22 de outubro de 2009

Deu no JB um Mauro Santayana sempre atento e oportuno: crentes ou cidadãos?!

O crente e o cidadão

22/10/2009 - 23:23
Enviado por: Mauro Santayana

Por Mauro Santayana

Qualquer que seja a ideia que façamos de Deus, ou dos deuses, ela se subordina à inteligência e aos sentimentos de cada ser humano. A teologia, tanto nas confissões cristãs, como nas demais manifestações de fé, é uma construção histórica, sob a influência dos poderes terrenos. Foram esses poderes terrenos que levaram os sacerdotes judeus a opor-se a Cristo. O panteísmo patrocinava a liberdade investigadora dos gregos, mas Sócrates foi condenado à cicuta sob a acusação de desobedecer aos deuses e, assim, às leis da cidade. O cristianismo, ao legitimar o poder de Constantino, impôs alguns dogmas que retardaram o desenvolvimento da ciência e mantiveram, durante toda a Idade Média, os pobres submetidos à opressão dos nobres. Em todo esse período, a nobreza, associada à Igreja, alternava a repressão mais violenta com atos de presumida piedade, a fim de manter a estagnação social.


O historiador polonês Bronislaw Geremek, de origem judia convertido ao catolicismo, e com forte presença política em seu país, publicou fascinante estudo sobre o tema, com o título de A piedade e a forca. Quando os pobres se rebelavam, a forca funcionava – quando não se acendiam as fogueiras. Sempre foi assim, mesmo antes que a Igreja Católica se tornasse o centro ocidental do poder. Como se sabe, bem antes que Cristo subisse as trilhas do Calvário, Crassius levantou 6 mil cruzes ao longo da Via Appia e nelas pendurou os prisioneiros remanescentes da rebelião de Spartacus.


Os protestantes não foram diferentes dos católicos na intransigência religiosa, como dos cristãos não se diferenciaram muito os muçulmanos, em alguns momentos de sua história. O confronto entre xiitas e sunitas – pelas mesmas vielas de Bagdá onde hoje continuam matando-se – mostra que cada um faz de Deus o escudo que lhe convém.

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Um comentário:

Marcos Oliveira disse...

Ótimo artigo. Em outro trecho o autor faz o resumo: "O ensino da religião (no fundo, uma catequese) deve ser deixado aos pais e às igrejas. Ao Estado cabe ensinar a ética". É mais ou menos por aí. Na verdade os pais e a escola deveriam mostrar, de forma mais genérica, questões como espiritualidade x materialismo histórico. Cabe ao jovem fazer suas escolhas...