5 de novembro de 2014

Dilma, o Congresso e os golpistas

O fato: tem uma turma ultraneoliberal que não está suportando a ideia de ter o PT no poder por mais quatro anos. É uma questão de multiplicar suas riquezas. Dinheiro e poder. O PT atrapalha isso. 
Não estou falando de todos que votaram em Aécio. É aquela minoria que está fazendo estardalhaço com uma certa cumplicidade do PSDB e da mídia para que haja um golpe militar. A jogada é estratégica. Primeiro incentiva-se um golpe, depois tira-se o PT do poder para que não haja um golpe. Muito legais eles.
Para estes a eleição democrática de 2014 não acabou, não é válida. E 2018 está muito longe E mesmo lá, sabem que vão perder de novo. Então o jeito é ganhar no grito.
Cuidado com esse pessoal que já está agindo no Congresso.
Mas Dilma começa a reagir e hoje se encontrou com lideranças do PSD. Precisa ampliar a base fiel de sustentação do seu governo, sobretudo por causa do ultraconservadorismo que andou ampliando sua base.
Dilma deu uma lição em Aécio (que, como diz o Miro, está "inebriado com a derrota") ao dizer que é hora de desmontar o palanque e olhar para frente.
Reproduzimos abaixo alguns trechos de sua fala de hoje e o vídeo com o discurso.



(...)"Desmontar os palanques significa perceber que na democracia – em toda e qualquer democracia – no processo eleitoral se disputam visões, propostas, as mais diferentes, e essas propostas e essas visões são levadas ao escrutínio popular.

O povo vai decidir o que ele considera que seja a proposta que ganhará majoritariamente apoio e aquela que não ganhará.

Isso significa ter consciência do que a democracia é.

A democracia é, primeiro, esse fato: você disputa a eleição, se submete e pode ou não, ganhar.

O ato de poder ou não ganhar faz parte do jogo democrático. Há que saber ganhar, como há que saber perder.

As duas exigem uma atitude.

A atitude do ganhador não pode ser nem de soberba, nem pretensão de ser o último grito em matéria de visão política.

Não pode, de maneira alguma, retratar uma visão pretensamente mandatada por um processo qualquer que faz com que não seja necessário nem o diálogo, nem a construção de consensos, nem a construção de, como vocês chamam, pontes.

Quando eu fiz a minha manifestação, logo depois da eleição, eu afirmei: toda eleição, ela indica um processo, ela indica um processo.

Neste caso nosso, duas palavras ganharam destaque: mudança e reforma, indicando, assim, que o governo, apesar de ter uma presidenta reeleita, tem de ser um governo que proponha mudanças e reformas.

Ao mesmo tempo, é um governo que tem de governar para todos os eleitores, independentemente do qual seja o voto daquele eleitor ou o que ele represente.

Isso é decisivo que se entenda que faz parte do processo democrático.

Qualquer tentativa de retaliação por parte de quem ganhou, ou ressentimento por parte de quem perdeu, é uma incompreensão do processo democrático.

E mais, criaria no Brasil um quadro caótico: o presidente eleito por um lado não conversa com o governador eleito por outro. O senador eleito por um lado não conversa com o outro senador eleito por outro.

Não pode ser assim.

Isto não implica que nós podemos pretender que alguém abra mão das suas convicções ou das suas posições.

Ninguém deve abrir mão das suas convicções, nem das suas posições.

O que nós temos que defender é um diálogo com base em propostas, não tem diálogo genérico, é com base no que nós consideramos o correto e outros consideram um pouco diferente, então, tem de ver se dá para fazer um encontro em uma posição consensual.

É disso que se trata, não tem mais nenhuma vírgula a mais, nem a menos.

Agora, qualquer suposição que uma campanha não acirra ânimos, também não seria real. Ela acirra ânimos, ela acirra ânimos…

Agora, qual é a nossa função como cidadãos brasileiros?

Da presidenta a todas as lideranças, é mudar o ritmo da discussão.

Se a discussão era uma discussão que acirrava ânimos, até porque você tem de mostrar as diferenças e, ao mostrar as diferenças, você ressalta mais o que é diferente do que é possivelmente comum, nós agora temos que fazer a trajetória inversa.

Isso ocorre em qualquer democracia madura do mundo, em qualquer uma.

Eu queria dizer que nós temos algumas características que eu considero que nós temos de valorizar.

Nós saímos de um processo ditatorial, fizemos uma transição democrática e estamos em uma eleição que, de fato, cada vez mais aprofunda a democracia no Brasil.

Nós sabemos que o espaço principal de diálogo é no Congresso, porque no Congresso está expressa toda a diversidade da Nação brasileira, diversidade essa que todos nós temos de valorizar porque é o que marca e é a nossa característica intrínseca mais forte.

Nós somos uma nação multidiversa, portanto somos uma sociedade multidiversa. E o que se expressa no Congresso é essa sociedade, essa nação. E é ali que nós temos um local de diálogo.

Isso não significa que nós não tenhamos os partidos políticos, os órgãos diferentes do governo de dialogar com os diferentes setores, de dialogar, por exemplo, com o agronegócio, de dialogar com a agricultura familiar, de dialogar com a indústria.

Temos de dialogar com todos os setores, com os movimentos sociais, com as centrais sindicais, enfim, nós temos de ter uma abertura para dialogar com todos.

Agora, o espaço privilegiado de articulação política é o Congresso Nacional. E é lá que se dará, basicamente, a relação entre o governo e os partidos."
Dilma Rousseff

Não deixem de ler também o artigo do Renato Rovai, no Portal Forum:

2 comentários:

Marcos Oliveira disse...

O que se esconde por trás da radicalização à direita (1)

Por Renato Rovai

As manifestações ocorridas no sábado passado e já marcadas para acontecer de novo no dia 15 de novembro, pedindo intervenção militar e impeachment de Dilma, fazem parte de uma narrativa maior. Do enredo desta novela constam ainda o pedido de recontagem de votos do PSDB, a transformação pelo discurso midiático do PT num partido de bandidos, a construção de uma Dilma e de um Lula que não respeitam a democracia, a tentativa de aprovar a PEC da Bengala que permitiria esticar o mandato dos ministros do STF, a fala de Gilmar Mendes sustentando que há uma bolivarianização do Supremo e a criação de uma frente para eleger um presidente do Congresso anti-Dilma. Tudo isso embalado numa recepção a Aécio no Congresso regada a manifestantes cantando o hino nacional e num discurso onde o candidato derrotado, certamente não de forma inocente, falou em “exército de oposição”. Essa novela tem um objetivo claro: criar um clima no país que justifique um golpe institucional se houver condições políticas.

Os golpes na América Latina nos últimos tempos têm tido uma característica comum. As Forças Armadas podem até participar deles, mas não assumem o poder de forma direta. Elas garantem que pelas vias congressuais ou jurídicas se processe a substituição do governante por outro que tenha relação com o estabilisment e, em geral, com os interesses americanos. Foi assim que tentaram apear Chávez do poder em 2001. E foi assim que Fernando Lugo, no Paraguai, e Manuel Zelaya, em Honduras, foram derrotados.

Há uma narrativa sendo construída que passa a ter essa saída como plano A depois da derrota de Aécio nas urnas. E ela vem sendo construída a partir de pontes lançadas pelos setores midiáticos nacionais a grupos internacionais. Hoje não é incomum ver veículos, principalmente dos EUA, tratando o governo brasileiro de forma caricata. E o PT como um partido de bandidos.

O discurso do país dividido regado a uma suspeita de fraude eleitoral é excelente para dar mais amplitude a essa narrativa. Porque ele permite dizer que no Brasil não há respeito as regras democráticas. E a partir dai qualquer solução e intervenção é permitida.

É cedo para dizer que estamos no limiar deste cenário. Mas não é cedo para dizer que há claros contornos de que há uma construção neste sentido.

Mas para que haja uma solução de golpe institucional, que obviamente será chamado de outro nome, é preciso alimentar a radicalização. E por isso que há no PSDB gente dando pérolas aos porcos da turma do Banana’s Party.

O discurso radical permite criar uma alternativa de centro. Em breve haverá gente dizendo que Dilma não tem legitimidade para continuar à frente da presidência e que o Brasil corre o risco de um golpe se o PT insistir em se manter no poder.

Marcos Oliveira disse...

O que se esconde por trás da radicalização à direita (2)

Por Renato Rovai

É essa gente que ao mesmo tempo planta o golpe que vai aparecer como solução para que o golpe militar não aconteça. Mas para que se realize uma operação congressual que permita “afastar o partido mais corrupto da história do Brasil continue subjugando os homens de bem do país”.

Segundo o Diap, entre outras aberrações, o próximo Congresso terá 55 deputados policiais ou próximos desse segmento. Será o Congresso mais conservador desde a redemocratização. Ou seja, se já era difícil garantir apoio parlamentar para teses populares no quadriênio que se encerra no final deste ano, será muito pior a partir do ano quem.

Mas o governo vai ter que operar com essa realidade. E terá que construir uma base de apoio que lhe permita não viver de sobressaltos. Para isso, o primeiro grande desafio é derrotar a candidatura de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara.

Na política há espaço para tudo, menos para a ingenuidade. Cunha eleito vai lutar todos os dias do seu mandato à frente do Congresso para derrubar Dilma. Será parte do seu acordo com a oposição.

A eleição do presidente da Câmara dos Deputados passa a ter importância tão grande quanto a de 26 de outubro. Ao que parece, muita gente já se deu conta disso, mas nunca é demais revelar quais as verdadeiras intenções do lado de lá. É preciso tratá-los de vez em quando com humor, porque senão a gente fica tão doente quanto alguns deles, mas o fato é que essa gente não está de brincadeira.