3 de julho de 2010

A Feirinha, os CDs e a Eliminação

Ontem consegui uma folga no trabalho com objetivo - claro - de assistir com muita tranquilidade ao jogo do Brasil.
Com aquela derrota, ainda bem que a minha sexta não se limitou ao futebol. Não é novidade, mas coisas simples podem ter um significado maior do que podemos imaginar.
O grande acontecimento era a partida Brasil e Holanda mas era de onde eu não esperava que ganhei o dia.
Logo cedo fui à padaria e como já eram 8 hs resolvi dar uma olhada se a loja de informática já estava aberta. O objetivo era comprar uns CDs virgens. Depois volto aos CDs. A loja acabava de abrir com as vendedoras sonolentas, os computadores desligados e uma sensação de espera para o momento do jogo. Ninguém estava afim de trabalhar mesmo...
Depois de pagar estava voltando para o carro quando olhei em direção ao Parque Alzira Vargas, uma antiga área sem construções, cercada com um muro de 1,5 e muitas árvores que rodeiam uma área livre. Havia muita gente naquela praça fechada, carros e barraquinhas. O que seria aquilo naquela hora da manhã?
Era perto da minha casa, mas eu não tinha ideia do que viria a saber logo a seguir: era a "Feirinha da Roça", montada ali todas as terças e sextas, onde pequenos produtores rurais trazem suas mercadorias para vender para o público urbano. Acordam de madrugada e com o apoio da Prefeitura vem de distantes localidades, trazendo doces, ovos, legumes, frutas, queijos, biscoitos, etc.
Como precisava comprar farinha liguei para minha esposa e perguntei se poderia comprar ali. Na verdade ela é que me falou do que se tratava e que, sim, a farinha dali era ótima e ela sempre comprava coisas ali e que eu iria gostar.
Pois fui lá. Imediatamente deu um sentimento de nostalgia. Ao atravessar o portão saí da dimensão urbana veloz e entrei no mundo da infância, lento, natural.
Pessoas calmas e simples atendiam em cada barraquinha, com produtos que pelo perfume, coloração, apresentação, não pareciam com aquelas belezas pasteurizadas plastificadas dos 'hortifruti' com ar condicionado.
Pois bem, foi um verdadeiro passeio no tempo e no espaço. Ganhei a sexta ali. Comprei a farinha. Mas comprei também papa (não o do Vaticano, essa é de milho), banacaxi (uma bananada com abacaxi, super macia), alface (folhas inacreditavelmente vivas), aipim (quase derrete ao cozinhar), etc. Até mesmo cana eu comprei. Isso mesmo cana para chupar. Para facilitar a vida dos "urbanos" ela já vem descascada e cortada em pequenos pedaços, conservada em saquinhos mantidos gelados. R$ 1,00 cada saquinho! Sorri ao ver aquilo. Há uns 30 anos que eu não chupava cana e me lembrei de uma cicatriz que tenho até hoje no polegar esquerdo, adquirida aos 9 anos, quando descascava uma cana. Errei o ponto com o facão.
Pesquisem se perto de onde vocês moram tem alguma feirinha da roça. Vale a pena ir lá. Mesmo a passeio. Mas garanto que não resistirão...
Voltando aos CDs e ao mundo virtual (não dava para ficar naquele pedaço do interior o dia todo) de vez em quando me bate a ânsia de sair procurando raridades musicais na Internet.
Minha coleção de discos de vinil e CDs originais é muito extensa. Mas atualmente eu quase não escuto mais os LPs e aí o jeito é tentar conseguir em arquivos digitais os mesmos discos, além de outros que nunca foram lançados em CDs e permanecem esquecidos do grande público, sendo salvos do esquecimento por esses colecionadores que convertem os antigos discos em arquivos MP3, FLAC, WAVE, etc. e colocam na grande rede. Existe a discussão sobre a legalidade disso, mas a verdade é que se não fosse dessa forma quase ninguém se lembraria dessas pérolas esquecidas que nunca foram colocadas à venda de pois do lançamento original nas décadas de 1960 e 1970 (essa época é que me interessa).
Mas não é fácil achar o que se quer. Primeiro tem de saber o nome do artista, do disco, das músicas. Depois é usar a prática adquirida ao longo dos anos e futucar blogs, comunidades, sites de torrentes, etc.
Em resumo, passei boa parte da sexta fazendo essa garimpagem. Encontrei coisas que vocês não devem conhecer nem de nome: Armaggedon, Popol Vuh, Dulcimer, Donovan, Ray Thomas, Earth and Fire, Buffalo Springfield, The Band, etc. Mas não foi somente sons estrangeiros. Procurei também Dom Um Romão, Moacir Santos, A Bolha, os primeiros discos de Belchior, Lo Borges, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Elomar, Zé Ramalho, etc. Tudo de antes de 1975!
Depois de "baixar" tem de organizar os arquivos no computador e gravar em CD ou DVD, ou transferir para pen drive, Ipod, celular, etc. Enfim um trabalhão que consome tempo... e que eu adoro fazer!
E lá se foi outra parte dessa sexta de folga.
Entre isso, encaixei Brasil x Holanda. Era para ser o mais emocionante, vibrante, o ponto alto do dia. Não foi. Foi a feirinha da roça e a procura dos discos na Internet.
Quer dizer, acabou sendo porque o Brasil perdeu. Sobre isso ia fazer uma longa análise da seleção, sobre Dunga, sobre o descontrole emocional, sobre a visão da "civilização brasileira" em contraposição à européia tendo como base o futebol (ei, isso da monografia), etc. (outra vez etc.?). Não vou fazer nada disso. No momento a seleção está indo para o aeroporto e pode até dar uma carona para Argentina. E é só isso mesmo. De volta para casa.
A vida continua com futebol ou sem futebol. Com vitórias e derrotas. Com feirinhas e música.
Bom final de sábado (tá frio e chuva, bom pra vinho e massas) e bom domingo a todos.

5 comentários:

Maria Inês disse...

Muito bom. Vc tem a capacidade de juntar assuntos bem diferentes sem perder a fluência e sentido do texto.
Prbs!

Anônimo disse...

Legal. E a seleção argentina vai ter de procurar uma feirinha em Buenos Aires. Já a seleção brasileira tem que procurar uma feirinha no Afeganistão!

Jefferson disse...

Diz aí Brother a lista completa das raridades que vc baixou. Fiquei curioso!

Marcos Oliveira disse...

Olá Jefferson.
Te mando por e-mail. Mas tem coisas raras como Dulcimer, Robert Schroeder, Blid Boys of Alabama, Buffalo Springfield, Magna Carta, David Byron, Far East Family Band, Felt, etc.
Obrigado a todos que comentaram!

Josi disse...

Ótima crônica do cotidiano. Observar as pequenas coisas do dia dia é uma interessante forma de vivenciar plenamente a vida.
Obrigada.