A Hazel vem há anos tentando alertar governos e a sociedade em geral sobre a farsa oculta na conta dos PIB's. Ela é a pioneira no trato da Economia envolvendo a dimensão ambiental e o balanço que toda a intervenção humana representa no custo global, particularmente no que diz respeito à ação do sistema financeiro, e, a fraude livre e recorrente que ele opera acima dos governos e nações! Uma leitura fundamental para quem busca entender o caos em que mergulhou a economia de nosso tempo!
"G-20: Reformar o cassino global
Por Hazel Henderson*
St. Augustine, Flórida, setembro/2009
A horrível verdade está vindo à tona: as inescrupulosas e indesejáveis finanças globalizadas estão transtornando as sociedades humanas e destruindo em escala universal nossos sistemas ecológicos. Numerosos livros e estudos, que examinam o papel das finanças, descobrem profundas falhas nos mecanismos de criação do dinheiro e de destinação do crédito. A antiga invenção do dinheiro, que ampliou as oportunidades para comercializar além da troca, se transformou em um monstro global computadorizado. Cego diante de outros valores e objetivos humanos, este cassino global se desconectou e afastou-se da economia real.
Os financistas fazem dinheiro do dinheiro mediante atividades comerciais automatizadas de alta freqüência, escoradas por uma defeituosa “economia financeira” e seus fraudulentos modelos que geram corrupção e usam indicadores falsos sobre as utilidades e o progresso nacional, tais como o Produto Interno Bruto (PIB). O presidente francês, Nicola Sarkozy, e o economista Joseph Stiglitz afirmaram, no dia 14 deste mês, que o ainda por reformar sistema financeiro apresenta hoje mais riscos do que antes da crise de 2008, e que os governos ainda estão cegos pelo “fetichismo do PIB”.
Como o sistema financeiro passou, de seu papel de serviço útil para as economias reais, a um monstro crescido em excesso e “extremamente grande para fracassar”, que tiraniza os governos democráticos com o poder do dinheiro? Nos Estados Unidos, os fundadores alertaram sobre o possível controle dos bancos sobre a jovem nação. Thomas Jefferson disse, em 1816, que “os bancos são mais perigosos do que os exércitos permanentes”. Por sua vez, Benjamin Franklin fez advertências similares, tal como fizeram outros fundadores da nação, como Samuel Webster, por exemplo, que, em 1777, afirmou: “Coloquemo-nos cuidadosamente em guarda contra os monopólios e todos os tipos e graus de opressão”.
Hoje em dia, milhões de eleitores apoiam mais de 200 membros do Congresso cujo projeto de lei exorta por um exame do papel do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, criado por um reservado grupo de políticos e financistas em 1913. Desde então, os bancos centrais de outras nações se inspiraram no modelo do Fed e promoveram suas reivindicações do segredo e da independência do controle político, inclusive dos governos eleitos mais democraticamente.
Na reunião do G-20, em Pittsburg, nos dias 24 e 25 deste mês, alguns líderes desse grupo dos 20 maiores países, como Sarkozy, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega chinês Hu Jintao, e a alemã Angela Merkel requerereram a reforma e a redução do cassino global. Eles pediram restrições aos enormes bônus, redução do enorme grau de exposição dos bancos, freio às excessivas assunções de riscos e regulamento dos derivados que são simples apostas, como os intercâmbios de créditos não pagos.Tudo isso é necessário, mas não é suficiente.
Todo o sistema das finanças globais deve ser reestruturado. A China corretamente conduziu o debate sobre a necessidade de eliminar progressivamente a dependência do dólar norte-americano e de criar-se uma moeda de reserva global mais estável, o que é apoiado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.Além disso, o britânico lord Adair Turner pediu a criação de um pequeno imposto sobre transações financeiras para frear a especulação.
Tal imposto foi recomendado por James Tobin, nos anos 70, e Larry Summers, em 1989, e é considerado o melhor meio para reduzir a especulação e empregar os milhares de milhões que renderia a favor do desenvolvimento dos países do Sul, para reembolsar os contribuintes por seus resgates e investir em um plano ecológico para a redução das emissões de carbono, o chamado “Global Green New Deal”, apoiado por muitos governos, investidores privados, sindicatos e organismos das Nações Unidas.
Além disso, poderia ser criado um novo nível de seguros contra os riscos das crises financeiras sistêmicas. Este Fundo de Seguros para Crises Financeiras Sistêmicas (SFCIF) garantiria as empresas financeiras contra futuras bancarrotas e pânicos. Semelhante ao Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), com o qual contribuem todos os bancos norte-americanos, este novo SFCIF poderia fazer com que o risco não recaia sobre os contribuintes, mas, como deve ser, sobre o próprio setor financeiro. Além do mais, os governos deveriam, por fim, abordar a reforma dos bancos estatais centrais e suas atividades de destinação de créditos, que são amplamente consideradas como terrivelmente injustas.
Todas estas reformas deveriam ser executadas pelo G-20 e incluir todos países das Nações Unidas mediante a extensão desses acordos, para, finalmente, enfrentar os banqueiros e domar o cassino global, para que o sistema financeiro retorne ao seu papel tradicional de facilitar as transações e a produção, e de apoiar os setores inovadores das sociedades, bem como para conseguir o incremento de uma economia global mais limpa, mais ecológica e mais justa.
IPS/Envolverde
* A economista norte-americana Hazel Henderson (www.EthicalMarkets.com) é autora de Ethical Markets: Growing The Green Economy (2007) e coautora do índice sobre qualidade de vida Calvert-Henderson (www.Calvert-Henderson.com)."
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