Muito boa a nova edição da Revista da Cultura. Duas matérias me chamaram mais a atenção. A primeira sobre a música popular e o erudito e a segunda relativa a um filme que versa sobre a importância da MPB no mundo da música, globalmente falando. Selecionei alguns trechos que coloco a seguir.
Beyond Ipanema: Brazilian Waves in Global Music é o resultado de mais de três anos de pesquisas e entrevistas do jornalista Guto Barra e do produtor musical Béco Dranoff. O filme, que estreou em meados de julho no Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, vai ter suas primeiras exibições no Brasil durante a próxima edição do Festival do Rio, entre 24 de setembro e 8 de outubro.
A produção mostra as várias “ondas” de importância da música brasileira no cenário internacional a partir do sucesso de Carmen Miranda, nos anos 1940, e a descoberta do samba pelos gringos. Entre os cerca de 50 entrevistados, estão nomes famosos tanto de artistas brasileiros (como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Bebel Gilberto), quanto de “embaixadores” da nossa música no exterior (como o músico David Byrne, ex-Talking Heads, e o produtor Arto Lindsay).
“Boa parte do filme é filtrada por nossos olhos e experiências”, disse Dranoff, que mora em Nova York desde o fim dos anos 1980. Ele foi o produtor do disco Red, Hot + Rio e fundou a gravadora Ziriguiboom. “Quando eu cheguei aqui, as pessoas conheciam muito pouco de música brasileira. Agora, sabem até de discos obscuros, estão colecionando coisas, pagando uma fortuna por discos antigos, viajando ao Brasil para conhecer cenas específicas.”
Para Barra, que mora em Nova York desde 1997, há sempre gente nova do Brasil começando a ganhar atenção no mercado internacional, como foi o caso da banda Garotas Suecas, que surgiu quando o filme já tinha começado a ser produzido. “A história continua e provavelmente vai mesmo muito além de Ipanema”, afirmou o diretor.
Beyond Ipanema começa com histórias que muita gente já conhece no Brasil e termina com exemplos inéditos de para onde aponta o futuro da música nacional – e da cultura brasileira em geral – no mercado de fora nos próximos tempos.
O início pode parecer um pouco didático para quem já conhece os assuntos (como a bossa nova e a tropicália), mas a variedade de entrevistados – muitos nomes que estavam lá quando tudo aconteceu – e a edição impecável dos temas faz que a “aula” seja um prazer tanto para quem sabe muito quanto para quem não conhece nada de nada – como ficou claro entre o público nova-iorquino, em grande parte “leigo”, que lotou as sessões do filme no MoMA.
Entre os pontos altos do longa estão, sobretudo, as sequências que mostram o que está acontecendo em Nova York nos últimos tempos, como a turnê internacional dos Mutantes, 30 anos depois do fim da banda, e a cena de forró do clube Nublu, no bairro do East Village, com a banda Forró in the Dark.
No mesmo bairro, há outro destaque: a loja de discos brasileiros Tropicália in Furs, onde o filme mostra a venda do disco brasileiro mais caro de todos os tempos, um vinil de 45” de 1996 da banda O’Seis, uma formação anterior dos Mutantes (o preço foi de US$ 5 mil e o comprador foi um jovem colecionador da Califórnia).
A parte mais emocionante e o verdadeiro testamento da universalidade da música brasileira é a escola Frederick Douglass Academy, no Harlem, na qual o programa de música é sobre samba, nada mais. Centenas de alunos aprendem a tocar instrumentos como a cuíca, sob a tutela do professor Dana Monteiro, que não tem nenhuma relação com o Brasil, além de algumas viagens de férias ao país. Da escola, saiu um grupo de 40 membros, o Harlem Samba, que já começou a se apresentar.
“O resultado final é um filme que registra a história da música brasileira e, a gente espera, indica direções para o futuro dela”, disse Dranoff. “A cultura mundial está ficando cada vez mais parecida com a cultura brasileira”, afirmou Gilberto Gil em um dos segmentos do filme. “Complexidade, variedade, fragmentação… Isto é o que está virando a cultura mundial.” ©
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