19 de setembro de 2010

The Book Is On The Table

Hoje é domingo. E, entre outras coisas, dia de missa, culto, palestras, enfim um dia religioso para quem é.

Eu não posso dizer que tenho uma religião. Atualmente costumo ir, eventualmente, à missa. Um retorno às origens. Quer dizer, nem tanto. Se for relembrar a infância, as origens são na Igreja Batista. Depois sim fui para a Igreja Católica. Depois, Espiritismo (Kardecista), depois comecei a pesquisar sobre Hinduísmo e Budismo. Aí voltei para o comando do Vaticano.

Acham que sou meio “perdido” nessa questão? Negativo. Cada religião tem seus encantos, suas falhas e ensinamentos que, afinal de contas, perpassam a todas, embora com dogmas diferentes.

No final, acho que sou de todas as religiões e não pertenço a nenhuma. Importante é ter algum sentimento espiritualista.

Mas só entrei nesse assunto para indicar um livro... que eu não li ainda! É que recebi a nota de uma amigo, com o seguinte comentário: “Eu sempre soube disso... a própria história já tinha revelado que o Judas não era o que dizem dele. O filme Jesus Cristo Superstar já sugeria isto, assim como também está errado o que pensam sobre os homens que estavam ao lado de Jesus na cruz (um deles o Barrabás). Eles nunca foram ladrões ou assassinos. Eles eram revolucionários, que enfrentavam os desmandos do governo de Roma... mas como a verdade é sempre feita por aquele que escreve a história.... que assim seja...

Como perceberam, é um livro que tenta reescrever a história de Judas, que – ao contrário do que aprendemos – nunca foi um canalha traidor. O livro se baseia em descobertas arqueológicas, manuscritos da época, descobertos mais recentemente.

Leiam a resenha escrita pela jornalista Ariadne Araújo.

Bem-amado de Cristo, Judas não traiu Jesus nem se suicidou, mostra romance bíblico

ARIADNE ARAÚJO

Romance se apóia em descobertas para recontar história de Judas

"De o mais infame traidor das histórias religiosas, ele foi alçado ao seu verdadeiro papel de discípulo bem-amado de Cristo. A verdade por trás da história de Judas Iscariotes gerou comoção em 2005, com a descoberta de um manuscrito em péssimo estado, no deserto egípcio, que apenas os eruditos desconfiavam existir. Os fragmentos, chamados agora de Evangelho de Judas, abalaram não só pesquisadores no mundo todo, mas fizeram o Vaticano reconsiderar o caso do homem que, por 20 séculos, foi sinônimo de traição.

Em "Judas, o Bem-Amado" (Bertrand), o ensaísta, erudito e romancista Gerald Messadié vai construindo a imagem desse personagem lendário que, de tão dedicado ao seu Mestre, foi arrastado à pior desgraça. Pois, ao contrário do que nos foi contado desde a infância, Judas não traiu Jesus em troca das tais 30 moedas, mas teria atendido a um difícil pedido do próprio Cristo: "Você é quem deve lhes revelar onde estarei, depois da ceia de Nicodemos". Judas, ainda sem fôlego, teve forças de pedir: "Mestre, peça a um outro".

Para escrever seu romance bíblico, Messadié se apoiou em evangelhos canônicos, textos bíblicos e os da exegética moderna, que é a área da teologia cristã que estuda e interpreta livros sagrados. A partir desse material, o autor revela o porquê da hostilidade ferrenha que levou o clero de Jerusalém a pedir a morte de Jesus. Os judeus adoravam o Criador que, no início, criou tudo, o bem e o mal, Jeová e Satã. Mas o Mestre pregava outra coisa: "O Criador é um deus indiferente. Não é o nosso, Somente Jeová é o Deus Bom".

No romance bíblico de Messadié, surge uma história bem diferente da versão tradicional. Além da reabilitação do nome de Judas, o Mestre teria escapado com vida dos suplícios da cruz. Judas viu o Mestre com sangue nos lábios e teve aí um sobressalto. Os cadáveres não sangram. "Ele sabia, ele sabia! Jesus não estava morto!". No túmulo, no Monte das Oliveiras, para onde foi levado, Jesus recobra os sentidos e murmura: "Então estou vivo".

"O que deveria ser, não será", disse Jesus, ao dar-se conta que tinha sobrevivido ao suplício na cruz. Na tumba, aos companheiros, Ele tenta entender: "Então, é uma outra história e não a minha". Pois, para o Cristo do livro de Messadié, se Ele não fora sacrificado conforme era previsto nas Escrituras, a cólera do Pai não tinha sido conjurada e, então, a ignorância iria durar ainda muito tempo no mundo. "O combate, então, será bem mais demorado e mais cruel".

Os diálogos, as paisagens, o clima histórico, os conflitos - a história é a mesma, a história é bem diferente. Gerald Messadié resolve contradições presentes nos Evangelhos. Onde há dúvida e lacunas, ele preenche com soluções possíveis. Assim, Judas, o bem-amado de Cristo nem teria traído nem se suicidado. O fato de ter sido encontrado enforcado em uma árvore tem outra explicação. No posfácio, o autor diz que essa nova história não altera em nada o ensinamento de Jesus, "mas sacode muitos pontos de uma tradição baseada em dogmas"."

Fonte: Livraria da Folha

Atualizado em 19/09, 16:40 h: Nossa leitora Lily fez um comentário tão legal sobre o assunto abordado nesse livro, que resolvemos trazer para a página principal, como complemento. Agradecemos a participação dela.

"Vou comprar esse livro. Coincidência, sempre quis ler sobre esse tema e não tinha referência.
Já tinha ouvido de um padre, uma vez faz tempo, numa entrevista do Jô, sobre essa tese de que Judas Iscariotes não correspondia a essa visão de encarnação do mal que sempre se teve dele. Exatamente porque não teve poder de escolha. Na verdade, fora "escolhido" pelo mestre para ser o traidor; que conforme as escrituras durante a última ceia, já sabia qual dentre eles o havia de trair e assim externa aos Doze.
Os escritos bíblicos, originalmente em línguas arcaicas, nos chegaram através do esforço erudito de várias pessoas para sua interpretação e tradução. Além de também terem sido escritos por muitas pessoas diferentes, ao longo da história; pessoas que na maioria das vezes não presenciaram os fatos, mas souberam através do relato de outros, já distanciados no tempo (inclusive os Evangelhos).
Daí o fato de haver realmente muitas lacunas que podem ser explicadas por esses motivos. Entretanto, há também confirmações históricas e científicas para passagens bíblicas. Devemos acreditar sim nas escrituras, porém com a consciência crítica que demanda a interpretação de todo texto histórico, quanto mais sendo escrito por múltiplos autores.
Cristo foi, em verdade, um grande "revolucionário" em seu tempo e espaço.Afrontou pacificamente a sociedade de sua época e o maior império de que se tem conhecimento na história: o império romano, que na verdade não estava preocupado com Ele. O pior de tudo é que Cristo foi realmente traído, levado à cruz por seus compatriotas, pelos anciãos, pela Lei e pelo Poder estabelecido, pela elite religiosa do seu próprio povo que temia perder seus privilégios, em razão dos ensinamentos, do carisma e do poder de arregimentar as massas que tinha aquele homem vindo do povo. A história se repete sempre.
E quanto de medo e repulsa, sempre têm as elites de um homem simples que venha do POVO, seu povo e fale de mudanças e de uma nova ordem social.Sem comparações,
é claro! Mas, as eleições estão aí, não é mesmo?"

4 comentários:

Lily disse...

Vou comprar esse livro.Coincidência, sempre quis ler sobre esse tema e não tinha referência.
Já tinha ouvido de um padre, uma vez faz tempo, numa entrevista do Jô, sobre essa tese de que Judas Iscariotes não correspondia a essa visão de encarnação do mal que sempre se teve dele. Exatamente porque não teve poder de escolha. Na verdade, fora "escolhido" pelo mestre para ser o traidor; que conforme as escrituras durante a última ceia, já sabia qual dentre eles o havia de trair e assim externa aos Doze.
Os escritos bíblicos, originalmente em línguas arcaicas, nos chegaram através do esforço erudito de várias pessoas para sua interpretação e tradução. Além de também terem sido escritos por muitas pessoas diferentes, ao longo da história; pessoas que na maioria das vezes não presenciaram os fatos, mas souberam através do relato de outros, já distanciados no tempo (inclusive os Evangelhos).
Daí o fato de haver realmente muitas lacunas que podem ser explicadas por esses motivos. Entretanto, há também confirmações históricas e científicas para passagens bíblicas. Devemos acreditar sim nas escrituras, porém com a consciência crítica que demanda a interpretação de todo texto histórico, quanto mais sendo escrito por múltiplos autores.
Cristo foi, em verdade, um grande "revolucionário" em seu tempo e espaço.Afrontou pacificamente a sociedade de sua época e o maior império de que se tem conhecimento na história: o império romano, que na verdade não estava preocupado com Ele. O pior de tudo é que Cristo foi realmente traído, levado à cruz por seus compatriotas, pelos anciãos, pela Lei e pelo Poder estabelecido, pela elite religiosa do seu próprio povo que temia perder seus privilégios, em razão dos ensinamentos, do carisma e do poder de arregimentar as massas que tinha aquele homem vindo do povo. A história se repete sempre.
E quanto de medo e repulsa, sempre têm as elites de um homem simples que venha do POVO, seu povo e fale de mudanças e de uma nova ordem social.Sem comparações,
é claro! Mas, as eleições estão aí, não é mesmo?

Marcos Oliveira disse...

Lily, mais uma vez obrigado por sua participação que sempre enriquece nosso Blog.
Aliás acho que sua dissertação acerca do tema está no mesmo nível ou melhor do que a jornalista que fez a resenha.
Vamos colocar seu comentário no post, como complemento.
Valeu!

Lily disse...

Obrigada!

Anônimo disse...

Muito bom mesmo o texto da Lily. Ótimo complemento ao post.
E olha que esse é um tema ccomplicado.
Parabéns!