14 de novembro de 2010

Papo (furado?) de Domingo

Você já entrou em uma loja de discos com o firme propósito de não comprar nada? Eu já.
É quando a perspectiva de ouvinte fala mais alto que a do colecionador: centenas de discos precisando ser ouvidos, ainda lacrados. Aí, ao invés do prazer, temos o estresse da falta de tempo para ouvir aquilo tudo.
Me lembrei disso porque esta semana (quer dizer, semana passada, domingo já é o primeiro dia da nova semana) estive em uma bienal com o firme propósito de... não comprar livro nenhum!
Consegui resistir bravamente. Cheguei ir ao caixa para pagar uma biografia do Jimi Hendrix e outro com a história do "Dark Side of the Moon", mas retornei com ambos para estante.
É que tenho dezenas de livros em casa que não aguento mais encarar: eles olham pra mim pedindo para ser lidos e nada.
Pior é que meu filho foi lá e comprou uns três. E aí esses acabam se somando, mesmo não tendo sido escolhidos por mim.
É o caso da autobiografia de Ozzy Osbourne que ele comprou ("Eu sou Ozzy", Editora Benvirá, 384 páginas).
A princípio não tive nenhum interesse em ler o Ozzy, além de suas canções no Black Sabath. Só que lendo algumas páginas vi que era um livro interessante, além de hilário: "Meu pai sempre disse que eu iria fazer algo importante algum dia. 'Sinto isso, John Osbourne', ele me dizia, depois de algumas cervejas. 'Ou você vai fazer algo muito especial, ou vai acabar na cadeia'. Ele estava certo, meu velho pai. Fui parar na cadeia antes de completar dezoito anos".
Bem, no momento estou (re)lendo e recomendo "O Autoconhecimento Através da Música - Uma Nova Maneira de Sentir e de Viver a Música" (Editora Pensamento-Cultrix) do músico alemão Peter Michael Hamel: "Cada vez mais as pessoas procuram na música uma sensação nova, mais intensa, do seu próprio ser. Neste livro, único nos seus moldes, Peter Michael Hamel trata das variadas e fascinantes relações entre a consciência humana e a música. Cada um de nós, fã da música pop ou admirador de Mozart, pode utilizar as fontes musicais redescobertas e, sem formação específica ou capacidade técnica, despertar sua criatividade através do timbre e do som e, assim, encontrar a si mesmo, criando novas e inesperadas energias.

Neste livro, pela primeira vez, o autor lida com a força mágica e sugestiva da música indiana, tibetana, pérsico-arábica e africana. Com a ajuda de exemplos práticos, ele mostra como o jogo criativo com os sons é simples, mesmo para o leigo. Assim, abrem-se novas possibilidades para a musicoterapia, que a cada dia se torna mais significativa. Uma série de exercícios práticos incita ao trabalho individual e em grupo. Não há nada comparável na moderna literatura sobre música.

Peter Michael Hamel estudou composição, musicologia, psicologia e sociologia em Munique e Berlim. Seis viagens sucessivas à Ásia, com a duração de vários meses, permitiram-lhe familiarizar-se com a música não-européia, o que representou para ele uma experiência decisiva. Hamel é fundador e membro do grupo Between. Compõe para orquestras e corais, para o teatro e para o rádio e já recebeu numerosos prêmios. Diversas de suas obras podem ser encontradas em disco."

Bem só falei de livros de músicas, mas os romances também estão na lista, inclusive uns oito clássicos e alguma poesia.

Em resumo, falta tempo. Para ler, ouvir música, escrever no blog, estar com a família, etc. Quando você não tem tempo e tem 21 anos, tudo bem. Quando você não tem tempo e tem 51 anos, tudo mal.

Acho que por causa disso tenho tido um pouco de parcimônia para dizer: leiam esse livro, ouçam esse disco, vejam esse filme, etc. A tendência é achar que todos também estão sem tempo tanto quanto eu.

É isso.

Na verdade esse post tomou outro caminho. Eu ia apenas comentar sobre um livro que não li. Estava esperando não sei o que não sei onde quando peguei uma dessas revistas de bordo (acho que era da TAM). Na seção de literatura havia um comentário recomendando o livro "O Culto do Amador" do americano Andrew Keen (lançado em 2009, acho).

Nele o autor polemiza mostrando "como blogs, MySpace, YouTube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia, cultura e valores". Vai além: "É a celebração do amadorismo. Qualquer um, por mais mal-informado que seja, pode publicar um blog, postar um vídeo no YouTube ou alterar um verbete na Wikipédia. Esse anonimato da web põe em dúvida a confiabilidade da informação. E a distinção entre especialista e amador torna-se cada vez mais ambígua".

Ok profissional. Neste caso ele e mais jornalistas formados etc.

A situação é: como distinguir o que é fato do que é opinião. O que é falsidade do que é verdade.

Tanto opiniões "erradas" como fatos mentirosos podem ser cometidos por amadores ou profissionais.

E, afinal, um jornalista que aborda política tem formação em Ciencias Políticas? Ou Sociologia? Quem tem uma coluna em um jornal que aborda cultura e fala de vinhos tem necessariamente alguma formação européia em 'enologia'?

Nas últimas eleições tivemos a oportunidade de ver profissionais manipulando meias verdades (ou mentiras inteiras). Nesse caso o que nos salvou foram bons amadores e seus blogs (e alguns profissionais que foram execrados agora por outro profissional de outra área, leiam aqui no blog).

Não tem jeito, Sr. Andrew, a Internet veio para ficar, para profissionais e "amadores" e estes não estão destruindo "economia, cultura e valores". Vieram para salvar da mão de muitos "profissionais".

P.S.:

Duas citações musicais deste post bem diferentes entre si.

Primeiro, o grupo alemão Between do Peter Michael Hamel:

Agora o alucinado e hilário 'senhor das trevas', Ozzy Osbourne (que eu vi no Rock in Rio I), na famosa música em homenagem ao não menos polêmico Alester Crowley (ainda bem que no final ele fala "Deus abençoe vocês", hehehehe...):

4 comentários:

Alice in Wonderland disse...

Marcos estava com saudades de suas crônicas dominicais.
Esta ficou muito legal.
Papo furado legal!
Bjs.

Jefferson disse...

Raridade esse disco do Between. O livro do Ozzy deve ser bom mesmo. Ele é uma figuraça e deve ter muitas histórias para contar da época do Sabath.
Valeu pelo texto.

Ryan disse...

Marcos, gostaria de uma outra sugestão de livro sobre espiritualidade mas sem ser religioso, da mesma forma que o do Peter Michael Hamel que eu já encomendei.
Obrigado.
Ótimo texto!

Marcos Oliveira disse...

Obrigado Ryan, Jefferson e Alice pelos comentários.
Ryan, não sei seria esse tipo de livro, mas li e achei interessante: "Espiritualidade Para Céticos - Paixão, Verdade Cósmica e Racionalidade no Século XXI". O autor é o Professor de Filosofia Robert C. Solomon. Editora Civilização Brasileira. 318 páginas.
Abraço.