28 de novembro de 2014

Amoras, Araçás e Jabuticabas

Da série "Retrospectiva do Blog". Este texto é de 2010.
Devo estar ficando velho. Não que pareça, já adianto. A genética e alguma atividade física têm me ajudado ao longo deste meio século mais um (mais um ano e não mais um século).

Essa percepção é despertada quando algum fato me dá uma espécie de nostalgia de tempos que não voltam (como diria o compositor).

Ou quando me pergunto: “cadê aquelas coisas legais que não existem mais?” ou “por onde andam aquelas pessoas que já estiveram tão presentes em minha vida?”.

Já me entenderão melhor.

Tive uma infância meio urbana meio rural (o que sempre me faz lembrar de um disco do saudoso músico Paulo Moura: “Confusão Urbana, Suburbana e Rural”, de 1976; não que eu tenha sido um jovem confuso, nem tenha participado de atos de ‘confusão’, embora eram tempos de ditadura, mas eu era uma criança).

Nasci e morei até os 12 anos na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, área que começa no final da Barra da Tijuca e avança até Santa Cruz, passando pelo Recreio, Jacarepaguá e Campo Grande. Longe, portanto, do ‘glamour’ da Zona Sul.

Em frente à minha casa havia uma imensa área livre, um sítio aberto a todos, com riacho, mangueiras, goiabeiras, coqueiros, pé de laranja lima (lembram do belo livro autobiográfico do José Mauro de Vasconcelos que depois foi transformado em filme e novela?), jamelão, tamarindo, campo de futebol e até bois criados soltos.

Pois recentemente estive em um desses estabelecimentos “hortifruti” e fiquei olhando a profusão de frutas ali disponibilizadas. Me aproximei das estantes que continham aqueles espécimes considerados mais “raros”, menos consumidos, para dar uma olhada no que havia por ali.

De repente percebi que eu não estava olhando por olhar e sim estava procurando algo. E eram três tipos de frutinhas.

Voltando ao túnel do tempo, em flashback: além do citado sítio, o quintal de minha casa era grande e havia ali também alguns pés de fruta. Tanto árvores, como arbustos.

Pois naquele momento, em frente às estantes, eu me vi outra vez em meu quintal, criança pequena, tirando direto do pé, amoras vermelhas e roxas, jabuticabas e araçás.
Não sei quantos que leem este texto aqui no blog conhecem essas frutas. Não cabe aqui descrevê-las, a não ser seus sabores agridoces, suas cores marcantes, seus perfumes inesquecíveis.

Pois há muito tempo não vejo nem saboreio essas delicadezas. Saíram de moda ou nunca frequentaram esses estabelecimentos? De qualquer maneira, pela fragilidade, não resistiriam muito tempo ao ritmo frenético e às distâncias da cidade grande.

Acho que elas estão lá, escondidas na roça, esperando quem sabe pela criança que já fui e que erroneamente teimo em nunca mais voltar a ser.

Na verdade, ao olhar aquelas estantes do hortifruti procurando amoras, araçás e jabuticabas eu estava procurando, além das frutas, a minha infância perdida.

Não encontrei nenhuma coisa nem outra. Estão muito distantes agora.

Quem sabe eu ainda encontre as frutas por aí. Pelo menos isso.

3 comentários:

Anônimo disse...

Bela nostalgia. Saudosas recordações.

Fátima Dias disse...

Lindo post, Marquinho! Muito bom recordar os momentos que marcaram a nossa vida!! Parabéns!!!

Marcos Oliveira disse...

Obrigado Fátima! Bjs.