro no Brasil, deixaremos de ser uma República Federativa”. Ele acrescentou que em 2013, o PIB brasileiro estará “certamente acima da média mundial"."

Anônimo disse...

Xará,
Pensei muito sobre o que escreveu.
Por que ainda achamos que somos seres livres?
Grosso modo, o sistema Capital é altamente inteligente. Mas, é, ao mesmo tempo, alienador e expropriador.
Há um designer que criou uma peça gráfica muito apropriada para os aspectos que citou em seu post. Eu a usei recentemente em uma palestra. Foi feita em meio aos 400 anos de "Dom Quixote", na Espanha. Vou tentar lhe enviar por e-mail a imagem e o nome do autor. Ficou interessantíssima.
Bem, pra botar mais um pouco de lenha no fogo, vai um link com mais uma das grandes estratégias do Capital para se reproduzir, sair de sua crise (infinita) e ir ao encontro de seu único télos.
Segue: http://online.wsj.com/article/SB10001424127887323501404578161802117676678.html

Grande abraço,
ME

Marcos Oliveira disse...

Tudo bom Xará?
É sempre bom ler os seus comentários aqui neste espaço que é de todos.
Realmente estamos à mercê das armadilhas mercadológicas e não vejo muita saída não.
Aguardo a peça citada.
Com relação ao link, sobre Gana na África despontando como novo polo do vestuário, seria ótimo se gerasse empregos dignos. Mas não costuma ser assim, como já vimos na citada situação da Bangladesh.
Abraço!