28 de outubro de 2014

Mapa do Brasil com divisão de votos por região: a verdade

Muito bom e esclarecedor o trabalho gráfico do mestrando em história econômica Thomas Conti, bem como sua entrevista ao R7. 
Ele considera a proporção de votos no estado e não apenas quem obteve o maior número (às vezes por margem estreita).
A conclusão é que não existe esta história de divisão entre "dois Brasis" (o azul e o vermelho) que tanto foi comentado nas redes sociais como combustível de ódio. 
O resultado é um Brasil com pouquíssimos (ou nenhum) contrastes de votos.


Após onda separatista, mapa de pesquisador viraliza na Internet ao indicar que País não está dividido entre PT e PSDB

Por Alvaro Magalhães, do R7

"O Brasil não é um País dividido entre Estados petistas e Estados tucanos, mas um território em que eleitores de ambos os partidos convivem em todas as regiões. É isso que mostra o mapa do desempenho eleitoral de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) feito por Thomas Conti, 24 anos, pesquisador de história econômica pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Após receber, via redes sociais, uma série de manifestações preconceituosas, baseadas nos gráficos que mostram a divisão do País considerando apenas o partido vencedor em cada Estado, Conti decidiu fazer e compartilhar um mapa que revelasse a proporção dos votos em cada região.

O resultado é surpreendente. Minas Gerais, por exemplo, onde Dilma obteve pequena vantagem, não aparece mais em vermelho puro; enquanto Goiás, onde Aécio teve também vitória estreita, não aparece em azul puro. Ambos os Estados, onde o eleitorado ficou bastante dividido, pendendo apenas ligeiramente para um ou outro candidato, aparecem quase no mesmo tom de roxo.

O mapa de Conti viralizou tanto pelo Twitter como pelo Facebook. E seu blog recebeu tantas visitas que o servidor caiu.

Confira abaixo, a entrevista concedida pelo pesquisador ao R7:

R7 — Como surgiu a ideia de fazer o mapa?

Thomas Conti — A ideia surgiu como reação à quantidade enorme de declarações com discurso de ódio no Facebook e no Twitter na noite de ontem. Imaginei que muitas pessoas que propagavam isso estivessem desinformadas. Com isso, resolvi montar um gráfico que refletisse em cores com precisão o resultado das urnas.

R7 — Por que o mapa que você desenvolveu representa melhor o resultado eleitoral do que os gráficos feitos apenas em vermelho e azul?

Conti — Porque o Brasil não possui um sistema como o americano, de voto distrital, onde a maioria de votos garante todos os votos de um colegiado. Aqui ganha quem tem mais votos em números absolutos. E a realidade é que dezenas de milhões de pessoas votaram contra Dilma no Nordeste e dezenas de milhões votaram contra Aécio no Sudeste. Pintar de duas cores chapadas cria falsos estereótipos que não condizem com as urnas.

R7 — Por meio de que redes sociais você recebeu as mensagens preconceituosas que o motivaram?

Conti — Facebook e Twitter, principalmente. Ouvi dizer que as piores mensagens estavam no WhatsApp, mas tive sorte e não recebi nenhuma. Depois que meu mapa viralizou, comecei a receber xingamentos nos comentários e por mensagem particular, também. Acontece. Foi contra esse tipo de pensamento que trabalhei, então fico feliz de saber que preconceituosos ficaram incomodados com a realidade.

R7 — Que tipo de ameaças sofreu?

Conti — Ameaças físicas, xingamentos, etc. Nada que quem participa do debate público da internet não esteja acostumado.

R7 — Esperava a repercussão? Já havia postado algo com tamanha repercussão?

Conti — Não esperava uma repercussão como essa. Achava que no máximo amigos próximos compartilhariam, mas não mais que isso. Repercussão como essa? Nunca! Um post do meu blog já teve 2 mil “compartilhar” e eu achei muito. E não é nem um décimo dessa de hoje!

R7 — Você consegue identificar a partir de quando o mapa se tornou viral?

Conti — Acompanhei de perto ontem e foi no boca a boca mesmo! Em menos de uma hora já tinha mais de 100 “compartilhar” sem ter alcançado nenhum grande portal, e a partir daí cresceu ainda mais rápido. Como era de madrugada, só hoje diversos sites maiores começaram a ajudar na divulgação.

R7 — Como, tecnicamente, você fez o mapa?

Conti — Usei um recurso do Excel [programa de planilhas] que permite colorir automaticamente tabelas conforme uma escala de cores, basta fornecer as cores do mínimo e máximo. Usando o mesmo vermelho e o mesmo azul para os dois gráficos, o programa preencheu as cores intermediárias e resultou na tabela da direita. Depois foi só usar um editor de imagens comum para colorir cada Estado conforme a tabela, usando a ferramenta do conta-gotas.

Ao final da entrevista, Conti questionou a reportagem se poderia deixar uma mensagem. Segue abaixo:

“Nosso País tem menos de 30 anos de democracia sem ser interrompido por uma ditadura militar. É fundamental que continuemos a conscientização democrática a todo momento, não apenas no período eleitoral. Nesse novo Brasil democrático não há espaço para discursos de ódio: quanto antes conseguirmos superá-los, melhor para o País!”"

3 comentários:

Marcos Oliveira disse...

Conta de dividir

"Entre as incontáveis confusões propaladas a respeito da eleição presidencial, já se tornou lugar-comum a afirmação de que o Brasil dividiu-se ao meio. Afirmação que vem de antes da votação, induzida pelas pesquisas, e dada como definitiva e comprovada pela proximidade dos 51,64% de votos em Dilma e 48,36% em Aécio, ou 54,5 milhões para ela e 51 milhões para ele. Mas o tal país dividido em dois não existe. Ao menos no Brasil.

A soma dos votos em Dilma e Aécio leva a 105,5 milhões de eleitores, equivalentes à metade da população, também em número redondo, de 200 milhões. Logo, o que está dividido ao meio, ou quase, são os votos, não o país. No qual os 51 milhões de Aécio correspondem a 1/4 da população. O mesmo se dando com Dilma. E, portanto, nenhum deles dividindo o país em dois. Cada um é apenas metade da metade dos brasileiros. Além dos totais de eleitores que se aproximam, sobra outro tanto na população do Brasil.

Mas a ideia do país dividido ao meio, rachado, metade contra metade, é necessária. Como diz o velho slogan, "a luta continua" — tão consagrado quanto seu companheiro de derrotas "o povo unido jamais será vencido". "Fora Lula", "Fora PT", "Fora Dilma" foram levados à urna por um símbolo físico, o símbolo que foi possível arranjar, nas circunstâncias ingratas. Não sucumbem, porém, no desastre do seu representante ocasional. São uma ideia de força. E, mal a contagem concluíra, já um dublê de blogueiro e colunista político lançava, altissonante e global, o brado da beligerância: "O país está dividido e a culpa é do PT". Beligerância ferida, sim, mas não de morte. Apenas no cotovelo.

Há que considerar ainda, na divisão do país, a quantidade imensa de eleitores que não se manifestaram por um nem por outro candidato. Os ausentes na votação foram 30,13 milhões. Os que anularam o voto, 5,21 milhões. Somados também os que deixaram o voto em branco, totalizam-se 37,27 milhões de eleitores. Ou 27,44% do eleitorado. Excluídos os possíveis ausentes por morte, não é imaginável que esse povaréu, quase um quinto da população, seja desprovido de toda preferência com sentido político. A propaganda de divisão meio a meio os elimina do cômputo, mas existem e são comprovantes, também, do país multifacetado — como sempre.

As referências de Dilma ao diálogo aproximativo com a oposição e, de outra parte, o espírito da propaganda de país dividido são conflitantes. E não por um instante de sensibilidades contrárias de vitoriosos e derrotados. As divergências são de fundo, na percepção das necessidades e na prospecção de futuros do Brasil. A meta dos derrotados na urna continua a mesma. Os meios de buscá-la, também, se todos os recém-usados continuarem possíveis. E se não vierem a contar com outros, não menos conhecidos.

União, nem em Minas, onde foi feito o julgamento de Aécio, derrotado duas vezes por seus ex-governados. União, só a de Marina, do nome Eduardo Campos, da viúva Campos, de Aécio e do PSB para o vexame presunçoso de perder para Dilma por 70% a 30%, o 7 x 1 em versão eleitoral."

Janio de Freitas na Folha

Marcos Oliveira disse...

O Paulo Henrique Amorim faz comentário sobre artigo do Merval. Acho que o mapa deste post deveria ser apresentado a ele, Merval.

Merval dá a senha para o impeachment

Dividir ao meio significa uma Guerra Civil, seguida de Secessão​.

No Ataulfo Merval de Paiva (do ABC do C Af), ao dar a senha para o impeachment: “crises institucionais já programadas”.

Ou seja, o Golpe já está em curso.
Precisa desenhar ou quer que explique ?

Ao vencedor, os problemas
Merval:
(…)
"Temos, portanto, crises econômicas, políticas e institucionais já programadas, e pouca capacidade negociadora da presidente para enfrentá-las, pelo que apresentou até agora, e mesmo na hora de seu discurso de vencedora. Sua impaciência com os militantes poderia ser até folclórica, se não tivesse permitido os gritos de guerra contra a imprensa profissional independente, na figura da Rede Globo, com um sorrisinho no canto da boca, enquanto o presidente do partido, Rui Falcão, fazia o sinal de positivo."
(...)
"O desenho esboçado no primeiro turno, com a divisão do país em dois grandes blocos, recebeu traços mais fortes: grosso modo, o Norte-Nordeste perfilado ao PT, o Sudeste-Sul-Centro/Oeste com a oposição. Fica evidente que o país que produz e paga impostos — pesados, ressalte-se — deseja o PT longe do Planalto, enquanto aquele Brasil cuja população se beneficia dos lautos programas sociais — não só o Bolsa Família —, financiados pelos impostos, não quer mudanças em Brasília, por óbvias razões."

Marcos Oliveira disse...

DA REDE BRASIL ATUAL:

golpe midiático

'Sem internet, Aécio teria vencido eleição', diz cientista político

Para Sérgio Amadeu, PSDB adota 'estratégia do cinismo'. Ele considera inaceitável que a bandeira de combate à corrupção seja conduzida por 'forças da corrupção'

por Renato Brandão, especial para RBA

São Paulo – Carro-chefe da editora Abril, a revista Veja lançada na última sexta-feira (24) divulgou como matéria de capa uma acusação de que a presidenta reeleita Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ambos do PT, tinham conhecimento de um esquema de corrupção na Petrobras. Sem apresentar qualquer prova, o conteúdo da reportagem era baseado em suposto depoimento do doleiro Alberto Youssef à Polícia Federal, que foi desmentido por seu advogado logo após a publicação.

Considerada a última “bala de prata” da oposição para tentar impedir uma nova vitória petista sobre os tucanos, a reportagem foi contestada duramente pela presidenta durante seu último programa eleitoral na TV na mesma sexta-feira. Ainda naquele dia, a Justiça considerou a publicidade da revista como “propaganda eleitoral” e também concedeu direito de resposta ao PT no site da revista.

Ainda assim, o estrago já estava feito. A campanha e simpatizantes do PSDB distribuíram panfletos com a capa impressa da revista da Abril em várias cidades do Brasil. Já na madrugada de sábado (25) para domingo (26), circulavam boatos de que Alberto Youssef havia sido envenenado, algo que teve de ser desmentido com rapidez pela Polícia Federal.

“Essa operação da Veja mostra que ela não é um órgão de comunicação, o que ela mostrou claramente é que ela é uma sala do comitê político do PSDB no Brasil. A revista operou de maneira a desinformar. Ela desinformou”, disse o sociólogo Sérgio Amadeu, doutor em Ciência Política pela USP. Comparando o caso à ação midiática que ajudou a decidir o pleito presidencial de 1989, com a eleição de Fernando Collor de Mello, Amadeu acredita que o plano da editora Abril só não se concretizou nas urnas pela existência da internet. “Existe hoje a internet, que não tinha naquela época. Então, se não houvesse a internet, certamente o candidato Aécio Neves tinha ganho a eleição.”

Para o cientista político, as redes sociais apontaram um acirramento muito grande e deixaram claro que “a linha política e o conteúdo discursivo das forças comandadas pelo PSDB” é baseada na “estratégia do cinismo”. Amadeu também defendeu uma reforma política para se alcançar uma legislação mais democrática dos meios de comunicação.

Confira a entrevista completa em:
http://www.redebrasilatual.com.br/eleicoes-2014/sem-internet-aecio-teria-vencido-eleicao-diz-sociologo-9159.html