18 de setembro de 2012

Definição da natureza de um novo Golpe de Estado(?)

Reproduzimos artigo do Paulo Henrique Amorim publicado hoje em seu blog Conversa Afiada.

Mensalão: o PT não vai ficar quieto

O que está em jogo no Supremo é definir a natureza de um novo Golpe de Estado.

"O julgamento do mensalão não vai acabar quando acabar o julgamento do mensalão.
A elite que se expressa no PiG (*) perdeu todas.
Perdeu as eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014.
Perdeu porque perdeu as bandeiras.
O PiG (*) usa a barriga de aluguel do PSDB (especialmente de São Paulo, onde prevalece o sentimento secessionista).
Mas, a barriga perdeu a serventia.
A barriga não dá mais cria.
Não tem mais ideias, projetos, não tem uma visão do Brasil que convença a sociedade.
Especialmente os que decidem a eleição: o sub-proletariado do André Singer.
Para que o Cerra, o FHC e o Sérgio Guerra querem o Poder ?
Para fazer o que ?
O neolibelismo (**) foi derrotado.
E o lulismo vai durar, disse o Singer.
Qual é a alternativa ?
O Golpe.
O Golpe que se desenha no mensalão (do PT), pela mão do Judiciário.
Até aí, morreu o Neves.
A novidade é que nem a elite vai se satisfazer com o julgamento do mensalão, nem o PT vai ficar quieto.
Se o PiG condenar o Dirceu, o PiG vai para cima do Lula – como pretendem o Tênue Gurgel e o Ataulfo Merval de Paiva.
É preciso destruir o Lula.
Não pode ficar pedra sobre pedra de um nordestino metalúrgico, sem dedo e que não fala inglês.
Em seguida, o PiG vai destruir a Dilma.
Gerente eficiente, acima do bem e mal, a técnica por excelência, a mãe do PAC, do Brasil Carinhoso, do Brasil sem Miséria, a que vai rever a desastrosa privataria tucana – nada disso interessa.
O PiG derrubaria a Madre Tereza de Calcutá, se ela fosse trabalhista.
Encerrado o julgamento do mensalão – que teve o dom de influenciar as eleições, como pretendia o PiG (*) – o PiG vai pra cima.
E o PT não vai ficar quieto.
O PT já percebeu que o julgamento do mensalão é a República do Galeão.
O julgamento do mensalão é o atentado da rua Toneleros em que o Lacerda se deu um tiro no pé.
O julgamento do mensalão é o Plano Cohen, a  Carta Brandi, o grampo sem áudio.
E o Supremo se politizou, tomou partido.
Começou com o Gilmar Dantas (***), que se disse chantageado e não processou o chantagista.
Ali começou o julgamento político, o julgamento de exceção.
Que dispensa provas ou atos de oficio.
Para quem a Verdade é uma quimera.
Vai condenar com tênues provas, como “domínios de fato”.
(Embora, como diga o professor Wanderley, até “domínio de fato” tenha que ser provado.)
Mas, a guerra não acaba ali.
O que está em jogo no Supremo é definir a natureza de um novo Golpe de Estado.
Será uma contribuição do Brasil aos manuais de “Técnica do Golpe de Estado”, do Curzio Malaparte.
O mensalão (do PT) é uma das etapas desse Golpe.
Um capítulo do Manual.
O Ataulfo Merval de Paiva já anunciou que o Lula não escapa, porque ele acredita em Saci Pererê e em Valeriodantas.
Ele vai atrás do Lula como o Lacerda – comparando água com vinho … – foi para cima de Vargas.
Depois, é a Dilma, ou seja, o Jango, o Brizola … e todos os que se sucedem na luta dos pobres contra “a pior elite do mundo”, segundo o Mino Carta..
O Dirceu não acha que vá ser preso, apesar de a Folha (****) o ter encarcerado.
E mesmo que seja, ninguém duvida que ele organize o PT – onde estiver.
Porque o PT não vai ficar quieto.
Lula não é Vargas.
Dilma não é Jango.
Quem não mudou foi o PiG.
Foi a UDN – raivosa, reacionária, ressentida."

Paulo Henrique Amorim


"(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

(***) Clique aqui para ver como eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista da GloboNews e da CBN se refere a Ele. E não é que o Noblat insiste em chamar Gilmar Mendes de Gilmar Dantas ? Aí, já não é ato falho: é perseguição, mesmo. Isso dá processo…

(****) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores."

3 comentários:

Anônimo disse...

“A influência poderosa da mídia sobre nossa Corte Suprema no caso, por evidente, não se prende à mera lógica noticiosa. Parece claro que a mídia brasileira, cujos veículos de formas diferentes compartilham do apoio explícito ou quase explicito ao bloco de oposição ao governo e da repulsa irracional de nossas elites ao petismo e ao lulismo, busca um fim político e não noticioso ou moral, qual seja, produzir uma mácula na imagem histórica do governo Lula e do PT, matar politicamente o inimigo.”

por Pedro Serrano, na Carta Capital

Ryan disse...

Aí Marquinhos, esse é do site Vamos combinar, um trecho.

Eu acho sintomático que o relator do mensalão tenha aproveitado uma conversa paralela para deixar escapar, em tom irônico, uma observação tão negativa sobre o partido que está no centro do julgamento. E acho mais curioso que outro juiz, imediatamente, tenha se manifestado de acordo. Os dois muito a vontade, falando de microfones abertos.
Isso diz respeito a isenção que se espera de um tribunal? Não sei.
Justiça cega? Também não sei. O antecedente do mensalão do PSDB, com direito a desmembramento e um longo passeio pelos tribunais inferiores, não é um bom sinal.
Há tantos sábios por aí que garanto aos mais eruditos o direito de falar primeiro. Mas confesso que nunca tive a oportunidade de ouvir ministro do STF fazer referências tão explícitas a uma das partes envolvidas. Muito menos a outros partidos.
Discordo de visões conspiratórias sobre o julgamento. Os juízes estão lá, no exercício de sua soberania.
Mas eu acho que essa manifestação do relator e de Marco Aurélio expressam um ponto de vista político sobre o governo Lula.
É a visão do governo como um universo sem ideologias, sem interesses políticos reais, sem base social a dar respostas, onde tudo é um grande arranjo, às costas do povo e dos verdadeiros interesses do país. E eu acho que essa visão ajuda a entender a linha política que está presidindo o julgamento até aqui.
Essa visão do “eles só querem roubar” é coerente com um esforço para criminalizar a política de alianças do governo Lula. Ignora as condições reais em que são feitas as campanhas eleitorais no país, que misturam dinheiro de caixa 2, dinheiro limpo e também dinheiro corrupto. Sem mudanças nessas regras, nada vai acontecer. E, sem querer ser chato, até agora não se demonstrou que o DNA financeiro do PT tenha uma formação diferente daquele de seus adversários.
Na melhor das hipóteses, a democracia brasileira será amputada ao sabor das decisões da Justiça, que ora pode andar de um jeito, ora de outro. O mensalão tucano sequer chegou aos tribunais e, além do mestre Jânio de Freitas e deste modesto aprendiz de jornalismo, ninguém mais diz que isso é um disparate. Sem falar, claro, de Wanderley Guilherme dos Santos, que publicou uma aula sobre o tema no site O Cafezinho.

Ryan disse...

Continuando.

A linguagem da acusação tem-se mostrado preocupante. Seria irônico se não tivesse um aspecto trágico. No esforço para provar compra de votos, a acusação selecionou alguns projetos do início do governo Lula, como a reforma da Previdência, a reforma tributária. Em seu tempo, estes projetos chegaram a ser elogiadas, como demonstração de que o PT rompera com dogmas considerados pré-históricos. Custaram uma divisão e até mesmo um racha na bancada do PT. Mas receberam elogios gerais.
O próprio Fernando Henrique Cardoso, em artigo recente onde alinhou um pacote de críticas ao governo Lula, lembrou essas duas reformas como aspectos positivos, lamentando apenas que não tivessem ido adiante.
Na visão da acusação, contudo, essas reformas foram o símbolo da compra de votos. São descritas como de interesse “dos corruptores.” Quer dizer: não havia interesse nacional, sequer um esforço de aproximação com a oposição. Não era política, essa atividade que pressupõe acordos, aproximações, afastamentos e ruptura. Era o “esquema.”
Na mesma linha, quando o governo consegue o voto de um partido que fora adversário para votar numa proposta que é mais oposicionista do que petista, a acusação define isso como “ato de ofício,” expressão equivalente a “recibo”de corrupção. Quando Delúbio Soares dá um depoimento, ele “confessa.” Nessa lógica, não são petistas que são acusados de votar em seu partido, o que não faz sentido. É o PP que cobra para votar no que defendeu.
Ao explicar por que votara na reforma da Previdência, Roberto Jefferson lembrou, na Polícia Federal, que o caráter trabalhista de seu partido não impedia que fosse favorável a medidas como a reforma da previdência, que já apoiava quando estava na base do govedrno FHC.
Por trás de todos esses atos “criminosos” abriga-se aquilo que é visto como um plano maquiavélico, “perpetuar-se no poder”, que faz parte da cartilha de qualquer partido político que, por mais democrático que seja, nunca imagina que a oposição fará um governo melhor do que seu. (Salvo casos patológicos, de psicanalistas e crises existenciais, mas não vou falar disso agora).
Instrumento de determinada visão política, essa linguagem ajuda a montar um quadro sob medida para se chegar ao resultado que parece cada vez mais provável: a condenação, a penas pesadas, da maioria dos acusados, salvo alguns mequetrefes.
E aí vamos combinar: tudo vai estar perfeito se os condenados forem apanhados com provas verdadeiras e consistentes. Neste caso, as condenações serão justíssimas. Mas será diferente, no entanto, se uma visão política, que pressupõe a culpa, acabar prevalecendo. Não é isso o que está por trás da noção de “eles só querem roubar”? Do partido “sem ideologias?”