30 de março de 2014

50 anos do golpe militar: "O Dia Que Durou 21 Anos" ou "O Brasil Que A Ditadura Nos Roubou"

Bom artigo e resenha de documentário feito pela Cynara Menezes do blog Socialista Morena e que nós reproduzimos nesta semana que se inicia e que marca os 50 anos do golpe militar, vergonha e vexame nacional.

Em tempo: procurei no You Tube e achei na íntegra o filme "O Dia Que Durou 21 Anos". Inseri depois do texto. Vale a pena assistir.



O Brasil que a ditadura nos roubou
Por Cynara Menezes

"Abrindo a semana de rememoração dos 50 anos do golpe militar, republico este post sobre um filme muito importante. Todos que querem saber a verdadeira história do que aconteceu em 1964 no Brasil devem assisti-lo.

*****

Revolta. Tristeza. Náusea. É o mínimo que se pode dizer da sensação que causa no espectador o documentário O Dia Que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares. Revolta e tristeza por constatar que, com o golpe, nos roubaram um projeto de país, um futuro. Náusea por conhecer mais a fundo o papel que os Estados Unidos tiveram na derrubada de João Goulart, muito além da teoria da conspiração e da paranóia.

Camilo é filho do jornalista Flávio Tavares, um dos presos trocados pelo embaixador norte-americano Charles Elbrick, sequestrado pelos guerrilheiros da ALN (Ação Libertadora Nacional) e MR-8 em 1969. Sua principal façanha como diretor foi a obtenção de documentos e áudios inéditos que comprovam a participação ativa dos EUA no golpe militar durante o governo John Kennedy e, depois de seu assassinato, com Lyndon Johnson no poder. Particularmente nauseante é a intervenção do embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, e seu cinismo ao reconhecer oficialmente o governo militar no dia seguinte ao golpe.

Além de tramar, espionar e conspirar para derrubar o presidente de outro país, algo inadmissível para um “diplomata”, Gordon é o responsável pela crença, disseminada até hoje pelas carpideiras da ditadura, de que Jango pretendia transformar o Brasil em Cuba, em um país comunista. Uma mentira histórica tão absurda quanto chamar os guerrilheiros de “terroristas”, como insiste a direita fascista brasileira, incapaz de discernir terrorismo de Estado de reação cívica à ditadura. Propositalmente, para enganar jovens com pouca leitura e desinteressados em conhecer a verdade.

A certa altura do documentário, o líder do PTB então, deputado Bocayuva Cunha, esclarece com todas as letras: “Revolução comunista só existe na cabeça e na estupidez de certa elite brasileira”. O que Jango queria era transformar o País, e tinha apoio popular para isso. Suas reformas de base incluíam a reforma bancária, fiscal, administrativa, educacional e agrária. Jango defendia ainda medidas nacionalistas, que desataram a ira dos EUA, histéricos por proteger os lucrativos negócios de suas empresas no Brasil. A intenção de realizar uma profunda reforma agrária, por sua vez, descontentou os grandes donos de terras. Os mesmos ruralistas que hoje em dia volta e meia se associam aos líderes evangélicos no Congresso em defesa de bandeiras arcaicas e anti-democráticas. Gentalha da pior espécie.

O que seria do Brasil se Jango pudesse ter feito suas reformas de base? Se, já naquela época, a questão da terra tivesse sido resolvida, com o fim dos latifúndios? Se a educação tivesse dado um salto qualitativo? Seríamos a republiqueta de bananas em que o golpe nos transformou durante 21 anos, a mais longa ditadura militar da América Latina? Teríamos os problemas educacionais e de terra que ainda temos hoje? Nosso povo continuaria a ser manipulado por políticos, religiosos pilantras e pela mídia apenas por não ter estudado como deveria? Nosso ensino público teria sido sucateado para que gerações inteiras fossem impedidas de pensar?

Na sessão de cinema em que estive (deveriam colocá-lo em cartaz de novo agora), o filme de Camilo Tavares foi aplaudido ao final. Merece mesmo aplausos. E lágrimas. E raiva. E saudade do que não fomos."

3 comentários:

Paulo Nogueira (DCM) disse...

Folha, Globo e outros jornais estão fazendo especiais sobre os 50 anos do Golpe.

É uma tragédia e ao mesmo tempo uma comédia.

Qualquer esforço sério para falar do Golpe tem que tratar do papel crucial da mídia. O que jornais como o Globo, a Folha, o Estadão e tantos outros fizeram, portanto.

Alguma linha sobre o assunto?

Pausa para rir, ou para chorar. Você escolhe.

1964 não teria existido sem a imprensa, este é um fato doído para nós, jornalistas.

Os jornais construíram um Brasil fantasioso – de mentira, sejamos diretos – que chancelaria a ação dos militares.

Como mostrou o jornalista Mário Magalhães em seu blog nestes dias, o presidente João Goulart tinha alta popularidade em março de 1964.

Numa pesquisa do Ibope, não divulgada à época e nem por muitos anos, ele aparecia bem à frente na lista de intenções de voto para as eleições presidenciais de 1965.

Como não seria popular um presidente que tinha uma agenda pró-povo como Jango? Entre outras coisas, em seu governo foi criado o 13.o salário, que o Globo – numa hoje amplamente exposta e debochada primeira página – tratou como calamidade.

Mas o noticiário criava a sensação de que os brasileiros em massa eram contra Jango. O Globo conseguiu dizer que a democracia fora “restaurada” com o golpe que mataria tantas pessoas e faria de seu dono o homem mais rico do país.

Mesmo o grande jornal que mais tarde foi uma trincheira na oposição aos militares – o extinto Correio da Manhã – produziu duas manchetes que entrariam tristemente na história.

Uma delas dizia “Basta!” e a outra “Fora!” Como maus exemplos prosperam, a Veja copiaria o Correio da Manhã na capa em que, décadas depois, anunciou a saída de Collor. (E sonharia por oito anos repetir a cópia na gestão de Lula.)

Paulo Nogueira (DCM) disse...

O apoio da mídia à ditadura se manteria enquanto os militares foram fortes para beneficiar seus donos.

A campanha da Folha pelas eleições diretas só veio quando a ditadura cambaleava: politicamente, a insatisfação galopava, e a economia era um caos insustentável.

Antes, Octavio Frias se comportara de maneira bem diferente. Cedera carros da Folha para a caça a opositores da ditadura, o que o levou a temer ser justiçado como outro empresário que fez o mesmo, Henning Albert Boilesen, da Ultragás.

Frias mostrou também sua combatividade seletiva quando, depois de uma crônica de Lourenço Diaféria que dizia que o povo mijava na estátua do Duque de Caxias, patrono do Exército, recebeu uma ordem de um general para afastar o diretor de redação Claudio Abramo.

Afastou – não um mês, uma semana, um dia depois. Afastou na hora. Covardemente, ainda mandou retirar seu próprio nome – dele, Frias — da primeira página do jornal como “diretor responsável”.

Pôs o de Boris Casoy, escolhido para substituir Claudio por causa de seus notórios vínculos com a ditadura. Boris foi integrante do Comando de Caça aos Comunistas, o CCC. Não sabia escrever, mas isso era um detalhe.

Depois, quando a ditadura desabava, Frias autorizou valentemente a campanha das Diretas Já, tão enaltecida como nascida da grandeza de Frias ainda hoje por jornalistas de renome como Clóvis Rossi.

Não era fácil se jornalista naqueles dias, especialmente se você tivesse convicções.

Meu pai – Emir Macedo Nogueira – era editorialista da Folha em meados dos anos 60, quando eclodiu uma greve de fome entre os presos políticos em São Paulo.

Frias mandou meu pai escrever um editorial que afirmaria não haver presos políticos, só prisioneiros comuns.

Papai se recusou, e foi tirado da posição. Por que Frias não o mandou embora, às vezes me pergunto. Imagino que sejam duas as explicações: a primeira, papai tinha um talento excepcional. A segunda: uma demissão significaria que Frias levara a perseguição política para o interior da Folha.

Prova de quanto era dura a vida na redação, o editorial acabou sendo escrito por Claudio Abramo, um grande jornalista de esquerda, cheio de amigos entre os presos políticos em greve de fome.

Você pode imaginar o sofrimento que foi para Claudio escrever o que escreveu naquele dia.

Quando penso no papel desempenhado pela imprensa no golpe, tenho vergonha de ser jornalista. Mas aí me lembro de como o DCM é diferente de tudo aquilo e sigo adiante, para combater o bom combate.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-imprensa-e-o-golpe-de-64/

Anônimo disse...

Merval cita blogs em texto fernandista

Por Miguel do Rosário on 30/03/2014

Sentindo-se abandonado em sua coluna no Globo, Merval volta a citar os blogs. Logo na primeira frase de seu texto de hoje, o platinado mais obediente aos patrões menciona “blogs militantes, pagos ou não”.

Desculpa, Merval, mas desta vez não vou te dar sequer um link. Nem reproduzir nenhum trecho. Não é nada contra você, camarada. É contra o texto. Chato demais, mêu! Parece até um artigo do Fernando Henrique, só que pior.

Trata-se de um artigo constrangido, tentando explicar porque o STF aceitou jogar o processo do mensalão tucano para a primeira instância.

Não explica nada, naturalmente. É um texto gago, ilegível. Olha que eu, analista de política e mídia há anos, tenho estômago forte. Mas esse é intragável. E nem me refiro a argumentos descabidos. O artigo tem um problema qualquer, provavelmente sintático, que não deixa a gente entrar nele.

De qualquer forma, obrigado por citar os “blogs militantes, pagos ou não”.

Eu só fiquei na dúvida se você conhece algum blog que não seja “militante”.

Também gostaria de saber se você não se considera um “militante” do PSDB. Que você é pago, não existe dúvida sobre isso. Pago com o dinheiro que os Marinho saquearam do povo durante a ditadura militar.

Uma coluna recente sua sobre um evento do PSDB em São Paulo era tão babujona que nem parecia coisa de militante, parecia antes um rascunho mal feito de um assessor de imprensa ansioso demais por mostrar lealdade ao cliente.

É só isso que tenho a falar sobre o assunto.

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