8 de abril de 2013

Prazeres em uma segunda-feira outonal

Seria bom ter esta vista da janela do escritório nesta segunda-feira

Bem, hoje é segunda-feira. Convenhamos que não é o melhor dia da semana, não é mesmo?!

Tem uma piada que devo ter lido há séculos que diz que a segunda-feira tem uma coisa muito legal: é o ponto da semana mais distante da... próxima segunda-feira! Daí a sua importância.

Aqui na região a manhã foi típica de outono, com temperatura amena (relativizando com o calorão do mês de março) e muitas nuvens no céu.

O cuidado com o mosquito da dengue continua (recomendo o uso de repelentes) e o mês de abril avança célere, conforme tem sido nos últimos tempos (questão de idade - da minha idade).

Soube agora há pouca que a Margareth Thatcher, que comandou a Grã-Bretanha por mais de dez anos, morreu hoje aos 87 anos. Pensei em fazer um breve 'julgamento' de seu período de governo, mas estou sem tempo, sem ânimo para isso e desconfio que seria uma perda de preciosos minutos.

Mas fica o registro óbvio: até mesmo "Damas de Ferro" tem o seu princípio, meio e fim. Que descanse em paz. 

Não sei se tem ligação com isso (bem acho que Thatcher não pensaria assim) mas por coincidência achei meio que perdida na Internet essa 'crônica-poética' da jornalista e escritora mineira Leila Ferreira.

A bela Angelina Jolie
É claro que ela fala sob a ótica feminina mas quase tudo pode ser aplicável a ambos os sexos, guardadas as devidas proporções e necessidades.

Aos homens uma das coisas importantes recomendações é substituir o Richard Gere no final da crônica pela Angelina Jolie, por exemplo. Nada mal...

No mais é tentar buscar o prazer por inteiro, sem exageros, sem estresse, com muita calma e paciência, acreditando em dias cada vez melhores. Mesmo se for uma segunda-feira mais ou menos!


Prazer pela metade

"Não há nada que me deixe mais
frustrada do que pedir sorvete de sobremesa,
contar os minutos até ele chegar e aí ver o
garçom colocar na minha frente uma bolinha
minúscula do meu sorvete preferido? Uma só.

Quanto mais sofisticado o restaurante,
menor a porção da sobremesa. Aí a vontade
que dá é de passar numa loja de conveniência,
comprar um litro de sorvete bem cremoso e
saborear em casa com direito a repetir quantas
vezes a gente quiser, sem pensar em calorias,
boas maneiras ou moderação.

O sorvete é só um exemplo do que
tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias
porções, de prazeres meia-boca,
de aventuras pela metade. A gente
sai pra jantar, mas come pouco.

Vai à festa de casamento,
mas resiste aos bombons.

Conquista a chamada liberdade sexual,
mas tem que fingir que é difícil
(a imensa maioria das mulheres
continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').

Adora tomar um banho
demorado, mas se contém pra não
desperdiçar os recursos do planeta.

Quer beijar aquele cara 20 anos
mais novo, mas tem medo
de fazer papel ridículo.

Tem vontade de ficar
em casa vendo um DVD, esparramada
no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai.

Tantos deveres, tanta preocupação
em 'acertar', tanto empenho em passar
na vida sem pegar recuperação...

Aí a vida vai ficando sem tempero,
politicamente correta e existencialmente
sem-graça, enquanto a gente vai
ficando melancolicamente sem tesão...


Às vezes dá vontade de fazer
tudo 'errado' deixar de lado a régua,
o compasso, a bússola, a balança
e os 10 mandamentos.

Ser ridícula, inadequada, incoerente
e não estar nem aí pro que dizem e
o que pensam a nosso respeito. Recusar
prazeres incompletos e meias porções.

Até Santo Agostinho, que foi santo,
uma vez se rebelou e disse uma
frase mais ou menos assim:
'Deus, dai-me continência e castidade,
mas não agora'...

Nós, que não aspiramos à santidade
e estamos aqui de passagem,
podemos (devemos?) desejar várias
Leila Ferreira
bolas de sorvete, bombons de
muitos sabores, vários beijos bem
dados, a água batendo sem pressa
no corpo, o coração saciado.

Um dia a gente cria juízo.
Um dia.
Não tem que ser agora.


Por isso, garçom, por favor,
me traga: duas bolas de sorvete de
chocolate, um sofá pra eu ver
10 episódios do CSI, Grey´s Anatomy,
House ou 'Law and Order',
uma caixa de trufas bem macias
e o Richard Gere, nu, embrulhado
pra presente. OK ?
Não necessariamente nessa ordem.

Depois a gente vê como é que
faz pra consertar o estrago."

2 comentários:

D.D+ disse...

Adorei.
Da sua crônica de segunda e das palavras certeiras da Leila Ferreira.
Quem é mulher sabe.
E homens especiais também!
Bj.

Alice disse...

Luiz Felipe e Marcos, recomendo o livro dela A Arte de Ser Leve. Segue uma resenha.


A arte de ser leve
Leila Ferreira


Tem gente que anda com um enorme bacalhau nas costas. A imagem é usada pela jornalista Leila Ferreira pra descrever aqueles que não conseguem se livrar da carga do mau humor e vão estragando o dia de quem tem o azar de topar-lhes o caminho. Para quem ainda não reconheceu, a autora de A arte de ser leve se inspirou no rótulo de um tônico tradicional, a Emulsão de Scott, que continha o intragável óleo de fígado, e trazia estampado um marinheiro arcado sob o peso do peixe às suas costas. O livro é um antídoto contra os “bacalhaus” que muitas vezes arrastamos pela vida afora.

A autora não pretende em nenhum momento, como a leitura revela, ser a “dona da verdade”, usar de didatismo em receitas fáceis e desgastadas dos livros de autoajuda. Também não quer as complicações acadêmicas. As histórias e impressões vão sendo aos poucos tiradas do cotidiano, da memória, das entrevistas acumuladas em sua carreira com pessoas importantes e dos bate-papos com anônimos.

Leila Ferreira tem uma capacidade singular de observação – de recolher as melhores histórias e de fazer entrevistas com o tom saboroso da conversa informal. Mas, nem por isso o livro perde na potência da pesquisa jornalística, nos dados interessantes obtidos em pesquisas recentes da psicologia, da sociologia, da medicina.

Dessa maneira, costurando informações científicas, divagando, conversando, a autora propõe uma pequena revolução: num mundo abarrotado de e-mails e telefones celulares, de pouca cortesia e muitas dietas, cheio de ambição e consumismo transformar os gestos do cotidiano, aqueles que nos prendem e sobrecarregam sem sequer nos dar a chance de percebê-los.