A velha questão: como aproveitar melhor o tempo que temos?
Eu adoro ler, escrever, ver filmes, mas...
Nos anos 1980 eu era assinante da revista "Veja" (naquela época não havia tanta conotação política de direita nas abordagens). E também da "Isto É". Além de outras mensais (aquelas eram semanais): Planeta, Somtrês, Bizz, Rock Brigade, Roll, etc. E ainda tinham os jornais diários. E os livros.
Não sei como conseguia ler aquilo tudo. Acho que não lia. E nem sei se valeria a pena ler.
Hoje em dia o mesmo problema se processa com a Internet: Facebook, Gmail, Hotmail, Twitter, Skipe, Blogs, Sites, etc. E ainda tem os torpedos via celular. E nem estou falando nas obrigações profissionais em frente ao computador. Abordo apenas o "tempo livre".
A Internet, as redes sociais, a interconectividade mundial... Essas coisas vieram para ficar, não há dúvidas.
Mas de algum tempo para cá venho pensando sobre até onde nos tornamos vítimas de uma facilidade.
Precisamos de tantas informações hoje disponíveis? O melhor caminho é aumentar cada vez mais os nossos contatos virtuais?
O fato: começa-se a perceber um cansaço de tantas "obrigações" na grande rede.
Talvez os mais preparados para esse bombardeio sejam os adolescentes mas não estariam eles perdendo outras coisas importantes?
A crônica da Martha Medeiros com certeza explica melhor o que estou querendo dizer. Até porque sou suspeito. Estou no time de blogueiros e 'faces' e acho que estou ficando cansado. Mas pode ser só a idade mesmo...
MARTHA MEDEIROS - Posto, logo existo
"Começam a pipocar alguns debates sobre as consequências de se passar tanto tempo conectado à internet. Já se fala em “saturação social”, inspirado pelo recente depoimento de um jornalista do “The New York Times” que afirmou que sua produtividade no trabalho estava caindo por causa do tempo consumido por Facebook, Twitter e agregados, e que se vê hoje diante da escolha entre cortar seus passeios de bicicleta ou “alguns desses hábitos digitais que estão me comendo vivo”.
Antropofagia virtual. O Brasil, pra variar, está atrasado (aqui, dois terços dos usuários ainda atualizam seus perfis semanalmente), pois no resto do mundo já começa a ser articulado um movimento de desaceleração dessa tara por conexão: hotéis europeus prometem quartos sem wi-fi como garantia de férias tranquilas, empresas americanas desenvolvem programas de softwares que restringem o acesso a web, e na Ásia crescem os centros de recuperação de viciados em internet. Tudo isso por uma simples razão: existir é uma coisa, viver é outra.
Penso, logo existo. Descartes teria que reavaliar esse seu cogito, ergo sum, pois as pessoas trocaram o verbo pensar por postar. Posto, logo existo.
Tão preocupadas em existir para os outros, as pessoas estão perdendo um tempo valioso em que poderiam estar vivendo, ou seja, namorando, indo à praia, trabalhando, viajando, lendo, estudando, cercados não por milhares de seguidores, mas por umas poucas dezenas de amigos. Isso não pode ter se tornado tão obsoleto.
Claro que muitos usam as redes sociais como uma forma de aproximação, de resgate e de compartilhamento — numa boa. Se a pessoa está no controle do seu tempo e não troca o virtual pelo real, está fazendo bom uso da ferramenta. Mas não tem sido a regra. Adolescentes deixam de ir a um parque para ficarem trancafiados em seus quartos, numa solidão disfarçada de socialização. Isso acontece dentro da minha casa também, com minhas filhas, e não adianta me descabelar, elas são frutos da sua época, os amigos se comunicam assim, e nem batendo com um gato morto na cabeça delas para fazê-las entender que a vida está lá fora. Lá fora!! Não me interessa que elas existam pra Tati, pra Rô, pro Cauê. Quero que elas vivam.
O grau de envolvimento delas com a internet ainda é mediano e controlado, mas tem sido agudo entre muitos jovens sem noção, que se deixam fotografar portando armas, fazendo sexo, mostrando o resultado de suas pichações, num exibicionismo triste, pobre, desvirtuado. São garotos e garotas que não se sentem com a existência comprovada, e para isso se valem de bizarrices na esperança de deixarem de ser “ninguém” para se tornarem “alguém”, mesmo que alguém medíocre.
Casos avulsos, extremos, mas estão aí, ao nosso redor. Gente que não percebe a diferença entre existir e viver. Não entendem que é preferível viver, mesmo que discretamente, do que existir de mentirinha para 17.870 que não estão nem aí."
Fonte: Conteúdo Livre
Um comentário:
"Se a pessoa está no controle do seu tempo e não troca o virtual pelo real, está fazendo bom uso da ferramenta."
E quem és tu para dizer que a internet é virtual? Milhares de pessoas conhecem amigos e namorados na internet, desenvolvem suas relações,se casam, se encontram com a pessoa, têm filhos. Milhares postam seus currículos na internet, conseguem um emprego, ganham bem. Se isso é virtualidade, enlouqueci e não me avisaram.
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