19 de dezembro de 2012

Tempo de Transcendência

Da série "Retrospectivas". Publicado pelo Luiz Felipe em abril de 2011.
Apesar do tempo passado este post continua atualissimo, seja pela trágica ocorrêcia nos EUA, seja pela visão estreita de certos 'astros' jurídicos e da midia, cujo conceito de transcendência parece estar muito além de seus horizontes.
E também estamos chegando no momento de mudança de ano, sempre uma época que mexe com nossa realidade, onde pode-se questionar rotinas, realizações e perspectivas de futuro.
Mas é bom frisar que não se trata aqui de uma possível "transcendência extrema" a ocorrer na próxima sexta-feira, dia 21! : )



Tempo de Transcendência
Por Luiz Felipe Muniz

Eu havia planejado um retorno triunfante (ahh...na verdade esse negócio de triunfante...de retorno...ahh, isso são coisas do meu grande amigo e blogueiro deste espaço, o Marquinhos...) ao blog na última quinta-feira, depois de uma semana intensa de novos desafios pessoais - com o tempo veremos um pouco mais sb isso, mas não deu certo...naquela manhã de quinta todos fomos surpreendidos com mais uma tragédia brutal, grotesca, algo impensado no nosso Brasil varonil, envolvendo justo o que temos de mais brilhante e fantástico nestas terras tropicais: nossas meninas e meninos! Em um súbito de terror...num rompante a morte ronda em Realengo no Rio... fiquei passado... a brecha, o portal, novamente se fechou e só agora, nesta tarde carioca de sábado, tento nova investida.

A intensidade dos dias atuais tem feito de nós gotas d'agua em turbulentas torrentes de cataratas selvagens... em meio a sabedoria dos bons e a demência dos incertos, todos eles, todos nós, "sapiens&demens" - lembro-me aqui do magnífico Morin - alguém que me tirou do transe urbano-cultural-social e amansou para sempre as minhas angústias mais abissais. Nem por isso sinto-me curado.

Em tempos de tantas frentes, tantos fatos, tantos horrores sondando e apertando a nossa mais elementar condição de seres, pensantes, mamíferos, bípedes, terráquios, energívoros...e frágeis vermes da biosfera, o que nos resta não é grande coisa, não é coisa alguma, mas é tudo que temos: a transcendência!

Transcendemos quando deixamos o antropocentrismo ir embora - não é simples, não é fácil, é sutil, é vital- e anunciamos para nós mesmos uma outra dimensão do existir na totalidade. Transcender é visitar o sentido do "eu" que co-habita a sua - a nossa - mente, alma, coração; é mais do que isso, é saber - e saber que sabe - e sentir todos os sentidos possíveis neste mundo de universos tão dispares, como tão ocultos aos sábios...transcendemos quando dialogamos com os mistérios das coisas sem acrescentar tantos "porquês"! Não aceitamos o inexplicável como a casa eterna de nossas angústias, nossos desejos incontroláveis (inauditos) e eternos; cobramos uma resposta para tudo, uma posição deve ser firmada, qualquer que ela seja, sempre irá confortar a minha e a posição do outro perante vida; não, não, a transcendência é uma dimensão peculiar aos humanos, mentira! As religiões acharam que iam dar conta dela, tanto fizeram, tanto fizeram, tantas guerras arrumaram - e arrumam -  que nos tornaram isso (intranscendentes), que nos transformaram em massas acéfalas, ééé...nos tornaram isso que nem sabemos bem o que é e do que se trata...quando apontamos para nós mesmos, nos aquietamos na ignorância bárbara ou na transcendência iluminada, este é o fato!

Hoje, para a maioria, para a grande maioria de nós, sobrou de nós um nada. Uma atmosfera de rigores, afrouxamentos e monólogos débeis nos envolvem,  nos tornamos incapazes de traçarmos um norte viável, nos bastamos com visões desarrumadas, mas desejamos o acerto das contas...a civilização de agora é uma avalanche destruidora! Na verdade um caos plasmado na figura imprópria de um ser "criado" por nós, sentido por todos e cada um, mas só explicado pelos especialistas incapazes de trilhar a totalidade do mundo das coisas, dos seres e do universo. Criaturas inférteis! Viajei, fala a verdade?! Ligue não, eu estava na descendente de uma transcendência! Não pensem bobagens, jamais aceitei míseros cigarros!

Continuaremos juntos e misturados nesta de angústias e prazeres neste blog que está indo para Seis dígitos com vocês!

Abaixo um breve ensaio na voz e sabedoria do Leonardo Boff, um gigante da sabedoria humana de nosso tempo! 



"A Transcendência é fazer um caminho ou percurso para o mais além do meu eu humano; é viajar pelo saber das outras realidades que nunca tinha passado pela mente do próprio sujeito em estudo, mas para o seu objeto, isto é, a realidade do que está a ser estudada; é descobrir aquilo que era o desconhecido; é largar-se do meu egocêntrismo para conviver com os outros; é ir além das restrições do 'ser' humano."

3 comentários:

Ryan disse...

Muito bom o seu texto, Luiz Felipe. Parabéns!
Tem um livro do Leonardo Boff que voce talvez conheça. Segue um resumo.
Abraço.

LEONARDO BOFF

O SER HUMANO É ESSENCIALMENTE UM SER DE TRANSCENDÊNCIA. Quer dizer, é um ser que nunca pode ser aprisionado em limites estanques. É alguém que rompe barreiras, quebra tabus, abre novas janelas, inventa alternativas e rasga horizontes sem fim. Ele sempre está para além dele mesmo. Não apenas faz o possível. Tenta fazer um pouquinho do impossível. Isso é o que significa transcendência. Essa transcendência é vivida mais diretamente na experiência do Amor. Saímos de nosso mundo, transcendêmo-los e entramos, com carinho e cuidado, no mundo do outro. Essa ultrapassagem de nosso mundo na direção do outro é a vivência da transcendência. Queremos ultrapassar todos os limites. Buscamos o Infinito. Então nos revelamos como um projeto infinito que somente descansa quando identifica, no percurso de sua Vida, o seu objeto adequado, que outro não pode ser, senão o próprio Infinito. O Ser humano é um ser aberto ao outro, ao mundo, ao Todo e ao Infinito. A ultrapassagem de uma abertura para a outra constitui a transcendência humana. Se não realizar sua abertura ilimitada, sente-se prisioneiro e infeliz. Eis alguns tópicos: - Somos seres de protest-ação - A experiência originária: a ex-istência - Transcendência: a capacidade de romper interditos - Ser humano: um nó de relações - Lugares privilegiados da experiência da transcendência - A pseudo-transcendência - O desejo e a transcendência - Qual é o obscuro objeto do desejo? - Transcendência: a singularidade cristã - O Deus desconhecido em nossas angústias - A partir de onde emerge o horizonte utópico? Viver a dimensão de transcendência constitui talvez o desafio mais secreto e estimulante do ser humano. Ai ele se mostra como é: uma abertura em permanente atuação.

Luiz Felipe Muniz disse...

Valeu Ryan.

Tem um livro do Boff que eu admiro particularmente: "Grito da Terra, Grito dos Pobres".

Na ocasião em que li e re-li este livro o tempo para mim simplesmente parou...sabe aquele período que vc fica imerso em camera lenta, em que o burburinho do mundo não consegue invadir a privaciadade das almas...pois bem, este do Boff provocou ajustes inauditos...

Alem disso, este foi um livro reconhecido por diversas universidades na Europa e que garantiram ao autor vários prêmios internacionais, vale a pena mergulhar na proposta, mas esteja preparado para densidade.

Grande abraço, LF

Anônimo disse...

VALEU!!!