12 de abril de 2013

Eleições domingo na Venezuela: porque a simpatia de determinados blogs por Hugo Chávez (e agora Nicolás Maduro)?

Nicolás Maduro e Hugo Chávez
Não se trata de concordar com tudo que o Chávez disse ou fez (como bem disse a Dilma) mas é preciso ficar claro que Chávez é antes de tudo um efeito e não uma causa.
O 'presepeiro ditator' só existiu (e tinha que ser ele) porque existe uma longa história que se estendeu por décadas na Venezuela.
Ele surgiu como resposta ao que vinha sendo feito por uma elite que simplesmente ignorava o que era dividir com o povão as riquezas vindas do petróleo.
À imprensa ocidental não interessa pessoas e ações como as que ele fez. Isso mexe com o poder e a riqueza de quem já está estabelecido. A população miserável que se dane. Isso é "democracia, isso é livre mercado, isso é neoliberalismo".
Nas eleições de domingo torceremos por Maduro e o texto abaixo, mostrando mais detalhadamente o que dissemos aqui, serve muito bem para fortalecer nossa posição.
É de autoria do jornalista Juremir Machado da Silva, do Correio do Povo.

Hugo, o opositor (a pedido de leitores)
Postado por Juremir em 9 de março de 2013 - Política

"Antes de Hugo Chávez, a Venezuela era um enorme poço de petróleo jorrando no quintal de uma das elites mais corruptas do mundo. A partilha do saque era feita entre a democracia-cristã e a socialdemocracia. O auge da roubalheira deu-se no último governo de Carlos Andrés Perez, considerado um grande democrata pela mídia global. A população passava fome, a desigualdade grassava, a imprensa era sempre governista e tudo estava bem. Chávez tentou chegou ao poder pelo golpe. Não deu. Alcançou o seu objetivo pelo voto. Instalou-se com o pior e o melhor: tendência autoritária, personalismo, salamaleques de ditador e, pecado mortal, disposto a mudar as coisas.

Os mais tradicionais defensores do chileno Pinochet e dos brasileiros Médici, Geisel e Figueiredo, passaram a chamar Chávez de ditador. Em 2002, com apoio dos Estados Unidos, foi desfechado um golpe contra ele. Falhou. O tiro saiu pela culatra. Chávez radicalizou seu discurso antiamericano. Em seus 14 anos de governo, transformou a Venezuela no país menos desigual da América Latina. De repente, passou a ser criticado por fazer a Venezuela viver do seu petróleo. Onde já se viu tirar o petróleo dos ricos democratas para usá-lo em políticas assistencialistas em favor dos mais pobres. Populista!

Populismo foi um conceito inventado pela direita para desqualificar políticas assistenciais. Funcionou contra Getúlio e Jango no Brasil. Era um álibi para não se tocar nos interesses dos ricos. O antipopulista diz: o importante é criar empregos. Caso não se consiga, fica tudo como está. Não cola mais. As políticas assistenciais são praticadas por países desenvolvidos. São necessárias, embora insuficientes. Chávez fez o que tinha de ser feito. A maior mentira sobre a Venezuela é da inexistência de liberdade de expressão. Chávez não foi um exemplo de aceitação tranquila de pontos de vista opostos aos seus. Mas, até o último dia, conviveu com a crítica virulenta de jornais de oposição a ele: “El Nacional”, “El Universal”, “TalCual” e da tevê “Globovision”.

Como era bela a América Latina antes de Chávez e de outros como ele: a massa passava fome, o assistencialismo era feio, como não se conseguia alavancar o crescimento econômico para todos, o certo era deixar a plebe na miséria e esperar dias melhores. A mídia brasileira não chamava isso de usar as instituições contra elas mesmas nem de desvirtuamento da democracia. Os admiradores de Pinochet e de Geisel não discursavam contra o uso do petróleo por Caldeira, Perez e outros presidentes venezuelanos para alimentar seus bacanais. A Venezuela atolada na miséria e na corrupção não nos preocupava. Era democrática. Praticava a democracia da indiferença.

A democracia corrupta e excludente pré-Chávez era elegante, discreta, bem vestida, não fazia longos discursos, não cantava boleros, não recorria a heróis do passado para se legitimar. Roubava com solenidade. De democracia, tinha apenas o voto comprado, cabresteado, induzido, obtido com ajuda das mais modernas técnicas marqueteiras. Tudo ia  bem no melhor dos mundos até que surgiu Hugo, o opositor, e não parou mais de ganhar eleições, que deixaram de ser sinônimo de democracia. "

3 comentários:

Mauro Santayana disse...

nteressa-nos, sim, e muito, o resultado das eleições venezuelanas do próximo domingo. Sendo assim, convêm-nos examinar o quadro sem as lunetas da paixão ideológica. Se o opositor Capriles, por essa ou aquela razão, desmentir o favoritismo de Maduro, e ganhar o pleito, não terá como inverter o curso histórico do país.
Ainda que, nesse caso, seja possível uma guinada à direita, ela não ocorreria logo. A menos que se desse depois de sangrenta guerra civil. A Hitória, antiga e contemporânea, nos ensina que, havendo imperialismo, guerras civis surgem por todo lado. Uma guerra civil, no entanto, pode levar anos e desorganizar a economia. E pode, até mesmo, favorecer o lado aparentemente mais fraco.
O mais importante legado de Chávez não está em sua política distributiva, mas, sim, no que ela representou na alma do povo venezuelano. Os venezuelanos pobres são a imensa maioria do povo. Eles assumiram a consciência da dignidade como um bem coletivo, e não parecem dispostos a renunciar a esse sentimento.
O militar, sendo mestiço, soube falar com a emoção ameríndia. Ele disse aos indígenas, e aos mestiços como ele, que a Venezuela é um bem comum de seu povo, e não colônia estrangeira. Seu discurso sempre foi autêntico.
Seu opositor, Henrique Capriles Radonski, continua a ser visto como multimilionário, venezuelano de primeira geração, de origem européia – distante da visão universal do povo.
Em tática eleitoral conhecida, tenta agora linguagem menos agressiva, na tentativa de angariar votos entre aqueles chavistas que preferiam outro candidato em lugar de Maduro.
O sucessor de Chávez tem cometido erros primários, ao tentar, sem o mesmo carisma, a sintaxe emotiva do ex-presidente. Isso pode inspirar a cunha oposicionista e beneficia-la, mas de forma marginal.
Ao Brasil, como país, não interessa mudar a sua postura diante de Caracas, mesmo no caso em que a oposição vença. As nossas relações comerciais devem ser mantidas. Temos imenso saldo na balança comercial e os nossos empresários que, em natural pragmatismo, não participavam do coro dos meios de comunicação contra o chefe de Estado da Venezuela, não querem perder os bons negócios que se iniciaram ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, e se ampliaram na administração de Lula e Dilma.
Se não nos interessa mudar a postura nas relações com a Venezuela, no caso de eventual vitória da direita, com Capriles, é natural que essa hipótese nos preocupe, tendo em vista os nossos interesses continentais.
Derrotada a esquerda, o governo de Caracas se alinhará aos Estados Unidos, e buscará, ali, as importações de que necessita, deslocando-nos do importante mercado.
Além disso, as organizações regionais de que participamos, como o Mercosul e a Unasul, serão erodidas, pela ação direta de Washington.
Capriles, o candidato oposicionista, como se sabe, não é judeu ortodoxo. Converteu-se ao catolicismo e foi ativo militante do ramo venezuelano da nossa famigerada TFP, em seus anos mais jovens. Há notícias de que pertence também à Opus dei.
Todas essas razões convocam a nossa atenção para o pleito de domingo.

Luiz Felipe Muniz disse...

Também estamos pela torcida ao Maduro!

Ótimo post Cardozo.

Luiz Felipe

Luiz Felipe Muniz disse...

Também estamos pela torcida ao Maduro!

Ótimo post Cardozo.

Luiz Felipe