22 de outubro de 2014

Discurso de um dos fundadores do PSDB, ex-ministro de FHC, que denunciou a traição do partido aos ideais da social-democracia

 
Bresser-Pereira, com Dilma: pobres x ricos
Por Rodrigo Vianna

"A presidente Dilma está a um passo de ser reeleita. Os pobres sabem que ela os defende, e por isso votam nela; já os ricos, votam praticamente todos no candidato da direita, porque assim defendem seus interesses."

Reproduzimos o discurso do professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, no ato de apoio a Dilma, na PUC-SP. Para Bresser (economista que foi ministro de FHC, mas rompeu com o PSDB e denunciou a traição do partido aos ideais da social-democracia), a alternativa no dia 26 é votar Dilma – a dica veio da @cynaramenezes, no twitter.

"Meus amigos
Estou aqui para convocar os intelectuais brasileiros a votarem pela reeleição da Presidente Dilma Rousseff.
Esta é novamente uma eleição em que se confrontam pobres e ricos, progressistas e conservadores, esquerda e direita, desenvolvimentistas e neoliberais.
Ora, nesse quadro, não há dúvida em quem votar. É necessário votar no candidato que representa os pobres ou os trabalhadores; no candidato que é progressista ou de centro-esquerda, no candidato que está comprometido com os pobres e as novas classes médias, não com os ricos e a classe média tradicional; no candidato cujo compromisso seja continuar a avançar nas conquistas sociais destes últimos doze anos, não em congelá-las e fazê-las regredir.
No candidato que além de defender os interesses dos pobres, defende também os interesses dos empresários que investem e criam empregos; no candidato que defende o Brasil, porque defende o nacionalismo econômico e a
soberania nacional, ao invés de o liberalismo econômico e a dependência ou o colonialismo.
É necessário votar no candidato que é desenvolvimentista, porque sabe que é necessário combinar mercado e Estado, ao invés de professar o credo neoliberal do Estado mínimo.
No candidato que sabe que não basta responsabilidade fiscal (que não basta controlar as despesas públicas);
que é também necessária responsabilidade cambial, ou seja, a busca do equilíbrio comercial ou da conta-corrente do país; no candidato desenvolvimentista que defende um pacto político socialdemocrático que envolva os empresários, os trabalhadores e a nova classe média.
No candidato que rejeita a coalizão rentista ou neoliberal – o acordo dos muito poucos que une os capitalistas e as classes médias rentistas aos financistas e aos interesses estrangeiros, que rejeita o acordo de muito poucos em favor de juros reais altos e câmbio apreciado.
Eu sei que essa coalizão de interesses financeiros se declara representar a razão econômica universal; eu sei que ela engana a muitos, que acreditam que o neoliberalismo pode levar ao desenvolvimento econômico e mesmo à justiça social; mas não tenham dúvida: o neoliberalismo aprofunda sempre as desigualdades, e – o que é pior – leva sempre os países em desenvolvimento ao baixo crescimento e à crise financeira; sim, ao baixo crescimento e à crise da dívida externa, porque o liberalismo econômico defende déficits em conta-corrente crônicos, que mais cedo ou mais
tarde levam o país a quebrar e a pedir socorro ao FMI.
Meus amigos, no próximo domingo nós, brasileiros, temos uma decisão crucial a tomar:
ou continuamos a promover o desenvolvimento econômico e a diminuir as desigualdades, ou nos entregamos ao rentismo e ao neoliberalismo; ou nos inserimos na economia mundial em termos competitivos, ou nos
submetemos aos países ricos; ou continuamos a construir uma nação que cresce com diminuição das
desigualdades, ou entregamos nossa soberania aos interesses estrangeiros.
A presidente Dilma está a um passo de ser reeleita. Os pobres sabem que ela os defende, e por isso votam nela; já os ricos, votam praticamente todos no candidato da direita, porque assim defendem seus interesses.
Os rentistas estão hoje ressentidos. Doze anos de governo de esquerda já basta para eles. O sistema financeiro e seus economistas, que representam os interesses rentistas e externos, reúnem todas as suas imensas forças contra a presidente Dilma Rousseff.
Mas isto não impedirá que Dilma seja reeleita.
Mas isto não impedirá que o Brasil continue realizando uma revolução democrática e progressista.
Muito obrigado."
                                                                                   Luiz Carlos Bresser-Pereira

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