6 de setembro de 2013

A crise da mobilidade urbana

Recebi o seguinte email de um amigo:

"Sugiro que o blog aborde o assunto do trânsito parado não somente nas metrópoles como também nas cidades de porte médio (RO x Macaé).

Sexta-feira - 23/agosto - demorei 2:10 horas de Macaé para R.Ostras, saindo as 16:20 h!!! Na quinta - 22/ago - demorei 2:20 h do Rio (rua da Passagem em Botafogo) até R.Ostras, saindo as 13:30 h.

A crônica do Zuenir está muito boa mas, como tem uma crítica ao Governo Federal, não sei se sairá no blog.
"

Vai sair sim, caro amigo. Olha a crônica aí embaixo.
Mas vale a pena ressaltar alguns aspectos:
- O problema é nacional, acontecendo também - como você citou - nas cidades de porte médio.
- "Graças aos incentivos concedidos pelo governo federal à indústria automobilística e graças à elevação do poder aquisitivo da população (...)". Isso é ruim? É bom que o (ex-)pobre agora possa comprar um carro para sua família. A questão é histórica e vem lá do Juscelino que optou pelo carro, atravessou a Ditadura e chegou até o FHC que acabou de sepultar as ferrovias intermunicipais e interestaduais.
- Por seu lado Estados e Municípios (com raras exceções) são mestres em não pensar no futuro. Aí deu no que deu. Poucas linhas de trens e metrôs, ônibus abaixo da crítica e quase zero de anéis rodoviários, auto-estradas modernas, contornos, etc.
Só agora estão tentando correr atrás. Mas não dá para correr. Tá tudo engarrafado!

O Rio quase parando
Estima-se que em 2020 haverá um carro para cada dois moradores
ARTIGO - ZUENIR VENTURA
Publicado: 4/09/13 - 0h00
"O motorista que vai me levar para a Bienal do Livro, onde eu participaria de um debate, chegou com quase três horas de antecedência. Achei um exagero, mas ele explicou que às sextas-feiras o trânsito para lá é muito lento e complicado. Felizmente, ele conhecia alguns desvios e assim demoramos “apenas” duas horas. Lá, na sala dos autores, a conversa era essa: “Vim bem, levei apenas uma hora e meia.” “Pois eu demorei duas.” “Pior foi fulano que levou quase quatro.” Um outro conta que saiu de casa junto com a mulher, que ia para Teresópolis, e ela chegou lá antes dele. A piada era: “Uma pena que a Bienal não aconteça no Rio, mas na Barra.” Imagina no Rock in Rio daqui a pouco, quando as quase 600 mil pessoas que estão sendo aguardadas (85 mil por dia) se deslocarão durante os 7 dias do festival para o espaço vizinho ao da Bienal. Pode-se alegar que a Barra é longe, há as manifestações, há as obras do metrô, além de outras, daí o engarrafamento. Se fosse só isso, o transtorno seria passageiro e localizado. Mas não. Está se repetindo aqui o que se reclamava de São Paulo: “O trânsito é horrível; não sei como eles aguentam tantas horas dentro dos carros e ônibus.”
O fenômeno, que ataca todas as metrópoles, faz parte da chamada crise da mobilidade urbana, oriunda da opção pelo modo de transporte individual em detrimento dos sistemas coletivos de deslocamento. Graças aos incentivos concedidos pelo governo federal à indústria automobilística e graças à elevação do poder aquisitivo da população, houve uma explosão da frota de veículos e, em consequência, aumento proporcional dos congestionamentos e do tempo de locomoção. Embora tenha havido este ano uma queda geral de 1,2% em emplacamento de veículos, o Rio vem registrando índices absolutos consideráveis. Nos dez últimos anos, a frota da metrópole fluminense cresceu 62%, ou mais de 1 milhão de automóveis em termos absolutos. Estima-se que em 2020 haverá um carro para cada dois moradores. Depois reclamam quando o governador, coitado, precisa usar o helicóptero para ir trabalhar.
Se não houver um freio nesse ritmo, daqui a umas três bienais o motorista virá me pegar de véspera."

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